sábado, 8 de janeiro de 2011

Relatório do encontro com o presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera


(Embaixada dos EUA em Santiago)

Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu



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[cabeçalho aqui omitido]
A íntegra do telegrama não está disponível.
Tradução de trabalho, não oficial, para finalidades didáticas.

Assunto: Encontro com o presidente eleito do Chile, Sebastian Pinera

1. (SBU) RESUMO: O presidente eleito do Chile, Sebastian Pinera, é bilionário, formado em Harvard, astuto, ex-senador, conhecido por trabalhar sete dias por semana. Embora descrito por parte da imprensa internacional como “de direita” e às vezes comparado ao sempre exposto a escândalos Silvio Berlusconi da Itália [orig. the Italy's scandal-prone Silvio Berlusconi], nenhuma das duas visões é acurada. Pinera é centrista anti-Pinochet, que enfrentará ao desafio de satisfazer sua ampla coalizão (Alianza) que se estende do centro à extrema direita. Foi além dos limites admissíveis [orig. He has pushed the envelope (expressão coloquial, quase jargão, sobretudo da publicidade & marketing; alguma coisa como “forçou a mão”] nos negócios políticos e comerciais no passado, mas agora se está oficialmente separando de seus substanciais investimentos [orig. but is now moving his substantial investments into blind trusts] para evitar conflitos de interesses. A devoção inquestionada à esposa de mais de 30 anos e a fé católica deixam pouco espaço para escândalos de caráter pessoal. FIM DO RESUMO. 

2. (U) Nas eleições históricas de 17 de janeiro, os eleitores chilenos escolheram o candidato de oposição Sebastian Pinera para ser o próximo presidente do Chile, derrotando o adversário, o ex-presidente Eduardo Frei Ruiz-Tagle, por três pontos. Pinera será o primeiro conservador a governar o Chile desde a ditadura de Pinochet (1973-1990) e o primeiro conservador democraticamente eleito à presidência desde 1958. (Ver Ref para mais análise das eleições.)

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O Presidente Bilionário 
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3. (U) Filho de servidor público/diplomata, Pinera cresceu em New York, Bélgica e Chile. Estudou Administração de Empresas na Universidade Católica do Chile em Santiago, onde recebeu o [prêmio] Raul Iver Award – a maior distinção do curso. Em 1973, transferiu-se para Harvard como bolsista Fulbright (seu irmão mais velho, José, também estudou em Harvard) e pós-graduou-se em Economia [orig. Masters and Ph.D.].
Pinera fala inglês razoavelmente bem, embora um pouco enferrujado [orig. rusty]. (Ver Ref B para detalhes sobre sua família e outras informações biográficas.)

4. (U) De volta ao Chile em 1976, Pinera trabalhou para o Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e na Comissão da ONU para a América Latina e Caribe (UN's Economic Commission for Latin America and the Caribbean, ECLAC) em projetos para reduzir a pobreza na América Latina. Em 1980, Pinera transferiu-se para o setor privado, onde demonstrou sua habilidade para navegar com grande sucesso nos mercados financeiros. Depois de acumular pequena fortuna como consultor financeiro, Pinera fundou a Tolten, empresa de construção civil. O sucesso dessa empresa gerou o capital para investir em outros negócios, entre os quais a Bancard – empresa que introduziu os cartões de crédito no Chile. A Bancard fez crescer a fortuna de Pinera e ele continuou a investir em várias indústrias chilenas. 

5. (SBU) Pinera orgulha-se de ser bilionário self-made. Em 2009, a revista Forbes classificou-o em 701º lugar na lista dos mais ricos do mundo, com fortuna de 1,3 bilhões de dólares. Entre suas aquisições mais dignas de registro estão os 26% das ações da empresa de aviação comercial líder na América do Sul, LAN; 13% do time ícone do futebol do Chile, Colo Colo; e é dono da empresa de televisão Chilevision. Pinera prometeu constituir um fundo para gerir seu patrimônio, antes de assumir a presidência, e a imprensa tem noticiado que atualmente trabalha para vender sua participação na LAN. [SANTIAGO 00000025 002 OF 004]

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O caminho para a presidência: Fourth Time's a Charm
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6. (SBU) A carreira política de Pinera começou na campanha para o Senado em Santiago em 1989 como independente que apoiava o Partido da Renovação Nacional (RN) de centro-direita. Eleito, alinhou-se oficialmente ao partido. Nos oito anos como senador, Pinera ganhou o respeito dos colegas por seu trabalho em várias áreas, inclusive na Comissão de Finanças do Senado. Em votação interna, os senadores o escolheram um dos dois melhores senadores da legislatura 1990-1998. Não se candidatou à reeleição. Em 2001, assumiu a presidência do Partido de Renovação Nacional e conduziu o Partido rumo ao centro, com sucesso.

