segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Os cinco principais mitos que se repetem, na cobertura dos protestos no Oriente Médio

Juan Cole

20/2/2011, Juan Cole, Informed Comment 
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

5. O mito da mulher humilhada nos países muçulmanos

Cara blogosfera de direita e caro Bill Maher:

Parem de generalizar, quando falarem da posição da mulher nos países muçulmanos, considerando só o terrível assalto que a repórter Lara Logan da CBS sofreu, atacada por uma gangue de bandidos. Comentar em geral sobre todo um grupo, a partir de um único incidente, chama-se “fanatismo”. Também é falácia (se duas palavras que, juntas, somam mais de seis sílabas, e uma é proparoxítona, forem demais para os destinatários desse postado, as duas palavras podem ser traduzidas por “o cérebro de vocês deu chabu”), conhecida como “generalização falsa” [sobre “falácia”, ver Fallacies].

Ninguém dá sinal de perceber que as tais indefesas mulheres egípcias salvaram Logan. Ninguém lembra que Anderson Cooper também foi agredido.

Há muitos casos de repórteres e celebridades atacadas por multidões, aqui e lá. Os idiotas-da-direita, Bill Maher e outros, jamais generalizam quando os atacantes são ocidentais; e sempre generalizam quando são árabes.

Atenção Bill Mahrer, racista, odiador de muçulmanos:

Acorde. Não é verdade que as mulheres não votam em 20 países muçulmanos [ver Timeline of first women’s suffrage in majority Muslim countries], e pare de generalizar para 1,5 bilhão de muçulmanos, considerando só os 22 milhões que vivem na Arábia Saudita wahhabista – único país em que as mulheres são proibidas de dirigir automóveis, e homens votam (em eleições municipais e só), mas as mulheres, não. Seria como generalizar, a partir só dos amish da Pennsylvania, para todos os cristãos dos EUA e pretender que todos os cristãos dos EUA são obcecados com carroças e inimigos da energia elétrica.

4. O mito da influência do Irã no Bahrain

É falso que as manifestações no Bahrain tenham sido influenciadas pelo Irã. É processo nascido no próprio Bahrain, dos árabes xiitas que são tratados como cidadãos de segunda classe em sua própria terra.

No sábado à noite, [matéria em Bahrain opposition meets to agree demands ], “os manifestantes acamparam na Rotatória da Pérola [‘praça’ Pérola, como também se diz no Brasil, mas é mais “rotatória” (para carros) do que “praça” (para pessoas)], no centro da capital, enquanto seus representantes reuniam-se, preparando-se para as conversações com o governo.

E telegramas publicados por Wikileaks mostram que o governo dos EUA repetidas vezes desmentiu qualquer interferência que o Irã teria sobre a monarquia sunita do Bahrain” [ver, sobre isso, o telegrama “S E C R E T SECTION 01 OF 03 MANAMA 000528”, de 5/8/2008. 

3. É mito que todos os clérigos muçulmanos sejam aiatolás khomeinis

Yusuf Qaradawi, pregador muçulmano de 84 anos, tem raízes na Fraternidade Muçulmana de antes de a Fraternidade ter optado pela via parlamentar e desistir da resistência armada, mas, nem por isso, é um aiatolá Khomeini. Qaradawi falou a milhares de pessoas na Praça Tahrir na 6ª-feira. Em 2001, Qaradawi conclamou os muçulmanos a lutarem contra os Talibãs e a al-Qaeda ao lado dos EUA. Na 6ª-feira, falou do papel dos cristãos coptas na revolução egípcia e disse que se acabaram os tempos das disputas sectárias. Qaradawi é reacionário em vários assuntos, mas não é radical. Além disso, nada leva a crer que os movimentos de jovens e de sindicatos que arrancaram Hosni Mubarak estejam interessados em seguir cegamente as opiniões de Qaradawi.

2. É mito que os partidos muçulmanos radicais controlarão todos os novos governos que surjam na Região

2. Considerando o futuro da Tunísia e o futuro do Egito, é falso – como repetem os propagandistas de Israel e odiadores de muçulmanos como Barry Rubin – que os partidos muçulmanos fundamentalistas sempre vencem eleições livres nos países de maioria muçulmana. É ideia, perdoem a franqueza, estúpida, já desmentida por exemplo nas eleições no Paquistão em 2008, na Albânia em 2009, no Curdistão no Iraque pós-2003 e em todas as eleições na Indonésia.

1. É mito que Facebook e Twitter tenham sido as principais forças de mobilização: os sindicatos foram muito mais importantes, nos levantes populares no mundo árabe

Apesar da importância de Facebook e Twitter como ferramentas de comunicação e mobilização, os sindicatos e as organizações de fábricas foram mais importantes nos levantes no Oriente Médio, que a mídia social. Na Líbia, o ataque do regime contra os serviços de internet não impediu um grande levante em Benghazi, que o regime reprimiu com extrema violência.

Um comentário:

  1. Comentário enviado por e-mail


    O que mais me impressionou nos noticiários de hoje é que as posições de Washington e aliadas assumidas contra as barbaridades das últimas 72 horas cometidas pelo regime-Kadáfi - bem justas, convenhamos, se analisadas por certo ângulo - não se aplicaram uma só vez contra as cometidas pelo regime-Al Khalifa, no Bahrêine. Não é difícil compreendê-lo. Somos, de fato, personagens de Animal Farm...

    Abraços do
    Arnaldo C.

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