segunda-feira, 6 de junho de 2011

A guerra secreta em Portugal

Daniele Ganser

Os exércitos secretos da OTAN (9)


por Daniele Ganser [*]

Este artigo é sequência da série: “Os exércitos secretos da OTAN”


O Gladio dispunha de uma base eficaz em Portugal, no tempo do Salazar. Embora só conheçamos indiretamente o seu funcionamento, através de estudos italianos, o historiador Daniele Ganser conseguiu identificar o seu papel em Portugal e nas suas colónias africanas. Graças a esse dispositivo, a NATO não se contentou em assassinar oponentes a Salazar, mas também líderes revolucionários africanos de primeiro plano, como Amílcar Cabral.

Em Maio de 1926, o general Gomes da Costa assumiu o poder em Portugal através de um golpe de estado, aboliu a Constituição e o Parlamento e instaurou a ditadura. Uns anos mais tarde, o ditador Salazar assumiu as rédeas do país. Durante a guerra civil espanhola, apoiou o general Franco a quem forneceu tropas e material. Os dois homens aliaram-se para garantir a Hitler e a Mussolini a neutralidade de toda a península ibérica, facilitando assim consideravelmente a sua tarefa na frente ocidental. Os quatro ditadores entraram em acordo quanto à necessidade de combater e de aniquilar o comunismo na União Soviética e nos seus países respectivos.

Mas, como a URSS saiu vitoriosa da segunda guerra mundial e Hitler e Mussolini foram derrotados, Salazar e Franco ficaram numa posição delicada em 1945. No entanto, como os Estados Unidos do Presidente Truman se envolveram numa guerra mundial contra o comunismo, os dois ditadores da península puderam se beneficiar do apoio silencioso de Washington e de Londres. Apesar do apoio de Salazar ao golpe de Franco e da sua aliança com as potências do Eixo, Portugal foi autorizado a figurar, para surpresa de muita gente, entre o número dos membros fundadores da NATO em 1949. Seguiu-se um reinado praticamente sem oposição de quase 40 anos até que a morte de Salazar, em 1970, permitiu enfim que Portugal entrasse numa transição democrática e integrasse a União Europeia.

À imagem do que se pôde observar nas ditaduras de extrema direita da América Latina e sob o regime autoritário de Franco, o povo português era vigiado permanentemente por um aparelho de segurança que funcionava na sombra e fora de qualquer enquadramento legal definido pelo Parlamento. Os golpes sujos visando a oposição política e os comunistas multiplicaram-se durante o regime de Salazar. Essas operações eram efetuadas por diversos serviços e órgãos, entre os quais a tristemente célebre Polícia Internacional e de Defesa do Estado, ou PIDE, e os serviços secretos militares portugueses.

Como não foi feito nenhum estudo aprofundado sobre as organizações de extrema-direita e as operações especiais que decorreram durante a ditadura de Salazar, os laços com a rede anticomunista secreta da NATO não são muito claros. A existência em Portugal de exércitos secretos próximos da CIA e da NATO foi revelada pela primeira vez em 1990, no seguimento da descoberta do Gladio italiano. " Em Portugal, uma rádio lisboeta noticiou que tinham sido utilizadas células duma rede associada à Operação Gladio durante os anos cinquenta para apoiar a ditadura de extrema-direita do Dr. Salazar " pôde ler-se na imprensa internacional. [1] Cinco anos depois, o autor americano Michael Parenti escreveu sem, todavia, revelar as suas fontes, que agentes do Gladio tinham “ajudado a consolidar o regime fascista em Portugal”. [2]

Mais precisamente, a imprensa local revelou em 1990 que o exército secreto de Portugal existia com o nome de código "Aginter Press". Com o título “O 'Gladio' funcionava em Portugal”, o semanário português O Jornal anunciou a uma população estupefata que: “A rede stay-behind, concebida no próprio seio da NATO e financiada pela CIA cuja existência acaba de ser revelada por Giulio Andreotti, dispunha de um ramo em Portugal, ativo nos anos sessenta e setenta. Tinha o nome de 'Aginter Press'” e esteve sem dúvida implicada nos assassínios em território nacional assim como nas colônias portuguesas em África. [3]

A Aginter Press não tinha rigorosamente nada a ver com a imprensa. Essa agência não imprimia nem livros nem brochuras de propaganda anticomunista, mas treinava terroristas de extrema-direita e efetuava golpes sujos e operações clandestinas no interior e no exterior das fronteiras de Portugal. Essa organização, tão misteriosa como violenta, era sustentada pela CIA e comandada por quadros de extrema-direita europeus que, com a ajuda da PIDE, recrutavam militantes fascistas. O inquérito feito pelo Senado italiano sobre o Gládio e o terrorismo permitiu determinar que certos extremistas italianos tinham sido formados pela Aginter Press. Enquanto que em Portugal se ficava a saber que uma subdivisão da Aginter Press, baptizada de “Organização Armada contra o Comunismo Internacional” também tinha operado na Itália, os senadores italianos descobriram que a organização Aginter Press tinha recebido o apoio da CIA e que era dirigida pelo capitão Yves Guillon, mais conhecido pelo pseudônimo de Yves Guérain-Sérac, especialista das operações de guerra clandestina a quem os Estados Unidos tinham atribuído várias medalhas militares entre as quais a Estrela de Bronze Americana por se ter distinguido na guerra da Coreia. “Segundo indicam os resultados do inquérito criminal”, concluía o relatório do inquérito italiano, “a Aginter Press era uma central de informações próxima da CIA e dos serviços secretos portugueses e especializada em operações de provocação”. [4]

