Laerte Braga
O ex-presidente Itamar Franco é um homem sério, não mete a mão no bolso de ninguém, mas é só um projeto pessoal. E um errático. À fachada de intransigente em suas posições, engole e digere sapos quando a conveniência fala mais alto.
É o caso do apoio a José Arruda Serra, pior, aparecer em Diamantina, terra de Juscelino, acompanhado do ex-governador de São Paulo e candidato tucano a presidente da República.
O fato de Aécio estar presente não é surpresa. Aécio nunca escondeu de ninguém que de público apóia Arruda Serra e por baixo dos panos não quer nem saber do paulista, ainda mais depois que Arruda Serra, através do jornalista Juca Kfoury insinuou em sua coluna que Aécio é dependente de drogas.
Itamar quer apenas o direito de terminar sua vida política no Senado Federal. É uma pena. Joga fora o que lhe restava de patrimônio moral. O faz a qualquer preço.
Não mete a mão no bolso de ninguém, mas olha para o lado no caso de Arruda Serra. Faz que não vê.
O pescador de Hemingway em O VELHO E O MAR vai ao encalço de um grande peixe por dignidade. Itamar se agarra desesperadamente ao barco de Aécio na tentativa de engolir menos água e terminar a história em Brasília, aboletado numa cadeira de senador ao lado do senil Elizeu Rezende, seu ex-ministro da Fazenda (que meteu a mão no bolso dos brasileiros).
Política é um trem complicado. Não sei se Itamar leu as declarações de Arruda Serra à época em que sendo governador de Minas decretou a moratória da dívida do Estado. Estão disponíveis na internet, é só procurar. O adjetivo mais leve que Arruda Serra desferiu contra ele foi o de “insano”.
O ex-governador e ex-presidente é responsável, por exemplo, pela eleição de um dos prefeitos mais corruptos da história dos municípios brasileiros, Custódio Matos, de Juiz de Fora.
Deve ter decidido engolir Arruda Serra quando viu Pimentel em seus calcanhares. Perdeu o resto do respeito que lhe tinham alguns setores mais à esquerda. Sumiu na vaidade, ou na senilidade, sei lá.
Perdeu o respeito por si próprio.
Em 1982 Itamar peitou Tancredo Neves para ser o candidato da sublegenda (casuísmo da ditadura) principal do PMDB. Não aceitava a segunda. No final da convenção Simão da Cunha tinha tido mais votos que Itamar. Tancredo chamou Renato Azeredo, Simão da Cunha e acertou que os votos de Simão iriam para Itamar, “ele é muito complicado”. Tancredo era candidato ao governo do Estado.
E foi Tancredo o autor da célebre frase – “esse moço é um bom rapaz, mas tem um defeito guarda o ódio no congelador” –.
Guardava. Agora engole, anos depois, o epíteto de “insano” que lhe pespegou José Arruda Serra, no início de 1999.
Plínio de Arruda Sampaio disse a Marina da Silva, no primeiro debate entre candidatos a presidente da República que a senadora não “aprendeu a pedir demissão”. Estava estranhando as críticas de Marina a um governo do qual participou durante seis anos e meio e concordou com tudo.
Itamar não percebeu a hora de parar. Pendurar as chuteiras. Até Jânio Quadros entendeu e percebeu o momento de assim o fazer.
Não duvido nada de nessa nova fase sair elogiando FHC. Comeu o pão que o diabo amassou e no início da campanha dizia que o “real foi um plano do seu governo”. Que os medicamentos genéricos foram idéia do ministro Jamil Haddad, em crítica direta a Arruda Serra.
Mudou de opinião muito depressa, ao sabor de conveniências menores. De fato o real foi em seu governo, os genéricos foram do extraordinário Jamil Haddad.
Mas... Itamar...
Deve ser o tamanho do topete que diminuiu.
E logo na terra de JK. Além de tudo Itamar não entende nada da alma de mineiro. Ou se entendia se fez de bobo.
Engoliu o sapo Arruda Serra.