quarta-feira, 15 de outubro de 2014

The Saker − Primeiro Relatório de Situação (SITREP) AMÉRICA LATINA

12/10/2014, The SakerThe Vineyard of the Saker AL
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker

Sumário

●– Prefácio
●– 2º turno das eleições presidenciais no Brasil. Ascensão e queda da “Terceira Via”
●– Venezuela: onda de violência política

●− Prefácio 

Algumas ressalvas, saudações e indicadores

Esperemos que esse seja o primeiro de muitos Relatórios de Situação América Latina. O Saker nos deu uma valiosa oportunidade para falar e oferecer-lhe nossa visão sobre eventos que se desenvolvem em nosso continente.

A grande imprensa-empresa, como todos sabemos, fez bom trabalho de desinformar, mal informar, deformar e distorcer o despertar da América Latina que já vai completando 15 anos, a importância chave e o papel fundamental na constituição do Sul Global (que é entidade global, não geográfica) e a negação do sujeito histórico, nervo central da mudança de época na América Latina: os pobres da terra, como disse certa vez o patriota e apóstolo cubano José Martí.

José Marti, herói cubano
As dinâmicas da América Latina são todas profundamente interligadas, e cada uma e todas as situações num dos países têm efeito de influência sobre os demais países. Tem sido assim por séculos: o processo atual de reunificação espiritual, o estabelecimento de visões políticas comuns sobre comércio, relações internacionais, militares e cooperação de segurança, o ressurgimento de uma história continental comum e as lutas presentes sempre terão relação com o primeiro ciclo de independência e o projeto de libertação (traído) adiado. Assim também a luta comum e global por esperança, dignidade, igualdade e justiça em nossos próprios termos e por nossos meios para chegar lá, não difere da luta de outros em qualquer outra parte do mundo.

É processo complexo, desequilibrado, que implica questões diferentes e misturadas a questões e situações locais; a luta está em diferentes estágios em locais como México, Honduras ou Colômbia (que têm governos totalmente alinhados com o dictat do Império Anglo-sionista), em relação a Brasil e Argentina, ou as nações ALBA, de outro lado; mas mesmo nesse nível, por várias razões, estamos lidando um uma nação continental que, por ação de interesses britânicos e norte-americanos acabou por fazer seu pacto com caudilhos locais com seus próprios interesses monetários.

Projetos políticos Libertadores unificados desde o século XIX

Ex-generais libertadores tornaram-se latifundiários locais e senhores-da-guerra, distribuídos em vários diferentes, separados, oligárquicos, “independentes” pequenos grupos de países (sob regras de uma democracia “representativa” liberal bipartidária) e assim se mutilou a comunidade latino-americana imaginada que prometera reforma agrária: as mesmas nações que, décadas depois se converteriam em fornecedoras de recursos naturais para as potências capitalistas centrais (principalmente EUA e Grã-Bretanha). Nossas farturas ainda operam, ao mesmo tempo, como bênção e como maldição.

Quanto a esses assuntos e o significado deles no momento histórico que a América Latina vive hoje, constantemente nos veremos ante a necessidade de voltar ao local onde tudo começou (mais uma vez).

Mas por enquanto, permitam apresentar algumas (longas) ressalvas “operacionais” sobre alguns termos, fatores e conceitos que sempre reaparecerão em nossos percursos:

1.      – a caracterização que o Saker faz dos anglo-sionistas funciona com acuidade para cada território que encarna a resistência contra o império (Rússia, Síria, Zimbabwe), mas ao lado do estado profundo, imperial, dos 1%, sempre haverá outro ator chave e seu aliado permanentemente subordinado: os oligarcas regionais fantoches, com a narrativa deles, o pano de fundo histórico deles (herdeiros diretos dos “hidalgos” [fidalgos] espanhóis improdutivos convertidos numa elite local “criolla” que partilha os mesmos traços parasitas improdutivos que “evoluíram” ao longo dos séculos e viraram a classe média médio-alta contemporânea e o establishment político e econômico atual), cúmplices passivos do saque nacional até nossos dias. A classe governante ainda hoje se diz dona da terra e vive por todo o continente.