Enquanto o governo português hesitava em abrir um inquérito sobre a história sombria da Aginter Press e da guerra secreta, a Comissão senatorial italiana prosseguia as suas pesquisas e, em 1997, ouviu o juiz Guido Salvini. Um verdadeiro especialista em questões de terrorismo de extrema-direita, o magistrado tinha examinado com minúcia os documentos disponíveis sobre a Aginter Press. O senador Manca interrogou-o: “A CIA americana, segundo o senhor, é diretamente responsável pelas operações efetuadas pela Aginter Press?”, a que o juiz respondeu: “Senador Manca, está fazendo uma pergunta muito importante” e pediu, dada a natureza delicada da resposta, para ser ouvido em privado. Foi autorizado e a partir daí todos os documentos foram classificados como confidenciais. [5]

Em público, o juiz Salvini explicou que era “difícil dar uma definição exata do que é a Aginter Press”, mas mesmo assim tentou dar uma descrição: “É uma organização que, em muitos países, nomeadamente na Itália, inspira e apoia os planos de grupos cuidadosamente escolhidos que agem segundo protocolos definidos contra uma situação que decidiram combater”. O exército anticomunista secreto da CIA, Aginter Press, funciona, continuou ele, “em função dos seus objetivos e dos seus valores, que são essencialmente a defesa do Ocidente contra uma invasão provável e iminente da Europa pelas tropas da URSS e dos países comunistas ". [6] Sempre segundo o juiz italiano, o exército secreto português garantia, como a maior parte das outras redes da Europa do Ocidente, uma dupla função. A rede stay-behind treinava-se secretamente para uma eventual invasão soviética e, na expectativa dessa invasão, perseguia os movimentos políticos de esquerda, seguindo estratégias de guerra clandestina praticadas em vários países da Europa ocidental.

Embora uma boa parte dos seus membros já tivesse prestado serviços em diversos grupúsculos anticomunistas no decurso dos anos anteriores, a Aginter Press só foi oficialmente fundada em Lisboa em Setembro de 1966. Parece que os seus fundadores e a CIA foram guiados menos pelo receio duma invasão soviética do que pelas possibilidades de ação interna. Com efeito, esse período foi marcado pelas manifestações da esquerda que denunciava a guerra do Vietnã e o apoio dado pelos Estados Unidos às ditaduras de extrema-direita na América Latina e na Europa, nomeadamente em Portugal. O ditador Salazar e a sua polícia, a PIDE, temiam especialmente as consequências desse movimento social susceptível de desestabilizar o regime e, portanto, apelaram à Aginter Press para que o submetesse.

A maior parte dos soldados de sombra que foram recrutados pela CIA para engrossar as fileiras deste exército secreto já tinha combatido na África e na Ásia do sudeste onde tinham tentado em vão impedir o acesso à independência das antigas colônias europeias. O diretor da Aginter Press, o próprio capitão Yves Guérain-Sérac, católico fervoroso e ardente anticomunista recrutado pela CIA, era um antigo oficial do exército francês que tinha assistido à derrota da França frente ao Reich durante a segunda guerra mundial. Também tinha combatido na guerra da Indochina (1946-1954), na guerra da Coreia (1950-1953) e na guerra da Argélia (1954-1962). Tinha prestado serviço na famosa 11ª Semi-Brigada Pára-quedista de Choque, a unidade encarregada de golpes sujos sob as ordens do SDECE, o serviço francês de informações externas, também ele próximo da rede stay-behind Rosa dos Ventos. Em 1961, Guérain-Sérac tinha fundado, juntamente com outros oficiais aguerridos do 11º Choque, a Organização do Exército Secreto, ou OAS, que lutou por uma Argélia francesa e tentou derrubar o governo do general de Gaulle para instaurar um regime autoritário anticomunista.

Depois da Argélia ter acedido à independência em 1962, e do general de Gaulle ter dissolvido a OAS, os antigos oficiais do exército secreto, entre os quais Guérain-Sérac, correram grande perigo. Fugiram da Argélia e ofereceram aos ditadores da América Latina e da Europa a sua valiosa experiência da guerra secreta, das operações clandestinas, do terrorismo e do contraterrorismo, em troca do direito de asilo. [7] Esta diáspora da OAS veio reforçar as organizações de ativistas de extrema-direita em numerosos países.

