Comentário (introdução) da Vila Vudu
Recebemos, repassamos. É artigo útil pela quantidade de fontes que reúne. Todas são fontes jornalísticas.
Então, quem quiser descartar metade do mundo sob o argumento de que isso aí seriam "paranóias de conspiração", comece a ler pelas notas e veja que, aí, só há matérias JORNALÍSTICAS PUBLICADAS (algumas já traduzidas e distribuídas aqui).
Então, se o Sêo Clóvis Rossi e D. Eliane quiserem INSISTIR no bobajol que escrevem à guisa de “comentário sobre situação internacional” fiquem sabendo, desde já, que HÁ NO MUNDO melhor jornalismo que o deles.
Boa parte da blogosfera NÃO LÊ jornais brasileiros nem dá qquer bola para opiniões de williamswaacks: por isso, é mais bem informada. 8-)))
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Peter Dale Scott |
25/3/2011, Peter Dale Scott, Global Research
Enviado e comentado pelo pessoal da Vila Vudu
PREFÁCIO
O mundo enfrenta situação de final imprevisível e potencialmente perigosa no norte da África e no Oriente Médio. O que começou como realização memorável, promissora, relativamente não-violenta de uma Nova Política – as revoluções na Tunísia e no Egito, foi sendo convertido subrepticiamente em recrudescência de velhos vícios: os EUA já envolvidos em duas guerra há duas décadas, no Iraque e no Afeganistão, com ataques aéreos esporádicos no Iêmen e na Somália, agora já bombardeiam mais um país do terceiro mundo, dessa vez a Líbia.
O objetivo inicialmente declarado desse bombardeio foi fazer diminuir o número de mortes entre os civis. Mas muitas altas figuras do governo dos EUA, entre os quais o presidente Obama, apressaram-se a sugerir que essa seria guerra diferente para alteração de regime; é o tipo de intervenção que muito rapidamente se pode aprofundar, além de poder alastrar-se para fora da Líbia (1). Se se expandir, a esperança de transição não violenta para governo civil na Tunísia e no Egito e em outras nações do Oriente Médio cujos governos enfrentam levantes populares poderá levar a nada ou, mesmo, perder para movimento de ainda maior militarização do governo, especialmente no Egito. Interessa ao mundo, não só aos egípcios, lutar para que isso não aconteça.
Esse artigo não visa a propor soluções nem a prescrever um curso de ação para os EUA e seus aliados nem para os povos do Oriente Médio. Visa só a examinar a natureza das forças que emergiram na Líbia ao longo dos últimos 40 anos e que se veem hoje em disputa, aos olhos do mundo [absolutamente ou mal informado ou ativamente desinformado].
Com esse objetivo, comecei a coletar o que tenho chamado de meu “Notebook Líbio” [ing.my Libyan Notebook] – um arquivo de fatos relevantes que subjazem à atual crise líbia.
Esse meu Notebook Líbio não visa a ser isento, uma vez que tentei coletar fatos que a mídia dos EUA quase sempre ignorou e ignora, fatos que são resultado de outras várias e diferentes posições de jornalismo investigativo e que visam a chegar ao coração das relações de poder, às estruturas mais profundas e aos interesses econômicos na Região, dos EUA, de Israel e dos Estados Árabes, como se deixaram ver, mesmo que nem todos tenham visto, ao longo de, no mínimo, vinte anos. Mas tenho esperança de ser objetivamente útil e de não forçar qualquer conclusão, de modo a que diferentes projetos possam inferir diferentes conclusões de um mesmo conjunto de dados (2).
Quero começar com dois tópicos sempre mal compreendidos: I. Quem é a oposição na Líbia?, e II. Quem está armando a oposição na Líbia?
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I. Quem é a oposição na Líbia?
