sexta-feira, 22 de outubro de 2010

WikiLeaks divulga arquivo secreto da guerra do Iraque (1)

22/10/2010, para Al-Jazeera, Qatar - WikiLeaks releases secret Iraq file
A cronologia da violência (mapa interativo)  Interactive: A timeline of violence
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

No maior vazamento de segredos militares da história, WikiLeaks divulgou hoje, 22/10/2010, há algumas horas, 400 mil arquivos secretos dos EUA detalhando todos os aspectos da guerra no Iraque. A rede Al-Jazeera teve acesso a esses documentos.

A imensa quantidade de dados contidos nos arquivos secretos oferece uma narrativa gráfica da guerra, que vai muito além de qualquer informação sobre o conflito jamais divulgada para a opinião pública.

Trabalhando sobre milhares de relatórios militares norte-americanos secretos, Al Jazeera pode agora contar a história interna de uma guerra que já fez milhares de mortos e deixou o Iraque fraturado em inúmeros sectarismos.

Trabalhando com o Gabinete de Jornalismo Investigativo [ing. Bureau of Investigative Journalism] em Londres, ao longo das últimas dez semanas, Al Jazeera analisou dezenas de milhares de documentos, descobriu fatos que os EUA mantiveram, até agora, ocultados da opinião pública.

O que afinal se sabe agora contradiz a narrativa oficial do conflito. Por exemplo, os dados agora vazados mostram que os EUA mantêm relatórios detalhados do número de iraquianos mortos e feridos ao longo de toda a guerra, ao contrário do que as autoridades militares e civis dos EUA sempre declararam.

O mais recente conjunto de arquivos, que agora chega ao conhecimento público, cobre um período de seis anos – de 1/1/2004 a 31/12/2009 – e mostra que nesse período houve 109 mil mortos. Desse total, espantosos 66.081 eram civis.

Os números são muito superiores a quaisquer estimativas e obrigam a revisar para cima o número total de mortos no conflito.

Por efeito da informação contida nesses novos arquivos, o Iraq Body Count (IBC) – organização que mantém registros do número de mortos – terá de acrescentar 15 mil mortos até agora ignorados, aos seus registros: de 107 mil, passam para 122 mil.

O novo material expõe o horror cotidiano da guerra.

Os militares chamam esses relatórios de [ing.] SIGACTs, significant action reports (Relatórios de Ações Relevantes); são relatos resumidos dos eventos que registram ataques, buscas, bombardeamento de carros, explosões em estradas e acostamentos minados, prisões e mais. Todos esses relatórios são classificados como “secretos”.

Os relatórios comprovam que a tortura tornou-se prática crescentemente generalizada; mostra também o quanto, da guerra, pesa sobre civis.

Há relatos de horrores: mulheres grávidas assassinadas a tiros nos postos de controle, religiosos seqüestrados e assassinados, guardas de prisões iraquianas usando eletrochoques para obrigar os prisioneiros a confessar.

Também é perturbador o modo como os militares reagem à morte de civis provocada por seus soldados. O uso excessivo de força jamais foi investigado e os culpados só muito raramente foram identificados e levados a julgamento.

Entendemos que a divulgação desses arquivos gera risco de vida para os que são aqui identificados. Por isso, praticamente todos os nomes foram alterados – exceto no caso de figuras muito conhecidas, como o primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki.

Todos os jornalistas que trabalharam com esse tipo de dados procederam do mesmo modo.

Mas, aliada nessa empreitada aos jornais New York Times e The Guardian, à revista Der Spiegel e ao Channel 4 da televisão britânica, a rede Al Jazeera não tem dúvidas de que a divulgação dos arquivos secretos do Iraque – apesar de implicar divulgação de material militar secreto – é vitalmente importante para defender o interesse público.



Comentário de um correspondente

Não é curioso seja a rede Al Jazeera - aquela que os brasileiros julgam "emissora terrorista", tal como o Bush filho a qualificou - a que se encarrega da difusão do material divulgado pela WikiLeaks? Isso significa que outras redes de alcance global, como a CNN e a BBC World, resolveram atender ao apelo do Pentágono no sentido de não se ocuparem da divulgação do material ex-ultra secreto.

Os brasileiros não podemos captá-la na Net ou na Sky porque a Globo (sempre esta!), dominada do exterior por Rupert Murdoch, só aceita o que seu mestre mandar. Não é só a emissora sediada em Doha que fica fora de nosso alcance televisivo. Outras há, como a CCTV International (China), a PBS (EUA), a SBS (Austrália), Arté (Alemanha-França).

Bem que a TV Brasil, dita "pública", poderia lançar sua rede por assinatura, bem mais barata que a globo-murdocheana, e adotasse aquelas emissoras, mais a Telesur, a argentina, a cubana e demais importantes da América do Sul, México e africanas.
Não foi a pseudo-pública brasileira também criada como "internacional", segundo Franklin Martins e Tereza Cruvinel?

Ou a Globo não deixa?

Abraços do
ArnCar

P.S.: e por que não adotarmos, individual ou associativamente, parabólicas dirigidas a satélites que não os controlados pelas "redes ruperteanas"? Lula e Celso legam-nos uma diplomacia autônoma o suficiente para a defesa de nossos interesses. É só aproveitar.