18/10/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O Departamento de Estado dos EUA continua a manter seu programa de ativa influência contra o estado russo. Financia “workshops” na Rússia, que servem para preparar uma “revolução colorida” por lá. Paga professores universitários de universidades norte-americanas para operarem em diferentes estágios dos planos. Uma das áreas em que mais o Departamento de Estado interfere é no recrutamento e influência de jornalistas russos. Quando o Departamento de Estado envia aqueles instrutores para a Rússia, dá-lhe instruções para que declarem que lá estão como “turistas”. Os russos descobriram o golpe e ordenaram que os tais “instrutores” pusessem fim àquela sandice.
A imprensa-empresa nos EUA, contudo, usou a questão para, como sempre, “culpar a Rússia”. Daí as várias manchetes factualmente falsas como “Jornalista de Boston detido por alguns dias na Rússia” ou, ainda pior, “Turistas norte-americanos detidos na Rússia”:
Randy Covington |
Dois jornalistas norte-americanos foram detidos por algumas horas na Rússia e apresentados a um tribunal na 5ª-feira (16/10/2014), por dar aulas num workshop de jornalismo investigativo. Os dois foram declarados culpados por violar a lei de vistos, informaram as autoridades. O Centro Nova Inglaterra de Reportagem Investigativa [orig. New England Center for Investigative Reporting] informou que seu co-fundador, Joe Bergantino, e o professor da Universidade da Carolina do Sul, Randy Covington, permaneceram detidos por várias horas pelas autoridades da Imigração, quando começavam as aulas de seu primeiro workshop em São Petersburgo.
E desde quando “turistas” dão aulas em workshops? Ainda pior, como se lê no artigo que levava a manchete “Turistas detidos”:
Bergantino e Covington, que tinham vistos de turistas, foram informados de que não poderiam dar aulas, mas podiam deixar o país como previsto, no sábado (18/10/2014), disse o Centro Nova Inglaterra (...).
O centro informou que os dois jornalistas levavam passaportes com o tipo de visto recomendado pelo Departamento de Estado dos EUA para aquela visita.
O Departamento de Estado, de fato, até admitiu:
Perguntada sobre se os EUA estavam preocupados com o que acontecera aos jornalistas, [a porta-voz do Departamento do Estado Jen] Psaki respondeu: “Acho que é justo dizer que, se eles lá estavam para dar um treinamento patrocinado por nós, penso que preferiríamos que não fossem presos.
Os “turistas” ou “jornalistas” infringiram as leis russas de imigração e foram instruídos pelo Departamento de Estado dos EUA a fazer exatamente isso. E o que supunham que o serviço russo de Imigração faria? Que ignorasse a lei russa, porque o Departamento de Estado dos EUA ordenou?
Joe Bergantino |
Um dos patrocinados pelo Departamento de Estado, Joe Bergantino, que entrou na Rússia como falso “turista”, para dar aulas num workshop pago pelo Departamento de Estado dos EUA para influenciar a opinião pública em outro país, sentiu-se ofendidíssimo por a Rússia fazer o que a lei russa manda fazer. E escreveu irada carta aberta ao presidente da Rússia:
Permita-me repetir a pergunta, Sr. Putin: Tudo aquilo era mesmo necessário? É sabido que o senhor gosta de bancar o durão no cenário mundial e que a maioria do povo russo apoia a mensagem que o senhor nos envia: a Rússia é forte e exercerá a própria vontade quando bem entender.
Mas falemos cá nós dois, conversa pessoal, por um momento. (...)
O que o professor Bergantino deveria ter perguntado, e a si próprio, não ao presidente Putin, é:
“Era mesmo necessário ir à Rússia escondido por trás de declaração falsa? Era mesmo necessário infringir voluntária e premeditadamente a lei russa?”
E algum jornalista sério, que fosse mais jornalista que agente de propaganda dos EUA, por-se-ia a “denunciar” o “sujeito durão” estrangeiro, sem se preocupar com olhar o seu próprio espelho nos EUA? O que faria o Serviço de Segurança Nacional dos EUA, se coisa semelhante acontecesse nos EUA?
É fácil responder essa pergunta. Desde 2003, todos os jornalistas de todos os países do mundo que venham aos EUA têm de trazer um visto especial (e muito caro) específico para jornalistas. Mesmo no caso de países como França ou Alemanha, que mantêm amplos acordos de emissão de vistos com os EUA.
Robert Ménard |
E o que acontece quando jornalistas – mesmo que não venham patrocinados por estado estrangeiro para influenciar cidadãos norte-americanos, mas para realmente trabalhar como jornalistas – entram nos EUA sem aquele visto especial?
No fim de semana de 10-11 de maio de 2014, seis jornalistas da televisão francesa que visitavam Los Angeles para cobrir a exposição gigante E3 de videogames foram detidos para interrogatório por guardas de fronteira no Aeroporto, impedidos de entrar no país e enviados de volta à Europa. “Esses jornalistas foram tratados como criminosos –submetidos a várias revistas corporais, algemados, postos em celas e fichados”. O secretário-geral dos Repórteres Sem Fronteiras, Robert Ménard, protestou em carta (...).
Ora! Comparem isso e o que aconteceu ao Sr. Bergantino, que não foi tratado como criminoso, apenas recebeu instruções administrativas e pôde permanecer no país até a data marcada para seu voo de volta.
Que país, Sr. Bergantino, teve atitude moral e agiu com verdadeira decência?!
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). A seguir podemos ver/ouvir versão em performance de David Johansen com legendas em português.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.