sábado, 15 de outubro de 2011

Quando o apoio ao governo mede-se em votos

Argentina, 23/10/2011: eleições gerais

Raúl Kollmann
15/10/2011, Raúl Kollmann, Pagina 12, Buenos Aires
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Encerrado o prazo para publicações de pesquisas na Argentina, a pesquisa CEOP mostra que Cristina Kirchner (CFK) mantém ou supera o que alcançou nas primárias (14/8/2011). Em segundo lugar aparece Binner[1], mas a quase 40 pontos de distância.

Cristina Fernández de Kirchner entra na última semana da campanha eleitoral com importante vantagem de quase 40 pontos e com a perspectiva de superar os 50% de votos que já obteve nas primárias abertas, simultâneas e obrigatórias (PASO). 

A oito dias dos comícios, é quase certo que a presidenta conseguirá mais votos que nas primárias de 14 de agosto. Hermes Binner aparece em segundo, e parece difícil que Ricardo Alfonsín o ultrapasse, embora a Unión Cívica Radical (UCR, antiperonista, de Alfonsín) não esteja muito distanciada. Ficaram para trás Alberto Rodríguez Saá e o candidato mais atacado durante os últimos meses Eduardo Duhalde (foi vice-presidente de Menen). A eleição do próximo domingo confirmará a queda da Coalición Cívica que já se viu nas PASO. O contexto desse prognóstico é que a maioria valoriza a gestão do governo de Cristina Kirschner; entende que tem boas expectativas para o próximo ano; considera boa a situação da Argentina no quadro da crise global; e, além disso, a oposição não conseguiu mostrar nem força nem projetos alternativos.

Essas são as conclusões de pesquisa realizada pelo Centro de Estudios de Opinión Pública (CEOP), dirigido pelo sociólogo Roberto Bacman. Foram entrevistadas 1.230 pessoas em todo o país, em entrevistas pessoais, consideradas as proporções populacionais por idade, sexo e nível socioeconômico.

“Ainda há 7% de indecisos e seria precipitado apresentar diagnóstico definitivo sobre como votarão – disse Bacman. “Mas pode-se dizer, para começar, que a presidenta não terá menos votos que nas primárias e tudo indica que crescerá nos últimos dias de campanha. Mas temos de ver o que acontece nesses oito dias. Pode-se dizer também que a diferença para o segundo colocado será muito grande, tendência que se constata em todos os estratos sociais, embora o voto favorável a Cristina apareça muito alto entre os jovens, as mulheres e os mais pobres.”

A pesquisa investigou também as tendências para o segundo lugar. Para Bacman, Binner dificilmente perderá nesse segundo lugar, embora Alfonsín apareça com apenas um ponto percentual a menos, de votos. “Se se considera a franja de indecisos, diria que Binner chegou ao seu teto, mas também não vejo que Alfonsín consiga superá-lo. Se se consideram as primárias, é evidente que muitos votos de Alfonsín migraram para Binner. Diria que o Radicalismo está lutando, que modificou a campanha, que está mais concentrado na figura de Alfonsín, mais que na aliança com Francisco de Narváez. Mas Binner tem boa votação na Capital, Gran Buenos Aires, Santa Fe e Córdoba. Se isso se confirmar, ficará em segundo lugar. É indiscutível que Alfonsín foi afetado pelo mau resultado nas primárias PASO. Em troca, Binner partiu, de 2, 3 pontos em janeiro, para mais de 10 nas primárias, e posicionou-se como melhor candidato que Alfonsín. Os vasos comunicantes eleitorais fizeram com que muitos votos se transferissem, de Alfonsín a Binner.” 

Para o CEOP, outro candidato afetado pelo processo eleitoral foi Duhalde. “O voto anti-CFK esteve centrado em Duhalde – diz Bacman. – Por exemplo, o ex-presidente começou em 2º lugar na capital federal. Hoje, já perdeu esse lugar, para Binner. Entre os indecisos, Duhalde está fraco; Rodríguez Saá está melhor. Eu diria que os votos de Duhalde se dividiram: uma parte, inclusive, migrou para Cristina.”

“Percebe-se que não houve grande mudanças em relação às primárias, talvez se possa dizer, mesmo, que pouca coisa mudou mesmo desde antes das primárias – resume o sociólogo. – Por trás da intenção de voto, vê-se o efeito da estabilidade e inclusive de várias melhoras. Por exemplo, a presidenta tem excelente imagem positiva, mas o que chama a atenção é que, desde agosto, a opinião favorável não está ligada só à pessoa, mas, também, ao seu governo. Acho que essa percepção positiva influencia a percepção, pela maioria, de que o governo enfrentou bem as dificuldades, apesar da grave crise internacional que todos estão vendo.

Chama a atenção, nas últimas pesquisas, que muito mais gente, hoje, qualifica o governo como muito bom, do que os que o consideram ruim ou menos bom. E é preciso acrescentar também um elemento de mais longo prazo: muitos entrevistados declaram que melhorou sua qualidade de vida, durante o governo de Cristina. Todos esses traços contribuem para formar uma imagem positiva da presidenta.”

A pesquisa do CEOP mostra amplo apoio às políticas sociais do Governo, inclusive a bolsa universal por filho [orig. Asignación Universal por Hijo], a re-estatização dos fundos de pensão e aposentadorias [orig. Administradoras de fondos de jubilaciones y pensiones - AFJP] e, em vários setores, os programas Fútbol para Todos e a legalização do casamento de pessoas de mesmo sexo.

Evidentemente, com mais de 50% das intenções de voto, a presidenta CFK lidera em todas as camadas da população. Umas das mudanças que se observaram nos últimos tempos, é que Cristina aparece agora em primeiro também nas grandes cidades. Não foi assim em 2007 nem, e muito menos, em 2009. Agora, CFK vence na capital, em Córdoba e em Santa Fe, por exemplo. O voto dos jovens também pesa muito, o que é novidade, se se considera o início do governo do casal Kirchner.

“Minha opinião é que esse resultado também está sendo fortemente influenciado pela fraqueza da oposição, que não conseguiu oferecer plano alternativo. Os eleitores votam em quem se mostra competente para governar. Se a oposição tivesse candidato capaz de exibir realizações concretas no campo do bom governo, talvez conseguisse mobilizar a seu favor o voto anti-K. Mas os votos da oposição acabaram divididos entre todos os candidatos. 

Dado também que a oposição não oferece qualquer alternativa, a presidenta está conseguindo mobilizar a seu favor muitos mais votos do que os que poderia esperar do núcleo duro kirchnerista. CFK pode exibir governabilidade, capacidade de governar e projeto claro, contra uma oposição dividida e sem qualquer lucidez sobre o que quer e o que tenha a propor”, concluiu Bacman.




Nota dos tradutores
[1]   Hermes Juan Binner, Governador de Santa Fé, primeiro socialista eleito governador na história da Argentina e primeiro não peronista eleito em Santa Fe desde 1983.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.