segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

EDITORIAL I: RIO 40 GRAUS

Publicado em 06/12/2010 às 10:23:38 - por Geraldo Elísio*
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“...O chefe da polícia pelo telefone manda lhe avisar /
Que na Carioca tem uma roleta para se brincar...”
Samba de Donga e Mauro Soares

Helvécio Arantes, José Antônio Moraes, Luís Soares da Rocha, Santos Moreira, Jair Fortes, José França Tavares, só para exemplificar, naturalmente existem outros, são ícones da Polícia Civil de Minas Gerais, alguns deles “durões”, outros com participação na política institucional, porém todos ostentando um detalhe que deve ser um verdadeiro apanágio para os seus familiares: nunca, em momento algum, nem mesmo os seus piores adversários levantaram a voz para questionar a honorabilidade deles.

Nenhum foi ou é canonizado. Seres humanos, como todos, tinham e têm seus defeitos. Porém, vivos ou já transformados em saudade, por ironia da vida, tinham e tem curiosamente um traço em comum com Lúcio Flávio Vilar Lírio, o filósofo da bandidagem brasileira e bandido de maior QI que a crônica policial registra: eles também acreditavam e acreditam que “bandido é bandido e polícia é polícia”. Jamais ultrapassaram ou ultrapassam a linha de demarcação para se envolver com marginais, advindo daí os seus altos conceitos de honorabilidade.

Esse comentário é feito a propósito dos acontecimentos policialescos envolvendo a “Guerra do Rio de Janeiro”, onde a mídia já começa a acusar as tropas que ocuparam o “Alemão” de pequenos furtos, depois do resultado das operações das quais escaparam todos os “grandes chefes”, segundo alguns respeitabilíssimos jornalistas cariocas sendo apreendidas 20% das armas e as drogas pesadas mesmo evaporaram.

Claro, houve um baque econômico nas hostes da bandidagem, mas daí a pensar que o Rio deixou de consumir drogas, que os traficantes agora inexistem, isso parece conto da carochinha ou um acalanto para quem acredita em Negrinho do Pastoreio, Saci Pererê, duendes, fadinhas e Papai Noel.

E o pior é que nesse imbróglio estão envolvidos o Exército, a Marinha de Guerra e a aviação militar do Brasil. Não que as acusações tenham recaído sobre qualquer uma dessas armas, mas os próprios comandantes já manifestam as suas preocupações com o risco de “contágios”. Correr atrás de bandidos encarapitados nos morros cariocas não é a missão constitucional das Forças Armadas Brasileiras.

Lógico, a Constituição prevê a utilização delas em distúrbios internos, mas não sei dizer se este é o caso das horrorosas “convulsões intestinas”. No fundo o verdadeiro objetivo – e seria bom que o ministro da Defesa do Brasil (?) Nelson "Johnbim" se manifestasse sobre a questão – parece ser o de transformar o Brasil em outra São José da Costa Rica, apêndice dos EUA e destituído de Forças Armadas.

Num momento de altas turbulências econômico/financeiras que apavoram o mundo, com olhos estrangeiros voltados para as riquezas naturais do Brasil, não é bom que isso aconteça. No Brasil não faltam “especialistas” a afirmar que as Forças Armadas “consomem dinheiro a espera de guerras que nunca virão”. Primeiro, em todo o mundo é assim. Segundo, com qual absolutismo eles garantem que nunca os brasileiros poderão sofrer um processo invasivo.

A dialética de Lawrence da Arábia mostra que é possível ganhar uma guerra sem o disparo de um tiro sequer, utilizando apenas o dinheiro e a mídia. E no Brasil não faltam vendilhões da Pátria em todos os setores. Razão pela qual podemos dizer que é burra ou de má fé a insistência em manter tropas do Exército, Marinha e Aeronáutica nas fraldas dos morros cariocas, cercando bandidos dos quais a obrigação de contê-los é das policias militar e civil, desde que respeitem o enunciado de Lúcio Flávio.

Mais uma vez indago: o que tem a dizer o ministro Nelson "Johnbim"? Ou ele prefere detalhar os episódios para o embaixador Sobel, dos EUA? O Brasil aguarda.

Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

Geraldo Elísio* escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises
Extraído do NovoJornal 
Enviado por Leila Brito - Blog Chá com Letras

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