sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quem não se comunica, se trumbica...


*José Flávio Abelha

Marshall McLuhan
O professor canadense Marshall McLuhan  lá pelos anos 60 já previa a transformação do mundo numa aldeia global. Estamos vivendo a sua previsão.

O “filósofo” Abelardo “Chacrinha” Barbosa, com a sua irreverência criou, com muita propriedade, o corolário da teoria do canadense: “Quem não se comunica se trumbica”.

Falou e disse. Estamos morando na grande aldeia e comunicando mais velozmente do que nunca imaginado.

Chacrinha
O velho reclame dos meus tempos de rapaz já dizia: Quem não anuncia se esconde!

Nunca se comunicou tanto quanto nos anos da ditadura Vargas. Era o DIP que se encarregava, diariamente, de propagar as coisas de Vargas. E o baixinho de Itu sabia como ninguém atrair as massas, quer através de grandes concentrações, quem em comunicação pessoal.

O presidente Vargas, democraticamente eleito, sem o DIP e com uma oposição virulenta, não conseguiu espaço na imprensa, hoje chamada de mídia, e teve de valer-se de manobra mortal, o financiamento para a criação do jornal Ultima Hora, que lhe dava cobertura.

Getúlio e Juscelino
Juscelino Kubitschek, um comunicador nato, obrigou a imprensa a lhe dar espaço construindo Brasília.

Contava com a Bloch e os Diários Associados, os quais, desde a primeira hora, ficaram do seu lado. Não existia O Globo para somente noticiar Brasília às vésperas da inauguração, como o fez com as “Diretas Já”, pegando o bonde andando no último ponto.

O saudoso Leonel Brizola não teve a mesma sorte. A mídia não o apoiava. O que fez o agora reconhecido profeta? Criou o TIJOLAÇO, matéria paga onde falava o que o povo precisava ouvir mas, convenhamos, com pouco eco.

Hoje, seu neto carrega o “tijolaço” com destemida bravura e é lido e repassado em inúmeros outros blogues.

Leonel Brizola
Na primeira visita que o recém eleito prefeito de Conselheiro Pena, José Laviola de Matos, fez a Alvarenga, um distrito longínquo, fui testemunha de um fato singular em matéria de comunicação.


Sobre essa visita escrevi alguma coisa no meu livrete “A Mineirice”.

Estávamos nos princípios dos anos 60. Em dado momento de folga, acompanhei Laviola na visita a um fazendeiro, chefe político da região e seu eleitor.

O prefeito, tentando fazer uma pequena pesquisa, perguntou ao fazendeiro em quem votaria nas eleições de 65. O “coronel” levantou-se da cadeira, foi ao seu quarto e de lá saiu carregando uma caixa de sapatos. Lá de dentro, retirou um cartão e nos mostrou dizendo que esse era o seu candidato porque nunca se esquecera de lhe cumprimentar por ocasião do Natal.

Tratava-se de um cartão “assinado” por Juscelino e dirigido “ao meu bom amigo”. Milagres das gráficas modernas. A assinatura, em tinta azul, era “idêntica”. Com esse expediente, JK estava garantindo dezenas de votos naquele fim de mundo. Votos multiplicadores.

Em 1972 visitei o gabinete de um senador americano no Capitólio. Vi o que devia ver e o que não devia, a máquina de assinar cartões e cartas.

Nos EUA o eleitor estufa o peito e diz que vai queixar-se ao seu congressista. Escreve e recebe a resposta “assinada” pela máquina com uma caneta Bic.

Ai do congressista que não responder.

Aldeia Global
É lamentável que hoje não mais se receba qualquer comunicação dos nossos congressistas, um afago, mesmo assinado pela máquina. Nada! Se quisermos saber alguma coisa, temos de consultar blogues, ouvir a Hora do Brasil ou ver na TV uns debates anódinos e notícias dirigidas com âncoras que só fazer caras e bocas.



Lula é um comunicador excepcional, cria fatos e expectativas, mas não conta com a simpatia da mídia. Fala direto ao povão. Nem seu partido nem as agremiações trabalhistas lhe dão grande espaço. Inveja, medo, sabe-se lá o que mais!


A nossa Presidenta não é de muito palavrório, fala pouco e não se comunica bem.

O jornalista Carlos Chagas, na fumaça da visita da Presidenta aos EUA, ocasião em que abriu a sessão na ONU, comentou que a mídia internacional lhe deu pouco espaço e aqui, quase nem isso.