7. (SBU) Presidir o Chile já era, há muito tempo, sonho de Pinera. Tentou a candidatura em 1992, aventura que terminou prematuramente, quando se divulgou gravação feita secretamente de uma conversa telefônica entre ele e um jornalista, que articulavam movimento para minar a candidatura de sua oponente, Evelyn Matthei (Ref B). Era então presidente do Partido RN e pré-candidato à presidência em 1999, mas afastou-se da eleição; e o presidente da coalizão Aliança, Joaquin Lavin da União Democrática Independente (UDI) ganhou a indicação como candidato. (Lavin perdeu para Ricardo Lagos por pequena margem no segundo turno.) Em 2005, Pinera decidiu concorrer como candidato à presidência pelo Partido RN, o que rompeu a coalizão Aliança, porque Lavin também concorria como candidato da UDI. Pinera derrotou Lavin no primeiro turno – o que gerou ressentimentos na UDI –, mas em seguida perdeu por 7% dos votos para o candidato da Concertacion, Michelle Bachelet, no segundo turno. Imediatamente, Pinera começou a pensar na campanha presidencial de 2009.

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Pinera é leal a quê? Ao centro, ao centro-direita ou à direita?
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8. (SBU) Criado em família da Democracia Cristã – o pai foi um dos fundadores do Partido -, Pinera foi influenciado desde cedo. Fala abertamente de como o Democrata Cristão Eduardo Frei Montalva, presidente do Chile em 1964-1970, amigo de seu pai e pai de seu principal adversário Eduardo Frei Ruiz-Tagle – influenciou suas crenças políticas. Pinera atribui seu afastamento dos Democratas Cristãos de centro-esquerda às políticas econômicas “retrógradas” do partido.

9. (SBU) Pinera tem relacionamento difícil com membros da extrema direita da coalizão Aliança. Contra muitos da Aliança, coalizão conservadora, Pinera votou “Não” no plebiscito de 1988, voto vitorioso no plebiscito, que derrubou a possibilidade de mais oito anos de ditadura militar com Pinochet e abriu caminho para a transição democrática e as eleições de 1989. Mais recentemente, a crítica aberta que fez contra Pinochet, o apoio ao casamento de homessexuais e à ‘pílula do dia seguinte’ como método contraceptivo incomodaram bastante a extrema direita chilena. No esforço para tranqüilizar a extrema direita, Pinera discursou, durante a campanha, para grande grupo de militares da reserva, prometendo por fim à questão “eternamente” pendende das acusações feitas aos militares, por abuso de direitos humanos [SANTIAGO 00000025 003 OF 004]. 

10. (SBU) Ao longo da campanha, Pinera apresentou-se como centrista e prometeu continuar muitas das políticas sociais, muito populares, da presidente Bachelet. Depois de eleito, tem prometido trabalhar com o governo derrotado da Concertacion, em nome de construírem uma transição suave. Os conselheiros Rodrigo Hinzpeter e Cristian Larroulet tiveram recentemente o primeiro encontro com o ministro do Interior do governo que sai Edmundo Perez Yoma. Os analistas esperam ansiosamente pelo anúncio dos nomes que comporão o governo de Pinera – esperado para fevereiro –, para saberem se incluirá ou não nomes da era Pinochet em postos importantes do novo governo.

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Tem experiência com escândalos

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11. (SBU) Além do telefonema gravado que pôs fim às suas aspirações presidenciais em 1992, ao longo dos anos o nome de Pinera tem sido associado a vários escândalos financeiros e políticos. Foi acusado de envolvimentos em arranjos financeiros escusos, quando trabalhou como gerente geral de um banco no final dos anos 1970; e conseguiu escapar do mandado de prisão resultante desse processo, em 1982. Em 2007, pagou uma multa de 700 mil dólares à comissão chilena equivalente à Securities and Exchange Commission [Seguros e Câmbio] por uso de informação privilegiada [orig. insider trading], mas jamais admitiu qualquer culpa. Comerciante astuto, Pinera procura sempre a maior vantagem possível nos negócios sejam comerciais ou políticos, muitas vezes aproximando-se perigosamente dos limites extremos da ética ou da legalidade. (Ver Ref C para mais informações sobre os escândalos de Pinera.)

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Empresário extremamente ousado, luta hoje para construir imagem mais amena 
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12. (C) Pinera é conhecido pelo rigor, pela inteligência e pela dedicação. Trabalha de domingo a domingo e dorme pouco. Conta com receber informação antecipada, várias horas antes de qualquer reunião, para que tenha tempo de pesquisar e informar-se sobre o que será discutido. É bom ouvinte, atento a opiniões que considere substanciais e relevantes, mas interrompe e chega a pedir que se retirem interlocutores que lhe pareçam nada ter a acrescentar que mereça atenção.

