sexta-feira, 27 de maio de 2011

A #spanishrevolution explicada a um brasileiro

Por *Bernardo Gutiérrez

He hecho un texto matriz para prensa, blogosfera e medios informativos de Brasil, que iré adaptando según las necesidades. Lo cuelgo tal cual en portugués porque hay poco en esta lengua en la red. Podéis traducirlo gracias a nuestros comunes amigos Google Chrome y Google Language:



Escrevi este texto-matriz para a imprensa, blogsfera, e demais meios de informação brasileiros, que irei adaptando conforme a necessidade. Publico em português porque há poucos informes nessa língua na internet. Sempre se pode traduzí-lo ao espanhol ou inglês via Google Chrome e/ou Google Language
 


Muitos amigos brasileiros estão me perguntando sobre a #spanishrevolution. A imprensa mainstream brasileira publicou pouco e entendeu quase nada. Por isso, vou fazer um exercício muito simples para entender a chamada #spanishrevolution.

Imagine que uma ministra de Cultura (Ana Buarque do Holanda, por exemplo) aprova uma lei sobre direitos autorais da Internet que despreza licenças como Creative Commons, corta liberdades civis na rede e faz o jogo da indústria audiovisual.

Um grupo de ativistas digitais cria uma plataforma #navoteneles, pedindo para castigar os partidos que aprovaram a lei (imaginemos aqui, PT, PSDB e PMDB).

O grupo, indignado com os casos de corrupção, começa fazer “wikimapas” feitos em redes com os candidatos corruptos. Depois, milhares de grupos que lutam por causas diferentes entram na luta pedindo uma “democracia real” mais participativa e transparente e outro sistema econômico alternativo ao liberalismo.

A revolução #democraciareal estoura quando a policia despeja um grupo de pessoas que estavam acampadas na principal praça da capital do país.

As redes sociais espalham rapidamente a #brazilianrevolution e os cidadãos, altamente conectados, descentralizados e organizados, invadem as praças do país inteiro e discutem, no asfalto e na Internet, uma nova sociedade.

A campanha política em andamento para as eleições regionais fica paralizada e o mundo começa olhar para uma nova revolução digital de consequências imprevisíveis.

Entendeu agora o que aconteceu na Espanha e as ideias que se espalham pelo mundo?

Só falta temperar isso com uma crise econômica (internacional) e a explosão de uma gigantesca bolha imobiliária (espanhola) para completar a equação.

O fácil para a imprensa brasileira era falar que o alto desemprego da Espanha (por volta do 20%) provocou a revolta. É lógico: a crise e o desemprego influenciaram, mas o desemprego não foi o motivo principal, entre outras coisas porque ainda funciona o seguro desemprego.

O simples era comparar a #spanishrevolution às reviravoltas do mundo árabe. Só tem um ponto em comum, a importância das redes sociais no processo.

A Espanha tem democracia consolidada. As causas da revolta foram outras, várias, muitas. Os objetivos também são diferentes aos do mundo árabe.

92% dos jovens espanhóis usa Internet, doce pontos por cima do resto da Europa, segundo o próprio Estado. A Espanha lidera, também, o uso de banda larga nos celulares (19,5% da população, 6,9% na Europa). O cocktail se completa com uma elevadíssima porcentagem de jovens formados na universidade: 39% da população espanhola entre 25 e 34 anos tem formação superior (ano 2009), mais que a França ou outros países europeus. E muitos estão desempregados.

Chama minha atenção que a poderosa conta de @wikileaks no Twitter, a reportagem de Preseurop.

A revolta islandesa da Espanha, reparou na hora que um dos links mais importantes da #spanishrevolution vem do norte, da Islândia, o país que já teve o Índice de Desenvolvimento Humano (IDN) mais elevado do mundo e que afundou na tormentas dos mercados . De fato, uma das principais petições da #spanishrevolution é exigir do governo que não ajude mais ao sistema bancário que provocou a crise internacional. O link islandês-espanhol, a procura de alternativas a um mundo governado pelos mercados e as agências de rating, é tão claro que Hordur Torfason, o homem que fez o povo islandês reagir contra banqueiros e políticos, gravou um video para parabenizar o povo espanhol.

