terça-feira, 19 de março de 2019




12/3/2019, 
Elijah Magnier Blog

Ver também
EUA&Brasil vergonha do mundo (enquanto o mundo se reorganiza sem EUA&Brasil): Rouhani & Sistani, Irã & Iraque: visita histórica
13/3/2019, 
Al-Monitor (do correspondente) [dica de Pepe Escobar, pelo Facebook], em O Empastelador

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"Não importa o que decidir agora, Trump perdeu: o establishment norte-americano fracassou no projeto de causar dano ao Irã e não conseguiu nem derrubar o governo do Irã, nem pôr o país de joelhos."

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O presidente do Irã Hassan Rouhani está em visita de três dias ao Iraque, chefiando grande delegação de políticos e empresários para aprofundar o relacionamento entre os dois países. Rouhani reuniu-se com o presidente, o primeiro-ministro e o presidente do Parlamento do Iraque. Rouhani visitou Karbala hoje à tarde, passa a noite em Najaf e na 4ª-feira visitará as mais altas autoridades religiosas (Marjaiya) na cidade, o Grande Aiatolá Said Ali al-Sistani,Said Mohamad Saeed al-Hakeem, Xeique Ishaq al-Fayyad e Xeique Bashir al-Najafi. 

A visita pública de Rouhani faz contraste impressionante com a recente visita clandestina de Trump ao Iraque. Mais que isso, a projetada cooperação econômica e comercial entre Iraque e Irã não só mitigará efeitos das sanções unilaterais que os EUA impuseram, mas provavelmente contribuirá para acelera o fracasso daquelas sanções. É onde surge a questão chave: e Trump? Aceitará que foi derrotado pelo Irã, ou optará por perder também o Iraque e imporá sanções à Mesopotâmia?

Durante a última semana de 2018, o avião do presidente Trump apagou todas as luzes para conseguir pousar com alguma segurança na parte norte-americana da base Ayn al-Assad na província Anbar. A visita de Trump foi mantida em segredo, e o primeiro-ministro do Iraque foi informado na mesma manhã. Trump recusou-se a pousar na parte iraquiana da mesma base (Iraque e EUA partilham a mesma base militar, com forças militares dos EUA tendo plena soberania sobre toda a área). Por isso, o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, o presidente do Congresso Mohamad al-Halbousi e o presidente Barham Saleh recusaram-se a encontrar-se com Trump, que manteve a própria agenda e pousou à noite, no escuro.

Trump concluiu a visita em três horas e partiu como chegou, na calada da noite. Consta que Trump teria resmungado que não estava certo o presidente dos EUA, por razões de segurança, ter de pousar em segredo, no meio da noite, num país em cuja estabilidade os EUA investiram centenas de bilhões de dólares.

Diferente disso, Rouhani informou sobre sua visita com uma semana de antecedência, à presidência do Iraque; a visita foi anunciada publicamente no mesmo momento. Funcionários iraquianos coordenaram a agenda da visita de Rouhani e comitiva, com as respectivas agendas dos contrapartes. Rouhani permanecerá por três dias no Iraque, para assinar importantes acordos econômico-comerciais, cujo objetivo é elevar para 20 bilhões de dólares o nível do comércio entre os dois países.

Conclusão:

1.      O Irã passou à frente dos EUA, porque os funcionários iraquianos rejeitaram todas as sanções unilaterais contra o Irã e mantiveram as trocas comerciais, inclusive compra e venda de energia.
2.     O major-general Qassem Soleimani alcançou o objetivo do Irã, de desenvolver relação amistosa com o Iraque, onde os funcionários estão prontos a suspender relações com os EUA, caso Trump insista em impor sanções a qualquer país que negocie com Teerã. Esse feito (dentre outros) valeu a Soleimani a mais importante medalha de honra do Irã, a "Ordem de Zulfiqar" entregue a ele por Said Ali Khamenei. O ministro de Relações Exteriores Jawad Zarif foi o primeiro a congratular-se com Soleimani, que apresentou como "o homem que tornou o Oriente Médio um local mais seguro". É a segunda medalha de alta honraria que Soleimani recebe; a primeira foi a "Ordem de Fath", que o mesmo Khamenei lhe outorgou em 1989.
3.     O Irã venderá eletricidade ao Iraque e usará dólares e a moeda local na transação. A República Islâmica encontrou novos modo de contornar as sanções norte-americanas, construindo infraestrutura industrial e ferrovias, e construindo grandes trocas comerciais com o Iraque. Assim virão mais dólares para o Irã, e o país, simultaneamente, poderá depender menos de EUA-dólares, se negociar nas moedas locais.

A política exterior de Trump e as sanções em todo o mundo estão forçando países a encontrar alternativas ao sistema monetário e ao comércio dos EUA. Embora ainda com fraco impacto, a Europa está introduzindo um special purpose vehicle (SPV) para apoiar o comércio com o Irã, alternativo ao sistema de compensações bancárias globais EUA-Swift. China, Rússia, Índia e muitos outros países que negociam com o Irã aceitaram manter relações comerciais, principalmente, mas não exclusivamente nas moedas locais, para escapar às sanções dos norte-americanos.

O Iraque está hoje dividido entre uma grande facção de políticos que exigem a retirada total do país, de todos os militares norte-americanos; e outra facção que quer conservar uma força reduzida de norte-americanos no país, encarregada do treinamento e intercâmbio de inteligência. Os dois grupos querem que a maior parte dos militares norte-americanos deixem o Iraque, e buscam algum acordo em torno de aceitarem a permanência de uma pequena força especializada. O governo iraquiano gostaria de chegar a um equilíbrio e manter simultaneamente relacionamento justo com os EUA e excelentes relações com o Irã.

Trump tem duas escolhas. Pode escolher cortar relações com o Iraque, o que significaria atirar no próprio pé. A presença de forças dos EUA no Iraque é essencial aos objetivos de manter a hegemonia dos EUA no Oriente Médio. Mais que isso, não se sabe por quanto tempo forças dos EUA conseguirão manter-se na Síria. A alternativa seria Trump aceitar o fato de que suas sanções contra o Irã falharam, dado que os negócios de energia e outros entre Irã e Iraque continuam a prosperar. Nesse caso o presidente dos EUA estaria aceitando o fracasso de suas sanções e do seu plano de 'mudar o regime' no Irã "nuns poucos meses".

Não importa o que decidir, Trump perdeu: o establishment norte-americano fracassou no projeto de causar dano ao Irã e não pôde, nem mudar o regime governante no Irã, nem pôr o país de joelhos. Trump só conseguiu agravar a situação da economia iraniana, causar sofrimento ao povo, ao mesmo tempo em que forçou as autoridades iranianas a buscar novas soluções, com a ajuda da nova liderança iraquiana. O fracasso dos EUA, que não conseguiu impor agentes seus no governo do Iraque, ajudou Soleimani a conquistar sua medalha de honra.


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