domingo, 28 de dezembro de 2014

Sony hackeada? A “mídia” dos EUA e Obama não dizem coisa com coisa

24/12/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

"Embarcou" na mentira de Obama
Os EUA tentam fazer crer, absolutamente sem apresentar qualquer prova, que a [empresa] Sony teria sido hackeada pela República Popular Democrática da Coreia (RPDC). Os editores do New York Times acreditaram em mais esse conto de Armas de Destruição em Massa e “exigiram” guerra contra a RPDC.

Moon of Alabama, como muitos outros, duvidamos seriamente, desde o início, do conto que o governo Obama pôs-se a repetir:

As ferramentas para hackear a empresa são bem conhecidas e de domínio público. A empresa Sony têm rede vagabundíssima de segurança interna e já foi hackeada várias vezes antes. Os hackers provavelmente tinham informantes internos. Para infiltrar-se, usaram servidores na Bolívia, na China e na Coreia do Sul. Não há prova alguma, zero-prova, até agora, de que a ação tenha sido patrocinada pelo estado.

Kurt Stammberger
Na sequência, apareceu o FBI para “explicar a prova” – mas também não convenceu. Agora, uma empresa séria de segurança anunciou que já identificou o verdadeiro hacker:

Kurt Stammberger, vice-presidente da empresa Norse de cibersegurança, disse à CBS News que sua empresa tem dados que desmentem o que o FBI divulgou.

“A Sony não foi hackeada: é dessas empresas que pede para ser detonada de dentro para fora” – disse Stammberger.
...

“Temos certeza de que não houve ataque algum coordenado pela RPDC, e que houve insiders ativos na implementação desse que foi um dos ataques mais devastadores de que se tem notícia” – Stammberger continuou.

Disse que os dados da empresa Norse estão apontando para uma mulher que se autoidentifica como “Lena” e diz ter conexões com um grupo de hacking conhecido como “Guardiões da Paz”. Norse acredita ter identificado “Lena” como alguém que trabalhou na Sony em Los Angeles por dez anos, e deixou a empresa em maio passado.

“Essa pessoa estava na posição exata e tinha o profundo background técnico necessário para localizar os específicos servidores que foram atingidos” – disse-me Stammberger.


O artigo diz também que os hackers só estavam interessados em dinheiro, e nada tinham a ver com esse filme [horroroso!] patrocinado pela Sony, que prega o assassinato de um chefe de Estado soberano, e com cuja propaganda [horrorosa] pró-assassinato o presidente dos EUA burramente se comprometeu publicamente.

Encontrar autores de ciberataques é processo difícil, impossível, mesmo, segundo muitos, e que quase sempre oferece só conclusões parciais. Sem outros tipos de provas, a identificação de autores de ciberataques errará mais vezes do que acertará.

Que haja já uma pessoa identificada com o conhecimento e possivelmente também com um motivo interno para o ataque, e sem qualquer conexão com a Coreia do Norte, torna cada vez menos confiável a “conclusão” do governo Obama, de que a RPDC seria “culpada” pelo ataque.

Tudo sugere que Obama, interessado em iniciar um conflito com a Coreia do Norte, simplesmente mentiu sobre a “prova”, exatamente como Bush mentiu sobre “armas de destruição em massa de Saddam”.

Nos dois casos, os jornalistas e editores do The New York Times participaram como repetidores crédulos e tolos, ou como cúmplices, no crime.


[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como “Whisky Bar ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). A seguir podemos ver/ouvir versão em performance de David Johansen com legendas em português.


Ali Khamenei: “Muçulmanos devem confrontar o ISIL/ISIS/EI, denunciar o Império da Arrogância e armar a Palestina”

25/11/2014, Sayed Ali Khamenei, Guia Supremo da República Islâmica do Irã no Congresso Internacional sobre movimentos extremistas e takfiris
Enviado por Sayed Hasan e traduzido do francês pelo pessoal da Vila Vudu


Excerto: “As três tarefas urgentes” vídeo original
Versão original legendada em português a seguir:


[...] É nossa responsabilidade levar a bom termo algumas tarefas da mais alta importância. Durante esse Congresso de dois dias, os senhores, ilustres participantes, elaboraram e propuseram algumas soluções e especificaram certas responsabilidades. Cuidarei aqui de mencionar também duas ou três tarefas que não devem ser negligenciadas.

Primeira tarefa

Uma é que os teólogos do Islã têm de formar um movimento racional, global, de inteligência, que inclua todas as escolas islâmicas, que terá por objetivo cortar as raízes da corrente takfiri. Esse movimento não se deverá limitar a algumas escolas de pensamento [islâmicas]. Todas as correntes do Islã que creiam nessa religião e a considerem bem-vinda e a vejam com generosidade partilham esse responsabilidade. Todos os sábios do Islã devem lançar um grande movimento intelectual.