2.      – Não existe “subdesenvolvimento”. Oligarquias locais na América Latina realmente não foram capazes de se tornar classe produtiva, com competência para percorrer o trajeto das revoluções capitalistas burguesas. Mas isso não significou, de modo algum, que nada aconteceu naqueles locais onde interesses estrangeiros precisavam construir a infraestrutura básica necessária para extrair os recursos naturais da América Latina. O que se viu foi uma “reforma capitalista”, focada só na extração, que deixou de lado a construção manufatureira e industrial, a reforma agrária para tornar produtivo o latifúndio improdutivo e todos os tipos de políticas sociais centradas na maioria.

Assim sendo, de certo modo, o capitalismo periférico não desenvolveu rotas de extração que facilitariam o caminho pelas bases do poder metropolitano. Daí nasceu uma versão traumática, malformada, totalmente dependente de capitalismo, que fez o que bem entendeu. Houve antidesenvolvimento.

Disseram-nos que nosso destino seria de fornecedores – como minas, nunca como nações. Das repúblicas oligárquicas no século 19, até o fim das reformas liberais do século 20 (e correspondentes dívidas externas), a via era essa, e tinha de ser assim.

Fidel Castro, Tabaré Vázquez, Luiz Inacio Lula da Silva, Néstor Kirchner, Hugo Chávez e Michelle Bachelet na XXX Cúpula de Países Sócios e Associados de Mercosul em 2006
Só depois da primeira eleição de Hugo Chávez em 1998 na Venezuela, e, alguns anos depois, a eleição de Luiz Inácio “Lula” da Silva no Brasil e de Nestor Kirchner na Argentina, é que teve início um processo comum de resgatar nossos países e nossos povos do inferno neoliberal. O primeiro grande passo comum nessa direção foi dado em Mar del Plata (Argentina) em 2005, onde se realizou a 4ª Cúpula das Américas e aqueles três atores chaves mostraram-se juntos e unidos num campo comum contra o Acordo de Livre Comércio para a América Latina, dos EUA.

Esses movimentos políticos liderados por Chávez, Lula e/ou Nestor Kirchner (e Cristina Fernández); Evo Morales, Rafael Correa ou Salvador Sánchez Cerén expressam um novo paradigma na estrada latino-americana rumo à libertação e à independência reais: são todos movimentos de base ampla, efetivamente movimentos de base, que implicaram massivas mobilizações populares que envolveram formações políticas com ponto de vista diferente e traços sociais diferentes: ao lado de organizações políticas convencionais, como organizações sindicais (de onde brotou o presidente Lula do Brasil), partidos tradicionais da esquerda (com exceção dos trotskistas), movimentos indígenas, exércitos populares, participação soberanista e liderança (Chávez), comunidades organizadas em favelas e cidadãos comuns, já fartos da decadência dos meios políticos eleitorais tradicionais, e decididos a chegar ao poder sem violência: autênticas revoluções democráticas, levantes democráticos pacíficos. Mudança para nova época histórica. (E também o triunfo histórico de Salvador Allende: revolução eleitoral pacífica).

Desde meados do século 20, o paradigma revolucionário da América Latina tem sido a Revolução Cubana, dos mais importantes pontos de virada do século passado, em todo o mundo: amplamente baseada em frentes de libertação nacional, além de movimentos armados que tomariam o poder por meios militares e gerariam as condições para transformações políticas e econômicas radicais e rápidas. O paradigma político evoluiu a partir da experiência cubana para o que vemos hoje, e todos e cada um dos países latino-americanos sempre terão uma dívida de gratidão com o que a Revolução Cubana realizou no passado e realiza no presente, gerando saberes e experiência novos em vários campos cruciais das necessidades humanas, como programas de atendimento à saúde pública, de alfabetização, além de um vasto, imenso “etcetera”). O Acordo de Cooperação Cuba-Venezuela de 2004 sintetiza essa continuidade histórica, confirmando o renovado papel histórico de Cuba, ainda central nos eventos atuais.

