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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Impeachment, Golpe de Estado e Ditadura de Mercado

7/4/2015, [*] Samuel Pinheiro Guimarães, Carta Maior
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu


Os paladinos da educação defendem a educação primária geral, a atenção especial à primeira infância, a inclusão de todas as crianças e jovens (e os adultos?) no sistema.
Não se fala muito na preparação de professores, nem no horário integral, nem nos efeitos, negativos, da televisão e da internet sobre o sistema de ensino em seu cerne, que é o tempo dedicado aos estudos pelos jovens.
Pode-se perguntar quando estes brasileiros, hoje infantes e jovens, entrariam no mercado de trabalho para tornar a mão de obra mais produtiva e o Brasil mais competitivo: daqui a 10 anos? Daqui a 15? E até lá?
Samuel Pinheiro Guimarães



Samuel Pinheiro Guimarães
impeachment é a tentativa de anular, por via legislativa, pelo voto de 513 deputados e 81 senadores, os resultados das eleições de novembro de 2014 que refletiram a vontade da maioria do povo brasileiro ao reeleger a Presidenta Dilma Rousseff, por 53 milhões de votos.

Desde 2003, as televisões, em especial a TV Globo; os maiores jornais, como o Estado de S.Paulo, a Folha de S.Paulo e O Globo; e as principais revistas, quais sejam a VejaIsto É eÉpoca, se empenham em uma campanha sistemática para desmoralizar o Partido dos Trabalhadores e os partidos progressistas e para tentar “provar” a ineficiência, o descalabro e a corrupção dos governos do PT, inclusive de seus programas sociais – que retiraram da miséria e da pobreza 40 milhões de brasileiros.

Agora, com a ajuda de membros do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, os meios de comunicação, tendo seu candidato perdido as eleições, tentam criar um clima político e de opinião que venha a derrubar ou imobilizar a Presidenta e, assim, anular a vontade da maioria do povo brasileiro.

Fazem isto divulgando dia a dia as declarações de delatores, criminosos confessos, e de procuradores, policiais e juízes que as “vazam”, seletivamente, para os meios de comunicação, cometendo notória ilegalidade, e publicando notícias sobre o extraordinário descalabro e corrupção em que viveria o país.

Diante da instabilidade política gerada por esta campanha, a Presidenta Dilma, com o objetivo de conter as manobras golpistas (recontagem de votos, acusações de fraude, ameaças diversas, etc.) e de apaziguar o “mercado”, anunciou um programa de austeridade, de equilíbrio orçamentário, de contração de gastos do Estado, de redução de investimentos, na esperança de conquistar a “confiança dos investidores”, seu principal objetivo, e de “acalmar” seus opositores políticos.

É preciso notar que o “mercado” não é uma entidade da sociedade civil, mas sim, na realidade, um ínfimo grupo de multimilionários, investidores, especuladores e rentistas, e seus “funcionários”, quais sejam os chamados economistas-chefe de bancos e fundos, os jornalistas e articulistas de economia, e seus associados no exterior.

Dilma Roussef vitoriosa
Há economistas e jornalistas que são notável exceção a esta afirmação, mas são eles pequena minoria.

Quando foi apresentado o programa de ajuste, declarou-se, com ênfase, que ele não iria afetar as conquistas dos trabalhadores (a legislação sobre horário de trabalho, férias, aposentadoria, seguro desemprego etc.), nem os programas sociais, mas que iria ele equilibrar o orçamento através do contingenciamento, da contenção de despesas e do aumento de impostos, com o objetivo de fazer um superávit primário que permitisse pagar os juros da dívida pública e conquistar a “confiança do mercado, a confiança dos investidores”.

Conquistar a “confiança dos investidores” significa fazer com que tomem a decisão de realizar investimentos (para obter lucros) e assim ampliar a capacidade instalada, gerar empregos, condição para a retomada do desenvolvimento.

A “confiança dos investidores”, todavia, tem a ver com a expansão da demanda, pois só com essa expansão (sustentada) podem surgir oportunidades de investimentos lucrativos.

A construção de “confiança” e a realização de investimentos são improváveis em uma conjuntura em que se elevam os juros dos títulos públicos e das aplicações financeiras para torná-los os mais altos do mundo, o que atrai os capitais para o setor financeiro, especulativo ou rentista, e os afasta do setor produtivo e, portanto, dos investimentos.

Outros fatores que afetam negativamente a “confiança” dos investidores são a competição predatória e destrutiva das importações; taxas cambiais inadequadas; a redução dos investimentos públicos em infraestrutura; o aumento das taxas de juros dos financiamentos de longo prazo do BNDES; a redução da demanda e o aumento do desemprego (que alguns esperam poderia criar as condições políticas para um clima favorável ao impeachment) devido à redução da atividade econômica.