Em Junho de 1962, Franco apelou aos talentos de Yves Guérain-Sérac, a fim de ele se juntar ao combate do exército secreto espanhol contra a oposição. De Espanha, Guérain-Sérac passou a seguir para Portugal, que aos olhos dele era o último império colonial e, sobretudo, o último bastião contra o comunismo e o ateísmo. Como um perfeito soldado da guerra-fria, ofereceu os seus serviços a Salazar: “Os outros depuseram as armas, mas eu não. Depois da AOS, fugi para Portugal para continuar o combate e travá-lo à sua verdadeira escala – ou seja, à escala planetária”. [8] Em Portugal, Guérain-Sérac associou-se a extremistas franceses e a renegados da OAS. O antigo pétainista Jacques Ploncard d'Assac apresentou-o nos meios fascistas e aos membros da PIDE. Dada a sua grande experiência, Guérain-Sérac foi recrutado como instrutor no seio da Legião Portuguesa e das unidades de contraguerrilha do exército português. Foi neste contexto que ele criou, com a ajuda da PIDE e da CIA, a Aginter Press, um exército anticomunista ultra-secreto. A organização constituiu os seus próprios campos de treino nos quais mercenários e terroristas seguiam um programa de três semanas de formação em operações secretas que incluíam nomeadamente as técnicas de atentados à bomba, assassínios silenciosos, métodos de subversão, comunicações clandestinas, infiltração e guerra colonial.

Ao lado de Guérain-Sérac, o terrorista de extrema-direita Stefano Delle Chiaie participou também na fundação da Aginter Press. “Agíamos contra os comunistas, contra a burguesia estabelecida e contra a democracia que nos tinha privado da nossa liberdade. Fomos, portanto, forçados a recorrer à violência”, explicou mais tarde Delle Chiaie. “Consideravam-nos como criminosos mas na realidade éramos as vítimas de um movimento liberal antifascista. Queríamos espalhar as nossas ideias, queríamos ser ouvidos pelo mundo inteiro”. Por meados dos anos sessenta, Delle Chiaie, que na época tinha 30 anos, fundou com Guérain-Sérac, e com o apoio da CIA, o exército secreto Aginter. “Com um dos meus amigos franceses [Guérain-Sérac], decidi então [em 1965] fundar a agência de imprensa Aginter Press a fim de termos os meios de defender as nossas opiniões políticas”. [9] No decurso dos anos que se seguiram, Delle Chiaie tornou-se talvez no combatente mais sanguinário da guerra secreta. Na Itália, tomou parte em golpes de estado e em atentados, entre os quais o da Piazza Fontana em 1969 e, com o nazi Klaus Barbie, chamado o “Carniceiro de Lyon”, contribuiu para consolidar o poder de ditadores sul-americanos. [10]

Os nossos efetivos são formados por dois tipos de homens: (1) oficiais que se juntaram a nós depois de terem combatido na Indochina e na Argélia e alguns que se alistaram depois da batalha da Coreia”, explicou o diretor da Aginter, Guérain-Sérac em pessoa, (2) “intelectuais que, durante esse mesmo período, se interessaram pelo estudo das técnicas de subversão marxista”. Esses intelectuais, como fez questão de observar, formaram grupos de estudo e partilhavam as suas experiências “para tentar dissecar as técnicas de subversão marxista e lançar as bases duma contra-técnica”. A batalha, não tinha qualquer dúvida quanto a isso, devia ser travada em numerosos países: " No decurso desse período, estabelecemos contactos sistemáticos com grupos de ideias próximas das nossas que surgiram na Itália, na Bélgica, na Alemanha, em Espanha e em Portugal, na óptica de constituir um núcleo duma verdadeira Liga Ocidental de Luta contra o Marxismo”. [11]

Saídos diretamente de teatros de operações, muitos dos combatentes de sombra, e sobretudo os seus instrutores, entre os quais Guérain-Sérac, tinham pouca simpatia ou conhecimento pelos métodos de resolução pacífica de conflitos. O próprio diretor da Aginter estava convencido, como muitos outros, que a luta contra o comunismo na Europa ocidental implicava obrigatoriamente o recurso ao terrorismo: “Na primeira fase da nossa atividade política, devemos instaurar o caos em todas as estruturas do regime”, declarou sem esclarecer a que país se referia. “Há duas formas de terrorismo que permitem obter esse resultado: o terrorismo cego (através de atentados visando um grande número de civis) e o terrorismo seletivo (através da eliminação de personalidades marcadas)”. Tanto num caso como noutro, o atentado secretamente perpetrado pela extrema-direita devia ser imputado à esquerda, conforme sublinhou o paladino e ideólogo do terrorismo anticomunista: “Esses ataques contra o Estado devem, tanto quanto possível, passar por ‘actividades comunistas’”. Os atentados terroristas dos exércitos secretos eram concebidos como um meio de desacreditar o regime em vigor e de obrigá-lo a pender para a direita: “A seguir, devemos intervir no coração do aparelho militar, do poder judicial e da Igreja, a fim de influenciar a opinião pública, de propor uma solução e de demonstrar claramente a fraqueza do arsenal jurídico atual (…) A opinião pública deve ser polarizada de maneira tal que nós apareçamos como o único instrumento capaz de salvar a nação. Parece óbvio que teremos necessidade de meios financeiros consideráveis para levar a bom termo essas operações”. [12]

Humberto Delgado, o “general sem medo”, apresenta-se nas eleições presidenciais portuguesas de 1958. É derrotado graças a uma gigantesca fraude eleitoral e tem de se exilar. É assassinado em 1965 por um comando da PIDE preparado pelo Gládio, sob o comando de Rosa Casaco.