Para os que talvez ainda estranhem o que se disse acima (estranheza que se explica, depois de 50 anos da velha clássica demonização), a ação da Cuba de Fidel Castro pode ser resumida em dois grandes fatos globais (ambos relacionados à África):

□− A batalha de Kuito Canavale, em 1987, em Angola, na qual soldados cubanos e dos movimentos de Libertação do Povo de Angola derrotaram definitivamente a África do Sul do apartheid, aplicando à ditadura sul-africana a primeira grande derrota estratégica que definiu as bases para a libertação de todo o sul da África (Namíbia, Moçambique, Zimbábue) e do colapso definitivo do apartheid. 

□– Esse mês de outubro de 2014, uma brigada médica cubana (165 médicos) chegou ao Aeroporto Internacional de Freetown em Serra Leoa, para lutar contra a disseminação do ebola na África Ocidental. É simples: qualquer pessoa pode ver o claro contraste entre essa ação consequente e a “resposta” militarizada ocidental, de “localizar e destruir” o vírus ebola.

Brigada médica cubana chega em Serra Leoa
Hoje, passamos por uma nova onda de tentativas interconectadas para restaurar as oligarquias, que estabelece terreno comum para os métodos do anglo-sionismo combinados às ações de seus fantoches-réplicas locais. Os movimentos de restauração de dentro para fora podem ser resumidos em duas grandes tendências (com diferenças locais) que coincidem:

□– os antigos establishments políticos sempre bipartidários (partidos conservadores e social-democratas e uma aristocracia sindical: atores darealpolitik);

□– e o turbocapitalismo financeiro emergente e movimentos fascistas contra a política conectados globalmente com outras formas de poder fático (o poder da imprensa-empresa, os Chicago Boys/ tubarões de Wall Street, revoluções “coloridas”, a “cidadania global” da Fundação Open Society de George Soros, movimentos e ONGs de vários tipos, principalmente aqueles financiados e treinados por organizações como NED/USAID, mas também patrocinadas pela União Europeia), o que também descreve a interconexão orgânica entre a classe governante histórica na América Latina (exato oposto de qualquer modelo de unidade), com o hegemon anglo-sionista (frente ao qual os governantes latino-americanos sempre se posicionaram como servos).

Mas essas tendências políticas visíveis têm ambas o mesmo algo e podem facilmente andar juntas sempre que uma das duas encontra oportunidade ou condições mais favoráveis para opor-se ao campo da libertação.

O mesmo se pode dizer, pelo menos em parte, da composição interna dos movimentos de resistência, nenhum deles livre de todos os tipos de contradições políticas.

Seja como for, esses grandes grupos distribuem-se em torno de duas agendas comuns: de um lado, como parte da opção por uma nova ordem multipolar (os BRICS); do outro lado, o Consenso de Washington já super turbinado com sua doutrina de choque e pavor, capitalismo de desastre, etc.

Os oligarcas também aprenderam, das várias e repetidas derrotas táticas que sofreram, a ajustar-se ao atual contexto, mimetizando movimentos populares “de raiz” (astroturfing), com discursos hipocritamente falso-progressistas, falsas preocupações sociais, desenvolvendo estratégias de mimetização de como eles próprios poderiam inserir-se no espectro político, sob disfarce “popular”. E paralelo a isso, todo o equipamento de guerra “midiática”, econômica e ilegal. Nesse ponto estamos hoje.

Um último indicador, de outras latitudes: o conservadorismo latino-americano, em termos genéricos convencionais, não pode ser automaticamente associado a outras formas de conservadorismo que se encontram em outros locais: nada tem a ver com ideias conservadoras tradicionalistas, ou qualquer outra forma que também se oponha ao Império e à opressão. O conservadorismo latino-americano é relacionado principalmente ao status quode base econômica combinado ao moralismo católico (nisso, é mais ou menos assemelhado ao franquismo) e nada tem a ver com a real preservação espiritual do melhor da alma humana. Há também uma modalidade popular (de massa) que apela a papas demagogos, como João Paulo 2º e o atual soporífero Francisco 1º (latino-americano).