Há um mantra, repetido sem cessar, sobre competitividade e produtividade, entoado por muitas autoridades públicas, acadêmicos, jornalistas “especializados”, economistas-chefe de consultoras, de empresas, de bancos, que são, na realidade, empregados do “mercado”.

Segundo esses “especialistas”, a solução dos problemas internos, isto é a retomada do crescimento, e o afastamento para longe da crise externa latente e cada vez mais ameaçadora, dependeriam não somente da “confiança dos investidores” nas também do aumento da produtividade (isto é, da produção por trabalhador) e do aumento da competitividade das empresas brasileiras diante das chinesas, americanas e europeias, e da redução do “Custo Brasil”.

No caso da produtividade, alguns afirmam que seu aumento resultaria de um grande investimento sustentado em educação, como teriam, segundo argumentam, feito os países desenvolvidos, tais como os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Coréia e que teria sido, segundo eles, uma razão importante, e talvez a principal, para explicar o seu desenvolvimento.

Os paladinos da educação defendem a educação primária geral, a atenção especial à primeira infância, a inclusão de todas as crianças e jovens (e os adultos?) no sistema. Não se fala muito na preparação de professores nem no horário integral nem nos efeitos, negativos, da televisão e da internet sobre o sistema de ensino em seu cerne, que é o tempo dedicado aos estudos pelos jovens. Pode-se perguntar quando estes brasileiros, hoje infantes e jovens, entrariam no mercado de trabalho para tornar a mão de obra mais produtiva e o Brasil mais competitivo: daqui a 10 anos? Daqui a 15? E até lá?

Outros argumentam que os “custos do trabalho” (parte do “Custo Brasil”) seriam muito elevados (em comparação com os “custos” em que países? Na China? Nos Estados Unidos? Na Alemanha?) e que, portanto, seria necessário reduzir esses “custos”, impedindo aumentos “artificiais” do salário mínimo (já que não haveria escassez de mão de obra), reduzindo os benefícios da legislação trabalhista, estimulando a rotatividade da mão de obra, etc..

Quanto ao “Custo Brasil”, argumentam com os altos custos de transporte e de energia, com a carga tributária elevada, com a multiplicidade de impostos, com a burocracia “infernal”.

Brasil e os programas sociais
Reclamam, também, da intervenção “excessiva” do Estado (empresas estatais e regulamentação) e pedem, ainda que até agora apenas insinuem, a privatização dessas empresas e a “desburocratização”, isto é, menos lei e mais liberdade para o capital.

Segundo os defensores do programa de austeridade, em decorrência do aumento da produtividade interna, a competitividade internacional seria alcançada, com todas as suas vantagens, tais como um superávit comercial estável, a diversificação dos mercados e o aumento das exportações de manufaturados.

Assim, a crise atual seria superada. Todavia, a verdade é outra.

A crise atual, em parte verdadeira e em parte fabricada, decorre da revolta conservadora devido ao fato de a Presidenta Dilma ter cometido dois “pecados mortais” à luz dos interesses do “mercado”, isto é, daqueles indivíduos beneficiários da concentração de riqueza, de renda e de poder político no Brasil, que são os grandes multimilionários, os latifundiários rurais e urbanos, os rentistas, os banqueiros, e seus representantes na mídia, no Congresso, no Judiciário.

O primeiro “pecado” foi a política de redução, ainda que temporária, das taxas de juros; o segundo “pecado” foi o apoio, ainda que tímido, à democratização dos meios de comunicação.

O sistema financeiro e bancário é o principal instrumento de concentração de riqueza no Brasil. Ao reduzir as taxas de juros dos bancos públicos e ao forçar a redução dos juros dos bancos privados (que foi logo compensada pelo aumento das “taxas” de administração) a Presidenta diminuiu a transferência de riqueza da sociedade e do Estado para os bancos privados, seus acionistas e os detentores de títulos públicos. A Presidenta atingiu o cerne do mecanismo de concentração do sistema econômico e provocou a ira dos setores conservadores que hoje pedem a privatização dos bancos públicos.

O sistema de comunicações no Brasil é o instrumento das classes dominantes para construir o imaginário do povo, para manipular as informações e para justificar o sistema econômico e social vigente e desmoralizar aqueles que lutam por mais igualdade, mais liberdade, mais fraternidade e pelos direitos das minorias, em um contexto de desenvolvimento.