A CIA e a PIDE, os serviços secretos militares de Salazar, encarregaram-se de fornecer os fundos necessários para o empreendimento terrorista do capitão Guérain-Sérac. É num documento interno da Aginter, intitulado “A Nossa Actividade Política”, datado de Novembro de 1969 e que foi descoberto em 1974, que ele descreve como um país pode ser alvo duma guerra secreta: “A nossa convicção é que a primeira fase da atividade política deve consistir em criar as condições favoráveis à instauração do caos em todas as estruturas do regime”. Elemento essencial desta estratégia, as violências perpetradas deviam ser atiradas para cima dos comunistas e, bem entendido, todos os indícios deviam levar a essa conclusão. “Pensamos que é necessário, num primeiro momento, destruir a própria estrutura do Estado democrático a coberto de actividades comunistas ou pró-chinesas”. O documento insistia seguidamente na necessidade de infiltrar os grupos de militantes de esquerda a fim de melhor os manipular: “Além disso, dispomos de homens infiltrados nesses grupos e que nos permitirão agir sobre a própria ideologia do meio – através de ações de propaganda e outras, realizadas de tal maneira que parecerão ser obra dos nossos adversários comunistas”. Essas operações realizadas sob falsa bandeira, concluía esse plano de ação, “criarão um sentimento de hostilidade para com os que ameaçam a paz de cada um dos nossos países”, ou seja, os comunistas. [13]

No decurso da primeira fase do seu plano, os oficiais, mercenários e terroristas da Aginter Press dedicaram-se a enfraquecer e aniquilar as facções de guerrilheiros que lutavam pela independência das colônias portuguesas. Por volta de meados dos anos sessenta, o primeiro teatro de operações da organização não foi, pois, a Europa, mas a África onde o exército português enfrentava os movimentos independentistas. A Aginter colocou os seus responsáveis de operações nos países limítrofes da África portuguesa. “Os seus objetivos englobavam a eliminação dos líderes dos movimentos de libertação, a infiltração, o estabelecimento de redes de informadores e de agentes provocadores e a utilização de falsos movimentos de libertação”. [14] Essas guerras secretas eram travadas em coordenação com a PIDE e outros serviços do governo português. “A Aginter correspondia-se por escrito com a PIDE no quadro das suas operações especiais e das suas missões de espionagem”. [15]

Entre as personalidades mais importantes, que foram vítimas dos assassínios orquestrados pela Aginter em Portugal e nas colônias, figuram sem dúvida Humberto Delgado, líder da oposição portuguesa, Amílcar Cabral, uma das figuras emblemáticas da revolução africana, e Eduardo Mondlane, líder e presidente do partido de libertação de Moçambique, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), que foi morto em Fevereiro de 1969. [16] Apesar da violência dos métodos utilizados, Portugal não conseguiu impedir que as suas colônias acedessem à independência. Goa foi absorvida pela Índia em 1961. A Guiné-Bissau tornou-se independente em 1974, Angola e Moçambique em 1975, enquanto, nesse mesmo ano, Timor Leste foi invadido pela Indonésia.

Paralelamente a essas guerras coloniais, a Aginter Press desempenhou também um papel importante nas guerras secretas travadas contra os comunistas da Europa ocidental. Os documentos disponíveis sobre os exércitos stay-behind da OTAN e a guerra clandestina parecem indicar que a organização lisboeta foi responsável por mais violências e assassínios do que qualquer outro exército secreto do velho continente. Os seus soldados de sombra agiam com uma mentalidade à parte. Contrariamente aos seus homólogos do P26 suíço ou do ROC norueguês, participavam em verdadeiras guerras abertas nas colônias e matavam em cadeia, sob o comando de um capitão que, seguro duma experiência adquirida na Indochina, na Coreia e na Argélia, não concebia outro meio de ação que não fosse a violência.

A operação realizada pelos combatentes de sombra em nome da luta contra o comunismo sobre a qual estamos mais bem informados é provavelmente o atentado da Piazza Fontana que atingiu as capitais políticas e industriais da Itália, Roma e Milão, pouco antes do Natal, a 12 de Dezembro de 1969. Nesse dia, quatro bombas explodiram nas duas cidades, matando às cegas 16 civis, na sua maioria camponeses que se dirigiam ao Banca Nazionale Dell'Agricultura de Milan para depositar as suas modestas receitas de um dia de mercado. Ficaram feridas ou mutiladas mais oitenta pessoas. Uma das bombas colocadas na Piazza Fontana não explodiu por causa do mau funcionamento do temporizador, mas quando os agentes do SID e a polícia chegaram ao local, apressaram-se a destruir os indícios comprometedores, fazendo explodir a bomba. A execução desse atentado obedecia estritamente às estratégias de guerra secreta definidas por Guérain-Sérac. Os serviços secretos italianos atribuíram esse acto à extrema-esquerda, chegando ao ponto de colocar os componentes de um engenho explosivo na casa do editor Giangiacomo Feltrinelli, conhecido pelas suas ideias de esquerda e aproveitaram para prender numerosos comunistas. [17]

