Laerte Braga
Quem se der ao trabalho de esmiuçar as viagens e conversas de FHC com o então presidente dos EUA Bill Clinton vai encontrar pérolas de subserviência que beira as raias do “quer-que-eu-deite-de-bruços?”.
Numa das visitas de FHC a Washington,
O brasileiro não pestanejou. “Nesse momento é melhor passarmos batidos sobre isso, vai haver resistências e estragar alguns acertos que estamos fechando aqui. Mais à frente discutimos isso”. O tratado implicaria em um comando militar unificado para todas as forças armadas latino-americanas que aderissem ao documento, vale dizer o Brasil de FHC.
A reação, foi o que avaliou FHC, viria de alguns setores militares ainda comprometidos com o Brasil, não subordinados a Washington.
São setores minoritários, mas capazes de resistir à entrega pura e simples do País. Esse é um dos efeitos do expurgo promovido após o golpe militar de 1964. Mais de dois mil oficiais foram punidos e afastados das três forças por se imaginarem militares brasileiros não subordinados ao general Vernon Walters, comandante militar norte-americano designado para o Brasil e ao qual se reportavam os golpistas que derrubaram João Goulart.
Não é de se estranhar que FHC venha a público dizer que o tratado firmado entre o Brasil, o Irã e Turquia não pode ser implementado, diante das parcas garantias pedidas pelo governo Lula ao governo do Irã. É a linguagem do Departamento de Estado, foi dita em vários países do mundo por vários assemelhados a FHC. Chegou em forma de envelope secreto.
A declaração do ex-presidente sem-pátria obedece a um cronograma traçado em Washington para esvaziar o impacto da ação do Itamaraty e abrir caminho para que o governo Obama possa prosseguir sua política insensata e criminosa – terrorista – de submeter todo mundo ao padrão McDonalds.
Como quem diz assim, “Lula foi ingênuo”. FHC repete as declarações da secretária Hillary Clinton com outras palavras.
O que faltou dizer, tanto pelo ex-presidente, como pela secretária, é que antes da viagem de Lula ao Irã o governo dos EUA anunciou que aquela “era a última chance dos iranianos de evitar a adoção de sanções políticas e econômicas contra o país”.
De quebra FHC tenta diminuir o impacto que o feito de Lula produziu nos brasileiros, ao mostrar que, finalmente, estamos de pé. Dar uma ajuda ao seu candidato José Arruda Serra, funcionário destacado pela Ford Foundation para domesticar esses ímpetos de independência e soberania do Brasil e dos brasileiros. Colocar-nos em nossos devidos lugares, assim padrão Celso Láfer, o “no-shoes”.
Bem mais que isso. Neutralizar a ação do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. O chanceler brasileiro tem recebido manifestações de apoio de vários governos em várias partes do mundo e ponderáveis setores da opinião pública e alguns partidos europeus, cansados de pagar contas de guerras intermináveis dos EUA.
A Alemanha já está à matroca, tangenciando a falência. Tem soldados no Iraque e no Afeganistão.
OTAN, como outras siglas, são formas dos norte-americanos guerrearem para manter o império saqueando outros povos e dividir a conta dos custos. Do lucro não. Mais da metade das peças do antigo museu babilônico do Iraque já está espalhada pelos museus dos EUA. Públicos e privados.
Saque puro, negócio de pirataria.
O ideal é que FHC fale todos os dias. Se assim o fizer será o mais poderoso cabo-eleitoral de Dilma Roussef, pois basta mínima comparação do governo Lula com o desastre dos oito anos do tucano, para ninguém de bom senso cogite votar
É o político mais rejeitado do País e deveria inspirar-se no general João Baptista Figueiredo pedindo para que o esqueçam. Uma forma de evitar constrangimentos desnecessários inclusive entre seus aliados que pedem pelo amor de Deus que fique de boca fechada.
E tem parceiro, ou parceira. A outra banda da direita brasileira, escorada na candidatura de Marina da Silva, ouviu da moça que “Lula não precisa de continuador”. Uma leitura atenta do que disse a candidata supostamente verde, sinaliza na direção que o País precisa de um “descontinuador”. Confissão explícita do pensamento implícito.
Vade retro satanás! Versão light de Heloísa Helena fazendo perguntas a uma cadeira vazia num dos debates das eleições de 2006.
Política, de fato, é um trem complicado, bem complicado. A candidata verde, defensora do meio-ambiente, da Amazônia, é financiada por predadores da Amazônia (e desfila com eles Brasil afora). Sequer é levada a sério
É a versão fluminense de Roberto Freire.
A expressão “panaca” é até bondosa. No caso de Marina da Silva talvez até caiba. No caso de FHC é puro mau-caratismo, canalhice de um político subordinado a interesses de grupos econômicos internacionais e ao governo dos EUA.
Quem sabe eles não propõem logo de uma vez a privatização da Amazônia, do Palácio do Planalto e a mudança da grafia do nome do Brasil. Ao invés do “s”, o “z”. BRAZIL.
É o sonho dourado dessa gente.
Todo esse destempero verbal de Arruda Serra, esse ar professoral de FHC e essa ingenuidade nada santa de Marina da Silva nada têm a ver com o Brasil. Mas com a turma que está de olho no Brasil.
Que quer o Brasil.
Vai ver que o verde de Marina é flor de plástico e tubinho com água e açúcar para beija-flor chegar pertinho da janela.
Aécio Neves deu um show de “enterrada” em Arruda Serra na convenção do PSDB. Devolveu o tal dossiê que Juca Kfoury, no jornalismo tucano/marrom de ameaças, chantagens, insinuações, etc., usou para mandar recado ao neto de Tancredo. Ao fim da convenção do partido, do lançamento do candidato, militantes pagos (700 reais por cabeça por presença), em clima de velório, as pessoas abraçavam Aécio e perguntavam por que não você?
O ex-governador, cascavel de alto calibre nessa história, apenas sorria. Aos mais chegados foi claro. “
É muita panaquice.