1) Historicamente:
“Se Muammar Al Gaddafi agiu como paranoico, não lhe faltam motivos. Há muito tempo, desde que, aos 27 anos, liderou um pequeno grupo de jovens militares em golpe de estado sem derramamento de sangue, que derrubou o rei líbio Idris, dia 1/9/1969, ele enfrenta ameaças a seu governo e à sua vida – de monarquistas, do Mossad israelense, de inimigos que fez entre os palestinos religiosos, da segurança dos reis sauditas, da Frente Nacional de Salvação da Líbia [ing. National Front for the Salvation of Libya (NFSL)], da Conferência Nacional para a Oposição na Líbia [ing. National Conference for the Libyan Opposition (NCLO)], de espiões britânicos e norte-americanos e, a partir de 1995, a mais grave de todas, de um grupo de combatentes islâmicos, que se constituiu na Líbia pelo molde da Al-Qaeda, conhecido como Al-Jama’a al-Islamiyyah al-Muqatilah bi-Libya. O coronel sempre reagiu com brutalidade, mas não expulsou nem mandou matar os que ele sempre soube que lhe faziam oposição” (3).
2) A Frente Nacional para a Salvação da Líbia [ing. National Front for the Salvation of Libya (NFSL)
“Com o objetivo de derrubar o homem forte da Líbia Muammar Khadafy, EUA e Israel treinaram rebeldes anti-Líbia em vários países do ocidente e da África Central. Dia 5/1/1989, o e-jornal African Confidential, com sede em Paris, noticiou que EUA e Israel haviam implantado várias bases no Chad e em países vizinhos, para treinar 2.000 rebeldes líbios capturados pelo exército do Chad. Esse grupo, conhecido como Frente Nacional para a Salvação da Líbia, criou suas bases no Chad” (4).
“Documentos oficiais dos EUA indicam que a guerra secreta contra a Líbia a partir do Chad foi projeto financiado por Arábia Saudita, Egito, Marrocos, Israel e Iraque. Os sauditas, por exemplo, doaram $7m a um grupo de oposição, a Frente Nacional para a Salvação da Líbia (apoiado também pela inteligência francesa e pela CIA). Mas um plano para assassinar Gadafi e tomar o governo, iniciado dia 8/5/1984, foi descoberto e neutralizado. No ano seguinte, os EUA pediram ao Egito que invadisse a Líbia e derrubasse Gadafi, mas Mubarak não concordou. No final de 1985, o jornal Washington Post divulgou o plano, depois de divulgada uma carta de líderes no Congresso, que se opunham ao plano, dirigida ao presidente Reagan” (5).
“A Frente Nacional para a Salvação da Líbia foi parte da Conferência Nacional para a Oposição na Líbia, realizada em Londres em 2005, e usaram-se recursos britânicos para apoiar a FNSL e outros grupos da oposição a Gaddafi (...) A FNSL realizou seu congresso nacional nos EUA, em julho de 2007. Matérias sobre “atrocidades” e mortes de civis são regularmente distribuídas para a mídia ocidental por grupos que operam em Washington DC, e há informes sobre ataques militares contra Gaddafi, ditos “da resistência” organizados pela FNSL, tanto fora da Líbia quanto em território líbio” (6).
3) A Conferência Nacional para a Oposição na Líbia [ing. National Conference for the Libyan Opposition (NCLO)]
“O principal grupo sempre à frente de insurreições é a Conferência Nacional para a Oposição na Líbia, que inclui a Frente Nacional para a Salvação da Líbia (ing. NFSL). A NFSL, que lidera a violência é uma milícia armada patrocinada pelos EUA, constiuída quase exclusivamente de exilados líbios e tribos que se opõem ao governo de al-Qaddafi” (7).
4) Al-Jama’a al-Islamiyyah al-Muqatilah bi-Libya (Grupo de Combatentes Islâmicos pela Líbia) [ing. Libyan Islamic Fighting Group, LIFG]
“O LIFG foi fundado em 1995 por um grupo de veteranos mujahideen que combateram contra a ocupação soviética no Afeganistão. Depois de voltarem à Líbia, revoltaram-se contra o que viam como sinais de corrupção e “governo ímpio” na Líbia e formaram o LIFG, cujo objetivo é criar estado religioso o qual, para eles, corresponderia ao verdadeiro caráter do povo líbio.
