sexta-feira, 10 de abril de 2015

Contra as mentiras disseminadas pela mídia–empresa

7/4/2015, [*] Colin TodhunterCountercurrents
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Global Research, The 4th Media, RINF, Countercurrents e outros, qualquer página ou blog em que você esteja lendo este artigo, será necessariamente veículo do que se chama “mídia independente” ou “mídia alternativa”. Muitas dessas páginas não publicam publicidade paga e vivem de doações de leitores. Muitos dos autores publicados nessas páginas escrevem sem nenhuma ou com mínima remuneração.

Compare-se essa situação com a chamada “mídia-empresa dominante”, quase sempre impressa ou de televisão, mas também por rádio.

A mídia-empresa dominante, com seus jornalistas pagos (nem sempre bem pagos e muitas vezes miseravelmente mal pagos) e cuja propriedade vai-se tornando cada vez mais concentrada, vive sob a direção, de fato, dos anunciantes que a sustentam. Quase sempre pertence a empresários privados, e os proprietários e acionistas têm declarado interesse em manter o sistema econômico vigente, baseado na propriedade privada; e em construir o consenso necessário para manter aquele sistema.

Além disso, esses veículos atualmente são cada dia mais parte de conglomerados maiores, que podem incluir vários tipos de indústrias – de armamento, de banking, etc. – e de interesses financeiros e econômicos. Nessas circunstâncias já nem se pode sequer cogitar de os veículos adotarem posição que prestigie mais o interesse do leitor/ radiouvinte/ telespectador, do que da própria organização na qual se insere a dita mídia-empresa.

Nesse quadro, o público é empurrado para uma visão de mundo que distorce a realidade a favor dos específicos interesses empresariais. Por esse mecanismo é que se divulgou e disseminou-se tão amplamente a mensagem, por exemplo, de que o “livre mercado’”seria o melhor sistema existente para fornecer bens e serviços às pessoas; que os serviços públicos seriam sempre péssimos; que a “austeridade” [nome novo para o “arrocho”, tão velho conhecido dos trabalhadores em todo o mundo] seria indispensável e benéfica; que a privatização aumentaria a eficiência; que a malfadada infindável “guerra ao terror” faria sentido, mesmo que seja agressão só contra alguns e nunca contra todos os terroristas; que o bem-estar das pessoas poderia ser avaliado pela busca incansável de perenes aumentos do PIB; que EUA e OTAN seriam bons “guardiães do mundo”; que as gigantes do agrobusiness poderiam deslocar pequenos produtores em nome de garantir uma suposta “segurança alimentar”; e que as desigualdades gigantescas reproduzidas e disseminadas pelo poder ilimitado e não regulado das empresas e sua ânsia de lucros seriam não só legítimas como, também, absolutamente necessárias.

Ao longo dos últimos 15 anos, surgiram muitas páginas noticiosas alternativas, que desafiam esses pressupostos da mídia-empresa velha, e a ideia de que os cidadãos eleitores devam ser consumidores passivos de uma agenda pré-fabricada de eventos. Há hoje dúzias de agências distribuidoras de notícias que informam sobre longa lista de questões que a velha mídia-empresa deliberadamente excluiu da pauta de notícias consideradas ‘importantes’ e sobre as quais ou nada se diz, ou só se ‘noticiam’ mentiras. E criaram-se também, em todo o mundo, muitas páginas de pesquisa, com alcance global, criadas especificamente para examinar os fatos em diferentes setores da vida, para fiscalizar as práticas corporativas (por exemplo, GMWatchCorporate Europe ObservatoryFood & Water WatchCampaign Against the Arms Trade, etc.) e, assim, para expor, desmentir e contra-argumentar inúmeros campos da ainda chamada “informação”, mas que hoje já não passa de publicidade & marketing, quando não é pura propaganda a favor do capital e dos ricos.

A existência de páginas independentes de informação, já levou a União Europeia a manifestar preocupações sobre os “efeitos daninhos” de as pessoas terem acesso a essas fontes de informação alternativa. A União Europeia reclama que o consenso societal está sendo erodido, porque as pessoas estão sendo “desviadas” por vozes dissidentes que se distribuem, sobretudo, pela internet.

A imprensa está vigilante
DURMAM CIDADÃOS
No relatório A free and pluralistic media to sustain European democracy [Uma mídia livre e pluralista para dar sustentação à democracia europeia], a UE alerta para o que considera o risco de as pessoas, mal informadas ou submetidas a informação distorcida, estarem tendendo cada vez mais ao radicalismo. E defende que a União Europeia ajude a financiar um jornalismo “responsável”, que leve o ponto de vista da União Europeia a todos os cidadãos, com regularidade e principalmente pela imprensa, e que imponha controles sobre a internet. Para a União Europeia, isso se chamaria “pluralismo”.

O que é “jornalismo responsável”?