Um relatório interno do SID, classificado como confidencial, e datado de 16 de Dezembro de 1969, suspeitava já que os atentados de Roma e Milão podiam ter sido feitos pela extrema-direita com o apoio da CIA. [18] No entanto, a opinião pública italiana foi alimentada pela ideia de que os comunistas italianos, na época muito influentes, tinham decidido recorrer à violência para conquistar o poder. Na realidade, a paternidade desses atos recaía muito obviamente nas organizações fascistas Ordine Nuovo e Avanguardia Nazionale que agiam em estreita colaboração com os exércitos stay-behind. O militante de extrema-direita, Guido Giannettini, que foi diretamente implicado nos atentados, era colaborador próximo da organização portuguesa Aginter Press. “O inquérito confirmou que existiam mesmo entre a Aginter Press, a Ordine Nuovo e a Avanguardia Nazionale”, anunciou o juiz Salvini aos membros da comissão de inquérito senatorial. “Ressalta claramente que Guido Giannettini estava em contato com Guérain-Sérac em Portugal desde 1964. Ficou estabelecido que instrutores da Aginter Press (…) se deslocaram a Roma entre 1967 e 1968 e treinaram membros da Avanguardia Nazionale no manejamento de explosivos”. O juiz Salvini concluiu, com base nos documentos disponíveis e nos testemunhos recolhidos, que a Aginter Press, uma fachada da CIA, tinha desempenhado um papel decisivo nas operações de guerra clandestina realizadas na Europa ocidental e tinha executado uma série de atentados sangrentos a fim de desacreditar os comunistas italianos. [19]

Estes fatos foram confirmados em Março de 2001 pelo general Giandelio Maletti, antigo patrono da contra-espionagem italiana, que testemunhou no quadro do processo de militantes de extrema-direita, acusados de ter provocado a morte de 16 pessoas nos atentados da Piazza Fontana. Perante o tribunal de Milão, Maletti declarou que: “A CIA, seguindo as diretrizes do seu governo, queria fazer nascer um nacionalismo italiano capaz de combater o pendor para a esquerda do país e, nesta óptica, não é impossível que se tenha socorrido de terroristas de extrema-direita”. Este depoimento crucial comparava a CIA a uma organização terrorista. “Não se esqueçam que era Nixon que se encontrava na altura à frente do país”, lembrou o general, “e Nixon não era um homem vulgar, um político muito apurado, mas um homem de métodos pouco ortodoxos”. [20] O juiz italiano Guido Salvini confirmou que todas as pistas levavam a “um serviço de informações estrangeiro”. “Quando diz 'serviço de informações estrangeiro' está a referir-se à CIA ?”, insistiram os jornalistas italianos, ao que Salvini respondeu prudentemente: “Estamos em condições de afirmar que sabemos pertinentemente quem participou na preparação dos atentados e quem estava sentado à mesa quando foram dadas as ordens. Isso é incontestável”. [21]

Não contente por lutar contra o comunismo na Itália, o capitão Guérain-Sérac estava firmemente disposto a travar o combate à escala mundial. Com esse objetivo, agentes da Aginter, entre os quais o americano Jay Sablonsky, participaram ao lado da CIA e dos Boinas Verdes na tristemente célebre contra-guerrilha da Guatemala que fez, entre 1968 e 1971, cerca de 50 mil mortos, na sua maioria civis. Os homens da Aginter estiveram também presentes no Chile em 1973 onde participaram no golpe de estado em que a CIA substituiu o presidente socialista democraticamente eleito, Salvador Allende, pelo ditador Augusto Pinochet. [22] A partir do refúgio que era a ditadura de extrema-direita de Salazar, a Aginter Press podia assim enviar os seus soldados de sombra para combaterem em muitos países do mundo inteiro.

Esta situação perdurou até à “Revolução dos cravos” de Maio de 1974 que pôs termo à ditadura e abriu caminho ao restabelecimento da democracia em Portugal. Os combatentes de sombra sabiam que a sobrevivência da sua organização estava estreitamente ligada à do regime totalitário. Quando souberam que oficiais de esquerda do exército português preparavam um golpe que iria iniciar a Revolução dos cravos, os agentes da Aginter conspiraram com o general Spínola a fim de eliminar os centristas portugueses. Previam invadir o arquipélago dos Açores a fim de o tornarem num território independente e de o utilizarem como uma base de retaguarda para lançamento das suas operações no continente.

Como este projeto falhou, a Aginter foi varrida ao mesmo tempo que a ditadura quando no dia 1 de Maio os oficiais de esquerda assumiram o poder, pondo assim fim a cerca de 50 anos de totalitarismo. Três semanas depois, a 22 de Maio, por ordem dos novos dirigentes do país, unidades especiais da polícia portuguesa investiram no quartel-general da Aginter Press da Rua das Praças em Lisboa a fim de fechar a sinistra agência e de apreender todo o material. Mas, quando chegaram ao local, já estava tudo vazio. Graças aos seus contactos no seio dos serviços de informações, os agentes da organização tinham sido prevenidos a tempo e desapareceram, sem que nenhum deles fosse preso. Porém, na sua precipitação, esqueceram alguns documentos. As forças policiais acabaram por recolher grande número de provas que documentavam a responsabilidade da filial da CIA, a Aginter Press, em numerosos actos de terrorismo.

