quarta-feira, 9 de junho de 2010

Príncipe saudita, em carta à família, ontem: “Vamos embora, antes que nos cortem a cabeça!”

9/6/2010, PressTV, Teerã – traduzido por Caia Fittipaldi


O príncipe saudita Turki bin Abdul Aziz Al Saud alertou a família real para que abdique do trono e fuja, antes que um golpe militar ou um levante popular os derrube e ponha fim à dinastia.

Em carta publicada pela agência de notícias Wagze na 4ª-feira, o príncipe saudita, que vive no Cairo, alertou a família reinante na Arábia Saudita, de que a espera destino semelhante ao do ditador Saddan Hussein e do Xá iraniano Mohammad Reza Pahlavi: “fujam antes que o povo nos corte a cabeça na rua.”

Disse que a família real saudita já não é capaz de “impor-se ao povo”, porque os desvios dos conceitos religiosos que são a base do governo saudita “escaparam a qualquer controle”. A oposição entende nossos atos como “intervenção na vida privada e restrição às liberdades”.

“Se somos sábios, temos de entregar o país ao povo, que nos detesta mais a cada dia que passa” – escreveu o Príncipe Turki, aconselhando os funcionários e membros da monarquia a fugir com suas famílias.

“Partam hoje. O que temos é suficiente para vivermos em qualquer lugar do mundo, da Suíça ao Canadá, Austrália... Devemos partir já, enquanto podemos partir em segurança, e não devemos voltar. Temos de reunir a família e sair imediatamente”, o Príncipe insiste.

“Não se enganem. Não confiem em EUA ou Grã-Bretanha ou Israel, porque eles não sobreviverão ao nosso fim. A única porta ainda aberta para nós é a porta de saída, sem volta. Temos de partir antes que essa porta também se feche.”

Por fim, alerta para um golpe militar contra a família: “não nos atacarão de fora, mas de dentro, nossas forças armadas nos atacarão.”

O príncipe Turki é membro da organização liberal “Príncipes pela Democracia”, fundada nos anos 1950s, no auge das tensões entre o rei Faisal e seu irmão rei Saud, para lutar por reformas políticas na Arábia Saudita, e por uma Constituição.

O falecido rei Faisal expulsou para o Egito membros de vários grupos que reivindicavam respeito aos direitos civis, mas adiante os perdoou.


O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Prince warns S. Arabia of apocalypse


Comentário do Embaixador Arnaldo Carrilho (RPDC)

O ''falecido Rei Faissal'', como é sabido, foi assassinado em 1975 por um meio-irmão, conseqüência de uma intriga palaciana tão comum no país formalmente mais antidemocrático do mundo. Conheci-o dois anos antes, quando ocupado na abertura de nossa Embaixada em Jeddah, reivindicação do General Ernesto Geisel, então Presidente da Petrobras. Tinha um Ministro dos Negócios Estrangeiros extraordinário e modernizador, Omar el-Sakhaf, que adorava o Brasil, e um Ministro do Petróleo, Xeque Iamani, que protagonizou papel destacado da Arábia Saudita na OPEP.

Num jantar que ofereceu ao Corpo diplomático, o Rei foi o ultimo a terminar o ágape, comendo ruidosa e deliciosamente as melhores uvas que jamais saboreei, cultivadas nas parreiras de Taif, cidade elevada, entre Meca e Jeddah. Um prolongado arroto duplo marcou o fim do compromisso (em casas árabes, ao cabo de almoços e jantares, os convidados se retiram incontinenti, tão logo o anfitrião de por encerrada a refeição, por isso parte final dos encontros).

Estive em Riad, com Celso Amorim, em 2008, e observei que toda a progresseira urbanístico-imobiliária da Capital não correspondia a qualquer mudança de costumes e hábitos, muito menos da dureza do regime. Relembro as mulheres, ainda proibidas de dirigir carros (e muitas outras coisas mais), que a Arábia Saudita foi o único país do mundo a não mandar delegação à Conferencia Internacional de Mulheres em Pequim (1995).

Os sauditas foram postos à testa do Trono por Winston Churchill(*), em 1923, importando essa escolha na expulsão dos haxemitas do Hejaz (Meca e Medina), onde eram, como o Abdallah e seus antecessores, Guardiões das Cidades Santas. Pertenciam a uma tribo violenta, mas dócil ao imperialismo ocidental. A Grã-Bretanha, que havia prometido a Palestina como sede de novo Reino a Hussein, teve de criar dois países, o Iraque e a Transjordania, para atribuir coroas aos irmãos haxemitas, já que a ideia da Palestina foi pras cucuias (o Lar Judaico de Lorde Balfour foi a opção definitiva do Império londrino).

O medo do Príncipe no Cairo tem raízes e razões profundas, porque os sauditas são usurpadores, a serviço dos vetores ocidentais, liderados pelos EUA. A Hiperpotência é tida, apesar de todo um esforço diplomático em contrario, como o país mais antiislâmico do planeta. Não esquecer Osama bin-Laden, nascido entre eles, e, de acordo com o que Washington afirma veemente, os principais atentadores contra as Torres Gêmeas eram nacionais daquele Reino infernal.

(*) Em 1943, no Cairo, com a presença de Ibn Saud, o Premier britânico, baseado em prévio acordo com os EUA, punha o Reino nas mãos de Roosevelt, pois compreendera que o Império Britânico já não mais tão poderoso, descrevera uma curva de ocaso, desde o fim do conflito mundial de 1914-18.