Mas também, ao longo da história, outra forma de cristianismo encontrou terreno fértil, assumindo papel indiscutivelmente importante nas lutas populares por justiça, igualdade, dignidade e direitos da natureza: das Missões Jesuíticas Paraguaias à Teologia da Libertação, com religiosos como Camilo Torres Restrepo, Hélder Câmara, Leonardo Boff na linha de frente, representando milhares de padres e freiras que trabalham em favelas e com camponeses, e realmente partilham as dores e as lutas dos mais pobres.

Na América Latina a fé sempre estará relacionada às lutas políticas, dado que não se vê separação entre a espiritualidade e a justiça concreta, em campo. Se, como diz o Ocidente, por lá Deus está morto, aqui, ao contrário é a terra do realismo mágico. E contra o que é concebido como uma metafísica tropical da dependência, o que realmente se vê é o oposto disso: Deus como a essência de toda real forma de dignidade, identidade e resistência espirituais e culturais. Aprendemos o autorrespeito.

No presente momento, fazemos a luta comum para ganharmos tempo: o tempo que tem de ser usado na reinvenção. Por aqui, os paradigmas esquerda/ direita, liberal/ conservadores são insuficientes.

Esperemos que haja também tempo para tratar de todos esses temas e tópicos. Mas, agora, é mais que hora de pôr mãos à obra e oferecer esse Relatório de Situação/América Latina, baseado só em fatos diretos, em tempo real.

Esse nosso primeiro trabalho será centrado na situação da Venezuela e na situação do Brasil. Esperamos, em breve, poder mandar outro Relatório de Situação que considere o que se passa na Argentina, Equador e Bolívia.

●− 2º turno das eleições presidenciais no Brasil. Ascensão e queda da “Terceira Via”

Mais uma vez, como aconteceu nos últimos 12 anos, a esquerda tradicional e a direita tradicional lutam no Brasil, no segundo turno de eleições presidenciais (dia 26 de outubro). Do lado da presidenta Dilma Rousseff, são mais de 43 milhões de brasileiros (41,59%) que votaram a favor de continuar os avanços sociais e econômicos que já transformaram completamente o país – conhecido pela enorme desigualdade social e pobreza. O outro candidato recebeu 33,55% dos votos e é perfeito retrato da velha oligarquia brasileira, sustentada pelo mercado e pela imprensa-empresa.

Mas esse cenário, que à primeira vista parecia idêntico ao de outras vezes (2002, 2006 e 2010), quando o Partido dos Trabalhadores (PT) e os sociais-democratas (PSDB) encontraram-se, teve dessa vez um tempero extra, com o surgimento do que foi chamado de “Terceira Via”, corporificado numa ex-petista e ex-ministra petista, Marina Silva.

Como se viu outras vezes, nos chamados “levantes espontâneos” e com políticos “novos” em todo o mundo, e há também exemplos diretos na Venezuela e na Argentina, viram-se aí as pegadas dos movimentos chamados “Sociedade Aberta”, nome da ONG de George Soros – um meio para tornar a direita mais palatável – também nas eleições no Brasil.

E, para entender por que os votos de Marina, mais de 23 milhões e sua trajetória até o segundo turno, é absolutamente necessário examinar um momento do passado recente: junho de 2013.

Naquele momento, o que começou como protesto de estudantes contra altas tarifas de ônibus na cidade de São Paulo, logo se converteu em demonstrações em larga escala por todo o país, estimuladas por cenas de violenta repressão policial em São Paulo, estado governado por Geraldo Alckmin, um dos mais conhecidos estrategistas do PSDB. Para os que não saibam, GA foi reeleito (ontem), em primeiro turno, apesar da gravíssima crise de água pela qual passa o estado de São Paulo (no dia seguinte à reeleição, Alckmin anunciou o racionamento de água!), e o número escandalosamente alto de policiais assassinados, de um corpo “de segurança” conhecido pela crueldade. (Vídeo a seguir)


Depois da selvageria em São Paulo, uma onda de aparente descontentamento espalhou-se; milhões de pessoas foram às ruas. Enquanto a imprensa-empresa privada, no Brasil e fora do Brasil, festejava o “despertar” dos brasileiros, abriram-se as portas do inferno. Todos os itens de uma reação muito bem construída, outra vez inspirada nas “revoluções” de fantoches que George Soros ensina a fazer pelo mundo, foram postos em ação. Primeiro, vídeos em YouTube, a semear as primeiras sementes para o público estrangeiro, e intensa atividade nas mídias sociais. Um daqueles vídeos (abaixo), intitulado #ChangeBrazil, chegou a ter 1 milhão de visitas.