[O Estado Islâmico] entrou em cena sob a falsa pretensão de seguir “os piedosos predecessores” [al-Salafu al-Saleh]. Temos de demonstrar e provar que os piedosos predecessores sempre se opuseram radicalmente aos atos que eles perpetram e ao movimento que eles lançaram. Deve-se fazer isso recorrendo à linguagem da religião, do saber e da razão.

É vosso dever salvar os mais jovens. Muitos se deixam influenciar por esses pensamentos desviantes e desorientados. Esses infelizes supõem que estejam realizando boas ações. São a encarnação dos santos versos do Corão: “Quereis que vos inteire de quem são os mais desmerecedores, por suas obras? São aqueles cujos esforços se desvaneceram na vida terrena, não obstante crerem haver praticado o bem”. [Alcorão, 18, 103-104].

São a encarnação desses versos corânicos. Pensam, errados, que combatem na trilha de Deus. São os que dirão a Deus, no Dia do Julgamento Final: “Ó Senhor nosso, em verdade, obedecíamos aos nossos chefes, os quais nos desviaram da (verdadeira) senda. Ó Senhor nosso, redobra-lhes o castigo e amaldiçoa-os reiteradamente!”. [Alcorão, 33, 67-68].

[Os que combatem pelo Estado Islâmico] são esses miseráveis. Os que assassinaram um grande sábio na mesquita de Damasco são também desses. Os que decapitaram muçulmanos acusando-os de apostasia são também desses. Os que fazem correr, em atentados, o sangue de inocentes no Paquistão, no Afeganistão, em Bagdá e em diferentes vilas do Iraque, Síria, Líbano são dos que gemerão no Dia do Juízo Final: “Oh, Senhor, nos seguimos nossos chefes que nos desviaram da (verdadeira)senda. Castiga-os, Senhor, com duplo castigo”.

Em outro ponto do Santo Alcorão, Deus diz [aos que lhe pedem que duplique o castigo infernal] “o dobro será para todos” [Alcorão, 7, 38]. Todos vocês serão castigados, ao mesmo tempo os chefes e guias e os guiados. “Por certo que é real a disputa dos réprobos!”. [Alcorão, 38, 64]

Nesse dia, esses todos estarão em campos opostos e se enfrentarão. Por isso é necessário salvá-los [dessa provação]. Os jovens têm de ser salvos e essa é a responsabilidade dos sábios, porque eles estão em contato, ao mesmo tempo, com os intelectuais e com as massas. É necessário que se esforcem para salvar os mais jovens. Deus, o Altíssimo, interrogará os sábios no Último Dia: “O que fizeste?” É imperioso que os sábios ajam [desde já]. Essa é uma primeira tarefa imediata.

A segunda tarefa

A segunda tarefa extremamente urgente que tem de ser executada é chamar a atenção e destacar sempre o papel dos políticos arrogantes dos EUA e da Inglaterra.

O papel deles tem de ser destacado e explicado. Cada pessoa do mundo muçulmano deve conhecer o papel e a responsabilidade dos políticos dos EUA em tudo que tenha a ver com o Estado Islâmico.

Todos devem conhecer o papel dos serviços secretos norte-americanos, britânicos e do regime sionista, em todos os atos do movimento takfiri. Todo o mundo deve saber que o Estado Islâmico trabalha para eles; que o complô foi fomentado pela Arrogância [o Imperialismo Ocidental] e que essas correntes takfiris são ajudadas e financiadas por aquelas potências.

O Estado Islâmico recebe dinheiro dos regimes fantoches da região. São esses regimes fantoches que lhes fornecem dinheiro, mas o complô é fomentado pelo Imperialismo Ocidental, a Arrogância, e o resultado é, principalmente, que destroem esses infelizes jovens takfiris. Estão criando problemas sem precedentes para o mundo do Islã. E aí está a segunda tarefa a ser cumprida completamente, imediatamente.

A terceira tarefa

A terceira tarefa absolutamente inadiável é ocupar-se, como prioridade, da causa palestina. Não permitam que a causa da Palestina, da Santa Al-Qods (Jerusalém) e da Mesquita Al-Aqsa seja apagada e caia no esquecimento. Isso, precisamente, é o que eles desejam: querem que o mundo islâmico esqueça a causa palestina.

Já viram que, recentemente, o regime sionista declarou que a Palestina seria estado judeu. O regime sionista anunciou que a Palestina seria estado judeu. É o que sempre tentaram, já faz muito tempo.

Agora, apenas o declararam abertamente. Aproveitando-se da ignorância e da apatia do mundo muçulmano, das massas, das populações dos países muçulmanos, depois de ter ocupado a Santa Al-Qods (Jerusalém) e a Mesquita Al-Aqsa, o regime sionista continua a enfraquecer os palestinos, o mais que consiga.

