quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sobre o aborto

por Irene da Silva Telles

            Causa espanto e revolta a polêmica que se faz sobre o aborto, atribuindo à candidata Dilma Rousseff  uma declaração de que é a favor do aborto. Uma mentira deslavada porque não conheço UMA MULHER que seja a favor do aborto. Imagine-se!

Homens, sim! Aqueles que obrigam as mulheres em quem fizeram filhos a fazerem aborto. Claro que não dizem. Pelo contrário, com a cara mais hipócrita do mundo, declaram, se têm algum poder – senadores, deputados, vereadores, ministros do judiciário, padres, pastores etc – que são contra a descriminalização do aborto.

            E as mulheres: alguém conhece alguma que seja a favor do aborto?

Que fazem aborto, podem fazer: a mulher que não agüenta mais, que sabe que não vai poder sustentar o filho – muitas vezes ignorado por quem o fez – a mulher que está com raiva do companheiro que a forçou, a mulher que está à beira de se matar porque está nos limites das forças. Essas, fazem aborto, sim.

            Se têm dinheiro para pagar, fazem aborto nas clínicas aborteiras: uma clínica em cada bairro do Rio de Janeiro. (Algum legislador toma providências para fechá-las? Não, porque não interessa: as mulheres, filhas, netas e sobrinhas deles são clientes). As que não têm como pagar o aborto, arriscam-se, estrepam-se (e vão sobrecarregar os hospitais públicos) ou morrem mesmo.

            E ainda são consideradas criminosas!

            Enquanto isso, os homens ficam numa boa: não são criminalizados, parece que não têm nada com a gravidez da mulheres com quem dormiram.

            É revoltante para nós, mulheres, vermos essa discriminação:  parece que estamos no tempo do Antigo Testamento, como os fundamentalistas muçulmanos, que apredejam mulheres adúlteras.

            Mas é bom, católicos e evangélicos, lembrarmos a Boa Nova (o Evangelho): quando o pessoal queria apredejar a adúltera, Cristo disse: “Quem não tiver pecados, atire a primeira pedra”. E todos se afastaram, os mais velhos em primeiro lugar. E Jesus perguntou: “Alguém te condenou? Eu também não te condeno”. E Cristo disse à adúltera: “Vai e não peques mais” (João 8, 3-11)

            Infelizmente, parece que o Brasil ainda é vetero-testamentário: Jogue a pedra na mulher!
             

Irene Silva Telles é correspondente da redecastorphoto - 82 anos, professora aposentada do Estado do Rio de Janeiro e da Faculdade de Educação da UFRJ
Católica, casada  mãe de 10 (dez) filhos e avó de 14 netos