Quase imediatamente, a direita pôs-se a repetir slogans como “Abaixo a política”, “Morte à esquerda”, na boca daqueles manifestantes “pacíficos”, cujo uniforme oficial eram as cores da bandeira do Brasil, o que é código conservador em todo o mundo. Quem usasse roupas vermelhas era atacado nas ruas. Houve cenas da mais inacreditável violência na capital do Brasil, Brasília, onde por pouco o prédio do Ministério das Relações Exteriores não foi incendiado; o ataque foi contido pelas forças de segurança do prédio. Vídeo a seguir:


Pouco depois, a presidenta Dilma Rousseff falou à nação por cadeia aberta de televisão, para acalmar as coisas, depois de semanas de destruição. Prometeu mudanças e convocou o povo a participar de uma reforma profunda da estrutura política – único modo de enfrentar os graves problemas que o país ainda enfrenta. Vídeo a seguir:


Depois disso, vários políticos obraram para vincular-se aos protestos de junho, manifestando mais do que simples desprazer com o estado de coisas: a população queria “PT fora!” A primeira a surfar essa onda foi Marina Silva.

Líder de um movimento chamado “Rede”, ela tratou de construir uma plataforma política cheia de elementos que supostamente atrairiam ex-eleitores do PT, desapontados com o governo de Dilma. Marina e seus especialistas construíram uma abordagem neo-hippie-tech, costurando “meio ambiente”, internet e “os jovens”. Marina apresentou-se como a única que poderia “quebrar” a “polarização” entre PT e PSDB — seguindo estritamente a “fórmula” da Escola Soros. Tinha também o “trunfo” de ter nascido pobre, na selva amazônica – exemplo perfeito de alguém que teria tudo para fracassar, mas “vira sucesso”.

Mas não conseguira criar um partido, porque não obteve o número exigido de assinaturas de eleitores. Sem isso, aceitou participar da chapa de Eduardo Campos, líder político destacado – e que, como a própria Marina, também fora ministro do governo petista – na corrida presidencial. Afinal, ser vice-presidente sempre seria melhor que nada, pensou Marina. Mas a dupla não saía dos 8% nas pesquisas, atrás de Dilma e do outro único candidato. Em 2010, quando Marina concorreu à presidência pelo Partido Verde (PV), ela obtivera quase 20% dos votos e um terceiro lugar.

Foi quando, na manhã de 13 de agosto de 2014, o avião em que Campos viajava, com assessores políticos, espatifou-se na cidade de Santos. Morreram todos, passageiros e tripulação. Na sequência, Marina foi escolhida candidata à presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB, que nada tem de socialista [NTs] e era o partido de Campos).

Wayne Madsen
Acidente ou complô bem urdido para mudar o curso da eleição? Não poucas pessoas rapidamente sentiram o cheiro de Washington e os tentáculos do anglo-sionismo na morte de Campos, como o jornalista norte-americano Wayne Madsen.

No Brasil, hoje governado por Rousseff, a melhor oportunidade para infiltrar no governo um dos “seus” parece ser, aos olhos da CIA e de Soros, a eleição de Marina Silva. Seria como um “Cavalo de Tróia” infiltrado no comando de um dos países do grupo BRICS, em posição para atacar por dentro aquele bloco econômico, mais importante a cada dia – lembrou Madsen.

Outro exemplo desse tipo de candidatura pode ser Sergio Massa, candidato na Argentina; e a ONG venezuelana Provea.

De início, na campanha presidencial, a “Terceira Via” pareceu estar dando certo. Segundo pesquisas (questão chave e objeto de manipulação nessas eleições, que se comentam adiante) Marina apareceria em segundo, logo atrás de Dilma no 1º turno e conseguiria eleger-se no 2º turno. A “mídia” e os mercados estavam felicíssimos e, simultaneamente, descarregaram todas as suas armas contra a candidata do Partido dos Trabalhadoras e atual presidenta.

