sexta-feira, 22 de março de 2019

Alexei Kudrin é o miJair Bolsonaro de Putin

Kudrin quer dar aos EUA metade da Crimeia, metade do Donbass, metade das Ilhas Kuril, metade da Síria e metade da Venezuela.

O general Gerasimov está pronto para resistir contra os EUA em todas essas frentes




18/3/2019, John Helmer, Dances with Bears, Moscou

Alexei Kudrin (ilustração de abertura) é o candidato do ‘regime change’ ao Kremlin que sobrevive há mais tempo, e que não mora nem na cadeia nem no exterior. “Precisamos de ambiente global fraterno” – 
disse ele a uma conferência de empresários em Moscou, semana passada. Atualmente presidente da Câmara de Cobrança e Prestação de Contas, de auditoria do Estado, Kudrin explicou que “atualmente não se consegue ambiente global totalmente fraterno devido, em parte, a desentendimentos geopolíticos e sanções globais. A Rússia deve tentar reduzir esse fator e mitigar os desentendimentos e as sanções mediante conversações e outros meios.”
O remédio, para Kudrin, ele explicou, é fazer Rússia e EUA encontrarem-se “no meio do caminho”. Pediram que Kudrin explicasse melhor a parte “meio do caminho”.

Kudrin serve-se de porta-vozes na Câmara de Contas do Estado e numa organização política que mantém, chamada “Comitê de Iniciativas Civis”. Essa última Kudrin fundou-a em 2012, depois de ser 
demitido do cargo de ministro das Finanças, e se autoapresenta como “união em torno da ideia de modernizar o país e fortalecer instituições democráticas.” Ano após ano, o Comitê faz pesquisas sobre condições regionais, monitora a imprensa e organiza conferências de organizações políticas que apoiam Kudrin. Para recrutar ativistas locais, o Comitê também distribui prêmios em dinheiro e uma estatueta, “O Broto de Ouro”. É a organização perpétua de campanha eleitoral de Kudrin. Ninguém sabe de onde vem o dinheiro, mas regularmente Kudrin divulga sua “especial gratidão” a Norilsk Nickel, controlada por Vladimir Potanin e Oleg Deripaska.


Pediram que Kudrin explicasse o que queria dizer com a referência a desentendimentos geopolíticos. Qual sua proposta a ser apresentada nas conversações com os EUA? O que quer dizer com “outros meios”? O que significa “meio do caminho” – entregar metade da Crimeia à Ucrânia? Metade da Síria, a Israel e Turquia? Metade das ilhas Kuril, entregues no Japão?

Os escritórios de Kudrin na Câmara e no Comitê informaram que ele não responde a telefonemas. Pediram que se enviassem perguntas por e-mail. As perguntas foram. Por telefone, os dois escritórios confirmaram que receberam os e-mails. Kudrin jamais respondeu.

Há um ano, quando Kudrin pressionava publicamente o presidente Putin para que lhe desse um posto no novo governo, com poderes especiais para negociar com os EUA, ele delineou um plano de ataque contra o Ministério de Defesa da Rússia e Forças Armadas – que cortava o orçamento militar da Rússia, a capacidade de defesa e toda a assistência à Crimeia e ao Donbass. O plano apareceu numa entrevista a um jornal de Londres, porque Kudrin negou-se a comentar o assunto pessoalmente, na Rússia. Detalhes, aqui.

Em maio, depois que sua campanha de autopromoção política fracassara, Kudrin desdisse, em discurso ao Parlamento estadual, tudo que dissera em Londres. Tentava tentar obter os votos necessários para ser confirmado no velho emprego na Câmara de Contas. Se quiser ler clique aqui. Kudrin obteve a votação mais alta jamais vista contra qualquer nome indicado pelo presidente para presidir a Câmara de Contas. Hoje, Kudrin aparece em primeiro lugar nas pesquisas que definem os dez políticos nos quais a população menos confia, em todo o país.

O principal alvo das campanhas de desconstrução de Kudrin ainda é, como sempre foi, a liderança militar russa. O general Valery Gerasimov, Comandante do Estado-maior das Forças Armadas da Federação Russa, respondeu com um quadro detalhado da estratégia russa contra os EUA. 

O discurso de Gerasimov, intitulado “Vetores do Desenvolvimento de Estratégia Militar”, foi apresentado à Academia de Ciências Militares. O texto pode ser lido na íntegra, aqui  em russo, e aqui em inglês.




Gerasimov identificou “os EUA e seus aliados” como engajados em guerras permanentes de todos os tipos, inclusive “preparação para ‘ataque global’, ‘batalha em multidomínios’ [e o] uso de tecnologias de ‘revoluções coloridas’ e ‘poder brando’ [ing. soft power].” 

“O objetivo dos EUA e aliados é eliminar o Estado de países indesejáveis, minar a soberania desses estados, trocar autoridades públicas legitimamente eleitas. Foi feito no Iraque, na Líbia e na Ucrânia. Atualmente ações similares podem ser observadas na Venezuela (…). O resultado que os EUA obtiveram na Síria permitiu-nos [aos russos] identificar e definir a direção atual das pesquisas para emprego da Forças Armadas no cumprimento de missões de proteção e promoção de interesses nacionais russos fora do território nacional.”

É a primeira vez que o Estado-maior da Rússia identifica a Venezuela, ao lado de Ucrânia e Síria, como alvo de guerra dos EUA contra a qual é do interesse estratégico da Rússia opor-se. Gerasimov reservou também uma palavrinha para Kudrin. 

Em sua fala, Kudrin ignorara os militares, em seu ‘projeto’ de governo russo coordenado: “Se os sistemas policiais trabalham com plano próprio, enquanto instituições internacionais e o Ministério de Relações Exteriores trabalham por outro plano, e o Ministério de Desenvolvimento Econômico tenta aumentar a taxa de crescimento da economia até os padrões globais médios, nesse caso acontece exatamente coisa alguma. É preciso haver equipe coesa, todos trabalhando para um mesmo objetivo. [Todas as agências do Estado devem] sincronizar as ações, inclusive no formato de diálogo e de conciliação de tarefas, para melhorar o clima de investimento.”

A resposta do general Gerasimov: “O Pentágono começou a desenvolver estratégia de guerra fundamentalmente nova, que foi apelidada “Cavalo de Troia”. A essência dessa estratégia depende do uso ativo do ‘potencial protesto da 5ª coluna’ com vistas a desestabilizar a situação com simultâneos ataques com armas teleguiadas de precisão contra os alvos mais importantes.”

A coordenação dos recursos de defesa da Rússia, como a entende o Estado-maior, exige que as medidas para defesa contra sanções econômicas e operações de mídia e ciberataques dos EUA contra a Rússia e seus aliados, inclusive a subversão doméstica, devem ser dirigidas pelo Comando do Estado-maior.

“Gostaria de registrar” – disse Gerasimov – “que a Federação Russa está pronta para fazer frente a todas e a cada uma dessas estratégias. Em anos recentes, cientistas militares, trabalhando com o Estado-maior, desenvolveram abordagens conceituais para neutralizar as ações agressivas de adversários potenciais. O campo de pesquisa da estratégia militar é a luta armada em seu nível estratégico. Com a emergência de novas áreas de confronto nos conflitos modernos, os métodos de luta cada vez mais se encaminham diretamente para a aplicação integrada de medidas políticas, econômicas, de informação e outras medidas não militares, implementadas com o apoio da força militar.”

Tradução original no blog O Empastelador




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