A juventude espanhola, é claro, admira o que aconteceu nos países árabes. Foi um exemplo para todos. Mas a #spanisrevolution é diferente. É um passo à frente. É claramente europeia. E sem pretendê-lo, se converteu na revolta digital mais avançada do mundo. Gerou o debate sobre a democracia. E pode ser fundamental para o mundo atingir um Sistema 2.0 verdadeiramente participativo. Um detalhe: a plataforma de ciberativismo Actuable.es, que nasceu no final de ano 2010, foi vital para evitar que o Governo despejasse a Puerta del Sol de Madri. Em menos de 24 horas, quando a Junta Elitoral proibiu o protesto, Actuable.es incentivou o envio de mais 150.000 mails para Alfredo Pérez Rubalcaba, ministro do Interior e evitou a represãao policial e um banho de sangue.

O suplemento do Estadão publicou na passada segunda-feira o melhor trabalho sobre o assunto na imprensa brasileira: Reiniciar o sistema. Esse é o foco. E nem todo o mundo entendeu.

As duas principais forças políticas espanholas, Partido Socialista Operário Espanhol (no poder) e o direitista Partido Popular (PP), depois das eleições regionais do passado domingo, fizeram de conta que nada aconteceu. Se a abstenção (pessoas que não votaram) fosse uma força política, teria sido a grande vencedora, com 33% dos votos.

O Partido Popular, que foi o grande ganhador, só foi votado por 24% do eleitorado. Por exemplo, em Madri, só 1 em cada 3 votantes deu a sua confiança ao Partido Popular, mas governará com maioria. Em Barcelona, o escândalo foi maior. 47% dos votantes ficou em casa (ou seja, muitos do gigantesco acampamento da Plaza de Catalunya, no centro de Barcelona). E a Convergència i Unió (CiU), nacionalistas conservadores, vão governar a cidade com um 14% dos votos.

A #spanishrevolution quer uma lei eleitoral mais justa, mais representativa. Quer uma lei de transparência das contas públicas. Quer criar um espaço para participação constante da política nacional, regional e local. Quer fazer um redesenho profundo da democracia. Mas, por enquanto, ninguém parece ter entendido o recado. E os protestos continuam. E as praças estão ainda cheias de pessoas. E já tem iniciativas, como “Madrid toma los barrios”  para expandir o debate e participação nos bairros, praças e ruas das cidades.

Existem causas, motivos e condições para uma #brazilianrevolution? Os mesmos motivos que lá e , suponho, que outros.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Espanha, apesar da crise, ainda é um dos mais elevados do mundo.

O Brasil, apesar do crescimento econômico, tem alguns motivos para uma #brazilianrevolution: uma nova ministra de Cultura, Ana Buarque de Holanda, que não respeitou a herança de cultura livre do Governo Lula; altos níveis de corrupção (muitos mais que lá); democracia pouco participativa; um rumo econômico focado no macro e não no micro (agronegócio, exportação, grandes obras); sérios problemas ambientais; inflação; uma especulação imobiliária crescente que vai rumo ao da bolha que estourou na Espanha; desigualdade; violência…

Além disso, o Brasil tem um ativismo admirável. Foi onde nasceu o Fórum Social Mundial e o orçamento participativo. Lá cresceu o apoio de governos ao software livre e licenças como o Creative Commons. O Brasil foi e é importantíssimo na luta pela cultura livre e os direitos civis na Internet, uma referência internacional. O ciberativismo brasileiro, até agora, era mais forte que o espanhol, que só estourou depois da crise, quando o país inteiro saiu da mordomia da prosperidade. Os brasileiros, conseguiram encaminhar uma lei de “ficha limpa”. O Brasil é dos países mais ativos em redes sociais e tem a terceira maior penetração de Twitter do mundo (23%).

Não serei eu, um estrangeiro, quem vai inventar uma #brazilianrevolution, um movimento além das esquerdas e direitas, um movimento que lute pela liberdade, pela transparência e pela democracia 2.0.