Mas, no desenrolar da campanha, a incompetência de Marina, que não conseguiu disfarçar suas reais intenções (além da total submissão a líderes de igrejas evangélicas “de televisão”, muito influentes na política brasileira), e do forte debate de ideias que a presidenta Dilma levou para a TV e para as ruas, fizeram murchar a bolha artificial chamada “Marina”. Outra vez, o mercado e a imprensa-empresa reagiram, fazendo o que melhor fazem: especulação.

Pintando um cenário caótico, os jornalões e as televisões urravam que o Brasil estaria naufragando numa inflação galopante, e sem crescimento, embora o desemprego se mantenha no ponto mais baixo da histórica, 4%, e o PIB mostre crescimento de 0,7% em 2014.

(Como Paul Krugman ensinou, o “culto da inflação” é muito usado pelo mercado, como arma para chantagem. Antes do 1º turno, o dólar norte-americano passou de R$2,24, no início de setembro, para R$2,45. Um dia depois da eleição, o mercado “celebrou” o crescimento do outro candidato, devolvendo o real ao valor de antes!).

Na sequência, Marina virou carta fora do baralho. Assim como foi usada, foi descartada. A única maneira possível para tentar derrotar o PT seria entregar o serviço ao velho parceiro, o PSDB, o qual, embora tenha perdido grande parte da força eleitoral de outros tempos, continua a ostentar desavergonhadamente a agenda mais conservadora. Os “manifestantes” de junho, já tinham candidato preferido.

Além disso tudo, há as pesquisas. Ontem, jornalistas dos principais canais de televisão brasileiros fingiam grande surpresa ante os resultados do 1º turno. Por que as pesquisas não haviam mostrado antes um resultado tão diferente? Como o outro candidato poderia ter passado a merecer tantos votos, em tão pouco tempo? O caso da eleição para o governo do Estado de São Paulo é simbólico: o candidato do PT aparecia sempre com 8% das intenções de votos nas pesquisas; nas eleições, recebeu 16% dos votos. E se a população tivesse sido informada dos números reais? O resultado da eleição poderia seria outro.

Na 5ª-feira, 2 de outubro de 2014, quando do último debate televisionado entre os candidatos, o outro candidato deu entrevista eufórica, “messiânica”, dizendo que tinha confiança de que estaria no 2º turno. E então, três dias antes da eleição, quando ainda ninguém sabia com certeza que ele ficaria em 2º lugar no 1º turno, ele “adivinhou” que no dia seguinte, 3ª-feira, 7 de outubro de 2014, uma nova pesquisa já o mostraria a caminho de ser o próximo presidente do Brasil. Na verdade, não se trata de autoconfiança nem de mágica: é a “velha moda”, atacando outra vez, com suas táticas igualmente velhas.

●−Venezuela: onda de violência política


Ao longo de 2014, a Venezuela Bolivariana passa por tentativas de desestabilização em todas as frentes. Do outro lado, a rede MSN anglo-sionista dominante hipnotizou a população ao longo de todo o primeiro trimestre do ano, sobretudo depois do evento de 12 de fevereiro de 2014, “La Salida” [A saída], liderado por figuras políticas como Leopoldo López (perfeitopoodle oligárquico anglo-sionista), María Corina Machado (nossa perfeita versão “criolla” de Yulia Timoshenko) e Antonio Ledezma, um dos (muitos) prefeitos de Caracas conhecido como “O Vampiro” ou “Vovô-monstro”, figura muito conhecida do  establishment  pré-chavismo, só pode ser descrito, em termos gerais, pelo contrário. Em termos gerais, se a CNN & Co. Diz que a “ditadura” de Nicolas Maduro está atacando brutalmente “estudantes” perfeitamente angelicais, pode-se ter certeza de que está em andamento mais um chamado “movimento colorido”, sempre violento, e que sempre traz à frente uma fachada de “movimento de estudantes”, mas infiltrado por elementos a soldo do crime organizado e bandidos organizados em esquadrões-da-morte, nos quais abundam mercenários paramilitares colombianos.

