sábado, 13 de junho de 2015

Metam os banqueiros na cadeia (sem “resgatar” nenhum)


Foi assim na Islândia e funcionou
9/6/2015, [*] Matthew Yglesias [atualizado], Vox Business & Finance
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Paisagem da Islândia
Ontem, o Primeiro-Ministro da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson, anunciou um plano [Islândia aprofunda controle de capitais, para ampliar a recuperação, Guardian] que, essencialmente, reforça o ineditismo e o sucesso exemplar da abordagem que a Islândia adotou para fazer frente à crise econômica — abordagem que está tendo grande sucesso, por mais que em tudo divirja do que as elites financeiras globais preferem e recomendam.
Em vez de abraçar a ortodoxia dos “resgates” de bancos, a chamada “austeridade” [não é austeridade. É ARROCHO] e o mito da inflação baixa, a Islândia fez precisamente o contrário. E, apesar de sua economia ter sido golpeada pela crise dos bancos talvez mais furiosamente que qualquer outra economia no planeta, o trabalho na Islândia não deteriorou como se viu em outros países, e o país vive hoje impressionante recuperação.
Querem saber o tamanho da recuperação da Islândia? OK. É só comparar o desemprego na Islândia, com o da Irlanda, menina dos olhos do “Pessoal Realmente Sério” (os vagabundos da troika... [Nrc]). Gráfico a seguir:
Ou comparar a evolução do desemprego na Islândia e, digamos, nos EUA. Gráfico a seguir:
E como foi que a Islândia conseguiu?
●– Os bancos que se danem
Para começar, em vez de tirar aposentadorias e salários dos mais pobres e mobilizar recursos públicos, para garantir que os bancos não dessem calote em suas várias dívidas com outros bancos, a Islândia decidiu que os bancos que se danem. Vários executivos dos bancos mais importantes da Islândia foram processados e julgados como criminosos.
●– Rejeitar a “austeridade” [não é austeridade: é ARROCHO]
Islândia - Relação Dívida/PIB desde 2008
(clique na imagem para aumentar)
Mas, sim, a Islândia sofreu recessão muito grave, que fez a relação dívida/PIB chegar à estratosfera. Mas mesmo depois de continuada piora nessa proporção, o governo manteve o sangue frio. Deu prioridade sempre à recuperação. E quando a recuperação do país afinal começou a aparecer nas ruas e na vida dos islandeses, apareceu também na proporção Dívida/PIB: a proporção começou a diminuir. E o governo deixou que continuasse a cair suavemente.
●– Desvalorizar e aceitar a inflação

Islândia - variação da inflação desde 2008
(clique na imagem para aumentar)
Já se sabe que não há almoço grátis nessa vida, e nenhum país recupera-se de recessão severa sem passar por momentos muito difíceis. Mas, enquanto países mais desenvolvidos atravessaram anos de desemprego assustadoramente alto, com inflação baixíssima, a Islândia buscou situação exatamente oposta. Deixou que a moeda nacional desabasse na relação com o dólar, o que, naturalmente, elevou ainda mais os preços.
Mas, resultado do mesmo processo, as indústrias islandesas de exportação rapidamente ganharam mercados em todo o mundo. O desemprego ainda aumentava, mas parou de aumentar quando chegou a modestos 7,6%, depois do que começou regularmente a cair. Nos EUA e na Europa [e noooooooooutros países, vocês sabem bem quais... (NTs)] a prioridade foi manter baixa a inflação, para proteger o valor do patrimônio dos mais ricos. A Islândia, não. A Islândia deu prioridade a manter os empregos. E funcionou.
●– Impor controles temporários sobre o capital
No contexto do calote de bancos e com moeda cadente, o governo entendeu que era necessário impor medidas adicionais –controle de capitais, regulações que proibiam cidadãos islandeses de retirar do país o dinheiro deles. É grave violação da ortodoxia do “livre mercadismo”. Mais importante, pode criar graves complicações para a vida dos cidadãos comuns e impedir a criação de novos negócios. Em alguns países, o controle de capitais tornou-se campo fértil para corrupção e outros crimes.
Foi o que levou alguns a concluírem que, não importa o quão bem funcionem no campo econômico, as políticas heterodoxas sempre estão condenadas fatalmente ao fracasso no campo político.
A Islândia mostra que não, não é bem assim sempre. Conceber boas políticas econômicas e conduzi-las adequadamente não é fácil, mas pode ser feito. E o proveito de fazer as coisas certas – desvalorizar massivamente a moeda, em seguida impor controles para conter a fuga de capitais, e retirar os controles logo que a economia esteja recuperada – pode ser muito, muito grande.
A Islândia passou por tempos difíceis ao longo dos últimos sete, oito anos, mas não aconteceu só com ela: muitos outros países também enfrentaram dificuldades. As coisas estão melhorando agora na Islândia, porque os governantes tiveram a coragem, a competência para, e o desejo de, rejeitar inúmeros itens dos saberes convencionais autopromovidos que tanto mal causaram a tantos outros países.
A seguir assista o vídeo: Como os ricos roubaram a recuperação, em um quadro:


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[*] Matthew Yglesias nasceu em 18/5/1981) é um jornalista americano que escreve sobre economia e política. Estudou na Dalton School (NYC) e formou-se (magna cum laudae) em filosofia em Harvard/2003. Foi Editor-Chefe da The Independent Harvard, revista semanal e contribuiu para outras publicações do campus. Blogueiro desde 2002 ainda na universidade focando sempre a política dos EUA e políticas públicas em geral. Defendeu a invasão do Iraque. Escreveu regularmente no weblog colaborativo da revista TAPPED. Seu blog pessoal foi hospedado, em vários momentos, no Blogger, Typepad, Josh Marshall's, TPMCafe, e em matthewyglesias.com. Entre 6/2007 e 8/2008 manteve coluna no The Atlantic Monthly e em 2009 mudou-se para o Center for American Progress com seu blog ThinkProgress. Em 11/2011 foi para a revista Slate. Nessa época passou a escrever para publicações mainstream como a New York Times Magazine e aparições em rádio e TV como comentarista político. Em 2014 deixou a Slate e montou a Vox Mídia associado com Ezra Klein. Yglesias é membro do Partido Republicano e eleitor de Mitt Romney.

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