A concentração do poder midiático “condena” os que ele acusa ao difundir e repetir incansavelmente “informações” antes de julgamentos e transformou o mensalão em julgamento prévio contra o qual não soube resistir o STF ao aceitar a conduta imprópria de seu Presidente da época e a campanha de imprensa.

O mesmo ocorre com a operação Lava Jato. Não há nenhuma iniciativa do Poder Judiciário para impedir a formação de uma opinião pública contra os acusados, gerada pelas denúncias, sem provas, feitas por criminosos confessos que denunciam a torto e a direito quando, no caso dos procedimentos de delação premiada, as investigações deveriam ser feitas sob o maior sigilo, já que se trata de denúncias feitas por criminosos em busca de vantagens pessoais. A mídia transformou o pedido da Procuradoria Geral da República de investigar determinados indivíduos em prova de sua culpa. Aqueles indivíduos, políticos ou não, que vierem a ser investigados e julgados culpados devem ser punidos com rigor, mas a imprensa não pode substituir o Poder Judiciário nem constrânge-lo, por motivos puramente políticos.

Ao ameaçar aqueles dois fundamentos da ordem conservadora, o sistema financeiro e a mídia, a Presidenta Dilma se tornou “culpada” e a oposição insiste, ainda veladamente, em que deve ser punida pela destituição do cargo por um processo de impeachment.

Seria importante que o Governo compreendesse que o que está de fato ocorrendo é uma manobra política cujos objetivos são pela ordem:

  1.  fazer o Governo adotar o programa econômico e social do “mercado”, isto é, da minoria multimilionária e de seus “associados” externos;
  2.  ocupar os cargos da administração pública (Ministérios, Secretarias executivas, agências reguladoras) com representantes do “mercado”;
  3.  enfraquecer política e economicamente o Governo;
  4.  enfraquecer o PT e os partidos progressistas com vistas a 2018;
  5.  aprovar leis de interesse do “mercado”;
  6.  e, se nada disso ocorrer, fazer o Governo “sangrar” e aí, então, se necessário e possível, exigir o impeachment da Presidenta.

Contra esta enorme e múltipla ofensiva econômica, midiática e política do “mercado”, de seus “funcionários” e representantes somente há uma estratégia possível: a ação política intensa junto aos movimentos populares, junto às organizações da sociedade civil, junto ao Congresso, junto à Administração Pública e aos Governadores, enfim, a mobilização da sociedade pelo seu esclarecimento para a defesa da democracia em toda sua integridade.


É indispensável que, na distribuição de suas verbas de publicidade, o Governo leve em consideração a existência de televisões comunitárias, universitárias, educativas, de rádios comunitárias, de blogs e sites, e dos pequenos e médios jornais e emissoras regionais e deixe de concentrar a distribuição de verbas e anúncios apenas na grande mídia, o que fortalece os oligolipólios que atuam de forma ostensivamente partidária e contra a maioria do povo, estimulando antagonismos violentos e radicalizando a sociedade.

As manifestações populares contra o Governo e contra a Presidenta Dilma têm reunido cidadãos que, em sua maioria, votaram contra a reeleição da Presidenta em 2014.

Hoje, insuflados pela mídia e por organizações de identificação e origem nebulosa, através das redes sociais, inconformados com a derrota e a pretexto da denúncia de corrupção, iniciam o processo político de “Fora Dilma”, que é, de fato, uma campanha pró-impeachment.

O impeachment é o golpe de Estado do “mercado”. Aqueles que defendem hoje o impeachment e criam o clima de instabilidade e de radicalização são os mesmos golpistas históricos de 1954 e de 1964: as classes privilegiadas que temem o progresso e os resultados da democracia e não os aceitam, apesar de ter o Brasil uma concentração de renda que se encontra entre as dez piores do mundo, enquanto seu PIB é um dos dez maiores do mundo, e de ser urgente deter o processo de concentração de renda (que a crise acentua) para que seja possível construir uma sociedade mais justa, mais democrática, mais próspera, mais estável.

Para que este objetivo possa ser alcançado, é preciso que a sociedade brasileira não se submeta à ditadura do “mercado”, cujos integrantes têm sido os grandes beneficiários da crise, que se iniciou em 2008 e não apresenta sinais sólidos de fim.
_________________________________________

[*] Samuel Pinheiro Guimarães Neto (Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1939) é diplomata. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (atual UFRJ) em 1963, ingressou no Itamaraty nesse mesmo ano. É mestre em economia pela Boston University (1969). Saiba mais sobre ele clicando no nome.

domingo, 28 de abril de 2013

É a imprensa-empresa, estúpido!