Isso corresponde ao meu querido povo brasileiro. Mas pense bem: Existiriam causas, motivos e condições para uma #brazilianrevolution?

Democracia Real Brasil no Facebook.  

*Bernardo Gutiérrez é espanhol, jornalista, escritor e consultor de mídia. Mora em São Paulo. Seus trabalhos aparecem em La Vanguardia (Barcelona), Esquire (Madri), Expresso (Lisboa), Tage Spiegel (Berlim) ou National Geographic Brasil, entre muitos outros.

2 comentários:

  1. (comentário enviado por e-mail e postado por Castor)

    Bernardo Gutiérrez é mais um que fala em defesa do Commons como garantia de liberdade de expressão via internet, mas não dá a menor explicação do porque. Em que a quebra do contrato do governo brasileiro ou de qualquer país com a Commons, poderia promover ou impedir o que o espanhol Gutiérrez chama de brazilianrevolution em analogia à spanishrevolution, como ele também prefere?

    Me dá a impressão de que por algum motivo inconfesso o Gutiérrez fez aí um Samba do Criolo Doido, ainda mais doido do que os que ele acusa de estarem confundindo as manifestações de Espanha com as do mundo Árabe.

    Nisso ele tem razão: a Primavera Árabe é contra sistemas totalitários de governo. Na Espanha não. Ali a revolta é contra o sistema em geral. Não estão brigando contra um governo específico, mas contra a representatividade do poder ou a falta de representatividade popular no poder.

    Aos árabes falta um sistema democrático, aos espanhóis o sistema democrático já não é satisfatório. Mas não insuficiente porque queiram mais partidos ou mais eleições. Querem é que se encontre uma forma de agilizar a concretização dos anseios populares.

    Vai além da insatisfação com a atual situação da economia espanhola, sim, mas o que ocorre foi provocado por esta situação. Pelo que conversei com amigos de Espanha que estão lá e outros que estão aqui, entendem que a atual situação não é culpa do atual governo e entendem que se está fazendo o que tem de ser feito. Mas querem discutir a forma que está sendo feito. Querem ter poder de inferir mais sobre as decisões de governo para que não ocorram mais situações como essa e para que não sejam os únicos penalizados pelos erros de governos anteriores.

    Se há alguma relação que se possa fazer entre esse momento da Espanha e o Brasil, talvez seja com as palavras de Lula: “Não faço o que faço porque quero, mas porque a sociedade diz o que tem de ser feito”

    O próprio Instituto Miguel de Cervantes, aqui em Florianópolis, é um exemplo do que acontece: em razão da crise econômica uma série de medidas estão sendo tomadas e entre elas a contenção de despesas de todas as entidades mantidas pelo governo espanhol, inclusive o Instituto Miguel de Cervantes que decidiu pelo fechamento de algumas unidades espalhadas pelo mundo. E assim a dirigente do Instituto, lá na Espanha, decidiu que no Brasil se fechasse a de mais recente início de atividades. Exatamente a de Florianópolis.

    Isso revolta, e muito, os funcionários brasileiros e espanhóis do Instituto na capital catarinense, pois embora seja a mais recente no Brasil, é mais ativa do que outras unidades que mesmo sendo mais antigas no país têm menos alunos em seus cursos e menos cursos oferecidos, menor interatividade com as comunidades das cidades onde se instalam, além de demandarem maiores custos. Considerando que Florianópolis é considerada como portal turístico do Mercosul e Santa Catarina o estado brasileiro que mais recebe turistas de língua espanhola, aqui mais se justifica a manutenção desta única entidade de Espanha na região.

    Meus amigos espanhóis reagiram e os ajudei a redigir uma carta bastante dura que endereçaram a diversos Ministérios do governo espanhol, inclusive ao Zapatero, com cópia para o Itamarati e o Secretario de Turismo de Santa Catarina; mas propositalmente sem cópia à dirigente do Instituto na Espanha e ao seu diretor no Brasil.