A ação mais significativa do LIFG foi o atentado, em 1996, para matar Gadhafi; membros do LIFG, liderados por Wadi al-Shateh jogaram uma bomba sobre o carro em que Gaddafi viajava. O grupo também organizou ataques guerrilheiros contra forças de segurança do estado, a partir de bases nas monhanhas. Embora a maioria dos membros do LIFG sejam exclusivamente dedicados a derrubar Gaddafi, há relatos de inteligência sobre alguns de seus membros que se teriam aliado à al-Qaida, em ações de jihad contra a Líbia e contra interesses ocidentais em vários lugares do mundo.
Em fevereiro de 2004, o então diretor da CIA George Tenet em depoimento ao Comitê de Inteligência do Senado disse que “uma das ameaças mais imediatas à segurança dos EUA é uma pequena organização de grupos sunitas extremistas, que se vale de laços com a al-Qaeda, Entre esses grupos (...), o Grupo de Combatentes Islâmicos pela Líbia” (8).
“Recentemente, oficiais líbios distribuíram informes de segurança com detalhes sobre Sufiyan al-Koumi, que seria um dos motoristas de Osama bin Laden, e de outro militante. Dizem os informes, envolvido num “emirado islâmico” em Derna, na região leste da Líbia. Esses informes mostram que Koumi foi libertado em setembro de 2010, como parte de uma iniciativa de “arrependimento e reforma” organizado por Saif al-Islam, filho de Gaddafi. (...)
O LIFG, criado no Afeganistão nos anos 1990s, assassinou dúzias de soldados e policiais líbios. Em 2009, nos 40 anos de governo de Gaddafi, o grupo arrependeu-se publicamente por haver tentado matá-lo e depôs armas. O MI6 [inteligência britânica] foi várias vezes acusado no passado de apoiar o grupo. Seis líderes do LIFG, que permanecem presos, renegaram as táticas passadas e declararam que combater o governo de Gaddafi já nada tinha a ver com qualquer jihad “legítima”. Abdul-Hakim al-Hasadi, outro membro do LIFG que foi libertado, negou o que o governo divulgava sobre o grupo. “Gaddafi tenta dividir o povo” – declarou à al-Jazeera. “Diz que há um emirado islâmico em Derna e que o emir sou eu. Está tentando tirar vantagem de eu ter sido prisioneiro político”.
Derna é região conhecida como região natal de grande número de suicidas-bomba no Iraque. É região de gente profundamente hostil a Gaddafi. “Habitantes do leste da Líbia em geral, e de Derna em especial, veem a tribo Gaddadfa (tribo de Gaddafi) como gente mal educada, oportunista, inconseqüente, que “roubou para eles mesmos” o direito de governar a Líbia” – como diplomatas dos EUA ouviram em 2008 e informaram ao Departamento de Estado, por telegrama publicado por WikiLeaks.
Os últimos 110 membros do LIFG foram libertados dia 16/2/2011, um dia depois que começou o levante popular na Líbia. Um dos prisioneiros libertados, Abdulwahab Mohammed Kayed, é irmão de Abu Yahya Al Libi – dos principais estrategistas da al-Qaida. Koumi, antes, deixara a Líbia, viajara para o Afeganistão, onde acabou trabalhando para Bin Laden. Foi capturado no Paquistão, entregue aos EUA e, em 2002, foi mandado para Guantánamo. Em 2009 foi mandado de volta à Líbia (9).
Especialistas em contraterrorismo dos EUA manifestaram preocupações de que a al-Qaida tire vantagem de um vácuo de poder que se criaria se Gaddafi for derrubado. Mas a maioria dos analistas dizem que, embora a ideologia islamista tenha grande penetração no leste da Líbia, não há sinais de que os protestos venham a ser ‘capturados’ por esses extremistas (10) .