26/4/2013, Robert Parry, Consortium News
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Robert Parry
A imprensa-empresa nos EUA jamais foi “liberal”. Na melhor das hipóteses, pode-se dizer que houve períodos, em passado não muito distante, quando as grandes empresas-imprensa faziam melhor serviço, ao apresentar os fatos. E havia alguma imprensa “underground” que publicava algum material que a grande imprensa-empresa evitava.

Entreouvido na Vila Vudu: no Brasil, a imprensa-empresa jamais foi, sequer, “de centro”: sempre foi da “direita udenista mais fascista”; depois passou a ser “tucana-uspeana à moda Sorbonne & Chicago”; ultimamente, já é sionista, “opusdeizista” e “danuzaleãosista”, sempre fascista.

Segregação Racial nos EUA (anos 1950's e 1960's )
Assim, houve jornalistas que revelaram os horrores da segregação racial nos anos 1950s e 1960s; correspondentes de guerra expuseram parte da cruel violência da Guerra do Vietnã no final dos anos 1960s; algumas grandes empresas-jornais desafiaram o governo dos EUA e publicaram a história real, vazada, daquela guerra, em 1971; o Washington Post revelou uma parte (embora evidentemente não todos) dos crimes políticos de Richard Nixon em 1972-74; e o New York Times liderou a divulgação de uma parte da imunda história da CIA em meados dos anos 1970s.

Apesar de esse trabalho com certeza ofender a Direita e muitas alas do Establishment, todas aquelas matérias tiveram um elemento comum: todas eram histórias verdadeiras. Nesse sentido, não eram nem “liberais”, nem “conservadoras”, nem “centristas”. Eram jornalismo simplesmente acurado, bem feito – e contribuíram para trazer à vida outras instituições democráticas dos EUA, dos protestos nas ruas a pressão, pelos tribunais, contra quem chantageava e pressionava, com lobbies, funcionários do Estado.

História suja da CIA - Central Intelligence Agency (Serviço Secreto dos EUA)
Essa ressurgência da democracia participativa era o que os entrincheirados no poder mais temiam, fosse no sul segregacionista ou nos salões de painéis de carvalho nas paredes dos bancos de Wall Street e grandes empresas. E eles organizaram uma poderosa contra-ação, para simultaneamente (a) impedir novas “revelações” (provavelmente mais ameaçadoras a cada dia) de crimes e erros e vícios, e (b) para reassumir o controle dos canais de informação que influenciam o modo como o povo norte-americano vê o mundo.

Naquele contexto, uma das estratégias mais efetivas de propaganda sempre foi apresentar o jornalismo decente como “de esquerda” e desqualificar os jornalistas decentes como “antiamericanos”. Assim, muitos norte-americanos passariam a duvidar de qualquer informação de boa qualidade; ao mesmo tempo em que passariam a descartar a informação acurada, acusada de ter “viés político”.

Como jornalista empregado da Associated Press e da revista Newsweek nos anos 1980s, conheci várias dessas táticas de jogo duro, quando cobria o governo Reagan, e o governo Reagan tentava manipular a percepção dos cidadãos, inflando o mais possível inúmeras “ameaças externas” (de Manágua a Moscou) e demonizando alguns grupos nacionais (das “rainhas do bem-estar social” aos sindicatos em geral).

Os homens de Reagan referiam-se às suas principais metas como “chutar para bem longe a Síndrome do Vietnã”, quer dizer: apagar, na população dos EUA, qualquer resistência a qualquer movimento para nos arrastar, todos, outra vez, para guerras em países longínquos, empurrados por mentiras. Assista a seguir:


A guerra nas ondas do éter

A chave para o sucesso sempre foi conseguir controlar a maior quantidade possível de veículos de mídia noticiosa – fosse pela propriedade, nesse caso com empresas cujos proprietários fossem da Direita ativa; ou com pressão sobre os executivos dos veículos de notícias para que adotassem postura mais “patriótica”; ou por intimidação direta contra qualquer um que não se alinhasse.

As táticas deram certo, funcionaram como feitiço. Foram ajudadas por uma mudança na Esquerda, que vendeu ou fechou e, no geral, desistiu, de vários dos veículos da imprensa “underground” da era Vietnã, para concentrar-se “no local”, em questões locais: “pensar globalmente e agir localmente”, dizia a palavra-de-ordem daquele momento.

