O Brasil não vai ficar isolado no cenário internacional por ter votado contra novas sanções ao Irã na reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova York nesta quarta-feira (09/06), afirmaram especialistas na questão iraniana ouvidos pela Deutsche Welle.
A nova resolução foi aprovada por 12 dos 15 membros, incluindo os votos dos Estados Unidos, do Reino Unido, da França, da Rússia e da China, que são os cinco membros permanentes do conselho. Apenas o Brasil e a Turquia, que são membros temporários, votaram contra. O Líbano se absteve.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, qualificou a decisão de equívoco e disse que ela foi tomada apenas por "birra". "Às vezes, me dá a impressão daquele pai duro que é obrigado a dar umas palmadas no filho, mesmo que ele não mereça. Acho que o Conselho de Segurança jogou fora uma oportunidade histórica de negociar tranquilamente o programa nuclear iraniano", disse.
Em maio último, Brasil e Turquia mediaram um acordo de troca de urânio enriquecido com o Irã, com o qual esperavam evitar novas sanções à República Islâmica.
Vantagens a médio prazo
Para Konstantin Kosten, da Sociedade Alemã para Política Externa, a decisão foi um golpe para os esforços do Brasil, mas não isola o país internacionalmente. "Não creio que a posição brasileira na questão nuclear com o Irã leve a um completo isolamento do Brasil", declarou.
Na avaliação dele, principalmente os europeus entendem que o Brasil teve uma postura construtiva. "Não deu certo agora, mas posso imaginar que virão novas conferências e negociações nas quais o Brasil também desempenhará um papel."
Já Henner Fürtig, do Instituto Alemão para Assuntos Globais e Regionais (Giga), diz que a posição brasileira poderá até trazer vantagens para o país a médio prazo. "Através de posições independentes como essa, países como o Brasil reforçam seu papel de liderança regional."
"Posso imaginar que alguns países considerem a posição brasileira – de se opor a um ditado dos cinco membros com poder de veto – corajosa e consequente", afirmou. "A curto prazo, é possível que, especialmente na relação com o Ocidente, tenha-se que aguentar algumas perdas, mas isso não deve ser superestimado."
Reforma do Conselho de Segurança
Após a votação das sanções, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, voltou a defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Segundo ele, a situação atual é "escandalosa" porque os membros permanentes são "potências nucleares". O Conselho de Segurança se mantém inalterado desde a sua criação, em 1945.
Para Kosten, a posição contrária do Brasil às sanções não influenciará os esforços brasileiros por um assento permanente no Conselho de Segurança. "A reforma do Conselho de Segurança e da ONU em geral é um tema muito mais amplo, que deve ser separado da questão nuclear com o Irã."
Segundo ele, a reforma proposta por Brasil, Alemanha e outros países "imergiu no esquecimento". Para as pretensões brasileiras, nada muda. "Eu diria que continua tão difícil quanto antes", conclui o especialista da Sociedade Alemã para Política Externa.
Autor: Alexandre Schossler
Revisão: Roselaine Wandscheer
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