O comentário de Chagas é irreprochável. Sendo a ONU um órgão hoje desmoralizado, pouca repercussão há no que lá se trata. O que se fala naquele clube presidido atualmente pelo Obama ninguém dá mais crédito.

Aqui, bom, aqui, convenhamos, o fato é lamentável. Bem sabemos que a mídia tupiniquim não morre de amores pela presidenta. Ao contrário, vive da solapa, do  ardil, da manha, da astúcia, da ronha, visando a sua desmoralização e, indo além, da sua derrubada, é o que estamos vendo segundo nos ensina o livrinho A Arte da Guerra.

Mas, o jornalista também lembrou, ou tocou, num ponto nevrálgico, a TV estatal que deveria ter se encarregado de transmitir as solenidades nas quais  a presidenta do Brasil compareceu. Diz Chagas que, naquelas horas, a TV estatal transmitia desenhos animados.

Não me surpreendi com as observações de Carlos Chagas.

Luiz Inácio Lula da Silva
Concordo e faço coro. Traduzindo, desde a primeira posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até esta data, hoje, dia 30 de setembro, a comunicação governamental é um fracasso total, de uma incompetência incomensurável, para não repetir o bordão daquele ancora de entorta a boca, faz biquinho e diz: é uma vergonha!

E é mesmo.

Sendo um blogueiro atuante, embora sem prestígio, o que não me tira o arrebatamento, tenho, de quando em quando, enviado críticas e sugestões ao partido político base da presidenta e à própria.

Nunca recebi qualquer resposta. Nem um e-mail ou um cartão expedido pela milagrosa máquina.de assinar. Nada mesmo!

Dilma Rousseff
Quando esteve fazendo tratamento médico para cortar o início de um câncer linfático, Dilma Rousseff deve ter recebido milhares de e-mails e cartas. E, já curada, naturalmente a sua assessoria achou por bem agradecer a todos com a mensagem padrão.

Fui premiado com mensagem pessoal da Dilma.

Como bom mineiro, exclamei, UAI, eu não mandei nenhuma mensagem à distinta dama...

Sou do tempo em que ainda se usava responder cartas, cartões e telegramas. Diretor do Clube Lajão, de Conselheiro Pena, eu fiquei encarregado de fazer sala ao nosso contratado, o grande Orlando Silva e sua companheira, Da. Lurdes. Orlando bebeu conosco e varou a madrugada cantando.

Mais ou menos um mês depois, recebi, para surpresa minha, uma carta do grande Orlando, agradecendo-me pela bela recepção, mandando abraços para o prefeito Laviola e uma foto autografada para mim. A carta está bem guardada e a foto, devidamente emoldurada, no meu escritório.

Hoje, nada mais se agradece, nada mais se comunica. A aldeia global, se encurtou a geografia, distanciou as pessoas. Namora-se pela internete, um amor virtual. Ninguém conhece ninguém.

E a nossa mídia se encarrega de distanciar, ainda mais, as pessoas dos fatos.

Ainda agora o ex-presidente Lula recebeu uma homenagem que poucas pessoas no mundo já foram honradas com tal manifestação de reconhecimento.

Nossa mídia noticiou como se noticia uma batida de carro na ponte Rio-Niterói. Nada mais. Nós blogueiros, uns mais outros menos, nos encarregamos de noticiar a boa nova.

E não é que a Vênus Platinada achou por bem jogar pó de mico na cerimônia? Leiam os blogues sérios que os leitores irão ver a lambança que o pessoal da Vênus tentou fazer.

Mais uma vez nem o partido do ex-presidente manifestou-se a respeito. Não sei se a TV estatal, no seu noticiário, prestou a devida homenagem ao seu criador. Aliás, nem sei se existe noticiário.

Como diria o âncora do biquinho: É uma vergonha!


*Mineiro, Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltda.. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO ABELHA
Correspondência para: jfabelha@terra.com.br 


Texto enviadopelo autor; Ilustração: redecastorphoto

Um comentário:

  1. (comentário enviado por e-mail e postado por Castor)

    É a TV Brasil, que se pretende PÚBLICA, a que o Abelha se refere como ESTATAL? A referida é deveras de operecionalidade estatal, jamais pública. Raros, raríssimos, os patrícios que sabemos estabelecer diferença(s), que é(são) enorme(s), entre um e outro modelo...

    Não contamos com nenhuma TV Pública neste imenso País nosso, apesar da petulância da que foi batizada com o seu geônimo, intitulando-se assim, pública, o que não é nem de araque. Mas em outros rincões também não se sabe ao certo, o que explica a existência de apenas 52 emissoras do gênero, no mundo inteiro.

    Abraços do
    ArnaC

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