Essa combinação de fatores deu à Direita e aos conservadores do Establishment domínio completo sobre a imprensa de notícias. Como um exército que controlasse os céus, a Direita e os conservadores passaram a poder fazer o que bem entendessem, para detonar qualquer um que se interpusesse, fosse político, jornalista ou cidadão. Nenhum ser humano atento mais ao fato que à versão nunca mais estaria a salvo, na noite escura que desceu sobre o jornalismo-empresa.

O sucesso da Direita pode ser aferido em diferentes momentos do processo: quando os Republicanos conseguiram esconder o escândalo dos “Contra” do Irã, em 1987 e quando o presidente George H.W. Bush disse, depois de destruir o já destroçado exército iraquiano, em 1991: “chutamos para bem longe, de uma vez por todas, a Síndrome do Vietnã”.

Síndrome do Vietnã - os EUA saíram corridos da guerra provocada por eles mesmos
A realidade da imprensa-empresa de notícias – que só fez ampliar-se durante os anos 1990s e no início do novo século – já era, então, que a Direita podia inventar qualquer tema de propaganda, convertê-lo em noticiário e ter certeza de que milhões de norte-americanos engoliriam qualquer coisa. Assim, o presidente George W. Bush conseguiu inventar mentiras para invadir o Iraque em 2003 e os jornais, proprietários e jornalistas das empresas-imprensa não apenas nada fizeram para estabelecer a verdade como, até, o ajudaram a mentir.

Vez ou outra algumas vozes emergiam na Internet e em alguns veículos de baixa circulação e audiência, para desmentir as mentiras de Bush sobre a guerra do Iraque; mas não era difícil para a grande empresa-imprensa desqualificá-los ou ignorá-los. Foi preciso que se acumulasssem os erros e fracassos de Bush na Guerra do Iraque e outras crises locais e internacionais, para que, afinal, aquela potentíssima máquina de propaganda da direita começasse a engripar.

Mas a dinâmica geral nunca mudou. Sim, a rede MSNBC – depois de fracassar na tentativa de posicionar-se tão à extrema direita quanto a rede Fox News – moveu-se um pouco à esquerda, chegou quase ao centro, e conseguiu algum sucesso de audiência com interpretações “liberais” da política doméstica (mas sem jamais desafiar abertamente e seriamente o que o Establishment mandava dizer sobre política externa).

Há também alguns sites na Internet que desafiam a sabedoria convencional e apoiam ativamente o intervencionismo dos EUA em vários pontos do mundo, mas mal sobrevivem, do ponto de vista financeiro, e tem alcance limitado na população em geral.

Comprar as empresas, para escrever as notícias

Agora, tudo leva a crer que, nos próximos anos, a Direita norte-americana consolidará sua dominação sobre a imprensa-empresa de notícias. Em futuro próximo, algumas das mais conhecidas e influentes redes regionais de noticiário poderão já estar sob controle direto de ideólogos ativos da extrema direita nos EUA, como Rupert Murdoch ou os Irmãos Koch.

David e Charles Koch 
As Koch Industries, gigante de petróleo e gás, de propriedade privada, que oferece todos os recursos necessários para que Charles e David Koch financiem fartamente inúmeros think tanks libertaristas e organizações do movimento Tea Party, começam a testar a mão em ofertas para comprarem oito veículos regionais da Tribune Company, incluídos aí o Los Angeles Times, o Baltimore Sun, o Orlando Sentinel, o Hartford Courant e o Chicago Tribune, como se lê em matéria publicada no New York Times domingo passado.

Se comprarem os veículos do grupo Tribune, os Irmãos Koch Brothers ter-se-ão presenteado, eles mesmos, com mais uma importante plataforma para distribuir propaganda de extrema direita e fazer da vida política (e, provavelmente, também privada) dos adversários políticos, um perfeito inferno. Lembro, dos meus dias de repórter, cobrindo o Capitólio, do que todos os jornalistas sabiam: nada assusta mais um deputado ou senador, que a oposição obcecada do jornal regional de sua base eleitoral.

Rupert Murdoch
Outro que também deve apresentar-se para esse negócio, ou para comprar, pelo menos, o Los Angeles Times, é o magnata sionista Rupert Murdoch, que já é proprietário da rede Fox News e de poderosos jornais diários no Reino Unido e nos EUA, dentre os quais o Wall Street Journal

Do outro lado, concorrendo com esses pesos-pesados, há empresários um pouco mais liberais, de olho no Los Angeles Times, mas não se sabe se têm condições de competir com as gordas carteiras dos Irmãos Koch e Murdoch. O New York Times diz que as Indústrias Koch podem ter grande vantagem no negócio, porque comprariam, de uma vez, os oito jornais do grupo.

