Posted on 12/06/2010 by Antonio Ozaí da Silva
Em 10 de junho de 1940, a Itália do fascista Benito Mussolini declara guerra à França e à Inglaterra; Paul Reynaud, primeiro-ministro francês, faz um apelo dramático de ajuda ao Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, o que indica o abandono da política de neutralidade; com a França ocupada pelas tropas alemães, a Assembléia Nacional Francesa decreta o fim da Terceira República Francesa e, no dia seguinte, instaura o governo de Vichy, com Philippe Pétain como chefe de Estado. Em 10 de junho de 1940, a Europa sangrava diante da guerra. No Brasil, estávamos em pleno Estado Novo, governo de Getúlio Vargas.
Em 10 de junho de 1940, num pequeno povoado chamado Fundão, município de Monteiro, no semi-árido paraibano, nascia Margarida da Silva. Filha de João André da Silva e Genezia Maria da Conceição, não nasceu em hospital, mas com a ajuda de uma parteira. Como se diz no nordeste, ela vingou, sobreviveu às circunstâncias e condições sociais e econômicas próprias do povo simples e pobre que habita os rincões deste país.
Em 1963, casada com Julio Elias Silva e com seu primeiro filho com cerca de 8 meses de idade, ela mudou-se para Poção, no agreste pernambucano, limítrofe de São João do Tigre (PB) – município recém criado, ao qual passou a pertencer o povoado de Santa Maria (Fundão). Foi em Poção que nasceu o segundo filho e, em 1971, a filha. Com o esposo ausente, sempre em viagens ao sul e sudeste, coube a ela ser a chefe de família e trabalhar para alimentar a prole. A casa em que morou nesta cidade foi comprada com a venda de um cavalo e a peça de Renascença que fez. A Renascença é uma renda de origem européia, produzida artesanalmente e comercializada no Brasil e exportada para o exterior. Foi com a renda renascença que Margarida da Silva sustentou a família.
Em 1972, ela vendeu a casinha comprada com tanto esforço e mudou-se para Paulo Afonso (BA). Seu marido trabalhava na CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco). A nova moradia não trouxe alegrias. Seus filhos só não passavam fome porque ela se dedicava ao trabalho com a Renascença. Sem poder contar com o marido que, viciado em baralho, perdia o salário nas mesas de jogo, e cansada dos maus tratos, ela decidiu deixá-lo. Em agosto de 1974, ela, corajosamente, viajou com os três filhos para a cidade de São Paulo, onde moravam seus pais e irmãos.
A vida em São Paulo não foi fácil. Decidida a criar os filhos sozinha, sofreu o preconceito por ser mulher sem marido. Inicialmente, a família recebeu-a bem, mas logo começaram os conflitos. Na prática, ela viu-se, como sempre, só. Batalhadora e trabalhadora, arrumou um emprego no Frigorífico Swift, em Santo André, ABC paulista. Deixou sua saúde neste trabalho. Por necessidade, trabalhava à noite e se culpava por deixar os filhos sós. Tinha saído do quintal do irmão, onde morava com os pais e mais três irmãos em dois cômodos (à noite, os filhos iam dormir nas casas dos tios que moravam nas proximidades). Cansada dessa vida, foi morar num barraco, num cortiço, que mal cabia uma mesa, fogão e cama de solteiro. Depois, mudou para um barraco maior no mesmo local. Seu sonho era morar numa casa de alvenaria, o que realizou meses depois.
Margarida da Silva dedicou a vida aos filhos, viveu por e para eles. Se os filhos lograram sobreviver e conquistar algo na vida, devem à persistência e ao amor dela. O sofrimento não foi em vão, ela deve orgulhar-se e considerar-se vitoriosa. Alfabetizada por esforço próprio, ela tem a sabedoria que os títulos acadêmicos não concedem. Legou valores e ensinamentos morais. Seu exemplo de vida orgulha filhos e netos. São suas raízes.
Em 10 de junho de 2010, Margarida da Silva completou 70 anos. Parabéns e muito obrigado por tudo!