Juan Cole |
10/2/2011, Juan Cole, Informed Comment
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu
NOTA DOS TRADUTORES. Esse postado de Informed Comment foi escrito, é claro, antes de o Comando Superior do Exército assumir o poder no Egito, hoje, aparentemente deslocando Mubarak e Suleiman, os quais contudo não deixaram o país.
Pareceu-nos interessante, embora já desatualizado como “notícia”, porque ajuda a visualizar um quadro real dos acontecimentos, que absolutamente não está sendo oferecido no Brasil por NENHUM jornalismo, jornalista, jornal, revista ou rede de televisão, nem por comentaristas “midiáticos” pressupostos “entendidos”.
No Brasil, as interpretações jornalísticas são sempre miseravelmente pobres – quando não são ativamente distorcidas –, porque os fatos são sempre mal mostrados, apresentados aos cidadãos ou em versões reproduzidas babacamente das agências norte-americanas de notícias, ou apresentadas por “correspondentes” que, de fato, nem precisariam ter-se dado o trabalho de viajar, porque, presentes ou ausentes dos cenários dos acontecimentos, sempre são babacamente incompententes para ver seja lá o que for. Inesquecível, como exemplo disso, foi a cobertura dos ataques de Israel a Gaza, na “Operação Chumbo Derretido”, durante a qual o correspondente da Rede Globo falava... ao lado dos tanques de Israel!
A imprensa-empresa abriu a 5ª-feira dedicada a histórias, obtidas de fontes nos altos escalões egípcios, que diziam que o presidente Mubarak discursaria no início da noite e que, nesse discurso, anunciaria sua renúncia. Chegada a hora, quando Mubarak afinal falou, não renunciou, nem parecido com isso. Ao final do discurso, continuava presidente. Disse apenas que transferia, ele próprio, alguns poderes não especificados, em data não especificada, para o vice-presidente nomeado dias antes pelo próprio Mubarak, Omar Suleiman, ex-chefe do serviço secreto do exército e acusado de envolvimento em torturas. Explicação possível para essa dissonância, é que Mubarak pode ter concebido o que planejava fazer, segundo critérios pessoais íntimos, como alguma espécie de renúncia, e pode ter dado indicações ambíguas para os que o cercavam, a ponto de vários terem interpretado e erradamente as intenções de Mubarak.
O risco é que, ao elevar demais as expectativas populares e depois as destruir, Mubarak pode ter tornado ainda mais volátil a situação revolucionária, que pode facilmente deteriorar e criar uma espiral de violência.
Em 1992, os generais argelinos fizeram eleições parlamentares e permitiram que a Frente de Salvação Islâmica [ing. Islamic Salvation Front (FIS)], o partido islâmico fundamentalista, concorresse àquelas eleições. Inesperadamente, o FIS conquistou mais de 2/3 dos assentos com direito a voto no Parlamento, o que lhes permitiria alterar a Constituição. Os generais foram subitamente tomados de pânico de que isso acontecesse, e abruptamente decidiram anular as eleições. Milhões de eleitores do FIS sentiram ultrajados, vendo que a vitória eleitoral lhes era roubada. A situação deteriorou rapidamente, até uma guerra civil entre fundamentalistas e secularistas que, ao longo da década seguinte, faria 150 mil-200 mil mortos e arrastaria a Argélia para a frágil situação política em que vive até hoje.
A regra básica é que não se deve deixar crescer as esperanças do povo, se não se está preparado para cumprir pelo menos parte das promessas.
Quando a multidão na Praça Tahrir afinal absorveu o conteúdo do discurso, viu que Mubarak continuava presidente e que os acenos à praça não passavam de acenos no máximo simbólicos, foi tomada de fúria. Muitos tiraram os sapatos e exibiam as solas, gesto de desrespeito. Diga-se por justiça à multidão que a maioria deixou pacificamente a praça, pensando em descansar um pouco e preparar-se para a 6ª-feira, para a qual já se convocavam manifestações-monstro.
Mas muita gente, ou mais experiente ou mais indignada, cerca de 3 mil pessoas, puseram-se em marcha rumo ao palácio presidencial onde houve um comício. Outras cerca de 10 mil pessoas tomaram o rumo da sede da televisão estatal, que foi cercada. A simbologia desse movimento é clara, porque no mundo árabe o primeiro movimento de quem tente qualquer tipo de golpe é mandar os tanques protegerem a televisão estatal.
Segundo notícias da rede al-Jazeera, em Alexandria, porto do Mediterrâneo, as multidões reagiram com fúria ao discurso. Muitos cantavam “Hosni Mubarak, vergonha, vergonha. Você quer incendiar o Egito!” Estão convocados um desfile-monstro para a 6ª-feira, no centro da cidade, depois das orações, e várias passeatas e manifestações menores nos bairros.
Comentário enviado por e-mail e postado por Castor filho
ResponderExcluirCom relação à Nota dos Tradutores, convém lembrar que tanto no ataque e invasão do Líbano por Israel em 2006, quanto na cobertura da Operação "Chumbo Derretido" em Ghazaa (2008-09), o correspondente da Globo chamava-se Marcos Losekann. Falava ao lado dos Merkava IV (tanques de guerra), por causa de suas ligações com os neo-sionistas: Tsahal e Shin Bet (Mossad) e outrros órgãos e outras agências de segurança da Potência ocupante da Palestina.
Pergunte-se por que não foi enviado ao Cairo, que a resposta será óbvia...
ArnaC