“Em setembro de 1995, irromperam violentos confrontos entre forças de segurança de Gaddafi e guerrilheiros islamistas em Benghazi, que deixaram dezenas de mortos dos dois lados. Depois de semanas de combate intenso, o Grupo de Combatentes Islâmicos pela Líbia) [ing. Libyan Islamic Fighting Group, LIFG] declarou formalmente sua existência, em communiqué no qual acusava o governo de Gaddafi de ser “regime apóstata que blasfemou contra a fé no Todo Poderoso” e que derrubar o regime de Gaddafi seria “principal dever dos muçulmanos, depois da fé em Deus” (3) .
Esse e comunicados subseqüentes do LIFG foram distribuídos por afegãos-líbios que receberam asilo político na Grã-Bretanha (...). O envolvimento do governo britânico na campanha do LIFG contra Gaddafi ainda é objeto de muita controvérsia.
A grande operação seguinte do LIFG, um atentado fracassado para matar Gaddafi em fevereiro de 1996, que matou vários de seus guarda-costas, teria sido financiado pela inteligência britânica, ao custo de $160 mil libras, segundo depoimento de um ex-agente do MI5, David Shayler (4). As declarações de Shayler jamais puderam ser confirmadas, mas é bem claro que os britânicos permitiram que o LIFG criasse base de apoio logístico e levantassem fundos em solo britânico. Seja como for, o financiamento que receberam de bin Laden parece ter sido muito mais significativo. Há relatos de inteligência que dizem que os islamistas do LIFG receberam cerca de 50 mil libras, do mais conhecido terrorista saudita, por cada inimigo morto no campo de batalha” [2005] (11).
“EUA, Grã-Bretanha e França são hoje companheiros em armas dos islamistas do Al-Jama’a al-Islamiyyah al-Muqatilah bi-Libya (Grupo de Combatentes Islâmicos pela Líbia) [ing. Libyan Islamic Fighting Group, LIFG], o grupo mais radical da rede al-Qaeda [na luta para derrubar Gaddhafi].
A secretária de Estado Hillary Clinton admitiu os riscos dessa aliança nada-santa, em audiência no Congresso; disse que a oposição líbia é provavelmente mais anti-EUA que o próprio Muammar Gaddhafi. Há uma década, essa mesma fantasia de que alguma parceria seria algum dia possível entre o ocidente e os extremistas islâmicos no Kosovo, na Bósnia e na Chechênia acabou abrupta e violentamente nos ataques do 11 de setembro” (12).
5) Conselho Nacional de Transição [ing. ex-Transitional National Council, hoje já Interim National Council, INC]
“Um governo de transição rival do líder líbio parece estar recebendo apoio dos EUA e de outras forças internacionaais, enquanto cresce o movimento para depor o ditador Muammar Gaddafi.
A secretária de Estado Hillary Clinton confirmou ontem que há contatos entre o governo Obama e a oposição ao coronel Gaddafi. Disse que os EUA estão dispostos a oferecer “qualquer tipo de ajuda” para tirá-lo do poder.
Os líderes políticos que assumiram o controle armado das cidades do leste da Líbia dizem te estabelecido um “conselho nacional” de transição que, de fato, é governo rebelde. Conclamaram o exército líbio a unir-se a eles, no ataque à capital Tripoli, onde Gaddafi mantém seu governo.
Certa de que os 42 anos de governo de Gaddafi chegaram ao fim, a Sra. Clinton disse ontem: “Assistimos ao começo do que virá depois de Gaddafi’” (13) .
6) Facebook
“Omar El- Hariri, Chefe das Forças Armadas do Conselho Nacional de Transição, esteve sob cerrada vigilância das forças de segurança de Gaddafi até o dia 17/2/2011, quando a revolução começou. A revolução não foi iniciada por figuras da velha geração, disse Hariri, mas “começou espontaneamente, quando Tunísia e Egito inspiraram os jovens. São as crianças do Facebook!”, disse Hariri em inglês, num amplo sorriso” (14).
7) Petróleo
“Os rebeldes líbios em Benghazi disseram que já criaram outra empresa nacional de petróleo, em substituição à corporação contratada pelo ditador Muammar Qaddafi, cujos bens foram congelados por decisão do CSONU.