Temos de nos manter vigilantes. Todos os povos devem exigir de seus governos que assumam, como deles, a causa palestina. Os mestres e sábios do Islã devem exigir dos governos que assumam, como deles, a causa palestina, que a abracem, que se envolvam nela. Essa é responsabilidade de importância capital.

Agradecemos a Deus que, na República Islâmica do Irã, o governo e o povo partilham esse princípio. Desde o início, o governo da República Islâmica e nosso generoso Imã [Khomeini] anunciaram e estimularam a política de apoio à Palestina e de hostilidade declarada contra o regime sionista. Essa política continua mantida até hoje. São já 35 anos que vimos mantendo essa linha de conduta, e nosso povo mantém a mesma política com entusiasmo e com adesão plena.

Vez ou outra, alguns dos nossos jovens, cujas demandas não são plenamente satisfeitas nesse campo, escrevem para mim e pedem insistentemente: “Permita que partamos, para lutar contra o regime sionista nas linhas de frente!”. Nosso povo deseja ardentemente combater contra o regime sionista, e a República Islâmica também manifestou seu compromisso com essa luta.

Pela Graça de Deus e Sua Misericórdia, ultrapassamos as barreiras e as lutas sectárias e em torno de questões de doutrina.

Ajudamos o Hezbollah libanês, que é grupo de xiitas, assim como ajudamos o Hamas e a Jihad Islâmica, sunitas. E continuaremos a ajudá-los. Nunca nos deixamos capturar por barreiras sectárias. Jamais demarcamos qualquer diferença entre xiitas, sunitas, hanafitas, hanbalitas, xafitas ou zaidis [escolas do Islã]. Mantivemos nossos olhos focados no nosso objetivo principal e oferecemos nossa ajuda.

Conseguimos reforçar os contingentes de nossos irmãos palestinos em Gaza e, pela Graça de Deus, continuaremos a fazê-lo. Já anunciei, e sem dúvida será feito conforme foi anunciado, que a Cisjordânia tem de ser armada, como Gaza, e preparar-se para se autodefender também militarmente.

[Fim do excerto transcrito]

Entrevistas históricas: Georges Simenon entrevista Leon Trótski em 1933

12/8/2014, Cynara Menezes  Blog Socialista Morena
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu



Leon Trotski em seu escritório em Prinkipo,
Turquia, ao redor de 1930 

Foto: David King Collection

O fascismo não é provocado por uma psicose ou “histeria”, mas por uma crise econômica e social profunda que devora o corpo da Europa sem piedade. Pronunciadas em 1933, as palavras de Leon Trótski (1879-1940) soam mais atuais do que nunca diante do recrudescimento dos partidos neonazistas na Europa novamente em crise. O revolucionário russo estava em seu desterro de quatro anos na Turquia quando foi entrevistado pelo então jovem escritor belga Georges Simenon (1903-1989).

Simenon tinha acabado de criar seu mais célebre personagem, o inspetor Maigret, que marcaria presença em mais de 70 romances e 30 contos do escritor. Atuava como correspondente para o jornal Paris-Soir e corria o mundo escrevendo reportagens, uma hora na África, outra na União Soviética, ou nas ilhas Príncipe (Prinkipo), onde vai encontrar Trótski vivendo uma tranquila vida de aposentado que não duraria muito: em seguida partiria para a França e de lá para a Noruega, de onde seguiria para o México encontrar a morte, encomendada pelo rival Stalin.

As análises de Trótski, judeu, sobre raça, e a previsão, seis anos antes, de que a Alemanha de Hitler iria levar a Europa à guerra demonstram sua profunda visão estratégica e o desprezo dos comunistas pelos conceitos e “ideias” nazistas. O texto de Simenon, é claro, flui deliciosamente, como as águas azuis e tranquilas que cercam a ilha e que ele, amante do mar, faz questão de destacar. Quanto o jornalismo de hoje tem a aprender com o passado…

Eu [Socialista Morena] traduzi para vocês, da página Marxists.org. De bônus, um documentário (a seguir parte 1 de 6), feito na Turquia sobre a passagem de Trotski por lá, narrado pela atriz Vanessa Redgrave.


Espero que desfrutem.

Com Trotski: Entrevista feita por Georges Simenon, publicada no Paris-Soir, dias 16 e 17 de junho de 1933

Introdução:

Encontrei Hitler dez vezes no Kaiserhof quando, tenso e febril, já chanceler, fazia sua campanha eleitoral. Vi Mussolini contemplar incansavelmente um desfile de milhares de jovens. E uma tarde em Montparnasse reconheci Gandhi em uma silhueta branca que caminhava colada ao muro, seguido por jovenzinhas fanáticas.

