domingo, 23 de outubro de 2011

A Líbia inicia dividida a era pós-Gaddafi

J. M. Muñoz

23/10/2011, El País, Madrid, Juan Miguel Muñoz (enviado especial), Misrata
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu

Nota dos tradutores: - Excluíram-se da matéria abaixo:
(1)
todas as repetidas intervenções do jornalista, empenhado em “noticiar” que “todos queriam Gaddafi morto”;
(2) o tom simpático, do jornalista, sempre que se refere aos assassinos; e
(3) todas as intervenções do jornalista que visam a “provar” que Gaddafi “não podia ser julgado, porque o julgamento dividiria ainda mais o país”. 
Excluíram-se também dessa matéria, na tradução, a “noticia” de “visitantes sonrientes en la morgue improvisada”; macabra e macabramente repetida, e imoral.

Morto não vence batalhas. Não é exatamente verdade no caso de Muamar Gaddafi, mesmo de dentro da câmara frigorífica do mercado de verduras e carnes de Misrata, onde está o cadáver, que ainda gera discórdia entre os que até ontem o combatiam. Um dia depois de morto Gaddafi, ao que parece por execução sumária, a morgue foi visitada, na 6ª-feira à tarde, pelo primeiro-ministro Mahmud Jibril. Tratava-se das providências para o enterro. Mas os militares que têm sob custódia o cadáver, e o primeiro-ministro, não chegaram a qualquer acordo, por mais que todos se declarem muçulmanos devotos, e por mais que já estivesse vencido o prazo de 24 que o Corão determina para o sepultamento de todos os muçulmanos. Os soldados de Misrata querem que o corpo de Gaddafi seja enterrado em local secreto. Jibril prefere que seja enterrado em cemitério conhecido e que o túmulo seja guardado, para impedir que seja visitado.

Parece pouco, mas é a primeira divisão grave na era pos-Gaddafi, em país em que o leste e o oeste jamais conseguiram firmar qualquer tipo de pacto ou de aproximação, em quase 50 anos. A tribo de Gaddafi, Gadadfa, já reclamou o corpo, para dar-lhe enterro digno em Sirte, sua cidade natal. (...)

Centenas de homens esperavam disciplinadamente a vez de entrar, protegendo-se do sol sob algumas árvores. (...) Na sala refrigerada ecoa o “Alá é Grande” da fila de visitantes e dos que esperam do lado de fora. (...)

Vários detalhes dão a impressão de que Misrata, aposta na ideia de demonstrar força. À entrada da província há pontos de controle, como de fronteira, em que militares pedem documentos aos que chegam e exigem o passaporte (que é fotocopiado); há aí muitos postos de controle, mais que no resto do país. É como se quisessem mandar um recado ao governo central em Trípoli. 

Em Misrata, ninguém perdoa a intervenção de Jibril, dias depois de ocupar Trípoli. “Exigiu que nossos soldados devolvessem o que havia sido retirado de Bab el Azizia. Mas eles só se apoderaram de carros e de combustível que lá encontraram. Mas Jibril só falou sobre isso, pela televisão, depois de nos ter consultado” – disse Ahmed, ex-funcionário do governo de Gaddafi.

Não é o único sinal já visível de que as disputas territoriais, históricas, começam já a aflorar. O plano previsto pelo Conselho Nacional de Transição estabelece que o presidente do Conselho, Mustafá Abdelyalil, declare a Líbia liberta, depois do que se iniciaria o processo democrático. A cerimônia oficial, que estava prevista para acontecer em Trípoli, acontecerá, ao que parece, em Bengasi, nesse domingo. 

Se as disputas territoriais se somarem às disputas tribais (...) e à luta pelo poder que já se configura entre islamistas e liberais educados nos EUA e em outros países ocidentais, o panorama político pode turvar-se. Com o agravante de que, hoje, na Líbia, há uma arma em cada casa. (...) En Trípoli, já pululam os empresários em busca de contratos. E poderosos personagens exilados, que nunca pararam de tentar golpes sempre fracassados contra Gaddafi, ainda não manifestaram suas exigências”. 

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