Raul Longo(e) e Ida (fundo) na Ponta do Sambaqui |
Raul Longo ( a propósito do Battisti)
O Brasil é um país que impressiona profundamente a comunidade internacional. Eu mesmo, aqui escondido nesta Ponta do Sambaqui que se resume a uma esquina de rua sem saída, posso sentir isso de forma muito concreta nos comentários de meus tantos vizinhos e hóspedes estrangeiros.
Os provindos dos países vizinhos e até mesmo os da América Central ainda fazem uma cara compreensiva, onde percebo certa complacência que me faz lembrar uma prostituta me segredando sua impressão sobre um sujeito falastrão e engraçado: “- Ele é feinho, mas é alegrinho, né?”
Sei que meus amigos argentinos, chilenos, costarriquenhos ou mexicanos; em verdade estão nos perdoando por sermos tão desavergonhados, o que compensam por nosso comportamento alegrinho no carnaval e talentoso no futebol.
Já com os hóspedes europeus a coisa fica bem mais difícil. A cada vez que algum comentarista, articulista ou apresentador de telejornal da nossa chamada imprensa “livre” faz esculhambar alguma medida do governo que ao senso comum do mundo parece apropriada e digna de enaltecimento pela imprensa realmente livre lá deles, me olham com cara de espanto solicitando uma explicação minimamente lógica para o tamanho da besteira dita na TV.
Esses dias, por exemplo, por razões que não posso imaginar quais sejam, um grupo de espanhóis deram de assistir a TV Senado retransmitindo a audiência pública para a normatização do conteúdo audiovisual das emissoras em operação no Brasil. Eu tentando entender o porquê do assunto merecer a atenção daqueles estrangeiros lá na sala e um deles me pergunta se não temos vergonha de permitir que redes estrangeiras venham aqui impor exigências em franco detrimento da produção cultural brasileira, através de concessões que não são cedidas pelos governos de nenhum dos demais países onde operam.
Tucano entreguista |
Responder o quê? Envergonhado tive de discorrer sobre o crescimento de nossa subserviência econômica internacional no decorrer da ditadura, ainda mais agravada no governo de Fernando Henrique Cardoso que aos interesses de capitais estrangeiros concedeu os processos de comunicação pública no Brasil.
Meu receio era de que soubessem ter sido um governo de 2 mandatos, reeleito, mais e ainda pior que isso, me perguntaram espantados porque não nos manifestamos como público, não vamos às ruas, não impomos nossa dignidade como povo, como identidade nacional.
A situação é vexatória! Hoje é um amigo italiano que me escreve pedindo informações sobre alguma manifestação popular contra o atentado à Constituição Brasileira pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal que, por mínimo senso republicano, federativo e democrático, deveria ser o primeiro a exigir o estrito respeito à Constituição.
Cesar Peluso |
Apesar de indicado pelo Presidente Lula, Cezar Peluso vai contra a Constituição do nosso país, onde outorga a determinação final de casos de extradição ao Presidente da República, e transfere ao relator do processo, Gilmar Mendes, o destino de Cesare Battisti, condenado na Itália por crimes que ao parecer da comunidade jurídica internacional não tiveram suficiente e satisfatória comprovação de autoria.
Quem? – pergunta o italiano num telefonema para confirmar sua indignação que não coube numa só correspondência pela internet. Para meu azar o paisano estava aqui no Brasil durante todo o período em que Gilmar Mendes se notabilizou pela própria desqualificação ao cargo que então ocupava como predecessor do Peluso. E o danado do italiano sabe que não foi por apenas um ou dois deslizes. Sabe até que o Gilmar foi desmentido nas armações em conluio com a imprensa, se dizendo vítima de escutas telefônicas.
Sabe tanto que, rememorando o Ministro Joaquim Barbosa, ao invés de mandar que Gilmar Mendes vá às ruas, perguntou se as ruas não irão a Gilmar Mendes se cometer o desplante de revogar a última decisão presidencial de Luís Ignácio Lula da Silva. O que, em sua itálica percepção, seria delinquir não só contra a Constituição, mas contra todo o povo brasileiro que elegeu e reelegeu o ex Presidente Lula conferindo-lhe 87% de popularidade ao final de seu segundo mandato, feito universalmente inédito.
Entre muitos “vergogna” e “farabuttos” convocou lembranças de Marco Aurélio Mello ordenando a soltura e facilitando a fuga de Salvatore Cacciola para a Itália que negou ao Brasil o pedido de extradição do condenado por peculato e gestão fraudulenta, em conluio de quadrilha formada pelos assessores financeiros do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Cacciola que roubou o povo brasileiro só está preso porque foi passear em Mônaco, pois se dependesse do governo italiano estaria impune até hoje, gastando na península o dinheiro que roubou dos “brasilianni”, gritava o italiano.
Tento explicar ao amigo a existência de dois Brasis, um recente que desde 2003 nos orgulha perante o mundo e o mais antigo, o que nos envergonha.
Sem aceitar desculpas explodiu numa enfiada de indignações das quais resumo o pouco que compreendi na pergunta sobre quando os 87% do Brasil que orgulha vai pendurar o Brasil que envergonha de cabeça pra baixo, como eles fizeram com Mussolini que envergonhou a Itália com o fascismo.
Aí me vinguei devolvendo na mesma moeda. Do lado de cá questionei quando farão com o Berlusconi o mesmo que fizemos com o DEMO/PSDB.
“Maledeto!” – e desligou.
editado e ilustrado por redecastorphoto
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