quarta-feira, 3 de abril de 2013

Acontece nos EUA: Os irmãos Koch disputarão com a “Grande Grana” da “left”-EUA o controle do mercado de mídia


15/3/2013, Esther Zuckerman, The Atlantic Wire   
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu


Resultado do sarau político/midiático de hoje na Vila Vudu: Aí está notícia interessante, por vários  motivos.

Pra começar, atenção: a “Left” [esquerda] de que fala o título nada tem de “esquerda” como o resto do mundo a conhece ou algum dia conheceu. Por isso traduzimos como aí se vê: “left”-EUA  e, claro, há de haver traduções melhores. É só sugerir à discussão.

Nos EUA, se o cara não for um diabão da falange do Pastor Maldito e/ou da falange da Blogueira Cubana Nefanda... ele já é apresentado como progressista. E se, dentre os progressistas, ele não for um Obama acuado pelo Complexo Industrial-Militar e rendido ao dinheiro dos sionistas norte-americanos, pronto: já é apresentado como se fosse “Left” (podendo, num ou noutro caso ser apresentado – e logo apagado do mundo que a grande imprensa-empresa conservadora inventa – como um “radical”).

É quase impossível traduzir essas designações genéricas, porque quando, nos EUA, se diz liberal, fala-se exclusivamente de liberais progressistas (e o conceito muitas vezes aproxima-se de uma quase-esquerda burguesa, democrática, metida a “ética”; às vezes, até, aproxima-se de alguma esquerda revolucionária).

Quando se diz libertarian nos EUA, fala-se dos malucos do Tea Party, ditos “libertários” porque querem total liberdade pra fazer o que lhes dê nas telhas individualistas, sempre resistindo contra o Estado. Tá cheio de libertarians, nos EUA, que batalham a favor de cada cidadão ter seu canhão privado, em casa, pra poder atirar no coletor de impostos que chegue à sua porta, e em qualquer preto que lhe pareça ameaçador (para os libertarian à americana, todos os pretos são ameaçadores).

Mas a matéria abaixo é interessante também, porque aí se pode começar a ver, por inferência, que NÃO HÁ no Brasil grande empresário, que:

(a)     não seja diabão privatista golpista da falange do Instituto Millenium   
(b)     tenha qualquer interesse em investir dinheiro grosso em grandes empresas de comunicação QUE CONCORRAM disputando audiência, no mercado, contra a Rede Globo, a Abril, o Grupo Folha, o Grupo Estadão (o facinoroso Grupo GAFE).

Em outras palavras: NÃO HÁ, no Brasil, grandes empresários progressistas (mesmo que fossem conservadores progressistas! Nem isso!) interessados em fazer falar e valer, no negócio das comunicações de massa, o tal livre mercado que eles todos tanto dizem crer com fé sólida e profunda, e que tanto querem ver operante, como solução para todos os males.

O negócio é mais ou menos o seguinte: O mercado tem de ser livre e operar livremente em tooooodas as áreas... Exceto no setor das comunicações de massa, que, pelo visto, parece aos nossos empresários progressistas muito bem organizado como está: como propriedade feudal, de poucas famílias. E protegido, além do mais, ainda, por legislação que, quando não é legislação da ditadura, é escandalosa reserva de mercado para alguns remanescentes da aristocracia paulista udenista mais retrógrada, no caso do Estadão; ou para grupos de militantes fanatizados de organizações como a Opus Dei (isso, no Brasil-2012 é, de fato, quase inacreditável. Mas parece ser a mais pura verdade), no caso da Folha de S.Paulo.

Assim se vê que há especificidades mais profundas, que pouco se estudam no Brasil, no problema político (grave!) e comercial (ainda mais grave, porque muito menos estudado!) em que está convertido o pseudo “jornalismo” que um punhado de empresas mal administradas, atrasistas, oligopolistas, oligofrênicas, impingem, sem qualquer concorrência, aos consumidores PAGANTES de informação, os quais, no Brasil, são necessariamente também ELEITORES.

