Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Sobre o mesmo “Caso Calipari”, e os acertos entre EUA e Berlusconi sobre o inquérito, ver também: Do embaixador dos EUA em Roma: “Berlusconi propõe ultrapassarmos rapidamente o assassinato de Calipari”
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[cabeçalho aqui omitido]
Esse é um excerto do telegrama original.
A íntegra do telegrama original não está disponível.
ESSA É TRADUÇÃO DE TRABALHO, não oficial, para finalidades didáticas.
091553Z May 05S E C R E T ROME 001593
1. (S) RESUMO E RECOMENDAÇÃO: Nos dias 5-6 de maio, o primeiro-ministro Berlusconi falou às duas Casas do Parlamento sobre a investigação conjunta e os relatórios separados sobre o assassinato, dia 4 de março, do agente de inteligência italiano Nicola Calipari por soldados dos EUA próximo de Bagdá. Berlusconi defendeu o relatório italiano e considerou algumas das descobertas do inquérito norte-americano (ver resumo da fala do PM no parágrafo 3), mas reafirmou os pontos que mais nos interessam: foi incidente não intencional; as relações EUA-Itália e nossa aliança permanecem fortes; e a Itália continua firme no envolvimento no Iraque. Continuamos a recomendar que deixemos o nosso relatório do nosso inquérito falar por nós, em vez de prolongarmos o debate público. Embora a questão pareça estar perdendo força aqui, ainda assim temos de lidar com os pedidos de MLAT e a possibilidade de os Procuradores italianos insistirem em dar continuidade à investigação. FIM DO SUMÁRIO E RECOMENDAÇÃO.
2. (U) Dia 5 de maio, o primeiro-ministro Berlusconi informou à Câmara de Deputados e ao Senado italianos sobre os relatórios dos inquéritos norte-americano e italiano sobre o incidente de 4 de março, do qual resultou a morte do agente italiano de inteligência Nicola Calipari por soldados dos EUA próximo de Bagdá. Berlusconi, em sessão retransmitida pela televisão, estava ladeado por Fini, ministro do Exterior, e outros ministros. Houve debate. Sinopse do que foi dito encontra-se aqui, adiante (no Senado, disse praticamente o mesmo).
3. (U) Início da sinopse da transcrição:
Impossibilidade de conclusões comuns (...) com certeza significa que o inquérito conjunto não conseguiu esclarecer tudo [não cumpriu integralmente sua tarefa]. Apesar disso, também é verdade que a decisão dos EUA de abrir investigação conjunta com a Itália é sem precedentes e veio como resposta a pedido do governo italiano. As investigações foram objetivamente prejudicadas por a cena do incidente não ter sido preservada. Mesmo assim, o trabalho da equipe de investigação conjunta foi conduzida em clima de cooperação e os italianos dessa equipe tiveram pleno acesso – e receberam – todas as informações disponíveis.
Diferenças que há entre os relatórios italiano e norte-americano são irredutíveis e não quero, de modo algum, minimizar o desagrado dos italianos. Há diferenças entre os dois relatórios, que de modo algum podem ser consideradas diferenças marginais. Os EUA consideraram confiáveis testemunhos e dados diferentes dos que os italianos recolheram e consideraram relevantes e confiáveis. Particularmente, há diferenças entre o que declararam os dois italianos sobreviventes e os militares norte-americanos. Dado que não se pode contestar a imparcialidade e a boa fé dos investigadores norte-americanos, e creio que todos concordamos nesse ponto, temos de respeitar as suas conclusões, e registrar que não coincidem com as nossas. Essa é também a opinião dos norte-americanos sobre as nossas conclusões, e o relatório final do inquérito deles é convergente com o relatório final do nosso inquérito – reconhecendo que nem tudo funcionou como deveria na preparação, localização e administração daquele posto de bloqueio.
Apesar disso, os dois lados reconhecem que o incidente foi não intencional e os dois lados reconhecem a necessidade de adotar medidas operacionais concretas para evitar que ocorrências similares repitam-se no futuro. Ainda assim, uma coisa é concluir, como concluíram os norte-americanos, [que o incidente resultou do cumprimento de] medidas disciplinares; e outra é concluir, como os italianos concluímos – e cito: a partir de provas reunidas de que não houve intenção de matar. A ausência de intenção criminosa – a intenção – não exime de culpa ou responsabilidade que se pode atribuir a negligência ou simplesmente a inexperiência. E essa, os senhores concordarão, não é pequena diferença. O relatório final do inquérito italiano concluiu que o bloqueio estava em posição irregular. Foi instalado sem instruções escritas ou específicas e estava localizado em ponto com baixa visibilidade, de onde não poderia dar segurança aos militares nem protegê-los de ataques por pessoas nos carros que se aproximassem. Acusações e críticas contra o governo pelo modo como geriu o caso Calipari e pelas conclusões da investigação conjunta são paradoxais. Se acreditamos num modo de ver os fatos, mais que em outro, obrigar o outro lado a mudar de ideia não é gesto de amizade. É ideia elementar e vale tanto para os EUA quanto para a Itália.