    Torcem para que o governo espanhol exija explicações da dirigente em Espanha, mas eles mesmos não acreditam que isso aconteça pois, como me comentaram, o governo espanhol mantém mentalidade monarquista e decisões hierárquicas, por mais que se evidencie desacordos da maioria subalterna ou que a decisão se demonstre equivocada, jamais são revistas.

    (Cont)

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  2. (continuação do comentário anterior)

    A julgar por estes comentários de cidadãos tão espanhóis quanto o Gutiérrez e talvez com maior presença na atualidade hispânica, a consolidação democrática que ele afirma apresenta aspectos discutíveis. Verdade que Franco se foi nos anos 70, mas se não a monarquia o franquismo deixou heranças nos políticos de lá. Mesmo não sentindo falta de novos partidos nem desejando derrubar governos como os árabes, o que os espanhóis querem é mais direta influência nas decisões de governo. Como em todo o mundo, o povo espanhol percebe a insuficiência da representatividade popular pelo sistema político partidário e questiona, nas praças e nas ruas por uma saída.

    É possível que a inspiração à forma desse questionamento tenha vindo da Primavera Árabe, mas realmente tem pouco ou nada a ver com as revoltas árabes que anseiam pelo fim de decanas ditaduras. Mas se nada com árabes, muito menos com a Commons!

    O que escreve Gutiérrez é uma nítida forçazão de um assunto no contexto de outro sem qualquer relação. Tanto que não explica coisa alguma e só suscita questões de impossíveis respostas: A juventude espanhola se revolta graças ao Commons? Se não houvesse o Commons não se revoltaria?

    O que a Ana Buarque tem a ver com isso tudo? Por que quebrando o contrato com a Commons, Ana estaria desrespeitando a cultura livre do governo Lula? No governo Lula a cultura só foi livre porque Gil manteve contrato com a Commons? Em que a quebra de contrato com a Commons torna o governo menos transparente?

    A similaridade entre o texto do Gutiérrez e o Brasil só existe com a mesma conversa mole e inconsistente da nossa mídia!

    E mais uma vez se ressalta a enormidade de interesses suscitados pelo Commons. Tão grande ao ponto de se sugerir que esse rompimento com o sistema justifique uma manifestação revolucionária: “O Brasil, apesar do crescimento econômico, tem alguns motivos para uma #brazilianrevolution: uma nova ministra de Cultura, Ana Buarque de Holanda.”

    Como?!!!! Por que a quebra de contrato com a Commons é motivo para um movimento como o de Espanha?!!!! Por qual interesse? Por interesse de quem? Do señor Gutiérrez? Então que exponha onde está sendo tão lesado! Ou a arte, a cultura, as tradições, o povo brasileiro!

    Na medida em que afirma que isso seria “um movimento que lute pela liberdade, pela transparência e pela democracia” sem nenhuma explicação de onde a liberdade e a democracia estejam sendo lesadas, está nitidamente estimulando uma mobilização popular por interesses escusos.

    Somente quando finaliza com estes parágrafos:

    “Não serei eu, um estrangeiro, quem vai inventar uma #brazilianrevolution, um movimento além das esquerdas e direitas...

    Isso corresponde ao meu querido povo brasileiro.”

    me suscita uma certeza: a de que se um brasileiro os publicasse em Espanha procurando desestabilizar qualquer ministério daquele, seria extraditado de volta ao Brasil sob a acusação de ser agente provocador de subversão da ordem e da segurança do processo democrático que elegeu uma presidente para que indique e mantenha seu ministério de acordo com o próprio discernimento dos interesses do seu povo.

    Ainda não descobri como se fez dinheiro com a Commons, mas nesse texto Gutiérrez dá a impressão de ter muito. Talvez nem tanto, pois geralmente os testas de ferro se contentam apenas com migalhas do grande bolo arrecadado pelos que os comissionam. Mas na verdade valores nem importam muito. Importante seria descobrir como o sistema Commons comissionava esses que para defendê-lo só faltam sugerir um bombardeio do Ministério da Educação como o da Líbia.

    Não falta muito para isso, pois revolução à espanhola já aí está.

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