Para entrevistar Trotski eu me vi na ponte que conecta a velha e a nova Constantinopla, Istambul e Gálata, uma ponte mais cheia de gente que a Pont-Neuf em Paris. Por que tenho a sensação de um bonito domingo no Sena perto de St. Cloud, Bougival ou Poissy? Não sei.

Todos os barcos ao redor dos piers emaranhados me lembram bateaux-mouches. São maiores? Certamente. Há inclusive um ar marinho, e as hélices batem contra a água salgada. Mas é uma questão de proporção. O cenário inteiro é mais vasto, o próprio céu é mais distante.

Aqui uma margem é chamada Europa e a outra, Ásia. No lugar dos rebocadores e barcaças do Sena, há muitos navios de carga e de passageiros com bandeiras de todos os países do mundo que saem para o Mar Negro ou navegam através do Dardanelos.

Qual a importância disso? Eu mantenho minha impressão de um domingo bonito, de subúrbios, de tabernas. Há amantes na ponte de embarque do navio, camponeses transportando galinhas e frangos em gaiolas, marinheiros de folga que sorriem adivinhando os prazeres que irão oferecer a si mesmos.

Trótski? Escrevi-lhe anteontem, para pedir uma entrevista. Ontem pela manhã já acordei com o timbre do telefone...

Leia a entrevista seguindo o “link”: Entrevista com Trotski 

Roy Chaderton: “O quintal dos EUA já não é a América Latina; é a Europa”

20/12/2014, Saker-LatinoamericaRoy Chaderton ‒ Embaixador venezuelano na OEA, Organização dos Estados Americanos é entrevistado por Bruno Sgarzini
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Saker Latinoamerica


Essa é outra história que tem a ver com  “alisar” a praia, antes da invasão: o homem (...) começa a ganhar bem, casa-se, tem um filho e compra um cachorro, é convidado para fazer uma conferência em Harvard; e é ali que o homem acaba de ser “alisado”, de vez: porque deixa de ver o império como império, apanhado na rede dessas formas não violentas de cooptação. É o que aconteceu a alguém como [Fernando] Henrique Cardoso, que se uniu aos comícios antichavistas.

Nada mais fácil que se pôr a “denunciar” e ameaçar deixar o governo cada vez que as coisas ficam difíceis.

 Criticar não é coisa que se possa fazer levianamente, para livrar a própria cara, cada vez que surge um problema.

A crítica deve ser manejada como arma.

A crítica revolucionária não é muleta para fazer andar moralistas reacionários.


Roy Chaderton
O embaixador venezuelano na Organização dos Estados Americanos - OEA, Roy Chaderton, ajudanos a apartar do liberalismo dominante e a desconstruir a narrativa com a qual o anglo-sionismo construiu sua dominação global e deseja perpetuá-la.

Segundo essas novas coordenadas, Chaderton reconstrói o relato a partir de sua experiência como chanceler e diplomata de carreira na Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, dentre outros países. O que se segue é uma entrevista que é preciso ler.

PERGUNTA: Na atualidade há grande disputa por energia, dentro, inclusive, das rotas planejadas para o transporte da mesma energia, enquanto a China edifica as Novas Rotas da Seda que a podem levar a ser uma das principais potências do mundo, em meio à eclosão de uma nova ordem multipolar – como Chávez anteviu. Qual sua visão nesse contexto de luta para criar essa nova ordem, com os EUA que tentam impedir que seja criada promovendo conflitos cada vez mais intensos e mais difíceis de explicar?

Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Lembro, de quando era embaixador em Londres, de uma visita oficial ao Secretario de Relações Exteriores da Grã-Bretanha. Ele disse que as próximas guerras seriam por energia e pela água. E se há recursos que nos sobram nesse continente e na Venezuela são exatamente esses, tão importantes para o desenvolvimento da humanidade e das nações. Como razões para mais guerras, energia e água estão sempre presentes, sejam grandes guerras, miniguerras, guerras ocultas e subterrâneas e no reaparecimento de formas racistas e de opressão, as quais, inclusive, se veem nos próprios EUA, onde a tragédia do racismo continua. E pode-se ver que persiste lá uma estrutura social totalmente racista, apesar das aparentes formas de igualdade e acesso equitativo a posições sociais.

Nesse contexto, também se vê a exacerbação do poder econômico e o crescimento desmedido da ditadura dos veículos da imprensa-empresa de massas. Talvez valha a pena relembrar que a guerra “midiática” não começou em Roma nem na Grécia, nem com as revoluções panfletárias, mas começou, simplesmente, em 1887 – ano em que a empresa “midiática” Hearst enviou um correspondente a Cuba, para que desenhasse in loco imagens da guerra de independência.

