sexta-feira, 25 de julho de 2014

De cegos e de anões

24/7/2014, [*] Mauro SantayanaJornal do Brasil
Enviado por Xica Veira – Modelo de alta costura na Vila Vudu

Comentário da Xica Veira: Taí! Pura verdade! O Brasil hoje é um gigante. Mas o Brasil já foi, sim-senhor, país de sub-nanicos sub-morais, sim, no tempo de Oswaldo Aranha subornado para coordenar e oficializar, na Assembleia da ONU, a invenção da Israel dos sionistas – desgraça e vergonha para toda a humanidade. Graaaaaaaande Santayana!

Rua do anão Oswaldo Aranha na cega Israel
Se não me engano, creio que foi em uma aldeia da Galícia que escutei, na década de 70, de camponês de baixíssima estatura, a história do cego e do anão que foram lançados, por um rei, dentro de um labirinto escuro e pejado de monstros. Apavorado, o cego, que não podia avançar sem a ajuda do outro, prometia-lhe toda sua fortuna, caso ficasse com ele, e, desesperado, começou a cantar árias para distraí-lo.

O outro, ao ver que o barulho feito pelo cego iria atrair inevitavelmente os monstros, e que o cego, ao cantar cada vez mais alto, se negava a ouvi-lo, escalou, com ajuda das mãos pequenas e das fortes pernas, uma parede, e, caminhando por cima dos muros, chegou, com a ajuda da luz da Lua, ao limite do labirinto, de onde saltou para densa floresta, enquanto o cego, ao sentir que ele havia partido, o amaldiçoava em altos brados, sendo, por isso, rapidamente localizado e devorado pelos monstros que espreitavam do escuro.

Ao final do relato, na taberna galega, meu interlocutor virou-se para mim, tomou um gole de vinho e, depois de limpar a boca com o braço do casaco, pontificou, sorrindo, referindo-se à sua altura: como ve usted, compañero... com o perdão de Deus e dos cegos, ainda prefiro, mil vezes, ser anão...

Lembrei-me do episódio — e da história — ao ler sobre a convocação do embaixador brasileiro em Telavive para consultas, devido ao massacre em Gaza, e da resposta do governo israelense, qualificando o Brasil como irrelevante, do ponto de vista geopolítico, e acusando o nosso país de ser um “anão diplomático".

Sionismo = Nazismo
Chamar o Brasil de anão diplomático, no momento em que nosso país acaba de receber a imensa maioria dos chefes de Estado da América Latina, e os líderes de três das maiores potências espaciais e atômicas do planeta, além do presidente do país mais avançado da África, país com o qual Israel cooperava intimamente na época do apartheid, mostra o grau de cegueira e de ignorância a que chegou Telavive.

O governo israelense não consegue mais enxergar além do próprio umbigo, que confunde com o microcosmo geopolítico que o cerca, impelido e dirigido pelo papel executado, como obediente cão de caça dos EUA no Oriente Médio.

O que o impede de reconhecer a importância geopolítica brasileira, como fizeram milhões de pessoas, em todo o mundo, nos últimos dias, no contexto da criação do Banco do BRICS e do Fundo de Reserva do Grupo, como primeiras instituições a se colocarem como alternativa ao FMI e ao Banco Mundial, é a mesma cegueira que não lhe permite ver o labirinto de morte e destruição em que se meteu Israel, no Oriente Médio, nas últimas décadas.

Se quisessem sair do labirinto, os sionistas aprenderiam com o Brasil, país que tem profundos laços com os países árabes e uma das maiores colônias hebraicas do mundo, como se constrói a paz na diversidade, e o valor da busca pacífica da prosperidade na superação dos desafios, e da adversidade.

O Brasil coordena, na América do Sul e na América Latina, numerosas instituições multilaterais. E coopera com os estados vizinhos — com os quais não tem conflitos políticos ou territoriais — em áreas como a infraestrutura, a saúde, o combate à pobreza.

Árabes e judeus no Brasil
No máximo, em nossa condição de “anões irrelevantes”, o que poderíamos aprender com o governo israelense, no campo da diplomacia, é como nos isolarmos de todos os povos da nossa região e engordar, cegos pela raiva e pelo preconceito, o ódio visceral de nossos vizinhos — destruindo e ocupando suas casas, bombardeando e ferindo seus pais e avós, matando e mutilando as suas mães e esposas, explodindo a cabeça de seus filhos.

Antes de criticar a diplomacia brasileira, o porta-voz da Chancelaria israelense, Yigal Palmir, deveria ler os livros de história para constatar que, se o Brasil fosse um país irrelevante, do ponto de vista diplomático, sua nação não existiria, já que o Brasil não apenas apoiou e coordenou como também presidiu, nas Nações Unidas, com Osvaldo Aranha, a criação do Estado de Israel.

Talvez, assim, ele também descobrisse por quais razões o país que disse ser irrelevante foi o único da América Latina a enviar milhares de soldados à Europa para combater os genocidas nazistas; comanda órgãos como a OMC e a FAO; abre, todos os anos, com o discurso de seu máximo representante, a Assembleia Geral da ONU; e porque — como lembrou o ministro Luiz Alberto Figueiredo, em sua réplica — somos uma das únicas 11 nações do mundo que possuem relações diplomáticas, sem exceção, com todos os membros da Organização das Nações Unidas.



[*] Mauro Santayana (Rio Grande do Sul, 1932) é um jornalista brasileiro. Embora tenha estudado apenas até o segundo ano do antigo primário, o equivalente ao atual terceiro ano do ensino fundamental, ocupou, como jornalista autodidata, cargos destacados nos principais órgãos da imprensa brasileira, especialmente na mídia impressa, como Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Correio Brasiliense e Jornal do Brasil, no qual mantém uma coluna sobre Política. Também escreve regularmente para a Carta Maior, é comentarista de televisão e mantêm um blog, onde escreve artigos e crônicas sobre política,economia e relações internacionais, cujo endereço na internet é maurosantayana.com. Além de inúmeros artigos publicou os seguntes livros: A Tragédia Argentina- Poder e violência de Rosas ao Peronismo; Conciliação e transição: as armas de Tancredo; Mar Negro - Nação e Governo Em Nosso Tempo; Dossiê da guerra do Saara

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