domingo, 13 de fevereiro de 2011

Egito: A Fraternidade Muçulmana não prega “estado islâmico”

Ou: O xis da questão é sempre Israel (mas os aiatolás do Irã, que não se metam!) NTs

Fraternidade Muçulmana
9/2/2011, Hamdi Abd al-Aal, Middle East Monitor (Memo) (e outras declarações oficiais da FM) In their own words – the position of the Muslim Brotherhood
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

A Fraternidade Muçulmana – em conferência com a imprensa, no Cairo, dia 9/2/2011 – repetiu que não visa ao poder nem tem qualquer intenção de concorrer a eleições presidenciais no futuro próximo. O movimento deseja liberdade e justiça para o povo egípcio e está preparado para apoiar a nação e participar construtivamente para ultrapassar a atual crise. 

Porta-voz da Fraternidade Muçulmana destacou que as discussões formais com o [então] governo do Egito ainda não começaram. [Falando na 4ª-feira passada] o Dr. Mohammad Mursi disse que a primeira sessão com o vice-presidente Omar Suleiman não foi discussão, apenas um primeiro contato para definir as bases de algum diálogo posterior. 

Disse também que o contato entre o vice-presidente e a Fraternidade Muçulmana não é parte do diálogo nacional formal previsto, porque o próprio Omar Suleiman admitiu que não tem poder para decidir e estava apenas tentando administrar a crise. O Dr. Mursi explicou que a Fraternidade manifestou sua opinião sobre modos pelos quais superar a crise, tentando evitar que a situação fique absolutamente incontrolável. 

Na mesma conferência com a imprensa, o Dr. Mursi, que é membro do Conselho de Orientação da Fraternidade Muçulmana, confirmou que a organização não visa ao poder político. Que a distância do poder político é princípio fundacional da Fraternidade, já declarado incontáveis vezes, e que não mudou nem mudaria conforme o quadro político no Egito. A Fraternidade Muçulmana, disse ele, está disposta a trabalhar com todos os partidos, a favor do povo egípcio. 

O Dr. Mursi reafirmou que a principal reivindicação da Fraternidade Muçulmana é a renúncia do presidente Mubarak e o fim do regime ditatorial. Disse que as manifestações populares são direito constitucional dos egípcios e que as demandas da população nas ruas são as mesmas demandas da Fraternidade Muçulmana. Observou também que a Fraternidade Muçulmana não liderou manifestações e apenas participou delas como outros grupos que existem na sociedade egípcia. As próprias manifestações já comprovam que o governo Mubarak já não é governo legítimo. Resultado disso, o governo fica obrigado a atender ao clamor popular, que exige “uma nova legitimidade democrática”. 

O porta-voz da Fraternidade Muçulmana criticou as Forças Armadas no interior do país. Disse que a Fraternidade é como o resto do povo egípcio e, como todos os egípcios, os Irmãos admiram e respeitam o exército sempre que atua para proteger o Egito – como protegeu nas manifestações da praça Tahrir. Mas em outros pontos do Cairo e no interior do país, a situação é completamente diferente; centenas de pessoas que tentavam alcançar a praça Tahrir para unir-se às manifestações, eram detidas e mantidas presas em campos de prisioneiros comandados pelo exército. Havia também elementos não identificados que atacaram os manifestantes – como aconteceu nos prédios das forças policiais. 

Há grupos interessados em semear a discórdia entre o povo e o exército egípcio. Por isso, a Fraternidade Muçulmana convoca as forças armadas a tomar o lado do povo e deter os que preparam esses ardis e cometem essas brutalidades. 

E Israel?

Perguntado sobre a posição da Fraternidade Muçulmana quanto ao destino do tratado de paz com Israel, no caso de novo governo instalado no Egito, o Dr. Mohammad Mursi respondeu que o Egito é estado maduro com instituições e Parlamento. Quando o novo Parlamento for eleito em eleições livres e limpas, o governo definirá que tratados, dos já assinados, são compatíveis com o desejo político da maioria. 

O porta-voz da Fraternidade Muçulmana criticou o ocidente, que ainda manifesta maior preocupação com o que possa acontecer à entidade sionista, mas nada faz para obrigar Israel a dar tratamento democrático e humanitário ao povo palestino que vive sob ocupação militar. 

Convocou a mídia ocidental a dar ao massacre dos palestinos a mesma atenção que dá às preocupações e ambições do exército ocupante da entidade sionista em terras árabes. 

O governo de transição 

O porta-voz da Fraternidade Muçulmana afirmou também que haverá discussões sobre o governo de transição e sobre se o movimento participará do governo ou não. Repetiu que a Fraternidade Muçulmana não tem qualquer demanda para participar do governo – que essa não é demanda que a Fraternidade algum dia tenha apresentado – e que a Fraternidade reivindica o que a Praça Tahrir reivindica: reforma completa, em todas as dimensões, da vida política no Egito. Enfatizou o apoio da Fraternidade à Associação Nacional pela Mudança, da qual o movimento islâmico é um dos fundadores. 