Aconteceu que quando o artista chegou a Havana, viu que não havia o que desenhar, e pediu autorização para voltar aos EUA, porque estava sem ter o que fazer em Cuba, porque não havia guerra alguma a desenhar. William Hearst, patrão do “jornalista”, respondeu: “Desenhe as imagens, que eu desenho a guerra”.

A partir disso gerou-se uma campanha “jornalística” feroz contra a Espanha, até que, um ano depois, estava ancorado em Havana, não se sabe por quê, um encouraçado dos EUA, chamado “Maine”. Esse navio foi o pretexto para que os EUA entrassem em guerra contra a Espanha, atacassem a Espanha e começassem a intervir no processo de independência de Cuba.

A primeira grande operação-golpe clandestina

A guerra “midiática” de quarta geração continua, e que ninguém confie na “mídia”, porque por trás da “mídia” vem a guerra real, mesmo que por outros meios, e mesmo que as redes sociais tenham aplicado importantes derrotas às tais “mídias”.

Quase 38 anos depois daquele “evento”, foi realizado o filme Cidadão Kane, o qual, pela primeira vez, denunciava a imbricação entre os interesses da imprensa-empresa e das elites econômicas e políticas.

Claro que as guerras geradas pela “mídia” continuaram, apesar de algumas resistências individuais. Já nos anos 50s, o senador McCarthy, católico e bêbado, moveu campanha ensandecida contra todos e quaisquer que fossem acusados de alimentar simpatias ou militância comunista, socialista e marxista, e atacou muitos jornalistas. Na resistência contra McCarthy, destacou-se o jornalista Edward Murrow (...). E nos anos 60 e 70, em plena guerra do Vietnã, destacou-se o jornalista Walter Cronkite, da CBS, o primeiro a informar o que realmente se passava lá.

(...)

Hoje em dia já são uma corporação militar industrial, financeira e “jornalística”, e esse é o poder que está enlouquecido e inventa guerras como a do Iraque, onde o governo dos EUA e a imprensa-empresa norte-americana levaram ONU e a comunidade internacional a atacar um país que não ameaçava a segurança dos EUA.

Exemplos como esses há milhares, e o que vemos hoje é uma unificação crescente dos veículos da imprensa-empresa de direita contra os movimentos sociais e os povos livres. Especialmente na Venezuela, que a imprensa-empresa apresenta como ditadura violadora dos direitos humanos, mesmo ante a evidência de que os EUA são os principais responsáveis por esses delitos no mundo e controlam as organizações que fazem as falsas denúncias.

O poder da imprensa-empresa combinado ao poder político já penetrou tudo. Antes, a América Latina produzia lutadores e lutadoras importantes, por exemplo, as Mães da Praça de Maio; agora, só se ouve falar de especialistas em “direitos humanos” que fazem uma defesa acomodatícia e oportunista de um legalismo esterilizado. Vez ou outra, até que se pode admitir que um ou outro caso das ditas “violações de direitos humanos” corresponda a casos politicamente significativos e relevantes, mas, em geral, a dita “defesa de direitos humanos” não passa de grande mentira que se harmoniza perfeitamente com a guerra mundial pela energia e pela água da qual falamos. Eles nos roubam água e petróleo. E tantos, por aí, a reivindicar vagos “direitos humanos”...

A “nação excepcional e indispensável” contra a América Latina (e o mundo)

É tão forte o ataque no plano continental, que é como se estivéssemos na defensiva. Na verdade, estamos, sim, em movimento de ofensiva: nossos países andam hoje muito melhor do que antes, com movimentos sociais e a esquerda em crescimento, com suas respectivas características e diferenças.

PERGUNTA: O senhor falou de uma imprensa-empresa, em confluência com o poder econômico e político e também com o poder militar. O senhor falou de vários fatos que estão acontecendo, recapitulou rapidamente o que os ultracapitalistas chamaram de “Fim da História”, com a ascensão dos EUA como ‘xerife mundial’ (o Iraque é o grande exemplo), e agora uma forte repressão contra os movimentos sociais e os países que defendem a própria soberania. Como essa ofensiva está articulada contra a América Latina?

Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: O império mostra cada vez mais abertamente suas misérias. Penso, mesmo, que ruirá de dentro para fora, mas acho que não acontecerá durante minha vida. Por hora, estão caindo cascalhos da pedra do muro que protege o império e que, um dia, foram estruturas monolíticas indestrutíveis. Seja como for, a guerra “midiática” de 4ª geração continua, e não se pode relaxar porque, depois dela vem a guerra real, mesmo que por meios diferentes e mesmo que as redes sociais já tenham aplicado boas derrotas ao tal poder “midiático”.

Em termos militares, sempre fizeram o que fazem os Marines: primeiro, bombardeiam para “alisar” a praia; na sequência, chegam as tropas de invasão e ocupação. No caso da Venezuela, esse “alisamento” é feito pela imprensa-empresa; tem o objetivo de nos fazer sentir-nos mal, fracos, errados, viciosos, ignorantes. Fazer-nos crer que o país onde vivemos é o pior do mundo, o mais corrupto, o mais pervertido.