O problema “jornalístico” no Brasil é maior e pior que – e é diferente de – qualquer questão de simples livre, leve, solta, tão bela simples e franca competição por mercados (como os conservadores e reacionários creem que seja e ensinam que seria a concorrência comercial): as grandes empresas de comunicação, no Brasil, não são “um item” de mercado, a ser negociado livremente como tal, dentro de um bloco histórico, num dado contexto histórico, político e social.

No Brasil, elas são, mais que a Academia, a Igreja e o próprio Estado (embora operem, como sempre, articulados), a alma e a espinha dorsal do tal bloco histórico. Por isso, elas mesmas – não algum mercado – controlam quem entra e quem sai do negócio: não por regras de livre mercado, mas por regras de controle fascista e de oligopólio.

Pode-se chamar essa alma e espinha da reação conservadora brasileira mais atrasada, de “UDN ou neo-UDN”. Ou talvez se possa chamá-la até de neo-Senhoras-de-Santana. O que interessa é que são golpistas, no Brasil, desde, no mínimo, 1935. Empresas comerciais e golpistas, metidas a “jornalísticas”, amparadas numa ideologia do jornalismo que tudo justifica. Essa gente monopoliza, no Brasil, como máfia, o negócio da comunicação de massa.

Hoje, essa gente já perdeu TRÊS ELEIÇÕES CRUCIAIS PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – o que jamais acontecera antes, em mais de 500 anos de história do Brasil que aquelas empresas regeram como bem entenderam, a favor da ditadura, quando foi o caso; e contra a democracia dos muitos, sempre.

E nós, os muitos, que já os derrotamos nas urnas três vezes, e logo teremos derrotado quatro vezes.

NÓS já temos a presidência, NÓS temos 35 ministros, NÓS temos o Banco Central, NÓS temos maioria na Câmara de Deputados, NÓS temos um governo Dilma considerado em todo o planeta... mas ainda NÃO TEMOS UM JORNAL, UM CANAL DE TELEVISÃO QUE FALE POR NÓS.

O que há de interessante na matéria abaixo é que aí se vê que, nos EUA, já começa a existir concorrência forte, na disputa pelos canais e veículos de comunicação de massa, pelo menos, entre a direita sionista fascista e a direita não sionista e um pouco menos fascista, quase-progressista. Parece pequena diferença, mas não é. É diferença imensíssima e assunto para acompanhar.

Além do mais, pode estar aí, nesse traço do antimercado em que as empresas oligopolistas de comunicações reinam sozinhas no Brasil, a explicação para o projeto em que o Ministro Paulo Bernardo está trabalhando. Ele pode estar tentando organizar, pelo menos, um mercado-mais-mercado. Pode-se não concordar. Pode-se entender que sabe(ría)mos fazer diferente. Mas, por exemplo, o projeto em que trabalhou o ministro-jornalista que o antecedeu, que investia muito no “jornalismo” que há no Brasil, na correspondente teoria liberal burguesa fanada de jornalismo, que por aqui reina, dominante, e nos jornalistas que aqui se formam... foi muitíssimo mais fraco.

Pode-se dizer MAIS, contra o projeto do ministro-jornalista, do que contra o projeto do ministro Bernardo “do mercado”... já que, contra mercados, não se diz, mesmo, coisa alguma.

(Aliás... nem nós dizemos, nem a China diz.)

Mas absolutamente NÃO SE PODE entrar na conversa velha, fraca, superada, reacionária, segundo a qual o ministro Paulo Bernardo seria “entreguista” ou “vendido ao grupo GAFE”. Ele talvez até seja. Ele parece ser homem “do mercado”; e é do PT (desde 1985/1); e é ministro do governo Dilma. Claro: muito provavelmente é homem “do mercado”, pelo menos no sentido de que não tem discurso político consistente antimercado. Mas, isso, ora bolas, NENHUM PETISTA tem e nem o PT jamais tiveram ou deram qualquer sinal de ter interesse em construir.

