No período anterior à fundação de Israel, uma grande parcela da população judaica na Palestina não conhecia os limites da força e pensava que ela poderia ser usada para alcançar qualquer objetivo. Felizmente, durante os primeiros anos de Israel, líderes como David Ben-Gurion e Levi Eshkol conheciam muito bem os limites dessa força e tomaram cuidado para não ir além dessas fronteiras. Mas, desde a Guerra dos Seis Dias em 1967, Israel se fixou na força militar. O mantra é: o que não pode ser feito pela força pode ser realizado com uma força ainda maior.
A ocupação israelense da Faixa de Gaza é um dos produtos negativos desse ponto de vista. Ela teve origem na hipótese equivocada de que o Hamas pode ser derrotado pela força armada ou, em termos mais genéricos, de que o problema palestino pode ser reprimido em vez de resolvido.
Não se derrota uma ideia pela força
Mas o Hamas não é somente uma organização terrorista. O Hamas é uma ideia. Uma ideia desesperada e fanática que cresceu a partir da desolação e da frustração de muitos palestinos. Ideia alguma jamais foi derrotada pela força – nem por ocupação, nem por bombardeios, nem pelo peso dos tanques, nem por comandos navais. Para derrotar uma ideia é preciso apresentar uma ideia melhor, mais atraente e aceitável.
Para Israel, a única forma de derrotar o Hamas é conseguir o mais rápido possível um acordo com os palestinos para estabelecer um Estado independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, de acordo com as fronteiras de 1967, tendo sua capital em Jerusalém Oriental. Israel tem que assinar um acordo de paz com Mahmud Abbas e seu governo, e assim reduzir o conflito israelo-palestino a um conflito entre Israel e a Faixa de Gaza.
Este último conflito só pode ser resolvido, afinal, através da negociação com o Hamas ou, mais sensatamente, pela integração entre o Fatah (de Mahmud Abbas) e o Hamas. Mesmo que Israel intercepte mais uma centena de navios caminho de Gaza, mesmo que envie soldados para ocupar a Faixa de Gaza mais uma centena de vezes, e mobilize, não importa quantas vezes, suas forças militares, policiais e secretas – nada disso resolverá o problema.
Estado de ocupação permanente
O problema é que não estamos sozinhos neste país, e tampouco os palestinos. Não estamos sozinhos em Jerusalém, nem os palestinos. Até nós, israelenses e palestinos, reconhecermos as consequências lógicas desse simples fato, continuaremos a viver em um permanente estado de ocupação – Gaza sob a ocupação de Israel, e Israel sob ocupação internacional e árabe.
Eu não menosprezo a importância da força. O poder militar é vital para Israel. Sem ele, não seríamos capazes de sobreviver um único dia. Pobre do país que menospreze a eficácia desse poder. Mas não podemos esquecer, nem por um momento sequer, que a força é eficaz somente como preventivo, para impedir a destruição e conquista de Israel, para proteger nossas vidas e nossa liberdade.
Qualquer tentativa de uso da força de forma não preventiva, que não seja em defesa própria, mas, pelo contrário, como forma de esmagar problemas e aniquilar ideias, levará a mais desastres, como aquele que provocamos em águas internacionais, em alto-mar, diante da costa de Gaza.