quarta-feira, 9 de junho de 2010

CAÇA FX-2: CUIDADO BRASIL!!! EUA E FRANÇA DEMONSTRAM QUE "NÃO SÃO CONFIÁVEIS"

quarta-feira, 9 de junho de 2010



A aquisição de novos aviões de caça para a FAB exige parceria estratégica de dezenas de anos com o país fornecedor. São aviões de muito elevado custo e grande sofisticação. A confiança mútua é essencial. Nos últimos dias, dois potenciais vendedores deram preocupantes demonstrações de que não são confiáveis.

Os EUA, por carta de Obama ao Presidente Lula, haviam solicitado que o Brasil, na sua função de membro temporário do Conselho de Segurança da ONU, alcançasse um acordo diplomático com o Irã que possibilitasse o início do processo de solução pacífica do problema surgido pelas acusações norte-americanas de suspeita de intenções do Irã em desenvolver no futuro armas nucleares. O Brasil e a Turquia obtiveram êxito nessa empreitada.

O presidente francês Sarkozy também estimulou Lula na intermediação da crise com o Irã e solicitou ações da nossa diplomacia para a libertação de jornalista francesa presa no país persa. Lula obteve êxito, o acordo foi formalizado e a jornalista foi libertada. As TVs e rádios francesas (eu estava lá) louvaram repetidamente a ação brasileira e registraram que o acordo e a data 17 de maio passaram para a história mundial (Le Monde).

Sem explicitar outros motivos, subitamente, Obama e Sarkozy passaram, logo após, a desprezar o acordo alcançado pelo Brasil e Turquia. A confiança na palavra daqueles governantes ficou abalada. Além de tudo, foi inesperada e descabida grosseria com o Brasil. Continuaram a querer sanções duras e ameaçam até mesmo a guerra contra o Irã. Conseguiram para isso insana e improdutiva "decisão" no ilógico, dominado e viciado "Conselho de Segurança" da ONU.

Somente o Brasil e a Turquia, altivamente, formalizaram o voto contrário. O Líbano, coitado, se absteve.

As desculpas para as atitudes belicistas das grandes potências atômicas são as mesmas dos tempos que precederam a invasão ao Iraque: a CIA "descobriu fabricação secreta de bombas atômicas". No Iraque, tudo foi constatado ser mentira deslavada, pretexto para a invasão militar e grande morticínio, visando o controle da produção de petróleo. As prévias sanções ao Iraque foram mecanismo para enfraquecer o país e tornar a invasão militar dos EUA mais fácil. Para o Irã, querem repetir a mesma fórmula bem sucedida.

E a Rússia? E a China? Fazem o esperto papel de "Maria-vai-com-as-outras" com os EUA e França, e também de Poncio Pilatus.

O ridículo e vergonhoso foi ver a reação da nossa mídia sempre subserviente aos EUA. Exultantes, muitos jornais, rádios e TVs noticiaram o "fracasso de Lula", o "fracasso do Brasil" e o "sucesso de Obama (quem diria! Prêmio nobel da paz procurando a guerra!?!) e da diplomacia dos EUA, que conseguiram sanções duras contra o Irã" e possibilitaram a continuação da 'estrada' para a invasão.

Israel, que nos bastidores atuou visível e fortemente para a formulação e aprovação das sanções, está feliz da vida, preparando suas poderosas armas subvencionadas pelos EUA (3 US$ bi/ano) e lustrando as ogivas de suas centenas de bombas atômicas...

Vejamos o texto do voto do Brasil:

Brasil: "Sanções levarão sofrimento ao povo do Irã"

"O Brasil votou contra a adoção de novas sanções, promovida pelos Estados Unidos e aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU na reunião desta quarta-feira (9/6), por considerar que a medida "vai contra os esforços bem-sucedidos do Brasil e da Turquia para engajar o Irã numa solução negociada para seu programa nuclear".

Segundo o texto do voto lido pela embaixadora brasileira no órgão, Maria Luiza Ribeiro Viotti, o país "não vê as sanções como um instrumento eficaz neste caso".

"Sanções vão provavelmente levar ao sofrimento do povo do Irã e fará o jogo daqueles que, de todos os lados, não desejam que o diálogo prevaleça", disse ela.