O Conselho Nacional de Transição divulgou declaração em que anuncia a decisão tomada em reunião do dia 10/3, de cria a “Libyan Oil Company”, como autoridade que supervisionará a produção de petróleo e as políticas nacionais do petróleo no país. A nova empresa tem sede temporária em Benghazi, e já há um diretor geral de provisório da nova empresa, já nomeado.
O Conselho também informou que designou o Banco Central de Benghazi como autoridade competente para definir as políticas monetárias na Líbia; e que já foi nomeado o presidente do Banco Central da Líbia, com sede provisória em Benghazi” (15).
II. Quem está armando a oposição na Líbia?
“Desesperadamente necessitado de evitar qualquer envolvimento direto do exército dos EUA na Líbia, no caso de luta prolongada entre o regime de Gaddafi e seus opositores, os EUA consultaram a Arábia Saudita sobre a possibilidade de fornecer armas aos rebeldes em Benghazi.
Os sauditas foram informados de que, como artigos de primeira necessidade para resistir aos tanques de Gaddafi, os grupos da oposição estão carentes de foguetes antitanque e morteiros, além de também precisarem de mísseis terra-ar, para resistir aos jatos-bombardeiros.
Tais artigos de primeira necessidade poderiam chegar a Benghazi em 48 horas, mas teriam de ser entregues em bases aéreas em território líbio ou no aeroporto de Benghazi. Se os rebeldes conseguirem manter a ofensiva e atacarem as fortalezas de Gaddafi no oeste da Líbia, a pressão política que fazem EUA e OTAN – além da pressão que o Partido Republicano faz hoje no Congresso, para que se estabeleça uma zona aérea de exclusão [ing. a no-fly zone] – diminuiriam.
Os estrategistas militares dos EUA já informaram que, para estabelecer qualquer tipo de zona aérea de exclusão, é indispensável que a capacidade de ataque dos EUA contra a Líbia esteja ativa; com o quê, Washington já estaria diretamente inserida na guerra, ao lado dos que se opõem a Gaddafi.
Já há vários dias, os aviões espiões do Sistema Aerotransportado de Alerta e Controle (ing. Airborne Warning and Control System, AWACS) dos EUA circulam em torno de território líbio, em contato permanente com o controle aéreo de Malta, pedindo informações sobre os aviões líbios nas últimas 48 horas, planos de voo e rotas, inclusive todos os planos de voo do jato privado de Gaddafi – que voou da Líbia à Jordânia e de volta à Líbia, pouco antes do fim de semana.
Oficialmente, a OTAN diz que a presença dos aviões espiões norte-americanos é parte da Operação Active Endeavour, rotina depois do 11/9, com vistas a preservar a capacidade para ações antiterrorismo no Oriente Médio.
Os dados obtidos pelos aviões espiões são distribuídos para todos os países da OTAN, nos termos das regras para as missões em andamento. Agora, depois que Gaddafi voltou a ser classificado como super terrorista na cartilha ocidental, a OTAN pode facilmente ser usada para localizar janelas de oportunidade para ataques contra a Líbia, no caso de serem iniciadas operações militares ativas.
O canal de televisão Al Jazeera, em inglês, divulgou gravações dos aviões robôs, dos registros de tráfego aéreo de Malta, em que os aviões robôs pedem informação sobre voos de aviões líbios e insistem sobre voos do jato privado de Gaddafi.
Os contatos feitos por um avião espião AWACs dos EUA, identificado pelo número de fuselagem LX-N90442 foram ouvidos, falando com a torre de controle de voo de Malta, no sábado, pedindo informes sobre um jato líbio, Dassault-Falcon 900, 5A-DCN, no voo entre Amman e Mitiga, aeroporto VIP de Gaddafi.
Ouve-se o AWACS 07 da OTAN, que diz: “Vocês têm informação sobre aeronave Squawk 2017, posição leste, a cerca de 85 milhas ‘da gente’ [ing. position about 85 miles east of our [sic]]?”.
Depois de enviar muitos soldados e a polícia política para a província de Qatif, semana passada, os sauditas proibiram completamente todas as manifestações de rua.
