domingo, 7 de agosto de 2011

Rio em estado de calamidade pública


Publicado em 07/08/2011 por Mário Augusto Jakobskind

O Rio de Janeiro vive na prática em estado de calamidade pública. A culpa se deve principalmente a seus governantes, o Prefeito Eduardo Paes e o Governador Sergio Cabral. Lamentavelmente, partidos que se consideram progressistas e de esquerda apoiam os referidos.

A educação pública é de baixa qualidade. Os professores recebem salários de fome e por isso estão parados há quase dois meses. O Governador, que num acordo de cavalheiro$ não é criticado pelos meio$ de comunicação de mercado, muito pelo contrário, oferece como contraproposta um reajuste de 3,5%, o que equivale para os professores em início de carreira algo em torno de 20 reais.  

As obras públicas tendo em vista os megaeventos estão sendo reajustadas e algumas, como aconteceu nos Jogos Panamericano na gestão do Prefeito Cesar Maia, na base de milhões de reais. Por enquanto, o caso mais grave é o do Maracanã, cujo orçamento pulou para mais de 1 bilhão de reais e ainda por cima uma obra que vai elitizar o maior estádio do mundo, que está sendo adaptado às exigências da Fifa, que só pensa em cifras.

Cabral foi pego em flagrante delito em promiscuidade com empresários, alguns deles responsáveis por obras pagas pelo Estado, ou seja, pelos cidadãos contribuintes. No início do flagrante delito, alguns jornais noticiaram a proximidade de Cabral com o setor empresarial, inclusive usando avião de Eike Batista, mas depois o assunto foi e$quecido.

Em âmbito municipal, Paes mandou para a Câmara dos Vereadores, em regime de urgência, um projeto que segue a determinação do Banco Mundial e prevê, entre outras coisas, quebra da paridade dos ativos com inativos, percentual de 30% a menos no pagamento das pensões, além da terceirização dos serviços públicos com o objetivo de reduzir gastos com o funcionalismo público.

Paes e Cabral são queridinhos da mídia de mercado, até porque abrem as comportas financeiras com o pagamento de farta publicidade. Sendo assim, os médicos, professores e bombeiros, por exemplo, estão sendo maltratados com salários aviltantes e assim sucessivamente. Neste domingo (7) eles estarão na rua pedindo a solidariedade da população contra os desmandos do Prefeito, cuja meta é a privatização do setor. A velha receita que procura convencer a meio mundo a necessidade da privatização de tudo que o Estado pode perfeitamente gerir. Balela e banditismo.

Este, em resumo, é o quadro que vive a cidade e o município do Rio, engabelado pela propaganda enganosa da Prefeitura e Governo do Estado, cujos gastos não são poucos. Não é uma situação de extrema gravidade? E tem muito mais que deve estar acontecendo, inclusive em matéria de irregularidades, que poderiam ser do conhecimento público se as editorias das mídias de mercado tivessem interesse em desvendar os temas e mesmo algumas denúncias escabrosas. 

No ano que vem, os cariocas elegerão um novo Prefeito, certamente Paes tentará se reeleger e vai contar com apoios empresariais fortes. Além disso, um arco de aliança poderoso também e até o PT de vice. Paes não vai querer largar o osso, até porque vem aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas, eventos onde circula muito dinheiro. Cabe aos eleitores, desde que informados sobre os acontecimentos, fazer a escolha. Lamentavelmente, o lado informativo não circula na maioria dos meios de comunicação.

Por sinal, já começou o favorecimento. Na semana passada a Prefeitura pagou 30 milhões de reais para o grupo Globo transmitir com exclusividade o sorteio das Eliminatórias. Leia-se que a fatura foi paga pelos cidadãos contribuintes. E pior, as empresas concorrentes tiveram dificuldade até para credenciar os seus jornalistas e cinegrafistas. Aí pode, nada de SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) protestando contra restrições à liberdade de imprensa.

A demissão de Nelson Jobim, arrogante e boquirroto, representou sem dúvida um tento para o governo Dilma Rousseff. Como foi dito neste espaço há duas semanas, o então Ministro da Defesa estava a mais em um governo que se pretende progressista. A nomeação de Celso Amorim é positiva, claro, como demonstram as críticas partidas de notórias figuras políticas da velha e nova direita brasileira, ou seja, do Demo e do PSDB, que no final das contas se associam, pois um partido não pode viver sem o outro.

Espiões benignos informam que já baixou uma ordem editorial  nas Organizações Globo, sobretudo na TV Globo: não poupem p Ministro da Defesa Celso Amorim. Resta então acompanhar o noticiário para confirmar a informação dos espiões benignos benignos. 

Dez anos de Direto da Redação merecem ser comemorados por todos aqueles que entendem ser a informação um direito humano. E nesse sentido, o DR tem contribuído em larga escala para o exercício desse direito fundamental, abrindo espaço, sem restrições, para reflexões que estão fora do circuito da mídia de mercado. Parabéns, Eliakim e todos os que  por aqui circulam, tanto os colunistas como os leitores. É gratificante ocupar este espaço. 

Em tempo: depois da “primavera árabe” está começando o “verão israelense”, com mais de 300 mil nas ruas exigindo o fim da era Netanyahu e sua política de favorecimentos dos ricos. Os manifestantes se posicionam há três sábados seguidos contra privatizações e falta de justiça social. Querem democracia e não caridade.


Mário Augusto Jakobskind
É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

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