De acordo com a embaixadora, com o voto contra, "estamos honrando os propósitos que nos inspiraram nos esforços que resultaram na declaração de Teerã de 17 de maio". Ainda segundo Maria Luiza Viotti, o acordo Brasil-Turquia-Irã provou que "o diálogo pode conseguir mais que ações punitivas".

Senhor Presidente,

O Brasil votou contra a proposta de resolução.

Agindo assim, estamos honrando os propósitos que nos inspiraram a promover os esforços que resultaram na Declaração de Teerã em 17 de maio.

Não vemos nestas sanções um instrumento efetivo neste caso. As sanções vão, provavelmente, levar sofrimento ao povo do Irã e farão o jogo daqueles que, em todos os lados, não querem que o diálogo prevaleça.

Experiências anteriores da ONU, notavelmente no caso do Iraque, mostram que a espiral de sanções, ameaças e isolamento podem resultar em trágicas conseqüências.

Nós votamos contra também porque a adoção de sanções, na atual situação, correm no sentido contrário aos esforços bem sucedidos de Brasil e Turquia para engajar o Irã em uma solução negociada para o seu programa nuclear.

Como o Brasil repetidamente defendeu, a Declaração de Teerã adotada no dia 17 de Maio é uma oportunidade única, que não pode ser perdida. Ela foi aprovada pelo nível mais alto das lideranças iranianas e foi endossada pelo Parlamento.

A Declaração de Teerã promoveu uma solução que pode garantir o pleno exercício do direito do Irã a um programa de uso pacífico de energia nuclear, enquanto promovia garantias verificáveis e completas de que o programa nuclear do Irã tem propósitos exclusivamente pacíficos.

Estamos firmemente convencidos de que o único caminho para alcançar este objetivo coletivo é garantir ao Irã cooperação através um diálogo e negociações efetivas e orientadas para a ação.

A Declaração de Teerã mostra que o diálogo e a persuasão podem muito mais que ações punitivas.

Seus propósito e resultados foram orientados no sentido de construir a confiança necessária e lidar com vários aspectos do programa nuclear do Irã.

Como afirmamos ontem, a Declaração Conjunta removeu obstáculos políticos para a materialização das propostas da Agência Internacional de Energia Atômica feitas em outubro de 2009. Muitos governos e respeitadas instituições internacionais reconheceram seu valor como um importante passo para uma discussão mais ampla do programa nuclear iraniano.

O governo brasileiro lamenta profundamente, portanto, que a Declaração Conjunta não tenha recebido nem o reconhecimento político que merece nem tenha tido tempo que necessita para dar frutos.

O Brasil não considera natural recorrer a sanções antes que as partes envolvidas possam sentar e conversar sobre a execução da declaração. As reações do Grupo de Viena à carta iraniana de 24 de maio, que confirmou o compromisso do Irã com o conteúdo da declaração, foram recebidas há apenas algumas horas. Não se deu tempo ao Irã para reagir às opiniões do Grupo de Viena, inclusive a proposta de uma reunião técnica para analisar os detalhes.

A adoção de sanções em tais circunstâncias envia um sinal errado àquilo que poderia ser o início de um compromisso construtivo em Viena.

Também foi questão de grave preocupação o modo como os membros permanentes, junto com um país que não é membro do Conselho de Segurança, negociaram entre si durante meses, a portas fechadas.

Sr. Presidente,

O Brasil confere a maior importância ao desarmamento e à não-proliferação e nosso histórico neste domínio é impecável.

Também já afirmamos - e agora reafirmamos - o imperativo de que toda atividade nuclear seja conduzida sob as devidas salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica. As atividades nucleares do Irã não são uma exceção.

Continuamos a acresditar que a declaração de Teerã é uma política relevante e deve ser perseguida. Esperamos que todas as partes envolvidas enxerguem a sabedoria de longo prazo em fazê-lo.

Em nosso ponto de vista, a adoção de novas sanções pelo Conselho de Segurança irá atrasar, em lugar de acelerar ou assegurar o progresso na abordagem da questão.

Não devemos perder a oportunidade de iniciar um processo que possa levar a uma solução pacífica e negociada para esta questão.

As preocupações relativas ao programa nuclear do Irã, levantadas hoje, não serão resolvidas até que se comece o diálogo.

Ao adotar sanções, este Conselho está na verdade optando por uma das duas vias que deveriam ter sido percorridas em paralelo - em nossa opinião, a via errada.

Obrigada”.

Postagem retirada do Blog Democracia & Política