Cida Torneros e seu gato |
Surpreendo-me com a reação de um amigo... Ele inseriu "fora, traidora!" no seu mural do Facebook, ao se referir à notícia da suspensão de concursos públicos por parte da presidenta da República, além de vários outros cortes no orçamento da União, totalizando 50 bilhões, segundo o ministro Mantega.
Fiquei pensando com meus botões enquanto degustava a informação eminentemente feminina (desculpem!) já que ninguém melhor que mulher consciente, tipo dona-de-casa, para cortar os supérfluos e ensinar à família a economizar quando é necessário apertar os cintos... Nada contra àquelas patricinhas desenfreadas, compradoras dos excessos shoppingnianos, vítimas da síndrome do consumo compulsório (quem de nós pode atirar a primeira pedra?), pois todas elas (nós) já tivemos nossos momentos de recaídas diante de algum produto tentador em alguma vitrine propositadamente anestesiante. Mas, vejamos a causa brasilis, no exato instante em que se recomeça o ano e se arranja as coisas, num país tão multifacetado.
Imagino que nas estatísticas nacionais, faltem profissionais do setor público para suprir mil e uma necessidades, como Bombril, diria até que há mil e uma utilidades a serem preenchidas em vagas para profissões que demandam atendimento público, como por exemplo, médicos, professores, agentes administrativos de setores congestionados, como justiça, etc.... Sei que tudo isso há que ser pesado e repensado pelas autoridades competentes. Fica difícil, entretanto, entender os gastos que não foram contidos pelos parlamentares (em todas as instâncias) com seus ganhos pessoais, e porque deles não partiu a iniciativa providencial de congelar seus salários, em homenagem ao povo brasileiro, num gesto ímpar, que marcaria a história deste país, como nunca antes.
Mas, lá vou eu navegando pela imaginação apequenada de uma criatura ainda crente na boa intenção humana, e adentro no eixo dos cortes e recortes. Valem os cortes de tecido, os retalhos, aqueles que são bem mais baratos, que podem nos proporcionar confeccionar blusas, vestidos, saias, etc., pela metade dos preços das lojas de marca, como faziam nossas avós e mães. Vou além, penso nos recortes de jornais que amealhamos com notícias e receitas, com informações que julgamos dignas de serem guardadas e deixadas até como herança para os nossos filhos e netos.
Chego à seleção de futebol, vejo as pessoas discutindo os cortes de jogadores, quem deve sair, quem deve entrar, quem já deu o que tinha que dar, quem só ganha dinheiro, mas não joga nada, quem tá “bichado”, quem nos lava a alma, quem nos deixa com a sensação de bobocas que ainda acreditam no ideal do amor à camisa.
E vou cortando o tempo, recorto a literatura da memória, volto a trechos de livros que me rodeiam na vida inteira, vejo-me entrecortada de idéias avulsas, de tantos pensadores, acumulei pedaços de emoções que outros me legaram, fiz alguns cortes no meu próprio coração para que sangrasse o suficiente na emoção que cada incisão proporciona.
Aí está a Dilma e ela entrou cortando! Deixem-na costurar o novo modelo, pode ser que com menos pano pra manga, se construa novas modas para um país mal acostumado à farra do boi, à pseudo ideia de que está sobrando din-din por aí. Há que respeitar os cortes. Lembro das aulas do Escobar na faculdade (lá se vão 30 anos), quando ele falava sobre o corte epistemológico. Hora de parar para rever a necessidade de cortes.
Na pele, claro, um corte dói horrores, eu me feri com vidro, há alguns anos, na perna esquerda, levei 6 pontos e fiz uma infecção difícil de conter, pois sou alérgica à penicilina. Padeci uns dois meses. Meu ex-chefe me visitou em casa, eu, perna inchada, sentada no sofá, a vida parada lá fora, aliás, era dentro de mim, a sensação de estar alijada do processo, sem poder trabalhar, mas com uma brutal capacidade de refletir, pensar, readaptar-me à vida, aceitando o corte do tempo e o corte da carne.
Cortemos as fatias do bolo. Dividir o pão, dividir o chão, recortar a terra, fatiar as oportunidades, cortar tantas regalias dos parlamentares, (não só deles), mas de tantos que se julgam acima do bem e do mal. É preciso sim, rever e recortar o modus vivendi nacional. Com se faz com a casa da gente, quando se corta o cartão de crédito, quando se economiza a energia elétrica, o consumo da água, se troca a empregada mensalista pela faxineira semanal, ora, é só ir à feira e garimpar melhores preços, é pechinchar nas lojas, é negociar as dívidas bancárias, é bem mais.
Cortar e avisar que vai cortar não me parece traição. Quando cortar pode servir de exemplo, devemos dar um crédito de confiança à nossa nova dirigente. Torçamos para que os “inimigos” de plantão não lhe cortem as asas, e deixem-na comandar e voar na direção que arruma a casa do Brasil; primeiro a cozinha, quem sabe, cuidando da inflação e da cesta básica, observando os oportunistas que se aproveitam para manipular preços, punindo os mal intencionados, pondo de castigo aqueles que ainda pensam que nos enganam com sórdidas e infantis manobras que se amparam em leis fajutas, que legislam em causa própria, e que, não perdem por esperar.
Corte neles, sim, que se cortem as conchavadas expectativas dos “experts” de carteirinha que pensam que ainda é possível enganar o povo brasileiro. Fora da Seleção os que só brincam de jogar futebol. Cortes sempre serão bem-vindos em quaisquer campos desde que justificados, estudados, programados e com resultados positivos a curto e médio prazo. Só não nos cortem o direito de pensar, discordar, sermos bem informados, e de sonhar com um Brasil mais justo e bem trajado com corte impecável no desfile do dia-a-dia
enviado por Cida Torneros pelo Facebook
Gostei muito do artigo. Disseca os cortes e os recortes numa bela associação com a economia doméstica.
ResponderExcluirÉ preciso cortar onde se pode para manter os ganhos sociais. Estes, sim, não podem ser cortados.
Seria muito bom que nossos parlamentares: federais, estaduais e municipais também cortassem o que podem e já deveriam ter cortado.
Ah...nosso judiciário também precisa de uns cortes. O negócio lá é tão bom que os jovens aqui no DF só querem estudar direito para fazer concurso para os tribunais ou para a magistratura.