O objetivo é sempre “mudança de regime” a ser obtida mediante violência política, guerra de informações (não esqueçam que a Venezuela já passou por um golpe de estado “pós-moderno”, do tipo que os EUA financiam pelo mundo, em 2002, que durou 47 horas e foi derrotado pela população nas ruas e trouxe de volta o Comandante Chávez, que reassumiu seu mandato constitucional) e guerra econômica, além de assassinatos “seletivos”, aumento artificial nos sequestros relâmpago e roubos, sempre com a participação do crime organizado e outros agentes estrangeiros.

Se a MSM “noticia” grave crise econômica, pode-se ter certeza de que há tensão econômica criada artificialmente, parte de uma ação multidimensional que implica sabotar a produção, promover contrabando massivo de produtos básicos (que vão de artigos de maquiagem a itens considerados básicos na – deformada – dieta dos venezuelanos), pela fronteira Venezuela-Colômbia, diretamente para os supermercados colombianos; especulação com preços, desvalorização da moeda, excessiva importação de itens de alimentação, em vez de atenção para consolidar um aparelho de agronegócios produtivo; na maioria dos casos, esses são desenvolvimentos hipertrofiados de buracos negros ou pontos de maior fragilidade que ainda há na economia.

95% da atividade econômica da Venezuela ainda é, até hoje, centrada e dependente do petróleo. Desde meados do século XX, as rendas do petróleo sempre foram o nervo central da bem conhecida riqueza da Venezuela (o país tem as maiores reservas de petróleo cru do planeta). E a oligarquia e o anglo-sionismo continuam fortes no front financeiro e econômico.

Essas duas situações incorporam um quadro de conflito, no qual acontecem as guerras venezuelanas.

Dep. Roberto Serra, assassinado pela DIREITA 
Dia 1º de outubro passada, o deputado Roberto Serra, 27 anos, do Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV, fundado por Chávez, e sua companheira e assistente María Herrera, foram brutalmente assassinados em casa, em La Pastora, arredores de Caracas, bairro operário, e uma das mais conhecidas bases políticas do chavismo. Foram amarrados e esfaqueados várias vezes, o que causou forte comoção na opinião pública venezuelana e latino-americana.

Roberto Serra era o deputado mais jovem da Assembleia Nacional, e estrela política em ascensão como representante de uma nova geração de chavistas (que cresceu e formou-se já sob governo chavista). Quando foi assassinado, Roberto Serra estava investigando o caso Lorent Saleh, ampla, escandalosa conspiração que envolve várias figuras da oposição política dita “de direita”, empresário e também uma importante ala colombiana abertamente ligada ao “uribismo” (ex-presidente colombiano muito amado pela Casa Branca, Álvaro Uribe Velez, homem de várias e importantes conexões políticas e militares transnacionais). Álvaro Uribe, que delira desbragadamente, é, de longe, o mais furioso porta-voz internacional das forças anti-Venezuela, com papel ativo já comprovado em cada uma e em todas as tentativas de golpe para derrubar o chavismo, do poder e da face da Terra.

Depois do assassinato de Serra, a rede MSM subiu o tom, passando a assassinar também a memória de Serra, convertendo o assassinato em “serviço interno”, caso de crime comum e, mesmo, celebrando o assassinato. O movimento como sempre é de “despolitizar” o crime, criando a narrativa de crime comum, causado pelo “estado falido”. Foi o mesmo procedimento que adotaram em abril/2014, quando outra figura histórica do chavismo foi brutalmente assassinado: Eliécer Otaiza, um dos militares que participou, ao lado de Chávez, da primeira tentativa de levante militar, em 1992, que se converteu em ativista dos movimentos de base e que, quando foi assassinado, era membro do principal conselho municipal de Caracas. Os dois assassinatos ocorreram em momentos de relativa paz política.