Alguns, no campo da Esquerda, zombam da ideia de investir na indústria “dinossauro” do jornalismo impresso e questionam o interesse, para a Esquerda, de contar com – que fosse! – pelo menos alguns desses títulos de prestígio no jornalismo dos EUA. Não há dúvidas de que, sim, muitos daqueles jornais estão em decadência, em quase todos os casos por erros de administração, de política empresarial e pela volatilidade dos dólares da publicidade.

Mas ainda são vozes influentes, que falam às populações das áreas metropolitanas interessadas em saber sobre o mundo. Os jornais também definem a pauta de discussão das TV locais e de muitos blogueiros, sobretudo dos blogueiros jornalistas. O Baltimore Sun, por exemplo, produziu a mais importante peça de jornalismo sobre os crimes contra direitos humanos no governo Reagan, na América Central; e publicou inúmeros importantes furos de bom jornalismo sobre espionagem praticada pelo governo Bush contra cidadãos norte-americanos.

Gary Webb
É verdade, sim, que vários dos grandes jornais desgraçaram-se, eles mesmo, nas últimas décadas, como o Los Angeles Times e a vergonhosa campanha que moveu contra o jornalista assassinado Gary Webb, depois que ele trouxe à tona o escândalo de “Contras” e cocaína, do governo Reagan, no final dos anos 1990s.

Mas páginas de Internet – mesmo as páginas, como este nosso Consortiumnews.com que tem declarado e forte interesse em fazer jornalismo investigativo – vivem sob a pressão da falta de recursos financeiros e de material humano para produzir esse tipo de projetos de investigação, que são caros, pelo menos com alguma regularidade.

Se não se organizarem maiores investimentos, de cidadãos e empresas honestas – seja na Velha Mídia impressa ou na Nova Mídia eletrônica, para que se produza jornalismo de melhor qualidade – os EUA continuarão a navegar para o fundo do poço, num mundo de ficção, interesses escusos, paranoia de Direita e fatos falsificados. E isso é grave risco para todo o planeta.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Acontece nos EUA: Os irmãos Koch disputarão com a “Grande Grana” da “left”-EUA o controle do mercado de mídia


15/3/2013, Esther Zuckerman, The Atlantic Wire   
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu


Resultado do sarau político/midiático de hoje na Vila Vudu: Aí está notícia interessante, por vários  motivos.

Pra começar, atenção: a “Left” [esquerda] de que fala o título nada tem de “esquerda” como o resto do mundo a conhece ou algum dia conheceu. Por isso traduzimos como aí se vê: “left”-EUA  e, claro, há de haver traduções melhores. É só sugerir à discussão.

Nos EUA, se o cara não for um diabão da falange do Pastor Maldito e/ou da falange da Blogueira Cubana Nefanda... ele já é apresentado como progressista. E se, dentre os progressistas, ele não for um Obama acuado pelo Complexo Industrial-Militar e rendido ao dinheiro dos sionistas norte-americanos, pronto: já é apresentado como se fosse “Left” (podendo, num ou noutro caso ser apresentado – e logo apagado do mundo que a grande imprensa-empresa conservadora inventa – como um “radical”).

É quase impossível traduzir essas designações genéricas, porque quando, nos EUA, se diz liberal, fala-se exclusivamente de liberais progressistas (e o conceito muitas vezes aproxima-se de uma quase-esquerda burguesa, democrática, metida a “ética”; às vezes, até, aproxima-se de alguma esquerda revolucionária).

Quando se diz libertarian nos EUA, fala-se dos malucos do Tea Party, ditos “libertários” porque querem total liberdade pra fazer o que lhes dê nas telhas individualistas, sempre resistindo contra o Estado. Tá cheio de libertarians, nos EUA, que batalham a favor de cada cidadão ter seu canhão privado, em casa, pra poder atirar no coletor de impostos que chegue à sua porta, e em qualquer preto que lhe pareça ameaçador (para os libertarian à americana, todos os pretos são ameaçadores).

Mas a matéria abaixo é interessante também, porque aí se pode começar a ver, por inferência, que NÃO HÁ no Brasil grande empresário, que:

(a)     não seja diabão privatista golpista da falange do Instituto Millenium   
(b)     tenha qualquer interesse em investir dinheiro grosso em grandes empresas de comunicação QUE CONCORRAM disputando audiência, no mercado, contra a Rede Globo, a Abril, o Grupo Folha, o Grupo Estadão (o facinoroso Grupo GAFE).