Como a jovem democracia tentava acabar com o antigo aparelho de segurança herdado da ditadura, a PIDE, os serviços secretos militares e a Legião Portuguesa foram dissolvidos. A “Comissão de Extinção da PIDE e da Legião Portuguesa” em breve se descobriu que a PIDE, com a conivência da CIA, tinha dirigido um exército secreto batizado de Aginter Press; exigiu consultar os dossiers reunidos sobre a Agência na sequência da busca aos locais e que continham todas as provas necessárias. Pela primeira vez, a história do exército secreto português ia ser objeto de um inquérito. Mas, subitamente, todos os dossiers se volatilizaram. “O dossier 'Aginter Press' foi subtraído à Comissão de Extinção da PIDE e da Legião Portuguesa e desapareceu definitivamente”, lamentava o diário português O Jornal uns anos mais tarde num artigo consagrado à rede Gladio. [23]

Como é que isso pôde acontecer? Porque é que a comissão foi tão negligente perante informações tão essenciais? O italiano Barbachetto que trabalha para a revista política milanesa L'Europeo escreveu a este propósito: “Estavam presentes três dos meus colegas quando foram apreendidos os arquivos da Aginter. Só puderam fotografar alguns fragmentos da quantidade considerável de dados recolhidos naquele dia”. Sob os títulos de “Máfia” ou “Contribuidores financeiros alemães”, os documentos revelavam os nomes de código dos parceiros da Aginter. “Os documentos foram destruídos pelo exército português” indicava Barbachetto, “que procurou evidentemente evitar incidentes diplomáticos com os governos italiano, francês e alemão, incidentes que não teriam deixado de surgir se as atividades da Aginter nesses países tivessem sido desvendados”. [24]

A PIDE foi substituída por outro serviço de informações português, o SDCI, que pesquisou a Aginter e chegou à conclusão de que a sinistra organização tivera quatro missões. Primeiro que tudo, tinha servido como “gabinete de espionagem dirigido pela polícia portuguesa e, através dela, pela CIA, pelo BND da Alemanha ocidental ou "Organização Gehlen", pela Direccion General de Seguridad espanhola, pelo BOSS sul-africano e, mas tarde, pelo KYP grego. Paralelamente a esta função de recolha de informações, a Aginter Press tinha igualmente servido de gabinete de “centro de recrutamento e de treino de mercenários e de terroristas especializados em sabotagens e assassínios”. Segundo o relatório do SDCI, a Agência também tinha sido um “centro estratégico para operações de doutrinamento de extrema-direita e neo-fascista na África subsaariana, na América do Sul e na Europa, realizadas em colaboração com regimes fascistas ou assimilados, figuras bem conhecidas da extrema-direita e grupos neo-fascistas ativos em nível internacional”.

Finalmente, a Aginter era a capa dum exército secreto anticomunista, uma “organização fascista internacional batizada “Ordem e Tradição” com o seu braço militar, a OACI - Organização Armada contra o Comunismo Internacional”. [25]

Depois da queda da ditadura, Guérain-Sérac e os seus ativistas anticomunistas fugiram de Portugal para a Espanha onde, sob a proteção de Franco, instalaram o seu novo quartel-general em Madrid. Em troca do asilo político, os combatentes da Aginter, fiéis ao seu compromisso, puseram-se à disposição dos serviços secretos espanhóis para procurar e eliminar os dirigentes do movimento separatista basco ETA. Prosseguiram com as suas operações clandestinas no estrangeiro e trataram especialmente de desacreditar a Frente de Libertação Nacional argelina. “Posso citar-vos outro exemplo particularmente interessante”, declarou o juiz Salvini aos senadores italianos e revelou-lhes como, em 1975, a partir da sua base espanhola, os homens de Guérain-Sérac assistidos pelo americano Salby e por extremistas franceses, italianos e espanhóis, tinham organizado uma série de atentados que assinavam SOA, a fim de comprometer os Soldados da Oposição Argelina.

As bombas foram colocadas nas embaixadas argelinas na França, na Alemanha, na Itália e na Grã-Bretanha” e deterioraram a imagem da oposição argelina quando na realidade “os atentados eram obra do grupo de Guérain-Sérac, o que dá uma ideia das suas capacidades de dissimulação e de infiltração”. A bomba colocada diante da embaixada argelina em Francfurt não explodiu e foi cuidadosamente examinada pela polícia alemã. “Para compreender os laços que ligavam Guérain-Sérac à Aginter Press, basta observar a complexidade do engenho explosivo”, sublinhou o juiz Salvini. “Continha C4, um explosivo utilizado exclusivamente no exército americano de que não se encontra rastro em nenhum atentado efetuado por anarquistas. Repito, era uma bomba muito sofisticada. Ora a Aginter possuía C4, podemos, pois facilmente deduzir os apoios de que beneficiava”. [26]

