terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

“Protestos” assassinaram a democracia − Ucrânia derrotada pela intriga e pela violência

23/2/2014, [*] Paul Craig RobertsInstitute for Political Economy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Manifestantes moderados estendem bandeira da UE em Kiev (24/11/2014)
Quem manda lá? Não, com certeza, os moderados alugados e bem pagos que Washington e a União Europeia sonhavam pôr lá, como novo governo da Ucrânia. O acordo que a oposição sustentada por Washington e pela União Europeia fizeram com o presidente Yanukovich para pôr fim à crise não durou meia hora.

Até o ex-campeão de boxe, Vitali Klitschko, que fazia pose de líder da oposição há apenas poucas horas, foi vaiado pelos vândalos e terroristas, e descartado. O agora nomeado presidente por algo que parece ser um Parlamento irrelevante, Oleksandr Turchynov, não tem apoio algum entre os que derrubaram o governo.

Como a BBC noticiou,

(...) como todos os políticos da oposição, Turchynov não goza da confiança nem do respeito dos reunidos na Praça Independencia em Kiev.

Oleksander
Turchynov
No leste da Ucrânia, a única força armada e organizada é o ultranacionalista “Pravy Sektor” − Setor Direita. Pelo modo como os “líderes” desse grupo estão falando, vê-se que se sentem instalados no poder. Um deles, Aleksandr Muzychko, já jurou lutar “até a morte contra judeus e russos”.

Afirmando a autoridade do Pravy Sektor (Setor Direita) sobre a situação, Muzychko declarou que agora que o governo democraticamente eleito foi derrubado, “teremos ordem e disciplina” e “esquadrões do Pravy Sektor (Setor Direita) matarão os bastardos, onde forem encontrados”.

Os “bastardos” são qualquer manifestante que ouse protestar contra o Pravy Sektor (Setor Direita).

Muzychko declarou que “o próximo presidente da Ucrânia será do Pravy Sektor (Setor Direita)”.

Outro líder do Pravy Sektor (Setor Direita), Dmitry Yarosh, declarou:

(...) o Pravy Sektor não vai depor armas.  

Disse que o acordo feito entre a oposição e o presidente é “inaceitável” e exigiu a extinção do partido político do presidente Yanukovich.

Dmitry Yarosh
Esse Setor Direita tem raízes que remontam aos ucranianos que lutaram ao lado de Adolf Hitler contra a União Soviética durante a IIª Guerra Mundial. Foi o Setor Direita que introduziu na praça os vândalos armados que converteram as manifestações pacíficas em Kiev, a favor de o país aproximar-se da União Europeia, em ataques violentos contra a Polícia, com o objetivo de derrubar governo democraticamente eleito – o que o Setor Direita afinal conseguiu.

O Setor Direita não derrubou o governo da Ucrânia para entregá-lo nas mãos da “oposição” alugada e paga por Washington e pela União Europeia.

Há uma tendência a apresentar o Setor Direita como pequeno grupo marginal. E o Setor Direita não só tomou o controle dos protestos, retirando-o dos moderados apoiados pelo Ocidente – como os próprios tais moderados já admitiram, eles mesmos – mas o Setor Direita também encontrou apoio público suficiente para destruir o monumento nacional aos soldados do Exército Vermelho que morreram para libertar a Ucrânia da ocupação pelos nazistas alemães.

Diferente da destruição encenada pelos EUA da estátua de Saddam Hussein, que foi evento de propaganda montado pelos EUA para que os representantes da imprensa-empresa press-tituta fotografassem, a destruição, pela extrema direita ucraniana, do monumento comemorativo da libertação da Ucrânia pelo Exército Vermelho teve, sim, apoio popular.

O Setor Direita odeia os russos por terem derrotado Hitler, mas, pela mesma razão, também odeia os EUA, a França e a Inglaterra. De modo algum o Setor Direita será o partido político que integrará a Ucrânia à União Europeia.

Susan Rice
As partes russas da Ucrânia compreendem claramente que a destruição, pela extrema direita, do monumento que homenageia a vitória do Exército Vermelho sobre as tropas nazistas é ameaça direta contra a população russa que vive na Ucrânia. Governos provinciais no leste e no sul da Ucrânia que já foram parte da Rússia estão organizando milícias para resistir à ameaça de nazistas ultranacionalistas criada pela estupidez e pela incompetência de Washington, e pela ignorância e ingenuidade patéticas dos “manifestantes” de Kiev.

Tendo interferido em assuntos internos da Ucrânia e perdido em seguida o controle sobre os eventos, Washington põe-se agora a lançar “ultimatos” à Rússia para que não interfira na Ucrânia.

Será que a perfeitamente idiota Susan Rice, conselheira de segurança nacional neoconservadora de Obama, pensa que Putin dará alguma (qualquer, mínima) atenção aos “ultimatos” dela, ou a “instruções” de um governo militarmente tão incompetente que não consegue sequer ocupar Bagdá, depois de oito anos de tentativas, nem consegue derrotar uns poucos milhares de Talibãs armados só com armas leves, depois de doze anos?