Os organizadores xiitas dizem que haverá 20 mil manifestantes nas ruas e que as mulheres apresentaram-se para ir à frente, para evitar que o exército abra fogo.
Se os sauditas atenderem ao pedido dos EUA e mandarem armas e mísseis para os rebeldes líbios, ficará quase impossível que o presidente Obama condene qualquer violência contra os xiitas nas províncias do nordeste.
Assim, como se vê, o despertar árabe, os clamores populares por democracia no norte da África, a revolta dos xiitas e o levante contra Gaddafi converteram-se, em apenas poucas horas, em problema militar prioritário para os EUA, no Oriente Médio”. (16)
“Relatos da região sugerem que os sauditas e egípcios têm fornecido armas aos rebeldes líbios. Funcionários dos EUA não confirmaram, mas dizem que é plausível” (17).
“CAIRO. Militares egípcios começaram a embarcar armas para o outro lado da fronteira, para os rebeldes líbios, com pleno conhecimento de Washington, dizem oficiais rebeldes líbios.
As armas embarcadas, quase todas armas leves como rifles de assalto e munição, parecem ser o primeiro caso confirmado de governo estrangeiro armando combatentes rebeldes. Esses combatentes têm perdido terreno para as forças de Gaddafi que avançam rumo oeste.
O embarque de armas egípcias é o mais forte sinal, até agora, de que alguns países árabes estão atendendo ao pedido dos EUA para participar do esforço a favor dos rebeldes democratas na luta contra Gaddafi na Líbia. Washington e outros países ocidentais já se manifestaram, lastimando que tantos estados árabes não mostrem disposição de ajudar a superar a crise em sua própria região e, mesmo, critiquem as potências ocidentais em sua luta pró democracia..
O embarque de armas vem depois de uma muito clara e rara resposta diplomática dos países árabes. Só raras vezes se ouviram países árabes solicitar tão claramente a intervenção militar estrangeira em país árabe, com, inclusive, pedido aprovado pelos 23 membros da Liga Árabe, para que a ONU implantasse uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia.
Essa manifestação da Liga Árabe oferece a indispensável cobertura política de que os EUA careciam para promover a intervenção militar; o ocidente sabe que não poderia intervir militarmente na Líbia sem autorização ampla, geral e irrestrita das comunidades internacional e regional. Na 5ª-feira à noite, o CS-ONU aprovou resolução que autoriza a implantação de zona área de exclusão na Líbia e autoriza ação militar de apoio aos rebeldes.
Coube ao Líbano produzir o primeiro rascunho da resolução, que autoriza a que se tomem “todas as medidas necessárias” para impedir que haja voos sobre a Líbia. Os Emirados Árabes Unidos e o Qatar foram os primeiros países árabes que se ofereceram para participar da implantação da zona aérea de exclusão, segundo diplomatas da ONU.
Militares do governo rebelde em Benghazi, de fato, desde os primeiros dias do levante têm elogiado o Qatar, declarado seu mais firme aliado. Nos bastidores, o Qatar fez campanha cerrada a favor de dura e imediata intervenção dos EUA a favor dos rebeldes líbios. Em Benghazi, desde os primeiros dias, veem-se muitas bandeiras do Qatar. Depois de as forças pró-Gadhafi terem retomado a cidade de Ras Lanuf, semana passada, a TV estatal líbia exibiu imagens de contâineres de alimentos encontrados na cidade, nos quais se via a bandeira do Qatar.
Forças anti-Gaddafi em Benghazi
A Casa Branca resiste aos apelos de líderes no Congresso para que envie armas diretamente aos rebeldes líbios, sob o argumento de que os EUA precisam, antes, saber exatamente quem são os rebeldes e que objetivos políticos têm para o país, no caso de conseguirem derrubar o governo de Gadhafi. Conselheiros e especialistas do governo dos EUA creem que haja elementos islamistas radicais entre a oposição a Gaddafi. Temem que grupos radicais hostis aos EUA estejam infiltrados na oposição e confisquem as armas que sejam enviadas.