A amizade entre Itália e EUA não está em discussão. A aliança e a amizade com os EUA têm bases sólidas, fundações que os dois países empenham-se em consolidar todos os dias na luta contra o totalitarismo e o terrorismo. Nossa amizade já resistiu a testes mais duros. Até hoje a Itália reconhece-se na manchete de Le Monde um dia depois da tragédia do 11/9, onde se lia “Somos todos norte-americanos”.
Permanece inalterado o nosso compromisso de fazer todo o possível para alcançar a verdade e identificar possíveis responsáveis. É compromisso que pretendemos honrar, antes de tudo, por respeito devido à memória de Nicola Calipari. O Judiciário italiano pode contar com o firme apoio do Governo. Não quero que persista qualquer mal entendido: não há qualquer conexão entre a investigação sobre as circunstâncias da morte de Calipari e a continuidade do compromisso dos italianos com a reconstrução do Iraque (...) Não pretendemos criar qualquer vínculo entre a avaliação do evento no qual nosso agente perdeu a vida e o papel da Itália no Iraque. A Itália está no Iraque em obediência a Resolução do Conselho de Segurança. FIM DA SINOPSE DA TRANSCRIÇÃO.
4. (U) Em resposta a perguntas da imprensa depois do debate, Berlusconi disse:
A atitude da oposição de Centro-Esquerda foi “responsável”, porque não puseram em questão nem a aliança nem a amizade com os EUA. A oposição continua a exigir nossa retirada do Iraque, o que está nos planos e acontecerá em momento a ser definido de acordo com o governo do Iraque e os aliados. No passado, já nos manifestamos sobre isso e nossa posição não mudou. Não há motivo algum hoje para dizer “everybody home” [“todos para casa”]. Soaria irresponsável e incompreensível. Já anunciamos há algum tempo nossa posição sobre a retirada progressiva de soldados, do Iraque. Já discutimos a questão com nossos principais aliados. Uma progressiva redução de nossa presença acontecerá, certamente. Até já dei indicações sobre quando acontecerá. Tudo será feito em acordo com o governo do Iraque e nossos aliados. Até já falei sobre isso diretamente e pessoalmente com Bush e Blair. Assim sendo, continuamos na mesma direção. Acontecerá em breve uma conferência internacional sobre o Iraque. Os esforços dos italianos pela reconstrução do Iraque, e agora até a OTAN e a União Europeia estão envolvidas.
5. (S) COMENTÁRIO: As observações de Berlusconi, ao mesmo tempo em que são afirmativas sobre o Iraque e as relações EUA-Itália, também refletem uma posição que ele e seu governo demarcaram, sobre o caso Calipari, desde o início: o compromisso de atribuir a responsabilidade [a alguém, pelo crime]. Embora essa exigência não estivesse objetivamente incluída nos termos de referência da investigação conjunta, Berlusconi evidentemente sentiu-se na obrigação de não se distanciar demais desse objetivo.
Acreditamos que aí está o núcleo dos desentendimentos entre Itália e EUA sobre as conclusões do inquérito conjunto; e deu o tom tanto do relatório final dos italianos quanto da fala de Berlusconi ao Parlamento.
Sobretudo, a determinação de impedir que aflorasse qualquer crítica ao próprio papel de Calipari levou o governo e os investigadores italianos a ignorar uma questão que sempre pareceu óbvia aos olhos dos investigadores norte-americanos: dos 30 carros que se aproximaram do posto de bloqueio naquela noite, por que o carro de Calipari foi o único atacado a tiros?
Como em [Reftel (traduzido, em: Do embaixador dos EUA em Roma: “Berlusconi propõe ultrapassarmos rapidamente o assassinato de Calipari” ), insistimos na recomendação de que Washington desestimule o pessoal ‘de comunicação’ do Governo dos EUA [orig. USG spokespeople] a refutar ponto a ponto o relatório final do inquérito italiano, ou as frases de Berlusconi. Devemos deixar, o mais possível, que nosso próprio relatório final fale por ele mesmo das nossas conclusões sobre o incidente. Assim fazendo, conseguiremos mais rapidamente que todo o caso desapareça do radar político.
6. (U) Assim se dá por resolvida a minimização de Bagdá [?][orig.Baghdad minimize considered]. [assina] SEMBLER
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