Se a China trabalha, com sucesso espantoso, para chegar ao socialismo “atravessando” as estruturas do mercado... achamos excelente que o Ministro Paulo Bernardo comece a trabalhar, pelo menos, para tentar rachar, por forças de mercado, a dominação oligopolista que meia dúzia de empresas comerciais exercem no negócio da comunicação de massa, no Brasil. Por que não?!

Em todos os casos (e apesar do pouco que o próprio ministro e o próprio ministério dizem com seriedade e consistência sobre o próprio projeto, dentre outros motivos porque não tem imprensa... a ponto de ter de falar sobre seu projeto nas páginas d’O Estado de S.Paulo!) esse projeto do ministro Paulo Bernardo parece ser projeto MUITO menos delirante que a tal ideia de criar leis de “democratização da comunicação”, as quais NUNCA, never, núncaras, nem em mil anos, conseguirão tornar mais democráticos os discursos e a cabeça dos jornalistas-empregados que a imprensa-empresa brasileira sempre encontrará, no universo gigante – perfeito exército industrial de reserva – dos jornalistas muito reacionários que continuam a sair, aos magotes, da universidade brasileira e dos famigerados, facinorosos cursos de “cumunicação”, para as empresas da “mídia”. (E, isso, quando não são cursos de “cumunicação & marketing”, a pior coisa que a universidade brasileira jamais se atreveu a vender a alunos-consumidores que, se não eram perfeitos imbecis fascistizados ao entrar, com certeza já o serão, ao sair desses cursos.)

Querem mercado? Pois lhes demos mercado à vera, uai. E, depois, a gente conversa outra vez...

Só a luta ensina.

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Eis, então, o artigo em referência

Esther Zuckerman
No início desta semana (10-16/3/2013)noticiamos que pode estar começando guerra comercial pelo controle dos jornais do grupo Tribune Company, especialmente o Los Angeles Times e o Chicago Tribune, entre os irmãos Koch [1] e Rupert Murdoch [2]. Mas agora o Hollywood Repórter noticia que outro concorrente de peso entra na disputa e, dessa vez, do outro lado do muro, também interessado em entrar no jogo dos jornais.

Paul Bond, de THR, noticia que o bilionário Eli Broad, conhecido mecenas e animador de instituições culturais em Los Angeles, uniu-se a Austin Beutner, financista e ex-vice-prefeito da cidade, para apresentar uma proposta para comprar o Times e, possivelmente, outros jornais do Grupo Tribune Company – ou todos.

Broad e Beutner, no campo oposto em que jogam os irmãos Koch e Murdoch, são conhecidos grandes doadores de campanha e apoiadores do Partido Democrata. (...)

Bond informa que Broad já tentara um primeiro movimento para comprar a Tribune Company com Ron Burkle em 2007. Mas, então, Sam Zell levou a dianteira. 

A possibilidade de Broad entrar na corrida para comprar o Times começou a ser noticiada em maio passado, quando começou a circular o que escrevera sobre o destino do grupo Tribune Company em seu livro The Art of Being Unreasonable: Lessons in Unconventional Thinking [A arte de não ser razoável. Lições sobre pensamento não convencional]. Para Broad, assumir o controle do Times faria aumentar sua já considerável influência em Los Angeles. 

Em perfil publicado em 2010 na revista New Yorker, Connie Bruck apresentou Broad como o “Lorenzo de Medici de Los Angeles” – singular senhor da cidade, protetor das artes”.

Não é simples. Os irmãos Koch e Murdoch já manifestaram interesse em comprar o jornal; Broad talvez não consiga. Mas a luta pela propriedade dos jornais do grupo Tribune será luta emocionante.



Notas dos tradutores

Irmãos Koch
[1] Postagens sobre os Irmãos Koch (em português):


Rupert Murdoch
[2] Postagens sobre Rupert Murdoch e suas imprensa-empresas (em português):


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