As armas egípcias começaram a ser despachadas “há poucos dias” e continuam a ser embarcadas, disse um alto oficial do governo dos EUA. “Mas não há qualquer política formal, nem qualquer reconhecimento formal dos EUA sobre a iniciativa do Egito”.
Tentamos entrar em contato com o ministérios das Relações Exteriores do Egito e com o porta-voz do primeiro-ministro para que comentassem essas notícias, mas não obtivemos resposta. Nenhum militar egípcio quis comentar o noticiário. Funcionária da embaixada do Egito em Washington disse que não tinha notícia de embarques de armas.
Militares norte-americanos consultados disseram que o envio de armas, se houvesse, seria “pequeno demais, tardio demais” para alterar o equilíbrio de forças a favor dos rebeldes, que já teriam sido massacrados pelo exército líbio, com tanques e artilharia pesada aérea e de solo.
“Sabemos que os militares do conselho militar egípcio está nos ajudando, mas não pode ser ajuda muito visível” – disse Hani Souflakis, empresário líbio no Cairo que tem servido como elo de ligação entre os rebeldes líbios e o governo egípcio desde o início do levante.
“Mesmo assim, as armas estão chegando” – disse Souflakis. Disse também que tem feito contatos regulares com militares egípcios no Cairo e com líderes rebeldes na Líbia. “Os EUA deram luz verde para que os egípcios ajudassem a Líbia. Os EUA não querem aparecer envolvidos diretamente, mas os egípcios nada fariam se não tivessem sido autorizados pelos EUA.”
Funcionários ocidentais e líderes rebeldes na Líbia disseram que os EUA insistiam em não ser vistos como líderes de qualquer ação militar contra Gadhafi, depois que as invasões contra o Iraque e o Afeganistão dispararam a fúria antiamericana em toda a região.
Mas os EUA disseram claramente que “Gadhafi tem de sair”; assim deixou bem claro que ajudaria os rebeldes, militarmente ou por outras vias. (...)
Porta-voz do governo rebelde, Mustafa al-Gherryani , disse que “Nosso comando militar está comprando armas para armar o povo. As armas estão chegando, mas não posso falar sobre o tipo, a quantidade, a origem das armas”.
Funcionários dos EUA disseram que o Egito não queria divulgar que estava enviando armas aos rebeldes líbios. Em público, o Egito tentava manter posição neutra em relação à Líbia. Na votação da Liga Árabe que aprovou o pedido ao CSONU para que impusesse uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia de Gadhafi, o Egito absteve-se de votar – disse esse especialista norte-americano, que conhece o regime de deliberações da Liga Árabe.
Por outro lado, o apoio militar egípcio aos rebeldes, ainda que discreto, sugere que os militares egípcios avaliam que Gadhafi não se manterá no poder; assim, interessaria ao Egito começar a construir boas relações com um futuro governo egípcio (...), pensando também em manter na Líbia as centenas de milhares de trabalhadores egípcios que lá vivem (Sam Dagher e Adam Entous contribuíram para esse artigo) (18, 19).
Al-Qaeda e Jihadistas
“Talvez intrigue e decepcione os jovens manifestantes de Benghazi, Cairo e Tunísia saber que suas esperanças democráticas estão sendo manipuladas pela elite árabe ultraconservadora que já organizou e já pôs em marcha um levante de militantes islâmicos radicais no norte da África. Informes confiáveis da inteligência dos EUA dão conta que o Qatar há muito tempo apoia a Fraternidade Muçulmana, a Al Qaeda e combatentes jihadistas que voltam do Afeganistão.
Os laços com o Qatar, descobertos em investigações de contraterrorismo logo depois do 11/9 devem ser reexaminados, agora que o LIFG (Grupo de Combatentes Islâmicos pela Líbia) de ex-afiliados da Al Qaeda já se engajou ao lado dos “rebeldes” líbios. O LIFG está na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado; e a Líbia tem bem abastecidos arsenais de explosivos, lança-granadas e armas químicas (20) (...).