13. (C) Pinera é chefe exigente, mas recompensa bem a lealdade dos colaboradores. Em conversa com conselheiros próximos, em festa de comemoração na noite das eleições, disse que contaria com a inteligência, com muito trabalho e com a obediência de todos. Microgerente, quer estar no controle de todos os detalhes, do conteúdo de um discurso à posição da câmera e à iluminação. A imprensa especulou que talvez tornasse difícil a vida de membros do gabinete, porque é homem de conhecimentos amplos e diversificados e líder do tipo que “mete a mão na massa” [orig. hands-on leadership style].

14. (C) Como candidato à presidência, Pinera tentou tirar de foco a imagem de bilionário e mostrar seu lado humano. Fez campanha incansável por todo o país, se autodescrevendo como “a locomotiva”, e abraçou as novas tecnologias das redes sociais, como Facebook e Twitter. Apesar dos esforços para mostrar-se como “homem do povo”, cercou-se de empresários e intelectuais da elite [SANTIAGO 00000025 004 OF 004] e continua a pilotar seu helicóptero, com o qual se desloca entre suas casas de férias.

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A nova Primeira Família do Chile: os Pinera-Morels
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15. (U) Pinera é casado há mais de 30 anos com Cecilia Morel Montes e têm quatro filhos adultos: Magdalena, Cecilia, Sebastian e Cristobal. Pinera é cercado por conselheiros da família. A filha mais moça, Magdalena ("Pichita") dirige uma organização de caridade, a Future Foundation, e a filha Magdalena ("Manena") [aqui há algum erro] foi elemento chave da campanha e importante conselheira da equipe de transição do pai. Os filhos também trabalharam na campanha, participando de conferências de imprensa e outros eventos públicos. Pinera é católico praticante; seu tio, Bernardino Pinera, é padre.

16. (SBU) A esposa, Cecilia Morel, é formada em Serviço Social pelo Carlos Casanueva Professional Institute e há vinte anos trabalha no setor de Assistência Social. Fundou a Enterprising Women Foundation, que trabalha para ajudar mulheres jovens de baixa renda da área de Santiago, oferecendo treinamento e consultoria para desenvolvimento profissional e criação de microempresas. Como Primeira Dama, Morel propôs desenvolver um programa de melhoria das moradias nas áreas rurais do país, uma rede de centros para atividades extra-escolares para crianças com necessidades especiais e um programa de esportes para jovens em situação de risco.

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COMENTÁRIO
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17. (C) Pinera, empresário altamente qualificado e muito bem sucedido em termos empresariais, traz mudança substancial ao Chile, depois de vinte anos de governo da Concertacion. É inteligente e trabalhador incansável e determinado. Pinera será presidente ‘de mão na massa’. Dado que foi eleito por votos do centro-esquerda e da direita, terá de construir cuidadoso equilíbrio, para cumprir a promessa de dar continuidade às políticas progressistas de Bachelet, ao mesmo tempo em que não pode desapontar seus apoiadores da extrema direita. FIM DO COMENTÁRIO. [Assina] URBAN*

URBAN* é Carol URBAN, ministra conselheira da Embaixada dos EUA em Santiago à época.

2 comentários:

  1. Esse telegrama não parece igualzinho a qualquer matéria pressuposta “jornalística” de qualquer jornaleco brasileiro?

    O que poderia ser mais totalmente imbecil que esse telegrama? Impressionante.

    Esse telegrama aspira a ser objetivo e isento, feito qualquer matéria jornalística que se lê em qualquer jornaleco brasileiro [risos, risos muitos muitos].

    Com o que se dá por demonstrado que a isenção “jornalística” dos jornalecos brasileiros é EXATAMENTE idêntica à isenção que se pretende documental... dos embaixadores dos EUA!

    Que prova mais cabal se pode esperar de que o jornalismo que se impinge no Brasil aos desgraçados leitores consumidores pagantes de Folha de S.Paulo, Estadão,O Globo, revista (NÃO) Veja e coisa e tal não é jornalismo, e não passa, mesmo, de repetição -- puro malho! -- da mais falida ideologia liberal de direitona, incansavelmente repetida na orelha dos brasileiros?

    Vila Vudu

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  2. Não é um mau expediente. A Ministra-Conselheira logra um perfil bem interessante de Sebastián Piñera, que outro dia mesmo, na festa de posse da nossa Presidente, aproximou dois pólos opostos, sem curto-circuito: Chávez e Hillary. É homem preparado e muito afável. Ainda bem que venceu o democristão superado. É de esperar-se que retire as velharias do Chile, assim ajudando uma reformulação da esquerda, que poderia sucedê-lo.
    Abraços do
    ArnaC.

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