quinta-feira, 19 de maio de 2011

Primavera social nascida na Internet alastra-se pela Espanha

Elodie Cuzin

19/5/2011, Elodie Cuzin, Blog Rue 89, Paris
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

“Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir!”
“Não somos mercadorias nas mãos dos políticos e dos banqueiros!”
(19/5/2011, Puerta del Sol, Madri)

Lançado em Madrid dia 15/5, um movimento de protesto social surpreende o país em plena campanha eleitoral.

A crise é bem real, já há três anos. E, como aconteceu nos levantes na Tunísia e no Egito, os jovens espanhóis desempregados começaram a reunir-se pela Internet. O movimento “15 M” (porque começou dia 15 de maio) alastra-se pelo país, a uma semana das eleições municipais e regionais marcadas para o próximo 22 de maio.

2ª-feira, 16 de maio. 15 h. Puerta del Sol, em Madrid, a poucos metros da placa “Marco zero”, ponto a partir dos quais se calculam as distâncias por estrada em toda a Espanha. 

São pouco mais de 30 jovens reunidos em torno de alguns cartazes, de uma mesa montada sobre cavaletes e de cadeiras distribuídas sob o sol escaldante. 

São os primeiros a chegar, depois de decidir espontaneamente, em assembléia realizada no domingo à noite, acampar naquele ponto histórico, em pleno coração turístico de Madrid. 

Algumas horas antes, uma manifestação organizada pela Internet juntou-se à primeira. E ultrapassou todas as previsões de quantos apareceriam.

4ª-feira, 18 de maio. 15 h. Mesma hora, mesmo local.


Coberturas de plástico azul e alguns guarda-sóis oferecem um pouco de sombra, mas não protegem contra o vento que começa a soprar forte. 

O movimento de mobilização surpresa começou aqui, há três dias e já se alastrou por todo o país, com centenas de pessoas dedicadas a divulgá-lo. No mesmo movimento, a agenda da imprensa e dos partidos políticos foi agitada como por um terremoto, a poucos dias das importantes eleições municipais e regionais de 22 de maio próximo.


Citado de memória, do espanhol: “Nunca vimos coisa semelhante, desde o começo da democracia [em 1978]”, na avaliação de vários jornalistas presentes.

Alguns não hesitam em comparar a Puerta del Sol à já famosa Praça Tahrir do Cairo.

Pela Internet: “Não somos mercadoria”.

Há três meses, um grupo de blogueiros e internautas reuniram-se na Internet e criaram uma plataforma em linha [fr. en ligne; ing. online; esp. en línea] que batizaram de “Democracia real ya” [Democracia real já] (em ).

No Twitter
Informações sempre atualizadas, pelo Twitter com as palavras-chave [ing. hashtags; fr. mots-clés; esp. palabras-llave]: 
•#acampadasol
•#spanishrevolution
•#yeswecamp
•#nonosvamos

Pouco a pouco, muitas centenas de pequenas organizações reuniram-se em linha: Associação Nacional de Desempregados, a página Internet das famílias endividadas com financiamentos imobiliários, “Juventude sem Futuro” (coletivo formado no início de abril), Attac , os contra a lei Hadopi à espanhola, os que pregam que ninguém vote nas eleições e outros. 

Muitas dessas associações nasceram com a crise econômica que fez aumentar muito o desemprego, que já alcança 20% na Espanha (45% entre os jovens). 



Durante semanas, sob silêncio absoluto na imprensa – com algumas raras exceções – e nos partidos políticos, mais de 200 organizações prepararam juntas uma série de manifestações previstas para acontecer dia 15 de maio em mais de 50 cidades da Espanha, com uma palavra-de-ordem: 

“Não somos mercadorias nas mãos dos políticos e dos banqueiros!” 

Em seu manifesto, o movimento Democracia Real Ya  apresenta-se como formada de pessoas “normais”, de várias linhas de pensamento, com diferentes propostas. Os membros falam das lacunas da lei eleitoral espanhola, que favorece o bipartidarismo; denunciam a corrupção, os problemas de moradia, o desemprego, a crise …

“Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir!”

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