Em outras palavras: NÃO HÁ, no Brasil, grandes empresários progressistas (mesmo que fossem conservadores progressistas! Nem isso!) interessados em fazer falar e valer, no negócio das comunicações de massa, o tal livre mercado que eles todos tanto dizem crer com fé sólida e profunda, e que tanto querem ver operante, como solução para todos os males.

O negócio é mais ou menos o seguinte: O mercado tem de ser livre e operar livremente em tooooodas as áreas... Exceto no setor das comunicações de massa, que, pelo visto, parece aos nossos empresários progressistas muito bem organizado como está: como propriedade feudal, de poucas famílias. E protegido, além do mais, ainda, por legislação que, quando não é legislação da ditadura, é escandalosa reserva de mercado para alguns remanescentes da aristocracia paulista udenista mais retrógrada, no caso do Estadão; ou para grupos de militantes fanatizados de organizações como a Opus Dei (isso, no Brasil-2012 é, de fato, quase inacreditável. Mas parece ser a mais pura verdade), no caso da Folha de S.Paulo.

Assim se vê que há especificidades mais profundas, que pouco se estudam no Brasil, no problema político (grave!) e comercial (ainda mais grave, porque muito menos estudado!) em que está convertido o pseudo “jornalismo” que um punhado de empresas mal administradas, atrasistas, oligopolistas, oligofrênicas, impingem, sem qualquer concorrência, aos consumidores PAGANTES de informação, os quais, no Brasil, são necessariamente também ELEITORES.

O problema “jornalístico” no Brasil é maior e pior que – e é diferente de – qualquer questão de simples livre, leve, solta, tão bela simples e franca competição por mercados (como os conservadores e reacionários creem que seja e ensinam que seria a concorrência comercial): as grandes empresas de comunicação, no Brasil, não são “um item” de mercado, a ser negociado livremente como tal, dentro de um bloco histórico, num dado contexto histórico, político e social.

No Brasil, elas são, mais que a Academia, a Igreja e o próprio Estado (embora operem, como sempre, articulados), a alma e a espinha dorsal do tal bloco histórico. Por isso, elas mesmas – não algum mercado – controlam quem entra e quem sai do negócio: não por regras de livre mercado, mas por regras de controle fascista e de oligopólio.

Pode-se chamar essa alma e espinha da reação conservadora brasileira mais atrasada, de “UDN ou neo-UDN”. Ou talvez se possa chamá-la até de neo-Senhoras-de-Santana. O que interessa é que são golpistas, no Brasil, desde, no mínimo, 1935. Empresas comerciais e golpistas, metidas a “jornalísticas”, amparadas numa ideologia do jornalismo que tudo justifica. Essa gente monopoliza, no Brasil, como máfia, o negócio da comunicação de massa.

Hoje, essa gente já perdeu TRÊS ELEIÇÕES CRUCIAIS PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – o que jamais acontecera antes, em mais de 500 anos de história do Brasil que aquelas empresas regeram como bem entenderam, a favor da ditadura, quando foi o caso; e contra a democracia dos muitos, sempre.

E nós, os muitos, que já os derrotamos nas urnas três vezes, e logo teremos derrotado quatro vezes.

NÓS já temos a presidência, NÓS temos 35 ministros, NÓS temos o Banco Central, NÓS temos maioria na Câmara de Deputados, NÓS temos um governo Dilma considerado em todo o planeta... mas ainda NÃO TEMOS UM JORNAL, UM CANAL DE TELEVISÃO QUE FALE POR NÓS.

O que há de interessante na matéria abaixo é que aí se vê que, nos EUA, já começa a existir concorrência forte, na disputa pelos canais e veículos de comunicação de massa, pelo menos, entre a direita sionista fascista e a direita não sionista e um pouco menos fascista, quase-progressista. Parece pequena diferença, mas não é. É diferença imensíssima e assunto para acompanhar.

Além do mais, pode estar aí, nesse traço do antimercado em que as empresas oligopolistas de comunicações reinam sozinhas no Brasil, a explicação para o projeto em que o Ministro Paulo Bernardo está trabalhando. Ele pode estar tentando organizar, pelo menos, um mercado-mais-mercado. Pode-se não concordar. Pode-se entender que sabe(ría)mos fazer diferente. Mas, por exemplo, o projeto em que trabalhou o ministro-jornalista que o antecedeu, que investia muito no “jornalismo” que há no Brasil, na correspondente teoria liberal burguesa fanada de jornalismo, que por aqui reina, dominante, e nos jornalistas que aqui se formam... foi muitíssimo mais fraco.

Pode-se dizer MAIS, contra o projeto do ministro-jornalista, do que contra o projeto do ministro Bernardo “do mercado”... já que, contra mercados, não se diz, mesmo, coisa alguma.