É tão forte o ataque no plano continental, que às vezes parece que estamos na defensiva, mas não. Nossos países estão hoje muito melhores do que antes, os movimentos sociais estão crescendo, a esquerda vai aos poucos se re-estruturando, com suas diferenças. E o povo responde ao que os governos progressistas lutam para assegurar.

Na Nicarágua, por exemplo, todos comem, e é hoje o país mais seguro do continente. Na Bolívia todos comem e os bolivianos têm dinheiro e distribuem uma prosperidade que antes nunca conheceram porque sempre lhes foi roubada, como acontecia também aqui na Venezuela. São coisas básicas. Antes de grandes sofisticações e complexíssimas aspirações nacionais ou individuais, é preciso garantir o básico. O direito mais básico, de todos, é o direito à vida. Para isso é preciso comer. A educação também é direito de todos. Sem ela, a vida é sempre miserável. De fato, hoje, em muitos países do continente está em curso uma revolução pacífica, porque se o estado oferece e garante educação e formação para o povo, estou transferindo instrumentos que as massas podem usar para defender-se e derrotar os bandidos.

Chávez sempre disse que não vivemos tempos de luta armada, mas tempos de confiar no povo e que o levante aconteça pelo voto popular. É claro que algo está acontecendo, porque se vê que os países do Caribe, que tiveram a formação conservadora dos britânicos, já estão apoiando a Venezuela e já não se deixam levar pelo cabresto pela OEA. Acontece quando a alma é mais forte que o medo e as ameaças, e há gente que não se encolhe e não baixa a cabeça em circunstâncias difíceis e nunca, em nenhuma circunstância, rouba ou se deixa corromper, por muito que esteja em jogo.

Mas estamos vivendo momentos de imenso perigo, porque o império está desesperado e seus aliados estão com medo.

O quintal dos EUA já não é a América Latina: é a Europa. E a OEA já não é o ministério das colônias dos EUA. Muita coisa mudou.

PERGUNTA: Recompor situações?

Os estados-nação estão sob ameaça e sob risco de serem fragamentados, como consequência do avanço do projeto daquele 1% cujo principal interesse é criar um Estado global, com sede nos EUA, e que haja grande massa de desempregados, efeito de uma nova fase no uso das tecnologias, o que gera ameaças e crises. Porque esse modelo de civilização carece de guerras e mais guerras e de intermináveis conflitos.

A ascensão dos movimentos populares tem a ver com isto, porque quando se ouve falar sobre fragmentação dos estados-nação a primeira ideia que ocorre é o caso da Iugoslávia, que era independente do poder dos EUA, onde conviviam nações de diferentes origens e culturas. E a Iugoslávia foi partida numa guerra estimulada pelos EUA contra a Sérvia, apoiada pela Croácia, que era estado semifascista, com católicos de extrema direita.

O que estamos vendo acontecer na Ucrânia é semelhante e assombroso, porque a OTAN e os EUA tentam obter o que nem Napoleão nem Hitler jamais conseguiram: cercar e sufocar a Rússia. E tentam fragmentar a Ucrânia.

Mas na América Latina não foi muito diferente. Vimos recentemente na Bolívia a “meia lua” separatista, imediatamente contida por uma reunião da UNASUL no Chile. Não há dúvidas de que esses movimentos separatistas são estimulados. Na Venezuela, são os grupos separatistas de Táchira e Zulia, que ficaram conhecidos por seu “Plano Balboa”.

O estado de Zulia, por exemplo, poderia ser autárquico, posto que tem energia, produz alimentos nas terras mais férteis da Venezuela e tem fronteiras internacionais e acesso ao mar. Em teoria, seria local ideal para provocar uma divisão de dentro para fora, gerando atritos entre países, criando condições para confrontos, até que a ONU e os EUA encontrem meios para intervir para “recompor” a situação.

Interessante é que, hoje, já se encontram focos não convencionais de resistência para os que temos visão de mundo de esquerda; e por todos os lados se veem nacionalistas de direita anti-norte-americanos. Há até alguns espaços de interesses comuns convergentes. Mas não há dúvidas de que o mais característico é que o império vive seu período de máxima paranoia. Se se considera o que me disse certa vez um embaixador gringo na Venezuela, que “todas as políticas são locais”, o significado disso tudo é que a política externa dos EUA já está sequestrada pelos cubanos da Florida, estado que garante total impunidade para terroristas e é “lar” da escória do continente.

PERGUNTA: O senhor falou das intenções separatistas em Zulia y Táchira, do abrandamento da cabeça de praia e da ofensiva contra os povos livres. Nesse contexto, qual a força do povo venezuelano, para derrotar a tentativa de restauração conservadora?

Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Os imensos progressos que se realizaram nos últimos anos. Os que antes não comiam, agora comem. Num país onde todos estão estudando e onde já não há analfabetos – o que até a ONU já reconheceu – quem antes nem chegava à escola primária hoje já está alfabetizado e já completou os estudos fundamentais; quem nem chegava à escola secundária, idem; quem jamais antes chegara à universidade, hoje está formado. Cada um desses venezuelanos converte-se em instrumento de defesa do sistema que lhe deu dignidade – e que começou com a chegada do chavismo ao governo da Venezuela.

Por isso se vê que estamos nas ruas defendendo nossa revolução, mas não a defendemos com machado e fuzil. Nós a defendemos com um exemplar da Constituição Bolivariana. É realmente espetáculo maravilhoso, independente do que tenhamos de fazer ainda pelas armas. Quem empunha a Constituição está aprendendo que seus direitos e sua dignidade não estão plenamente conquistados, que as pessoas apenas começaram a conhecer os próprios direitos e a própria dignidade com o processo venezuelano. São como um exército de reserva para a resistência.

Por outro lado, essas mesmas pessoas são o alvo selecionado para ser atacado pela ditadura “midiática”, da imprensa-empresa do império. Acho, sim, que é preciso chamar as coisas pelo nome: é uma ditadura. E os EUA não são democracia, não são “império democrático”: são uma plutocracia.

PERGUNTA: Sobre o quê, especificamente, o senhor está falando?

Estou dizendo que o que há em Washington é governo dos ricos. Abraham Lincoln falava da democracia como governo do povo, para o povo e pelo povo, e em certo sentido cumpriu. Mas o que há hoje é governo dos ricos e para os ricos. Só será senador se for milionário ou se tiver milionários que o apoiem. A imprensa-empresa é concentrada e foi silenciada, mas não pela censura oficial que conhecemos na América Latina e, sim, pela censura das grandes empresas “midiáticas”, que vendem lixo ao seu público consumidor, geram cada dia mais fanatismo religioso e mantêm seus consumidores isolados do que se passa no mundo.

Porque “informação” é só a que convenha aos EUA. Se Washington bombardeia e tortura em Faluja, Iraque, ninguém sabe disso nos EUA. Os EUA são país terrivelmente mal informado e sem cultura geral, com veículos de imprensa-empresa que existem para reproduzir e ensinar às multidões o que haja de mais banal, de mais baixo, de mais vil. Difícil imaginar algo mais repugnante que um reality show no qual é entrevistado um homem que engravidou a própria avó, ali em cena, ao lado dele, barriguda. E de repente os dois se põem a brigar, e entram em cena leões-de-chácara que apartam a briga.

Toda essa porcaria é inventada nos EUA. Daí também que os EUA sejam os maiores produtores mundiais de pornografia. Simultaneamente são puritanos e horrorizam-se quando o presidente dos EUA tem uma experiência de felação e é entrevistado exibindo uma lata de Coca-Cola. [1] Também é o país onde alguém pode perder cargo para o qual tenha sido eleito se for apanhado com outra mulher que não a própria esposa, como aconteceu ao governador da Carolina do Norte, quando se soube que mantinha “um caso” com uma argentina, e foi visitá-la no país dela, pensando que “ninguém descobriria”. Façam-me o favor! Nesses “critérios” moralistas misturam-se crueldade, maldade e o mais perfeito ridículo.

Os EUA são império que vai desaparecer. Ainda demora e eu, com certeza, não estarei vivo para ver.

PERGUNTA: Por que não verá?

Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Porque prevejo que não acontecerá no curto prazo. Tomara que eu esteja enganado. Mas a verdade é que derrubar o império não é empreitada simples. É império rico e armado. Além do mais, o complexo industrial-militar é hoje mais forte que nunca. No Vietnã, por exemplo, quem mais enriqueceu foi a empresa Halliburton, que fornecia tudo, de tanques de guerra a hambúrgueres. Tudo isso é sigiloso, tudo é protegido, todo o esforço acadêmico e intelectual dos EUA está dirigido para a guerra; os drones são produto das guerras. Agora, alguém sentado na Califórnia ou no Texas aperta um botão frente a uma tela de computador e mata à distância quem apareça ali, na sua “lista de matar”.

Tentativas de guerra civil e atentados divisionistas

Muita gente quebrou, inclusive pessoas do 4 de fevereiro. A palavra “lealdade” é muito importante.

PERGUNTA: Com a guerra de 4ª geração, estão tentando levar a Venezuela a um confronto civil, como na Síria, mas esse cenário foi desarticulado nas mais recentes tentativas de golpe. Como a Revolução Bolivariana articula sua liderança nesse contexto, quando a reação se mostra tão violentamente beligerante?

Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Há um dito que ensina que, para dançar um tango, é preciso que haja dois interessados em dançar. Também para uma guerra civil, é preciso que haja dois lados interessados. Já temos 15 anos de processo revolucionário na Venezuela e não houve guerra civil, porque, primeiro, tínhamos a sabedoria de Chávez, depois, a sabedoria de Maduro. Quando se vê o que houve em Altamira vê-se que havia um assalto planejado para desarticular os militares e aquilo estava sendo apresentado como se fosse alguma insurreição. Chávez deixou que a coisa se esvaziasse e em três meses já nada havia na “praça”.

Na Venezuela não temos cultura de guerra civil. Tivemos guerra civil, sim, na Guerra Federal e na Independência, guerras nas quais perdemos 1/3 da população. Passamos por situações difíceis, combates internos, golpes de Estado, processos de desestabilização, mas, por uma ou outra razão sempre se produziram processos de conciliação. Depois da guerra subversiva dos anos 1960s e 1970s, nos reconciliamos no processo de pacificação. Os guerrilheiros desceram da montanha, não mataram ninguém nem foram mortos e alguns deles, hoje, estão na ultradireita!

Essa é outra história que tem a ver com o       “alisamento” da praia: o homem sofreu tanto como guerrilheiro, ferido, fugindo de tropas militares, comendo mal, arriscando a vida... e depois encontra respeito e reconhecimento da classe governante. Começa a ganhar bem, casa-se, tem um filho e um cachorro, é convidado para fazer uma conferência em Harvard e é ali que o homem acaba de ser “alisado” de vez: porque deixa de ver o império como império, apanhado na rede dessas formas não violentas de cooptação. É o que aconteceu a alguém como [Fernando] Henrique Cardoso, quando se une aos comícios antichavistas, como Joaquín Villalobos.

Uma coisa é que se tornem moderados ou racionais, porque não se faz revolução com doidos varridos. É preciso ser racional, é claro, como Jesús Faría, economista marxista-leninista dos mais respeitados, que disse, há pouco tempo, que é claro que temos de ajudar alguns empresários a manter a produção, porque sem isso seria o desabastecimento; e que não é possível infernizar a vida dos empresários com medidas burocráticas “pensadas” por “esquerdistas” de merda ou burocratas, porque, com isso, nós também ajudamos a desestabilizar o país. É claro que é preciso pensar racionalmente. Não há outro meio para promover cada vez mais justiça social, mais igualdade, democracia e liberdade.

PERGUNTA: Há pouco tempo, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, disse que há chavistas que falam como chavistas, mas não são chavistas; e que há um setor muito conhecido da esquerda que ameaçou deixar o governo se suas demandas não forem atendidas. Que lhe parece?

Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Nada mais fácil que se pôr a ‘denunciar’ e ameaçar deixar o governo cada vez que as coisas ficam difíceis. Criticar não é coisa que se possa fazer levianamente, para livrar a própria cara, cada vez que surge um problema. A crítica revolucionária deve ser manejada como arma. A crítica revolucionária não é muleta para fazer andar moralistas reacionários. Denuncie muito, ponha-se a criticar... e você está salvo! Se tudo vai bem, você elogia em segredo. Se as coisas vão mal, você criticaem público. Muita gente pensa assim, e a imprensa-empresa existe para dar “meios” a essa gente e vender a ilusão de que alguém estaria criticando para transformar. De fato, a “crítica” que a imprensa-empresa distribui é crítica para conservar: repetir e reproduzir. Muita gente quebrou, inclusive pessoas do 4 de fevereiro. A palavra “lealdade” é muito importante.

Também há os que causam danos ao processo revolucionário, de dentro para fora. Um burocrata, por exemplo, que inventa e impõe dificuldades e empecilhos à ação popular. No serviço público, o revolucionário tem de mostrar que ama o próprio povo. Mas se, porque está no governo, alguém se sente “superior”, só porque está do lado de “lá” da mesa, e há um homem ou uma mulher muito pobre do lado de “cá” da mesma mesa, aí está alguém que é um perigo para a revolução. Os incompetentes, os arrogantes e os inconsequentes, saibam ou não, atrasam a revolução e ajudam a reação.

Nota dos tradutores

[1] Sobre isso ver Carlos Eduardo Lins da Silva, Folha de S.Paulo, 29/11/1998: Escândalo modela EUA no fim do século” - Desdobramentos do caso Monica Lewinsky influenciam áreas como política, jornalismo, costumes e feminismo. 

Os “pêlos (sic) pubianos na lata de Coca-Cola”, que tanto escandalizaram o país em 1991, eram brincadeira de criança se comparados aos charutos e vestidos de agora, e as acusações de Hill eram muito menos substantivas do que as de Paula Jones ou Kenneth Starr.