Laerte Braga
Um dos desafios que a presidenta Dilma Roussef vai enfrentar de cara diz respeito ao processo de integração latino-americana. E já começa antes da posse a dar sinais que pode cair de quatro com a decisão de manter o ministro Nelson Jobim na Defesa. Jobim é oriundo do governo FHC e não tem nada a ver com o Brasil, é agente estrangeiro.
O site WikiLeaks revela nos milhares de documentos secretos divulgados na última semana que são estreitas as ligações entre o ministro e o governo dos EUA. Como próxima demais para um ministro da Defesa sua “amizade” com o embaixador norte-americano no Brasil, Clifford Sobel.
Acostumados a ministros do padrão Celso Láfer, que tiram sapatos no aeroporto de New York quando chegam e submetem-se a revistas, os norte-americanos estão fazendo de tudo para que o novo governo não confirme o ministro Celso Amorim nas Relações Exteriores e afaste o secretário de Assuntos Estratégicos Samuel Pinheiro Guimarães, considerados hostis às pretensões dos EUA na América do Sul.
Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães são pontos positivos do governo Lula e conferiram ao Brasil respeito na comunidade internacional.
Se Jobim e chefes militares querem bater continência para Washington que o façam, mas lá.
Os documentos secretos revelados pelo site mostram que os EUA consideram o Brasil como país amigo, mas negam amizade estreita, enxergando obstáculos a interesses políticos que têm na região.
O acordo militar assinado entre o Brasil e os EUA é um escárnio, foi assinado com a oposição de Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães; e Jobim é só uma ponte entre norte-americanos, militares pró EUA (a maioria) e por essa razão várias decisões dos norte-americanos, muitas delas intervencionistas, passam pelo ministro da Defesa. Um contínuo, office boy com patente de “general de carreirinha”.
Não há sentido em manter Jobim no Ministério, como nunca houve em designá-lo.
Ou Dilma percebe o processo em seu momento, ou sucumbe ao “capitalismo a brasileira” e promove um retrocesso sem tamanho.
Essa característica volúvel de Jobim vem desde os tempos em que foi ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Ao assumir a toga de ministro caiu de quatro e se declarou líder do governo de FHC (por quem foi indicado) no STF, para assegurar o processo de privatização. Uma das suas primeiras atitudes foi afastar do processo de privatização da VALE a juíza Salete Macalóes (que vinha anulando ilegalidades e imoralidades na privatização) e colocar no caso um juiz, digamos, maleável.
Não há sentido e nem razão para a permanência de Jobim no Ministério do futuro governo e está aí o motivo da campanha contra Celso Amorim. Os norte-americanos o querem fora do Ministério das Relações Exteriores. Não é comprável, não é manobrável, ou seja, tem dignidade. É Amorim, não é Jobim.
Jobim tem interesses. Quem pensa que a mala branca é privilégio do futebol está visceralmente enganado.
A confirmação de Jobim é um rompimento dos compromissos assumidos em campanha, de políticas independentes e voltadas para a integração da América Latina. Em contrapartida, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim foi indicado como um dos mais influentes chanceleres dentre todos os países do mundo como formulador de políticas.
A escolha de Dilma, manter Jobim, significa tirar os sapatos ao chegar ao aeroporto de New York e as declarações do ministro contidas nos documentos revelados pelo site WikiLeaks confirmam isso.
Nos citados documentos consta a expressão “inclinação antiamericana” com relação ao Itamaraty e Jobim, ao contrário, se estende na cama e chama, venham, em relação às políticas relacionadas a América do Sul, particularmente à Venezuela.
Jobim num almoço com o embaixador norte-americano, passando informações, referiu-se ao ministro Samuel Pinheiro Guimarães como “alguém que odeia os Estados Unidos” e o embaixador pede sua ajuda para derrubar o ministro.
Sem caráter nenhum, já que os documentos divulgados são oficiais, mas cara de pau ao extremo, o ministro da Defesa telefonou a Samuel Pinheiro Guimarães para dizer que falou o que falou.
É típico de políticos corruptos e a serviço de potência estrangeira como ele. Falo de Jobim. Só por esse episódio desmoraliza qualquer governo. Como não tem dignidade e não vai pedir demissão, tem tarefas a cumprir para Washington, cabe à presidente eleita afastá-lo.
Os avanços obtidos no governo Lula, mesmo em meio a muitas concessões, correm o risco de ruir com a permanência de Nelson Jobim no Ministério da Defesa.
É preciso estar atento a ação de Jobim quanto a sua influência junto à futura presidente, levando em conta que foi um dos principais condutores, como ministro da Justiça e depois no STF do processo de venda do Brasil durante o governo FHC.
Não faz sentido estar no governo Lula e muito menos permanecer no governo Dilma.
Ou é imposição de militares comprometidos com Washington, ou é outra concessão sem tamanho, tipo uma no cravo, outra na ferradura.
Dilma Rousseff corre o risco de assumir sem condições de cumprir uma plataforma mínima de governo no campo de políticas estratégicas para o Brasil. Pode estar indo dormir na cama do inimigo.
Jobim, entre outras, defende uma estreita colaboração com os EUA, inclusive com a instalação de bases militares norte-americanas em nosso País.
Para quem não se lembra, há um episódio ridículo em sua “carreira” de general de mentirinha, além do discurso que fez quando tomou posse no STF (imoral). Vestindo uniforme de campanha desceu no aeroporto de Porto Príncipe no Haiti, anunciando que o Brasil iria assumir o controle e o comando das forças internacionais naquele país (tem nominalmente), quando do terremoto que destruiu parte do território haitiano. Os militares brasileiros foram sumariamente afastados do centro de decisões pelos militares norte-americanos.
Jobim foi apenas sacramentar a rendição. E explicar aos militares brasileiros que naquele momento general brasileiro passava a ser sargento do exército dos EUA.
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