(Aliás... nem nós dizemos, nem a China diz.)

Mas absolutamente NÃO SE PODE entrar na conversa velha, fraca, superada, reacionária, segundo a qual o ministro Paulo Bernardo seria “entreguista” ou “vendido ao grupo GAFE”. Ele talvez até seja. Ele parece ser homem “do mercado”; e é do PT (desde 1985/1); e é ministro do governo Dilma. Claro: muito provavelmente é homem “do mercado”, pelo menos no sentido de que não tem discurso político consistente antimercado. Mas, isso, ora bolas, NENHUM PETISTA tem e nem o PT jamais tiveram ou deram qualquer sinal de ter interesse em construir.

Se a China trabalha, com sucesso espantoso, para chegar ao socialismo “atravessando” as estruturas do mercado... achamos excelente que o Ministro Paulo Bernardo comece a trabalhar, pelo menos, para tentar rachar, por forças de mercado, a dominação oligopolista que meia dúzia de empresas comerciais exercem no negócio da comunicação de massa, no Brasil. Por que não?!

Em todos os casos (e apesar do pouco que o próprio ministro e o próprio ministério dizem com seriedade e consistência sobre o próprio projeto, dentre outros motivos porque não tem imprensa... a ponto de ter de falar sobre seu projeto nas páginas d’O Estado de S.Paulo!) esse projeto do ministro Paulo Bernardo parece ser projeto MUITO menos delirante que a tal ideia de criar leis de “democratização da comunicação”, as quais NUNCA, never, núncaras, nem em mil anos, conseguirão tornar mais democráticos os discursos e a cabeça dos jornalistas-empregados que a imprensa-empresa brasileira sempre encontrará, no universo gigante – perfeito exército industrial de reserva – dos jornalistas muito reacionários que continuam a sair, aos magotes, da universidade brasileira e dos famigerados, facinorosos cursos de “cumunicação”, para as empresas da “mídia”. (E, isso, quando não são cursos de “cumunicação & marketing”, a pior coisa que a universidade brasileira jamais se atreveu a vender a alunos-consumidores que, se não eram perfeitos imbecis fascistizados ao entrar, com certeza já o serão, ao sair desses cursos.)

Querem mercado? Pois lhes demos mercado à vera, uai. E, depois, a gente conversa outra vez...

Só a luta ensina.

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Eis, então, o artigo em referência

Esther Zuckerman
No início desta semana (10-16/3/2013)noticiamos que pode estar começando guerra comercial pelo controle dos jornais do grupo Tribune Company, especialmente o Los Angeles Times e o Chicago Tribune, entre os irmãos Koch [1] e Rupert Murdoch [2]. Mas agora o Hollywood Repórter noticia que outro concorrente de peso entra na disputa e, dessa vez, do outro lado do muro, também interessado em entrar no jogo dos jornais.

Paul Bond, de THR, noticia que o bilionário Eli Broad, conhecido mecenas e animador de instituições culturais em Los Angeles, uniu-se a Austin Beutner, financista e ex-vice-prefeito da cidade, para apresentar uma proposta para comprar o Times e, possivelmente, outros jornais do Grupo Tribune Company – ou todos.

Broad e Beutner, no campo oposto em que jogam os irmãos Koch e Murdoch, são conhecidos grandes doadores de campanha e apoiadores do Partido Democrata. (...)

Bond informa que Broad já tentara um primeiro movimento para comprar a Tribune Company com Ron Burkle em 2007. Mas, então, Sam Zell levou a dianteira. 

A possibilidade de Broad entrar na corrida para comprar o Times começou a ser noticiada em maio passado, quando começou a circular o que escrevera sobre o destino do grupo Tribune Company em seu livro The Art of Being Unreasonable: Lessons in Unconventional Thinking [A arte de não ser razoável. Lições sobre pensamento não convencional]. Para Broad, assumir o controle do Times faria aumentar sua já considerável influência em Los Angeles. 

Em perfil publicado em 2010 na revista New Yorker, Connie Bruck apresentou Broad como o “Lorenzo de Medici de Los Angeles” – singular senhor da cidade, protetor das artes”.

Não é simples. Os irmãos Koch e Murdoch já manifestaram interesse em comprar o jornal; Broad talvez não consiga. Mas a luta pela propriedade dos jornais do grupo Tribune será luta emocionante.



Notas dos tradutores

Irmãos Koch
[1] Postagens sobre os Irmãos Koch (em português):


Rupert Murdoch
[2] Postagens sobre Rupert Murdoch e suas imprensa-empresas (em português):