terça-feira, 10 de maio de 2011

As consequências de uma reunião não tão secreta

As agruras de hoje da Grécia serão as de Portugal no futuro com o pacote da troika

Por Euro Intelligence

O nosso ponto de vista foi sempre que a resolução da crise consistiria num refinanciamento (rollover) permanente. Quando confrontados com a questão de permitir o descumprimento da Grécia ou concordar com mais um programa (irrealista), os ministros europeus das Finanças aceitaram esta última opção. 

Numa reunião secreta no Luxemburgo, os ministros das Finanças de um subconjunto de países da eurozona encontraram-se para discutir o futuro da Grécia e, segundo o FT, alcançaram um consenso de que querem recorrer a um pacote inteiramente novo, pois o atual programa da Grécia, o qual prevê um retorno aos mercado em 2012, não é realista. 

A Grécia precisa obter €25 a €30 mil milhões no próximo ano. O FT informa que o European Financial Stability Facility (EFSF) pode comprar dívida grega em mercados primários, em complemento de uma reestruturação voluntária para “rolar” (roll over) dívida que será devida em 2012. Responsáveis parecem ter descartado com firmeza qualquer reestruturação  involuntária da dívida, a qual criaria mais problemas do que resolveria. O ministro grego das Finanças foi convidado à reunião de modo a que responsáveis pudessem enfatizar-lhe a importância de mais austeridade e privatização. 

Na sexta-feira à noite, a revista Der Spiegel informou que a Grécia havia considerado uma saída da eurozona e revelou que tal reunião teria lugar, com Wolfgang Schäuble levando um estudo na sua pasta sobre o porquê uma saída grega far-se-ia a um custo proibitivo – para a Grécia, mas também para a própria eurozona. A notícia deu lugar a negações frenéticas de responsáveis da UE e provocou uma nova derrota do euro, o qual declinou de um pico de US$1,49 para US$1,43 em dois dias. Responsáveis da UE primeiro tentaram negar que tal reunião viesse a ocorrer, mas quando se tornou impossível sustentar isso, eles simplesmente negaram que os ministros discutissem uma reestruturação da dívida, muito menos uma saída. 

“COMENTÁRIOS ABSURDOS DE JOSÉ SÓCRATES

Wolfgang Münchau escreve na sua coluna no FT que o fracasso em ser capaz de organizar  uma reunião secreta simboliza a dificuldade em administrar uma união monetária (e especialmente um programa de refinanciamento de dívida) com um grupo de executivos defendendo interesses tão diversos. Disse ele não acreditar em quaisquer pronunciamentos oficiais de qualquer responsável da UE. Afirmou que os comentários absurdos de José Sócrates de que obteve um acordo melhor do que os gregos e os irlandeses também são muito típicos para o programa de ação coletiva da eurozona. E que vê, cada vez mais, evidências de uma bifurcação – uma situação dentro de poucos anos nesse caminho em que estados membros da eurozona terão de decidir se saltam para dentro de uma união política ou saltam para fora de uma união monetária. 

Juan Ignacio Crespo escreve em El Pais que uma saída da eurozona seria o equivalente a outra crise financeira global. Se a Grécia saísse, o sistema bancário do país entraria em colapso e o país seria confrontado com uma implosão econômica e social. E a crise imediatamente propagar-se-ia ao país seguinte da eurozona. A Europa neste ponto suspenderia tanto o mercado como o acordo de Schengen. 

Os principais jornais alemães estão divididos sobre os méritos de um segundo pacote de resgate para a Grécia. Enquanto os diários econômicos Financial Times Deutschland eHandelsblatt endossam a ideia de má vontade o Frankfurter Allgemeine Zeitung e o Bildestão em franca revolta. Holger Steltzner, do FAZ, destaca que a UE e o FMI não têm quaisquer meios de aplicar pressão sobre a Grécia uma vez que excluem a reestruturação da dívida grega e a saída da Grécia da eurozona. O colunista Hugo Müller-Vogg, do Bild, argumenta que se bem que o euro seja indispensável para a Europa, a Grécia não é. Se a Grécia quisesse deixar a zona da divisa ninguém deveria impedi-la. “Isso seria caro para o contribuinte europeu”, argumenta ele. “Mas um final caro é melhor do que infindáveis pacotes caros de resgate”. 

PSD revela seu plano econômico pelo lado da oferta 

Passos Coelho revelou o plano econômico do seu partido com o objetivo de mudar o modelo econômico de Portugal. A principal característica é uma redução de encargos sociais dos negócios em 4 pontos percentuais, de 23,75% para 19%, financiando por cortes estruturais na despesa governamental. Isto inclui cortes no período que dá direito a benefício de desemprego; um corte no número de Secretarias de Estado em 30% e de conselheiros à metade; reduções em entidades públicas em pelo menos 15%; um serviço de recrutamento independente para postos no governo e o fim de prestigiosos projetos de infraestrutura, tais como serviços ferroviários de alta velocidade. O Jornal de Negócios tem os pormenores. O presidente Cavaco Silva disse que um corte fiscal para os negócios é possível e está de acordo com o acordo da troika, mas que deveria ir par-e-passo com um corte fiscal sobre o trabalho, ao passo que o IVA pode aumentar. 

Desordem tempestuosa na Irlanda após apelo de Morgan Kelly à reestruturação da dívida 

Um comentário do economista irlandês Morgan Kelly no Irish Times aconselhando que a Irlanda se afaste do acordo de salvamento provocou uma enorme tempestade na Irlanda e alguma reação irada do banco central e do governo. Kelly argumentou que o governo irlandês deveria afastar-se da dívida bancária, deixando-a para o BCE, de modo a que país ficasse com uma dívida “sobrevivivel” de €110 bilhões. O governador do banco central, Patrick Hohohan, sentiu-se obrigado a se defender, depois de Kelly acusá-lo de ter feito o “mais custoso erro alguma vez já feito por uma pessoa da Irlanda” ao calcular mal a escala das perdas bancárias. Hoohan defendeu o seu papel na corrida para o acordo de salvamento original e a sua decisão de manter a garantia bancária. O ministro das Finanças também respondeu emitindo uma rígida advertência ao artigo de Kelly, dizendo que benefícios à infância e os salários de 300 mil  trabalhadores do sector público seriam reduzidos em 33% se o governo abandonasse o acordo de salvamento com a UE-FMI. 

E se a França recorresse a um programa de resgate da UE e do FMI? 

Em Les Echos Nicolas Barre também é cético quando ao resgate grego, mas por razões diferentes. Originalmente os pacotes de resgate tinham duas razões bem fundamentadas. Eles  precisavam mostrar a populações locais nos países periféricos quão grave era a situação e houve tantos pacotes de resgate para aqueles países quanto houve resgates para os bancos no resto da eurozona. Hoje aquelas duas razões já não são válidas segundo Barre. De modo que reestruturar a dívida grega seria a solução adequada. O colunista francês argumenta que políticos em Paris deveriam refletir sobre os seus colegas em Atenas, Dublin e Lisboa, onde os governos já não estão no comando e têm de receber ordens da UE e do FMI. Barre aponta a sempre crescente relação da dívida/PIB da França e diz que o destino de países periféricos deveria ser motivo de reflexão para qualquer candidato às eleições presidenciais francesas na Primavera de 2012. 
09/Maio/2011

O artigo original, em inglês, pode ser lido em:  Eurointelligence 
Esta tradução pode ser lida em: Resistir

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