Quando o regime ditatorial se desmoronou com a morte de Franco, a 20 de Novembro de 1975, Guérain-Sérac e o seu exército secreto foram mais uma vez obrigados a fugir. A polícia espanhola levou algum tempo investigando os vestígios que a Aginter deixou para trás e foi apenas em Fevereiro de 1977 que fez uma busca no número 39 da rua Pelayo, o quartel-general da organização e descobriu um verdadeiro arsenal composto por espingardas e explosivos. Mas Delle Chiaie, Guérain-Sérac e os seus soldados já tinham fugido há muito da Espanha para a América Latina onde muitos deles escolheram o Chile como nova base para as suas operações. Guérain-Sérac foi visto pela última vez na Espanha em 1997. [27]

O exército secreto anticomunista português tornou a fazer-se notado em 1990, quando o primeiro-ministro Giulio Andreotti revelou que existiam em Itália e noutros países exércitos stay-behind montados pela OTAN. A 17 de Novembro de 1990, a vaga atingiu Lisboa onde o diário Expresso noticiou com o título “Gladio. Os Soldados da guerra fria” que “o escândalo atravessou as fronteiras da Itália visto que a existência de redes secretas Gladio foi confirmada oficialmente na Bélgica, em França, nos Países-Baixos, no Luxemburgo, na Alemanha e semi-oficialmente na Suécia, na Noruega, na Dinamarca, na Áustria, na Suíça, na Grécia, na Turquia, em Espanha, no Reino Unido e em Portugal”. [28]

Muito preocupado, o ministro português da Defesa, Fernando Nogueira, declarou publicamente a 16 de Novembro de 1990 que não tinha conhecimento da existência dum ramo da rede stay-behind em Portugal e afirmou que nem o seu ministério nem o Estado-Maior das forças armadas portuguesas dispunham “de informações, quaisquer que fossem, relativas à existência ou à atividade duma ‘estrutura Gladio’ em Portugal”. [29] O jornal português Diário de Notícias lamentou que: “as declarações lacônicas de Fernando Nogueira sejam corroboradas, duma maneira ou de outra, por antigos ministros da Defesa, como Eurico de Melo e Rui Machete, assim como por o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Franco Nogueira e pelo marechal Costa Gomes, que nos confirmaram não saberem absolutamente nada sobre essa questão. A mesma posição foi adotada por parlamentares da oposição, membros da Comissão parlamentar da Defesa”. [30]

Costa Gomes, que fora oficial de ligação junto da OTAN, insistiu que nunca tivera conhecimento duma rede clandestina embora tenha “assistido entre 1953 e 1959 a todas as reuniões da Aliança”. Ao mesmo tempo reconheceu que não era impossível que tenha existido um Gládio português, com o apoio da PIDE e de certas pessoas estranhas ao governo. “Essas ligações “, explicou Costa Gomes, “se é que existiram de fato, não poderiam ter funcionado a não ser paralelamente às estruturas oficiais” e portanto ser-lhe-iam totalmente desconhecidas. Do mesmo modo, Franco Nogueira, que fora ministro dos Negócios Estrangeiros no tempo de Salazar, declarou: “Nunca suspeitei da existência dessa organização. Nem quando estive nos Negócios Estrangeiros e me dava amiúde com responsáveis da OTAN nem mais tarde”. Afirmou que, se a Gládio tivesse operado em Portugal, “essa atividade certamente seria do conhecimento do Dr. Salazar”. Como Nogueira deu a entender, Salazar teria certamente comunicado essa informação ao chefe da diplomacia: “Tenho muita dificuldade em acreditar que essa rede tenha tido ligações com a PIDE ou com a Legião Portuguesa. É por isso que estou convencido de que a Gládio nunca existiu no nosso país embora, claro, na vida nada seja impossível”. [31]

Enquanto os representantes do governo se recusavam a divulgar quaisquer informações sobre a guerra secreta, a imprensa portuguesa não podia senão constatar a evidência e deplorar que “visivelmente, vários governos europeus [tinham] perdido do controle dos seus serviços secretos”, denunciando ao mesmo tempo, a “doutrina de confiança limitada” adotada pela OTAN. “Uma doutrina destas implica que alguns governos não teriam feito o que deviam para combater o comunismo e que portanto não era necessário mantê-los informados sobre as atividades do exército secreto da OTAN”. [32] Apenas um alto graduado do exército português consentiu revelar alguns pormenores do segredo, a coberto do anonimato. Um general, que tinha sido chefe do Estado-Maior português, confirmou a um jornalista de O Jornal que “havia existido, de fato, em Portugal e nas colônias, um serviço de informações paralelo, cujo financiamento e controle não pertenciam ao domínio das forças armadas, mas dependia do Ministério da Defesa, do Ministério do Interior e do Ministério do Utramar. Além do mais, esse serviço paralelo estava diretamente ligado à PIDE e à Legião Portuguesa”. [33] Não houve nenhuma investigação oficial sobre este assunto, quando muito um simples relatório parlamentar. Por conseguinte, mantém-se o mistério aflorado por estas vagas confirmações.