Depois de ter deixado vazar que os primeiros protestos na Líbia foram organizados pelos militantes islâmicos do LIFG, a rede Al Jazeera rapidamente mudou a linha da cobertura e passou a distribuir incansáveis repetições de notícias e comentários que, todos, apresentavam os eventos como “protestos pacíficos”. Para explicar os soldados líbios mortos durante o levante, a rede apresentou um cenário bizarro de 150 soldados líbios que teriam sido executados pelos próprios comandantes, “porque se recusaram a combater”. Os misteriosos oficiais sumiram misteriosamente da base e desapareceram no ar, quando estavam cercados por furiosos manifestantes! Em declarações off the record, um analista de inteligência dos EUA disse que essas notícias “não passam de mais absurdos da mídia” e sugeriu que a verdade seria menos gloriosa para o exército líbio: os soldados teriam sido executados, sim, mas por milícias armadas de jihadistas que combateram no Iraque e no Afeganistão e que estariam já aliados aos “rebeldes” líbios (...) (20).
NOTAS
1 “O secretário de Defesa Gates, que recentemente alertou contra o risco para os EUA de uma guerra de ocupação prolongada, disse, dia 23/3, que o fim da ação militar na Líbia é indeterminado e a ação pode durar mais que algumas semanas: “Acho que há vários resultados possíveis e ninguém hoje pode antever coisa alguma” – disse Gates a jornalistas no Egito” (C-Span, March 24, 2011). Em português, o mesmo comentário foi anotado em MK Bhadrakumar, 23/3/2011, “A estratégia (e os temores) dos EUA na Líbia”, 21/3/2011, Blog Beatrice.
4 Joel Bainerman, Inside the Covert Operations of the CIA & Israel’s Mossad (New York: S.P.I. Books, 1994), 14.
8 Center for Defense Information, “In the Spotlight: The Libyan Islamic Fighting Group (LIFG),” 18/1/2005.
9 Gaddafi preocupa-se há muito tempo com o terrorismo de Al-Qaeda na Líbia; em 1996, a Líbia foi o primeiro país a requerer que Osama bin Laden fosse incluído na lista dos Mais Procurados da Interpol (Rohan Gunaratna, Inside Al Qaeda: Global Network of Terror [New York: Columbia UP, 2002], 142). Depois disso, agentes de segurança de EUA e da Líbia trabalharam por muito tempo, em íntima associação, em programas contra a Al Qaeda. Não se sabe quando essa colaboração começou, mas não há dúvidas de que aconteceu. [Há pelo menos um telegrama diplomático publicado por WikiLeaks que a comprova. Ver “Senadores McCAIN, Lieberman e outros Republicanos discutiam “SEGURANÇA” com... MUAMMAR e MUATASSIM AL-QADHAFI, em Trípoli, há dois anos...”.
11 Gary Gambill, “The Islamic Fighting Group (LIFG), Jamestown Foundation", Terrorism Monitor, 5/5/2005 (); citing Al-Hayat (London), 20/10/1995 [“communiqué”]; “The Shayler affair: The spooks, the Colonel and the jailed whistle-blower,” The Observer(Londres), 9/8/1998; Jean-Charles Brisard and Guillaume Dasquié, Ben Laden: La Verite interdite (Bin Ladin: The Forbidden Truth). Cf. also Annie Machon, Spies, Lies and Whistleblowers: MI5, MI6 And the Shayler Affair (Book Guild Publishing, 2005) [Shayler].
14 “How a onetime friend to Gadhafi became his rival,” Globe and Mail [Toronto], 4/3/2011.
20 Yoichi Shimatsu, “Mideast Revolutions and 9-11 Intrigues Created in Qatar,” New America Media, 1/3/2011. Que a família al-Thani dava proteção a Khalid Shaikh Mohammed é confirmado pelo ex-agente da CIA Robert Baer (Los Angeles Times, 23/3/2011 ). Cf. Robert Baer, Sleeping with the Devil (New York: Crown, 2003); Peter Lance, Triple Cross (New York: Regan/HarperCollins, 2006), 234-37.