Em seu artigo A hora mais escura, ou como os norte-americanos perderam a própria humanidade, de 13/1/2013, Annie Day sugere que, como resultado dos muitos atos de invasão, intervenção, desestabilização de outros países, golpes, bombardeios em massa e ação de seus esquadrões da morte, os militares norte-americanos e a CIA tornaram-se responsáveis por cerca de 10 milhões de mortos, desde 1945. Mesmo assim, a mídia-empresa jamais se refere a essa tragédia como uma espécie de prática de terrorismo em massa. Tendo já sequestrado cinicamente o próprio conceito de “terror”, os EUA agora se dedicam a justificar a própria tirania sem fronteiras discursando sobre uma “guerra ao terror”, sempre ricamente fotografada ou televisionada. Esse é o serviço jamais questionado e não raras vezes muito elogiado ao qual se dedica, em tempo integral a mídia-empresa dominante.

A Ucrânia é o mais recente exemplo de campanha de terror apoiada pelos EUA, que a mídia-empresa absolutamente jamais questionou. Com o mundo andando a passos rápidos na direção de uma guerra nuclear, a mídia-empresa capitalista só faz repetir, como papagaio, a mentira oficial produzida em Washington, segundo a qual a situação presente seria consequência de uma “agressão russa”.

A isso se podem acrescentar aqueles 10 milhões mais incontáveis mortos, cuja vida foi sacrificada no altar do lucro das empresas que não confiam só nos militares para bombardear países e povos até que se ajoelhem ante o que lhes ordenem IMF, World Bank and WTO. Quantas vidas foram ceifadas em todo o mundo, por causa da violência estrutural, ou da silenciosa matança diária, indispensável para manter operante o capitalismo de predação?

A apropriação ensandecida de toda a riqueza, mediante um sistema que afunila de baixo para cima – o sistema de acumulação por roubo – é celebrada pela mídia-empresa como se fosse crescimento, prosperidade e liberdade de escolha, apesar de todas as provas do contrário que nos vêm de Grécia, Espanha e outros países, de que a realidade, para a maior parte da população tem sido salários que encolhem, pobreza galopante, nenhuma possibilidade de escolher livremente coisa alguma e miséria.

Assim sendo, onde está(ria) o “jornalismo responsável” que a União Europeia está convocando?

Estará, talvez, naqueles jornalistas profissionais que operam a mídia-empresa, e que só fazem oferecer, como garantia de respeitabilidade, o próprio profissionalismo, a transparência do próprio trabalho, a própria objetividade, tudo sempre autoproclamado?

Se alguém aceitar que profissionalismo, transparência e objetividade se demonstrariam na fidelidade ao patrão, nos números da folha de pagamento (e respectivos “por fora”) e se concentrariam em proibir qualquer arranhão, leve que seja, aos interesses dos anunciantes, do poder (onde esteja) e do próprio patrão, então, sim: os jornalistas como os conhecemos são exemplares a serem copiados, de perfeita responsabilidade social.

Repetindo suas futilidades e mentiras bem remuneradas, até hoje nem jornais, nem jornalistas, nem redes de TV nem rádios comerciais, jamais se expuseram a qualquer genuíno controle público. Cada vez que dirigem seus talentos “investigativos” para “procedimentos parlamentares”, personalidades, qualquer “política” e as insensatas maquinações dos partidos do capital, esses jornais e jornalistas só servem para perpetuar o status quo e manter o público na mais impenetrável ignorância de tudo que tenha a ver com a militância do poder para se autopreservar e assegurar salvo conduto para o que quer que façam Big Petróleo, a Big Finança, a Big Farma, o Big Agro-businesses e o resto deles, graças ao trabalho de think-tanks e universidades, além de iniciativas políticas pensadas para nos fazerem sangrar até morrer.

Corporações Globais comandam os Exércitos
Mas esse é o serviço da mídia-empresa: ajudar a reforçar e a reproduzir as condições materiais de um sistema de divisão social, operando todos os dias, 24h/24h. Há quem chame essa mídia-empresa de “mídia sem dentes”, mídia serviçal do poder. É a mídia-empresa que se apresenta como se fosse elemento vitalmente importante da “democracia liberal”.

Mas a verdade é que, nesse tipo de “democracia liberal”, nenhuma mídia-empresa jamais expõe os malfeitos das elites político–empresariais–acadêmicas: quem faz esse serviço é gente como Edward Snowden ou Julian Assange; e, esses, são caçados como criminosos.

Foi George Orwell quem disse que jornalismo é imprimir o que ninguém quer ver impresso; e que o resto é relações públicas. Na mesma linha, o ex-chefe da CIA, general Petraeus, disse em 2006 que sua estratégia era fazer uma guerra de percepções conduzida ininterruptamente pelas empresas de noticiário, e John Pilger observa que o papel do jornalismo “respeitável” nos crimes de estado no Ocidente – do Iraque ao Irã, do Afeganistão à Líbia – sempre foi e continua a ser absoluto tabu: o papel desse jornalismo “respeitável” é dançar como macaco de circo e distrair as massas, enquanto as empurra para guerras ilegais.