Notas
[1] John Palmer, “Undercover NATO Group ‘may have had terror links’ ” no diário britânico The Guardian de 10 Novembro 1990.
[2] Michael Parenti, Against Empire (City Light Books, San Francisco, 1995), p.143.
[3] João Paulo Guerra, “Gladio' actuou em Portugal” no diário português  O Jornal de 16 Novembro 1990.
[4] Senato della Repubblica. Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabiliy delle stragi: Il terrorismo, le stragi ed il contesto storico politico . Redatta dal presidente della Commissione, sénateur Giovanni Pellegrino. Roma 1995, p.204 e 241.
[5] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 12ª sessão , 20 Março 1997
[6] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 9ª sessão , 12 Fevereiro 1997
[7] Jeffrey M. Bale, “Right wing Terrorists and the Extra  - parliamentary Left in Post World War 2 Europe: Collusion or Manipulation?” No periódico britânico Lobster Magazine , n°2, Outubro 1989, p.6.
[8] Semanário francês Paris Match , Novembro 1974. Citado em Stuart Christie, Stefano delle Chiaie (Anarchy Publications, Londres, 1984), p.27.
[9] Egmont Koch e Oliver Schröm, Deckname Aginter. Die Geschichte einer faschistischen Terror Organisation , p.4. (Ensaio não publicado de 17 páginas. Sem data, por volta de 1998).
[10] Ver Christie, delle Chiaie, passim.
[11] Ibid ., p.29.
[12] Este documento parece ter sido descoberto no antigo gabinete de Guérain-Sérac depois da revolução portuguesa. Figura no dicionário do terrorismo na Bélgica de Manuel Abramowicz.
[13] Extrato de Christie, delle Chiaie , p.32. Igualmente em Lobster , Outubro 1989, p.18.
[14] Ibid. , p.30.
[15] João Paulo Guerra, “ ‘Gladio’ actuou em Portugal” no diário português O Jornal de 16 Novembro 1990.
[16] Ibid . E Christie, delle Chiaie, p.30.
[17] Senato della Repubblica. Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabiliy delle stragi: Il terrorismo, le stragi ed il contesto storico politico. Redatta dal presidente della Commissione , senador Giovanni Pellegrino. Roma 1995, p.157.
[18] Os investigadores Fabrizio Calvi e Frédéric Laurent, especialistas dos serviços secretos, realizaram provavelmente o melhor documentário sobre o atentado da Piazza Fontana: Piazza Fontana: Storia di un Complotto difundido a 11 Dezembro 1997 às 20 h 50 no canal público Rai Due . Uma adaptação em francês intitulada: L'Orchestre Noir: La Stratégie de la tension foi difundida em duas partes no canal franco-alemão Arte quarta-feira 13 e quinta-feira 14 de Janeiro de 1998, às 20h 45. Nesse filme, interrogam uma grande quantidade de testemunhas incluindo juízes que investigaram o assunto durante anos, Guido Salvini e Gerardo d'Ambrosio. Activistas fascistas como Stefano Delle Chiaie, Amos Spiazzi, Guido Giannettini, Vincenzo Vinciguerra e o capitão Labruna, o antigo primeiro-ministro Giulio Andreotti, assim como Victor Marchetti e Marc Wyatt da CIA.
[19] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 9ª sessão , 12 Fevereiro 1997
[20] Philip Willan, “Terrorists ‘helped by CIA’ to Stop Rise of Left in Italy” no quotidiano britânico The Guardian de 26 Março 2001. Willan é um especialista das intervenções secretas norte-americanas em Itália. Assinou o muito interessante Puppetmasters. The Political Use of Terrorism in Italy (Constable, Londres, 1991).
[21] Diário italiano La Stampa de 22 Junho 1996.
[22] Peter Dale Scott, “Transnational Repression: Parafascism and the US” no periódico britânico Lobster Magazine , n°12, 1986, p.16.
[23] João Paulo Guerra, “ ‘Gladio’ actuou em Portugal” no diário português O Jornal de 16 Novembro 1990.
[24] Koch e Schröm, Aginter , p.8.
[25] Extracto de Christie, delle Chiaie , p.28.
[26] Commissione parlamentare d'inchiesta sul terrorismo in Italia e sulle cause della mancata individuazione dei responsabili delle stragi. 9ª sessão , 12 Fevereiro 1997.
[27] Koch e Schröm, Aginter , p.11–12.
[28] Semanário português Expresso de 17 Novembro 1990.
[29] Diário português Diário de Noticias de 17 Novembro 1990.
[30] Sem autor especificado, “Ministro nega conhecimento da rede Gládio. Franco Nogueira disse ao DN que nem Salazar saberia da organização” no diário português Diário de Noticias, de 17 Novembro 1990.
[31] Ibid.
[32] Sem autor especificado, “Manfred Woerner explica Gládio. Investigadas ligações a extrema-direita” no diário português Expresso de 24 Novembro 1990.
[33] João Paulo Guerra, “ ‘Gládio’ actuou em Portugal” no semanário português O Jornal de 16 Novembro 1990.




*Historiador suíço, especialista em relações internacionais contemporâneas. É professor na Universidade da Basileia.

O artigo original, em francês, encontra-se em: La guerre secrète au Portugal.
Tradução de Margarida Ferreira.
Esta tradução encontra-se em: Resistir

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