sábado, 11 de dezembro de 2010

Mídia no Paquistão publica versão adulterada de telegramas WikiVazados, mas CORRIGE-SE

A Vila Vudu SEMPRE disse:
[Até] No Paquistão há melhor jornalismo que o da Rede Globo, do Estadão, da Folha de S.Paulo, da revista (NÃO)Veja!
Agora, taí a prova! A prova! 
Quando, algum dia, viu-se jornal-empresa brasileiro, desmentir-se – por respeito aos leitores! –, depois de ter sido desmascarado por jornal-empresa concorrente?!

WikiLeaks:
Mídia no Paquistão publica versão adulterada de telegramas WikiVazados

10/12/2010, The Express Tribune, Paquistão e Guardian, 10/12/2010
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu

Na edição de 8/12/2010, o The Express Tribune, do Paquistão publicou matéria, à pág.8, sob manchete em que se lia “WikiLeaks: What US officials think about the Indian Army” [WikiLeaks: o que funcionários dos EUA pensam sobre o exército da Índia]. Transpirou depois que os telegramas e a história, distribuída pela agência de notícias Online, não são verdadeiros.
O Express Tribune lamenta profundamente ter reproduzido a matéria sem a devida verificação e pede amplas desculpas por qualquer inconveniente que tenha causado a nossos prezados leitores
O jornal britânico Guardian publicou matéria sobre a mesma questão, que o The Express Tribune reproduz adiante, para informação de nossos leitores.

A matéria, no Guardian

Citando telegramas WikiVazados, os maiores jornais do Paquistão publicaram essa manhã notícias sobre avaliação feita por observadores norte-americanos sobre militares e líderes civis paquistaneses.

Segundo os telegramas citados, diplomatas dos EUA ter-se-iam referido a generais indianos como tolos, egoístas e genocidas; que o governo indiano estaria aliado secretamente a fundamentalistas hindus; e que espiões indianos estariam apoiando secretamente militantes paquistaneses no cinturão tribal do Paquistão e no Baloquistão.

“Provas de envolvimento da índia no Waziristão, Baloquistão” – dizia a matéria de primeira página do The News; e matéria praticamente idêntica foi publicada também no jornal Jang, em idioma urdu.

Se verdadeiras as acusações, confirmar-se-iam os piores temores dos nacionalistas paquistaneses mais linha-dura e ficariam ameaçadas as relações entre Washington e Nova Delhi. Mas a matéria é falsa.

Pesquisa extensiva e cuidadosa em toda a base de dados de WikiLeaks, levada a efeito pelo jornal Guardian, por nomes, datas e palavras-chave, não localizaram nenhum telegrama que contivesse as acusações incendiárias.

Parece que estamos diante do primeiro caso de falsificação de telegramas distribuídos por WikiLeaks, explorados por grandes jornais para finalidades de propaganda.

As acusações controversas, publicadas em quatro jornais nacionais do Paquistão, foram atribuídas à Agência Online, agência de distribuição de matérias jornalísticas com base em Islamabad, e que no passado várias vezes distribuiu matérias favoráveis ao exército. Nenhum jornalista foi citado.

Shaheen Sehbai, editor do grupo The News, apresentou a história como “cópia de agência” [orig. “agencies’ copy”] e disse que investigaria o caso.

O incidente enquadra-se na reação mais ampla dos paquistaneses aos telegramas vazados, desde que surgiram os primeiros telegramas.

No ocidente, as matérias jornalísticas focalizaram as preocupações dos EUA quanto à segurança do arsenal nuclear do Paquistão, ou ao apoio do exército a militantes islâmicos, como o Talibã no Afeganistão e o grupo Lashkar-e-Taiba, ao qual tem sido atribuída a responsabilidade pelo ataque em Mumbai.

Mas a imprensa paquistanesa deu maior destaque a histórias que envolvessem militares sob luz negativa, focando-se no que houvesse, nos telegramas, sobre os políticos paquistaneses, notoriamente muito fracos.

Os editores concentraram-se nas histórias sobre o presidente Asif Aki Zardari e preocupações com sua morte, com o apoio secreto do primeiro-ministro Yousaf Raza Gilani aos ataques da CIA com aviões-robôs e aos contatos entre um religioso de longas barbas e o embaixador dos EUA.

Entre a população, a cobertura reforçou a versão de que líderes paquistaneses estariam mancomunados com o poder norte-americano.

O Paquistão foi convertido na “maior República de Bananas do mundo”, escreveu semana passada o diplomata aposentado Asif Ezdi.

Líderes militares e políticos, pintados nos telegramas como perigosamente divididos, foram mostrados reunidos, para desmentir a impressão geral. “Desconfie de WikiLeaks,” disse Gilani a jornalistas em Cabul, no último final de semana. Ao seu lado, o presidente Hamid Karzai do Afeganistão, também citado nos telegramas, concordou, num solene aceno de cabeça.

No sábado, o exército, que não se manifestara durante a semana, negou que o comandante-geral do exército, general General Ashfaq Kayani “desconfiasse” do líder da oposição Nawaz Sharif. Kayani “tem todos os líderes políticos na mais alta estima” – disse um porta-voz.

Simultaneamente, teóricos ‘do conspiracionismo’, entre os quais alguns jornalistas, insistiam na versão de que Washington teria provocado secretamente os vazamentos, num esforço para desmoralizar o mundo muçulmano; o embaixador saudita disse que os telegramas vazados seriam “propaganda”.

Mas juízes veteranos defenderam a publicação dos telegramas vazados. Ao negar autorização judicial para bloquear a página WikiLeaks no Paquistão, semana passada, o juiz Sheikh Azmat Saeed disse que “os telegramas talvez criem dificuldades para algumas personalidades”, mas serão “benéficos ao progresso da nação, no longo prazo”.

A mídia politicamente empenhada destacou a forte influência do exército paquistanês sobre uma imprensa que já foi vigorosa e livre.

As matérias publicadas nos matutinos, em que os generais indianos são ridicularizados – um seria “completo idiota” [orig. “rather a geek”], outro, responsável por “genocídio” e comparado a Slobodan Milosevic – foram contrabalançadas por elogios, dos americanos, aos principais generais paquistanes.

De fato, os telegramas WikiVazados pintam retrato mais nuançado, de uma relação, nem sempre fácil, mas próxima, entre militares dos EUA e do Paquistão.

Mas, sim, os telegramas autênticos, realmente incluem comentários sobre apoio da Índia aos separatistas do Baloquistão, em larga medida reproduzidos de avaliações feitas pela inteligência britânica. A imprensa paquistanesa é em geral cautelosa no noticiário sobre o exército nacional. Mas comentaristas da Internet disseram que o noticiário em que WikiLeaks foi envolvida, dessa vez, foi longe demais.

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