Agências de inteligência garantem subserviência da “mídia”

Claro que há alguns jornalistas bons, a serviço também da mídia-empresa dominante. Mas você erra, se já resolveu que esse artigo é apenas mais um ataque enviesado contra a “liberdade” da mídia-empresa ainda dominante.

Muitos leitores alemães com certeza lembrarão a história recente do ex-editor do Frankfurter Allgemeine Zeitung, um dos maiores jornais alemães, que confessou que aceitava matérias redigidas e entregues a ele pela CIA, e que as publicava como se fossem de sua autoria.

Para muitos, foi um choque. Mas não deveria chocar mais ninguém; por exemplo na Grã-Bretanha, onde se sabe que a inteligência britânica, associada à CIA, há décadas opera para assegurar-se de que a mídia–empresa de veículos impressos e das redes de TV nunca entrassem em rota de colisão com os interesses do establishment. Além disso, para garantir que a esquerda britânica seria mantida sob fogo intenso e ininterrupto, que seria subvertida, infiltrada e esterilizada, também a esquerda foi “modelada” pelas agências de inteligência para só repetir como papagaio os pontos de vista e os objetivos do establishment.

Como isso foi feito está contado no artigo The Psyops War: British Intelligence and the Covert Propaganda Front and the CIA's Interference in British Politics. Esse artigo revela a estreita relação que sempre houve entre jornalistas seniores na Inglaterra e o MI5:

O MI5 escolhia jornalistas que cobrissem questões trabalhistas nos dois jornais e redes de TV e rádio, e desde os anos 80s; eram recrutados em levas, por seus contatos com grande número de funcionários dos sindicatos e militantes e por se conhecerem entre eles. Segundo Peter Wright, o MI5 sempre teve cerca de 20 jornalistas seniores influentes trabalhando para eles na imprensa nacional. “Nós não os empregávamos diretamente, mas os considerávamos como agentes, porque eles ficavam muito felizes por trabalharem conosco”.

BBC, como serviço nacional público de divulgação de informações, recebia atenção especial:

Na BBC, o brigadeiro Ronald Stonham fazia a ligação com o MI5 e o Ramo Especial, e aconselhava a corporação sobre quem contratar e quem não contratar. Nomes de aspirantes a empregos nos setores editoriais da BBC também eram sujeitos ao “veto” do MI5.

Daquele artigo depreende-se facilmente onde, na avaliação das elites, os jornalistas deveriam aplicar sua “lealdade”:

Há momentos em que o jornalista, depois de examinar todos os fatos e confirmar o que lhe digam suas fontes, deve pôr-se ao lado do estado, da ordem estabelecida e do establishment como um todo.(Diretor da Autoridade do Rádio).

A classe trabalhadora, sobretudo, tinha de saber exatamente qual o seu lugar (Toxteth, no fragmento abaixo, é um distrito urbano, usado ali como caso exemplar da agitação social que tomava conta de várias cidades britânicas no início da década dos 80s):

Estamos num período de considerável mudança social. Talvez haja agitação social, e nós podemos lidar com os Toxteths (…). Mas se tivermos população bem educada e ociosa, podemos, possivelmente, antecipar conflitos mais sérios. As pessoas têm de ser educadas para, mais uma vez, saberem qual é o lugar delas. [De relatório secreto do Departamento de Educação].

O artigo deixa bem claro quem o establishment britânico vê como “o inimigo interno” e qual o papel que caberia à muito elogiada “imprensa livre” (elogiada mais sempre pelo próprio pessoal que ganha dinheiro dentro da dita “imprensa livre”).

A imprensa "livre" está completamente dominada
Com a diminuição acentuada no número de leitores, porém, a empresa de imprensa impressa parece já ter entrado em queda terminal. O controle férreo que o establishment sempre teve sobre a informação já começa a escapar-lhe e deslizamos todos para um quadro em que a internet tornou-se o maior veículo para distribuição de informação.

A elite financeira–empresarial encastelada no estado reinou por muito tempo sobre a mídia-empresa que sempre lhe foi subordinada. Agora, a mesma elite dedica-se a uma estratégia de vigilância global massiva e a tentar capar a liberdade da internet, em muitos casos propondo medidas de censura, sob o pretexto de que assim se impediriam crimes de pedofilia (como se viu no Brasil e na Inglaterra, por exemplo).

O objetivo daquelas elites é, outra vez, estabelecer seu total controle também sobre a internet, e assim reproduzir a “livre imprensa” que tão bons serviços sempre prestou ao establishment  financeiro–empresarial que se infiltrou no estado.
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[*] Colin Todhunter é originário do Reino Unido e passou muitos anos na Índia. Atualmente mantém residência em ambos os países. Foi pesquisador de Política Social. Especializou-se também no estudo de Mídias e na análise dos malefícios dos produtos transgênicos. Seus artigos tem sido publicados em uma ampla gama de jornais e revistas. Publicou igualmente dezenas de resenhas de livros em inúmeros sites de destaque.

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