domingo, 14 de junho de 2015

G7: Moedas a proteger, países a bombardear


Salve-se o “Nº 1” e danem-se as consequências
12-14/6/2015, [*] Vijay Prashad, Counterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Membros do G7 -  ao fundo o Schloss Elmau
Os membros do G7 acabam de concluir sua 41ª reunião de cúpula. Presidentes e primeiros-ministros de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, do Reino Unido e dos EUA reuniram-se num majestoso palácio bávaro, o Schloss Elmau. Localização perfeita para o convescote dos Masters of the Universe.
Proclamam que a ocupação deles todos é manter a ordem do mundo. Na verdade, o que mais os interessa é preservar, custe o que custar, o próprio poder.
A primeira reunião do G7 aconteceu em 1974 no Castelo de Rambouillet – grande castelo feudal na França. O objetivo daquela reunião era que os estados do G7 encontrassem estratégia comum para enfrentar o cartel de petróleo da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e para a Nova Ordem Econômica Mundial (NOEM).
A OPEP havia reduzido a oferta, para fazer subir os preços do petróleo cru, o que ameaçava o crescimento econômico nos países industrializados avançados. A NOEM havia sido aprovada na Assembleia Geral da ONU, com apoio dos estados do Terceiro Mundo.
E exigia-se pois uma nova arquitetura econômica e política internacional para beneficiar as nações mais pobres. O G7 foi criado para quebrar as duas coisas, a OPEP e a NOEM. Em larga medida, conseguiu.
Engolir inteiro o mundo
Depois da extinção da URSS em 1991, o G7 incluiu a Rússia em sua órbita, e em 1994 converteu-se em G8. A questão então era criar suficiente consolidação que impedisse a emergência de um novo polo econômico e político no planeta – que já se via no horizonte, com o crescimento da China.
Com a crise financeira mundial em 2007, o ocidente já muito puído, virou-se na direção do bloco dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em busca de liquidez financeira.
BRICS - dados econômicos
A promessa foi que se esses estados, principalmente a China, oferecessem fundos ao sistema financeiro mundial, o G8 seria suspenso em favor de um G20. A China aceitou. A promessa de esvaziar o G7 foi rapidamente posta de lado, no instante em que os bancos sentiram-se seguros. O G20 foi adiado.
A confiança cresceu no ocidente depois da intervenção da OTAN na Líbia, em 2011. Hoje se vê que não apenas o sistema financeiro foi salvo, mas o intervencionismo “humanitário” também ofereceu legitimidade suficiente ao ocidente para usar sua força militar superior e passar a “governar” o planeta.
A pressão do ocidente contra o Irã a partir de meados dos anos 2000s intensificou-se, quando as tensões com a Rússia vieram afinal à luz em torno da Síria e da Ucrânia. O G8 suspendeu a Rússia, como membro, em 2014. Na mais recente reunião do G7, a Rússia foi alvo da retórica mais ensandecida. O Presidente dos EUA, Barack Obama, perguntou, sobre o presidente da Rússia, Vladimir Putin:
Será que ele continua a destroçar a economia de seu país e a manter o isolamento da Rússia, movido por um mais orientado desejo de recriar as glórias do império soviético?
Se o império soviético já vai longe, há muito tempo, a ambição ocidental de vir a comandar a política mundial permanece intacta. Contradições na política do G7 afetam a Europa muito mais do que afetam os EUA. Dois grandes fornecedores de energia para a Europa ocidental – Irã e Rússia, estão sob as sanções promovidas pelos EUA através do G7; e a Líbia, outro grande fornecedor de energia, foi completamente destruída, literalmente, na guerra da OTAN e na sequência.
É a Europa que se vê obrigada a suportar os mais pesados custos dos excessos do G7. A chanceler alemã Angela Merkel, poderia perfeitamente perguntar a seu colega Obama se o que ele mais deseja é destruir a economia da Europa, movido pela malfadada ambição de perpeturar a hegemonia dos EUA.
O G7 – como descobri durante as pesquisas para meu livro sobre o grupo, The Poorer Nations – só muito raramente divulga seus principais debates.
G7 mais União Europeia
Os pronunciamentos públicos nos anos 1970s foram gestos sobre estabilidade e ordem. No privado, os governantes discutiram em termos bem práticos o que fazerem para mais açoitar a OPEP e o bloco do Terceiro Mundo por todos os meios necessários, inclusive gerando instabilidade.
Só bico, nada de ação
Na mais recente reunião, os Masters of the Universe prometeram deixar para trás os combustíveis fósseis até o final do século XXI (dentro dos próximos 85 anos); e acabar com a pobreza no mundo, até 2050. Nada de programa de ação, só promessas ocas.
O que foi discutido em segredo seria muito mais interessante, mas teremos de esperar décadas antes de poder ler as transcrições das reuniões secretas.
Na antessala, esperando que lhe concedessem uma audiência, estava o Primeiro-Ministro do Iraque, Haider al-Abadi. Disseram a ele que o G7 “concordou em trabalhar junto para continuar a combater o terrorismo”. Como farão tão coisa? O G7 não tem nem a mais pálida ideia.
Ainda não temos estratégia completa – disse Obama na conclusão da reunião – porque isso exige compromissos a serem assumidos pelos iraquianos.
Já faz um ano que os EUA e seus aliados – apoiados pelo G7 – bombardeiam sem parar o Iraque e a Síria, mas, pelo que agora se vê, sem qualquer tipo de estratégia.
Ainda não temos plano finalizado, porque os iraquianos ainda não nos deram plano algum – disse Obama.
Os Masters of the Universe exigem para si o direito de determinar todos os assuntos planetários, de usar força militar como bem entendam, e ainda manifestam o mais descarado desdém por seus aliados subalternos.

E Obama deu as costas a Abadi...
Obama deu as costas a Abadi, que parecia ansioso para dizer mais. Obama meteu-se em animada conversa com o Primeiro-Ministro da Itália, Matteo Renzi, e com a Presidenta do FMI, Christine Lagarde. Abadi lá ficou, falando sozinho. Ninguém prestou atenção nele. Acabou por se afastar. Parece que não percebeu que fora descartado quando Obama lhe deu as costas.
Os Masters of the Universe estavam ocupadíssimos com eles mesmos. Têm moedas a proteger e países a bombardear.
__________________________________
[*] Vijay Prashad fé professor de Estudos internacionais no Trinity College. Dentre outros livros, é autor de The Darker Nations: A People’s History of the Third World e Arab Spring, Libyan Winter.
Publica artigos regularmente em Asia Times Online, Frontline Magazine e Counterpunch. É usualmente entrevistado pela TRNN - The Real News Network sobre Geopolítica e Política internacional; é também Atualmente é Editor-Chefe de LeftWord Books, Delhi, Índia. É colunista de al-Araby al-Jadeed e Information Clearing House. Seu mais recente livro é No Free Left: the Futures of Indian Communism.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.