quarta-feira, 9 de junho de 2010

Da história dos EUA – Intolerância religiosa

Posted on 09/06/2010 by Antonio Ozaí da Silva

Em 11 de dezembro de 1620, desembarcou em New Plymouth (depois Massachusetts), os primeiros colonos do Mayfloyer, um velho barco cargueiro alugado por dissidentes calvinistas ingleses – e alguns holandeses. Liderados por William Bradford e William Brewster, eram puritanos não conformistas que criticavam a Igreja Anglicana que, na opinião deles, ainda se mantinha vinculada aos rituais romanos (papado). Foram para a América do Norte em busca da liberdade religiosa e consideravam-se como essencialmente cristãos. Como relata Paul Johnson:

“Os homens e mulheres do Mayfloyer eram muito diferentes [dos colonos que desembarcaram na Virgínia]. Eles não chegaram à América com o propósito primordial de enriquecerem, e nem sequer com a intenção de ganhar a vida, ainda que aceitassem ambas as possibilidades como benções de Deus, mas sim para criar o reino Dele sobre a terra. Eram os zelotes, os idealistas, ou talvez devêssemos afirmar que os mais extremistas entre eles eram fanáticos, intransigentes e excessivos em suas pretensões de superioridade moral. Também eram imensamente enérgicos, tenazes e valentes”. *

O impulso que os moviam era de cunho religioso. Perseguidos, defendiam a liberdade religiosa. Mas, qual liberdade? Eis outro paradoxo da história dos EUA: a defesa desta não é incompatível com a intolerância religiosa e a perseguição aos que, entre eles, não professassem dos mesmos princípios. Intérpretes da palavra divina se consideravam no direito de definir o bom e o justo. Se na metrópole eram os “perseguidos”, não vacilavam em perseguir os considerados hereges e desagregadores em solo norte-americano. Leiamos o relato do historiador:

“Em Massachusetts era costume advertir às pessoas identificadas como agitadoras religiosas que deviam ir embora. Se insistiam em ficar, ou regressavam, eram submetidos a julgamento. Em julho de 1641m por exemplo, o doutor John Clarke e Obediah Holmes, ambos de Rhodes Island, foram presos em Lynn pelo comissário por terem organizado uma reunião religiosa não autorizada em uma casa, na qual condenaram a prática do batismo dos bebês. Clarke foi encarcerado; Holmes foi açoitado publicamente. Em 27 de outubro de 1659, três quakers, William Robinson, Marmaduke Stevenson e Mary Dyer, que haviam sido expulsos várias vezes da colônia – a última vez, com a ameaça de que em caso de reincidir seria aplicado a pena de morte – foram presos sob a acusação de “nocivos e desagregadores” e condenados à forca em Boston. A condenação foi cumprida no caso dos homens. A execução da mulher, que tinha os olhos vendados e a corda em torno do pescoço, foi suspensa devido à intervenção de seu filho, que garantiu que abandonaria a colônia de imediato. O certo é que tempos depois ela voltou e finalmente, em 1 de junho de 1660, foi executada. Outras mulheres foram penduradas por bruxaria; a primeira foi Margaret Jones, condenada em Plymouth em 13 de maio de 1648 por “praticar medicina”com “toque maligno”. Se aplicaram penas severas aos transgressores da moral de todo o tipo. Até 1632, o adultério era penalizado com a morte. Em 1639, outra vez em Plymouth, uma mulher adúltera foi açoitada, depois arrastada pelas ruas com as letras AD costuradas na manga do vestido, e advertida de que se removesse aquele sinal as letras seriam gravadas em seu rosto. Dois anos depois, um homem e uma mulher condenados por adultério foram chicoteados, desta vez “em um poste”, e se ordenou “costurar em lugar bem visível de suas roupas” as letras AD”.**

Assim era moral entre aqueles que se consideravam guardiões dos bons costumes. Este relato me faz lembrar o filme “O apedrejamento de Soraya M.”.


* JOHNSON, Paul. Estados Unidos. La historia. Buenos Aires: Javier Vergara Editor, 2004, p.51. A tradução das citações é minha.

** Idem, p.69.

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