Título de uma matéria da Folha de S. Paulo de hoje, 14 de setembro:
Após debate, Dilma toma "um vinho antes da queda".
A matéria assinada por Ana Flor e Anna Virginia Balloussier é um amontoado de futilidades e maledicências, pura campanha publicitária, chega a ponto de citar o tal vinho Romanée Conti pago por Duda Mendonça num jantar ao Lula em 2006, não traz nenhuma notícia em parte alguma, enfim, o padrão normal da antiga imprensa serrista.
O que me chamou a atenção desta vez foi o “entre aspas” da manchete: “um vinho antes da queda”. Por que as aspas? É citação de alguém? Seria alguma expressão proverbial? Uma ironia?
Não é uma expressão proverbial, também não é uma citação, ninguém no texto comenta a queda que, pelo que se supõe na fofoca travestida de jornalismo da Folha de S. Paulo, teria acontecido na manhã seguinte ao jantar. Sobra, como justificativa das aspas, a ironia.
A matéria informa que seis pessoas – Dilma entre elas - tomaram uma garrafa de vinho na noite de domingo, “antes da queda”, portanto, que aconteceu na manhã seguinte. A Folha de S. Paulo insinua claramente uma relação entre o pé torcido e o copo de vinho que Dilma tomou na véspera.
Depois de uma jornalista da Folha ter alegremente reproduzido o comentário de um tucano que se referia aos eleitores do PSDB, em contraste com os eleitores petistas, como uma “massa cheirosa”, depois de todos os descalabros produzidos nestes últimos anos (ficha falsa, ditabranda, grampo sem áudio, declarações do delegado Edmilson, estupro do menino do MEP, etc...) podemos esperar qualquer coisa da Folha nesta reta final da eleição.
Desde que perdeu o poder que lhe garantia a impunidade nas mais diversas maracutaias (ver privataria, Alstron, Tiger Eye, mensalão mineiro, Banestado, decidir.com, etc, etc....) a direita brasileira vem praticando o jornalismo mais rasteiro, preconceituoso, frequentemente racista, lutando – sem sucesso – para derrubar a popularidade do governo Lula. Os preconceitos e o racismo mais explícito aparecem a toda hora, a última armação da Veja informa que os militantes petistas “se comunicam remotamente e coordenam suas ações como que orientados por feromônios”. (sobre o olfato sensível da direita local, ver o ótimo site “Na prática a teoria é outra”, de Celso Rocha de Barros)
A elite brasileira, ignorante, iletrada, brega e endinheirada, esperneia a caminho de uma derrota humilhante nas urnas. Repito o que escrevi e publiquei aqui mesmo, há mais de 2 anos, em junho de 2008:
Acho que é a gritante parcialidade da grande imprensa pró-Serra - que menospreza, a ponto de parecer puro preconceito, a importância da diminuição da desigualdade social no Brasil e os bons resultados do governo Lula - a principal responsável pela antipatia que o governador de São Paulo provoca. Com proteção tão deslavada, acho possível afirmar hoje (25/06/08) que Serra, o atual líder das pesquisas de opinião para a sucessão de Lula, tem pouca ou nenhuma chance de ser eleito presidente.
Hoje (14.09.2010), com Serra em queda livre nas pesquisas, correndo o risco de ser ultrapassado por Marina, com a antiga imprensa abandonando qualquer escrúpulo e criando um factóide por dia (todos já esqueceram dos supostos 5 milhões pagos pela propina que inventaram anteontem), ignorando solenemente a ótima matéria de capa da Carta Capital (“Quem bisbilhota quem”) e corroborando sem críticas mais uma chinelagem da Veja, a direita brasileira e sua imprensa me fazem lembrar da bela frase do folclorista gaúcho Bagre Fagundes: “Nós ganhando eu não me importo que eles percam”.
No dia 4 de outubro, quando a preconceituosa direita brasileira estiver catando seus cacos e botando a culpa no Serra por seu fracasso, vou comemorar tomando um bom vinho gaúcho.