George Ciccariello-Maher
Semana passada, vimos também um confronto armado entre um dito “coletivo” e soldados da polícia científica e investigativa da Venezuela. Os colectivos, dito em forma resumida, são organizações sociais de base, ainda emergentes, quase todos localizados em bairros da cidade, que combinam ativismo social diário local e (algumas) estruturas de autodefesa armada, usada na luta contra os cartéis e gangues de drogas muito presentes nas áreas onde os coletivos operam. É uma estrutura que remonta aos anos de antes de Chávez; quando os coletivos desenvolviam e treinavam táticas de autodefesa contra a violência policial e parapolicial. Nunca houve confronto aberto com o Governo Bolivariano, embora em alguns momentos as relações tenham ficado tensas. O artigo de George Ciccariello-Maher oferece boa descrição do que são os coletivos e do efeito que têm sobre a psique dos oligarcas, que vivem em estado de pânico constante (para leitores de inglês). (Claro que, para a imprensa-empresa anglo-sionista, os coletivos são forças militares chavistas e nada além disso).

Os colectivos são uma linha chave de defesa da população de trabalhadores que vivem nas periferias e comunidades, mas também têm pontos fracos e inconsistências; vários deles já foram infiltrados por organizações criminosas, que se autodisfarçam como grupo de ativismo social. Esses grupos infiltrados não são a maioria, mas, não por acaso, são os que apareceram nas manchetes da cobertura da MSM, que inventou e distribui, incansavelmente repetida, a sua própria versão do que aconteceu. O que já se sabe com certeza, por informação de várias fontes, inclusive fontes oficiais, é que o grupo que se envolveu naquele confronto é constituído de ex-policiais relacionados à extinta Polícia Metropolitana, símbolo de força de segurança lumpenizada que assumiu papel ativo, dentre outros crimes, no golpe de Estado de abril de 2002.

O confronto terminou em tragédia, com cinco membros da polícia científica mortos (três dos quais haviam sido sequestrados e foram resgatados). Mas a imprensa-empresa sugere outros detalhes:

1) o líder do colectivo e um porta-voz fizeram várias declarações públicas avisando que responsabilizariam o Ministro do Interior, Justiça e Paz pelo ocorrido;

2) que estavam sendo investigados por dois casos de homicídios que nada tinham a ver com coletivos reais;

3) um secretário do coletivo disse, por Twitter, que o coletivo apoia todas as ações;

4) quatro fotos do líder do “coletivo” postadas em sua conta Twitter, que o mostravam com altas figuras do governo, postadas dia 4/9/2013, estão sendo usadas para alimentar “denúncias” de que estaria em curso um conflito interno, dentro do governo bolivariano, com um ramo venezuelano de “patriotas-oba-oba”. Info-guerra à vista.

Funcionários da segurança também informaram que não há relação alguma entre o assassinato de Serra e o confronto da 5ª-feira (9/10/2014), o sétimo desse tipo. Mas o timingfoi evidente.

Na noite de 9/10/2014, acrescentando insulto à injúria, um “guerreiro do Twitter”, da Flórida, @federicoalves (graduado em economia em Harvard e ativista da Anistia Internacional, Oh! Que homem civilizado!) distribuiu fotos “vazadas’”dos cadáveres no necrotério, numa tentativa macabra de que as imagens se tornasse virais. Vários anônimos e algumas contas bem identificadas postaram algumas das fotos, mas foram imediatamente bloqueadas pela empresa Twitter. É agressão simbólica muito sugestiva, que implica mensagem clara e dá o tom do que pretendem fazer dos eventos.

Maduro no velório de Roberto Serra e esposa
No funeral de Robert Serra, o presidente Nicolás Maduro disse:

Continuemos sempre buscando a paz, sempre a paz, ainda que em lágrimas, feridos, mas sempre com a certeza de que eles não nos arrastarão à guerra.

***
Amanhã (13/10/2014) acontecerão eleições presidenciais na Bolívia, e Evo Morales é favorito para a reeleição [Foi eleito (NTs)].

***

7 de outubro de 2012 foi o dia do último e massivo triunfo eleitoral de Chávez: 13 vitórias em 14 eleições, em 14 anos. Pepe Escobar escreveu sobre o significado daquelas eleições; e outro artigo, sobre a morte de El Comandante. Há dois anos.

Chávez vive, la lucha sigue.

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