Em resposta a uma pergunta sobre a seriedade das discussões [previstas, antes da renúncia de Mubarak e de o Conselho Superior das Forças Armadas assumir o governo], o Dr. Essam al-Iryan, do Conselho de Orientação da Fraternidade Muçulmana e principal porta-voz da Fraternidade Muçulmana, disse que foram à reunião com os que [então] tentavam administrar a crise, para expor com clareza as demandas do povo na praça. Disse que a revolução popular já derrubara o regime e, naquele momento, tentava construir mecanismos para fazer a transição pacífica do poder no Egito.

O Dr. Al-Iryan criticou a ideia de que o Egito não estaria preparado para a democracia, enfatizando que o que se viu na praça Tahrir é a melhor resposta àquela declaração. A Fraternidade Muçulmana, disse ele, é como qualquer egípcio que estava na praça, exigindo liberdade e justiça. 

Golpe de Estado 

A frase do vice-presidente Omar Suleiman, para quem o Egito estaria diante de uma escolha entre o diálogo ou um golpe de Estado, foi criticada pelo Dr. Mohammad Sa’d al-Katatani, também membro do Conselho de Orientação da Fraternidade Muçulmana: “Todos os egípcios só terão a ganhar com governo livre e democrático”, disse ele. “E naquela discussão, a Fraternidade Muçulmana destacou que o povo na praça queria evitar um banho de sangue e assegurar a participação de todos, inclusive da juventude.” Outras demandas, acrescentou, são o fim do regime egípcio, a dissolução do Parlamento e do Conselho Consultivo, a alteração dos artigos mais controvertidos da Constituição e a imediata libertação de todos os prisioneiros políticos. 

O Dr. al-Katatani disse que a Fraternidade Muçulmana se reserva o direito de abandonar as discussões, se perceber que não são discussões sérias. O movimento quer identificar os parâmetros do novo governo e, simultaneamente, rejeitar qualquer modalidade de intimidação contra os manifestantes. 

Nas palavras do Dr. Essam al-Iryan, a Fraternidade não desistirá da sua principal exigência – a renúncia do presidente. Disse que o presidente deve renunciar, porque é seu dever sacrificar o cargo em nome do respeito à opinião manifesta de 80 milhões de egípcios. 

E mais Israel!

Quanto aos medos que o ocidente manifesta sobre o Islã, o Dr. al-Iryan disse que o ocidente cria dúvidas e suspeitas sem qualquer razão de ser, porque os principais líderes políticos ocidentais querem proteger a entidade sionista. De fato, o Islã sempre garante a todos a liberdade de culto e credo e não admite que se imponham crenças a outras pessoas. 

Alguns dos mais importantes princípios do Islã são a necessidade de as civilizações e os povos cooperarem para maior felicidade de todos; a liberdade com igualdade de todos; e a justiça social. A Fraternidade Muçulmana é contrária a qualquer tipo de Estado religioso, porque o Islã é contra esse tipo de organização social. Mas o movimento prega a criação de um Estado civil que tenha o Islã como referência moral. 

E os aiatolás que não se metam!

Quanto às declarações que se ouviram no Irã e no ocidente, sobre o apoio da Fraternidade Muçulmana à revolução egípcia, o Dr. Mursi disse que a organização não é responsável pelo que digam representantes de outros Estados, sejam quais forem. A Fraternidade Muçulmana não admitirá que nenhum Estado estrangeiro interfira nas questões internas do Egito. O Egito vive uma revolução popular e ninguém se pode declarar inspirador da ou responsável pela revolução egípcia, além do próprio povo do Egito. 

Completando, o Dr. Mohammed Biltaji disse que basta olhar para a Praça Tahir, para ver que a revolução está sendo conduzida por muçulmanos, cristãos, jovens, todos os grupos da sociedade, não só pela Fraternidade. “É a revolução do Egito”, disse com firmeza. “O povo na Praça Tahrir são egípcios e são eles os legítimos demandantes de suas legítimas demandas.” 

Perguntado sobre os passos que a Fraternidade planeja encaminhar para apressar a renúncia do presidente e do regime, o Dr. Mursi respondeu que não há meios específicos para obrigar o regime a participar de diálogo sério. “Não é questão simples”, disse ele, “porque esse regime corrupto está entrincheirado em seus bastiões políticos, mas o povo que já arrancou do regime qualquer legitimidade é capaz de levar todo o regime à renúncia, com firmeza, paciência e resistência, sem se afastar de seus princípios democráticos.” 

E sempre Israel!

Para o Dr. Mursi, as acusações de que o Hamás “iniciou a revolução egípcia” são grave insulto ao Egito e seu povo”. Essa mentira foi posta em circulação pela mídia estatal e pelo aparelho de segurança. “Como poderiam os palestinos, em luta e sitiados, como vivem em Gaza, manipular 80 milhões de egípcios?”

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