As tropas russas precisaram só de algumas horas para destruir o exército georgiano treinado e armado por EUA e Israel, que Washington mandou lá, para invadir Ossétia Sul.

Victoria Nuland
Onde será que Obama descobre nulidades como Susan Rice e Victoria Nuland? Deviam ser postas num sanatório para mulheres portadoras de necessidades (muito) especiais, nunca no governo de uma superpotência, onde a ignorância e a arrogância da dupla pode iniciar a IIIª Guerra Mundial.

A Ucrânia é muito mais importante para a Rússia que para os EUA ou a União Europeia. Se a situação na Ucrânia descambar completamente, e os extremistas de direita assumirem o controle, a intervenção russa é certa. O arrogante, estúpido governo Obama, tolamente, temerariamente, imbecilmente, criou uma ameaça estratégica direta contra a existência da Rússia.

Segundo o Moscow Times, eis o que um alto funcionário do governo russo tem a dizer:

Se a Ucrânia rachar, haverá guerra. A Ucrânia perderá, primeiro, a Crimeia, porque a Rússia irá para lá, como fizemos na Georgia.

Outro funcionário russo disse:

Não permitiremos que Europa e EUA nos tomem a Ucrânia. Todos os estados da ex-União Soviética são, para nós, uma família. Pensam que a Rússia está ainda fraca, como no início dos anos 1990s. Não estamos.

A extrema direita ucraniana está hoje em posição mais forte que os fantoches ucranianos pagos por Washington, gente absolutamente fraca e irrelevante que vendeu o próprio país pelo dinheiro de Washington. O Setor Direita é organizado. Está armado. É local. Não depende de dinheiro pago a ele por Washington, nem de ONGs pagas pela União Europeia. Têm ideologia e é focado. O Setor Direita não precisa pagar manifestantes para encher ruas, como Washington teve de fazer.

O mais grave: “manifestantes” bem intencionados, mas estúpidos – sobretudo os estudantes de Kiev – e um parlamento ucraniano jogando para os “manifestantes” destruíram a democracia ucraniana. O Parlamento controlado pela oposição tirou do governo, sem eleições, um presidente eleito: não há dúvida alguma de que é ação ilegal e antidemocrática óbvia. O Parlamento controlado pela oposição emitiu mandados de prisão ilegais contra membros do governos do presidente. O Parlamento controlado pela oposição tirou da cadeia criminosos legalmente condenados.

Parlamento controlado pela oposição, na abertura da sessão de 27/1/2014
Assim, com a oposição criando um regime de ilegalidade, para substituir os procedimentos legais e constitucionais, o campo ficou aberto para ser ocupado pelo Setor Direita. Podem esperar: tudo que a oposição fez a Yanukovich o Setor Direita fará à oposição. Por suas ações ilegais e inconstitucionais, a oposição criou o precedente para ser, ela também, e logo, derrubada.

Assim como a revolução de fevereiro de 1917 contra o czar russo preparou o cenário para a Revolução Bolchevique de outubro de 1917, colhendo de surpresa os estúpidos “reformadores”, a derrubada da ordem política na Ucrânia preparou o cenário para o Setor Direita. Resta esperar, só, que o Setor Direita deixe escapar a chance.

Viktor Yanukovich
A imprensa-empresa norte-americana, como fonte de informação, é imprestável. Opera como um Ministério para Mentiras do Governo. Jornalistas propagandistas corruptos estão pintando a derrubada antidemocrática de Yanukovich como se fosse vitória da liberdade e da democracia. Quando tudo começar a vir abaixo e já não conseguirem esconder os fatos, os/as press-tituto(a)s culparão a Rússia e Putin. A imprensa-empresa ocidental é uma praga que desabou sobre a humanidade.

Os norte-americanos não têm nem ideia de que o governo neoconservador do Doido da Casa Branca os está levando para uma grande confrontação.

Que ironia! O “primeiro presidente negro”, o homem que os liberais imaginaram que restauraria a justiça, a moralidade e a razão para toda a civilização ocidental, aparece aí, hoje, como o homem que, ou aceitará uma derrota humilhante, ou arriscará todos nós, numa guerra que pode destruir a vida na Terra.
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[*] Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics.  Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica.

Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em  Counterpunch, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.

Um comentário:

  1. NOTA MUITO ÚTIL, de Tlaxcala, Rede Internacional de Tradutores:

    A Organização dos Nacionalistas Ucranianos [orig.Organization of Ukrainian Nationalists (OUN)], organização fascista criada em 1929 na Ucrânia do Oeste (então sob governo polonês), dividiu-se em duas em 1940: a OUN-M mais moderada, com Andriy Melnik; e a OUN-B mais radical, com Stepan Bandera. A OUN-B declarou uma Ucrânia independente, em junho de 1941, como estado-satélite da Alemanha Nazista. Todos os grupos direitistas na Ucrânia de hoje apresentam-se como herdeiros das tradições políticas daOUN, inclusive o Partido Svoboda, a Assembleia Nacional Ucraniana, o Congresso dos Nacionalistas Ucranianos e o Setor Direita (Pravyi Sector).

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