05/06/2010 - 17:09 | Roberto Maya | São Paulo
Como brasileiro descendente de judeus que fugiram da Europa, e aqui no Brasil puderam refazer suas vidas, fico cada dia mais indignado e revoltado com as atitudes arrogantes e radicais do Estado de Israel. Não é à toa que atualmente apenas 16% dos judeus não ortodoxos nos EUA, com menos de 40 anos, identifiquem-se e sintam-se proximos de Israel, conforme recente pesquisa do Comitê Judaico Americano divulgada pela New York Times Book Review.
Como pode um país moderno e democrático, populado e dirigido por descendentes de um povo que, devido a sua raça e religião, foi perseguido e assassinado ao longo da história, ter apoiado no passado recente um governo racista e nazista como foi o da África do Sul sob o regime do apartheid? Israel não só apoiou, como também forneceu armas para um governo racista que destituiu a populaçāo negra do seu direito à propriedade e ao voto, além de ter torturado e assassinado dezenas de milhares de negros cujos antepassados, aliás, já habitavam a região muito antes das colonizações holandesa e inglesa dos séculos XVII e XVIII.
O apoio de Israel ao regime do apartheid foi vergonhoso! Sasha Polakow-Suransky, um acadêmico americano, judeu, editor senior da revista Foreign Affairs e que teve acesso a uma série de documentos secretos, acaba de publicar um livro (The Unspoken Alliance: Israel’s Secret Relationship With Apartheid South Africa) onde fatos impressionantes são relatados.
Agora, há poucos dias, tivemos outra demonstração inaceitável do radicalismo israelense com o ataque desproporcional aos barcos que se dirigiam à faixa de Gaza. Radicalismo só gera mais radicalismo e não adianta ficar a vida inteira discutindo quem atirou a primeira pedra. A crescente arrogância e intolerância por parte de Israel tem provocado uma antipatia global que pode se transformar num bumerangue e gerar uma nova onda de antissemitismo mundo afora. É tudo o que, certamente, a esmagadora maioria do povo de Israel e dos judeus no mundo inteiro não quer que aconteça, de novo!
Nestes ultimos 20 anos judeus religiosos, muitos deles ortodoxos e que, pela sua natureza, tendem a ser mais radicais e extremistas, têm tido uma participaçāo e controle cada vez maiores sobre o governo e as forças armadas de Israel. Como consequência, o governo tem frequentemente adotado posições irreconciliáveis, expondo a fragilidade e decadência da sua diplomacia, enquanto as forças armadas perderam a excelência e o profissionalismo que tradicionalmente detiveram. O recente fiasco no episódio da abordagem dos barcos a caminho de Gaza é apenas mais um exemplo dessa infeliz combinaçāo.
Radicais e extremistas sāo fanáticos em qualquer lugar do mundo, e os de Israel nāo se diferenciam muito de seus tradicionais detratores. As cenas se repetem a cada novo assentamento em territórios ocupados ou como no caso do israelense radical que assassinou o primeiro ministro Itzhak Rabin em 1995 e posteriormente confessou que seu objetivo era realmente atrapalhar as negociações de paz com os países árabes, que na época prosperavam.
Ironicamente, foi o mesmo Rabin que armou o regime do apartheid vinte anos antes, quando foi primeiro-ministro de Israel pela primeira vez.
É exatamente devido a esse fanatismo religioso - que além de outros países na região também acabou por dominar o governo de Israel, provocando o distanciamento e alienação da grande maioria dos judeus menos conservadores e das novas gerações - que os EUA, maior aliado e fornecedor de todo tipo de ajuda a Israel, inclusive armamentos sofisticados, e detentor da maior e mais poderosa comunidade judaica do planeta, têm por obrigaçāo exigir e impor, respaldados pela ONU, um acordo definitivo de paz no Oriente Médio, antes que a historia se repita! Mesmo que para isso tenha que pressionar Israel política e economicamente.
Chega de intolerância!!
Roberto Maya é empresario, ator e cineasta amador.
Artigo originalmente publicado no Opera Mundi