domingo, 22 de maio de 2011

A HISTÓRIA DE DEUS


Raul Longo

Raul Longo

Por ocasião da Páscoa prometi a uma amiga que um dia contaria a história de Deus. Depois me considerei muito pretensioso. Mas, observando bem, é só rememorar algumas leituras antigas, consultar informações sobre novas descobertas e com alguma ajuda da internet sempre se encontra novos detalhes para recontar a História desta história.

Importante deixar claro que não se tratará aqui do deus de cada um. Nada de deuses de histórias pessoais nem de igrejas e religiões. É só o Deus da História mesmo.

Na verdade nem se vai falar da Páscoa porque isso de travessia do Mar Vermelho, pragas do Egito e outras histórias que também têm História, sempre acabam incomodando a crença das pessoas e melhor passar ao largo para evitar mal entendido. Se alguém se interessar, depois a gente conta, pois por enquanto vamos ficar só na história do Deus da História.

Pelos mesmos motivos também não tocaremos no assunto do primeiro deus universal que foi deusa. Se alguém pedir, poderemos comentar algumas informações sobre a Grande Mãe, a Ishtar na origem acádia ou a Nanmu dos Sumérios, mas por enquanto a ideia é evitar polêmica e apenas contar a origem da História do Deus masculino e patriarcal.

Há quem imagine impossível contar a história de Deus por acreditar que Deus já existia muitos anos antes dos judeus que se anunciam como seu povo predileto. E é verdade! A mais antiga referência ao povo hebreu data de 1.200 aC, e o primeiro monoteísta viveu muito antes, por volta de 1.350 aC. E chamava-se Amen-hotep.

Amen-hotep foi empossado Faraó pelo pai com apenas 15 anos de idade. Isso dos primogênitos dividirem o trono com os pais era uma medida contra os riscos de golpe nos processos de sucessão do poder ambicionado pelos sacerdotes dos diversos deuses egípcios. Provavelmente por essa razão Amen-hotep, 9º Faraó da 18º dinastia, tomou a providência de inventar Deus.

Não exatamente com esse nome, mas foi o primeiro conceito monoteísta da História da humanidade. Também para Amen-hotep todos os demais deuses, inclusive Amon, o mais poderoso em seu tempo, passaram a ser falsos e só o dele, ao qual chamou de Aton, era o verdadeiro. Tanto que trocou até de nome. De Amen-hotep, que significava “Amon está satisfeito”, mudou Akhenaton, com o significado de “O espírito atuante de Aton”. Fez fechar os templos dos deuses todos, proibiu os cultos e destituiu os sacerdotes sagrando-se como representante exclusivo do deus único: Aton.

Chegou até a construir uma nova capital para o Egito dedicada ao seu deus, mas o culto a Aton não superou o reinado de seu criador e após a morte do Faraó Akhenaton, o poder e o panteão dos deuses egípcios retornou à Tebas.
 
Teriam os Hebreus apreendido sobre Aton durante os longos anos em que foram escravos no Egito?

Impossível! Entre outros motivos porque os egípcios não praticaram a escravatura.

Escravos no Egito só nas histórias, na verdade estórias, de Hollywood e da Bíblia, pois apesar dos egípcios não terem desenvolvido um sistema de escrita, através de hieróglifos e ilustrações documentaram sobejamente os principais acontecimentos e até corriqueiros costumes de sua sociedade.

Egípcio não podia ver uma parede que nela já ia desenhando e pintando algum acontecimento. Não seria nenhum exagero classificá-los como precursores das Histórias em Quadrinhos, pois desenhavam tudo o que acontecia.
 
Reflexologia no Egito antigo
Por exemplo: a reflexologia. Técnica complementar de tratamento de saúde através de pressões com os dedos em pontos e regiões específicas dos pés e das mãos, por muito tempo se acreditou que a reflexologia fosse de origem chinesa, apesar de no século 19 o médico William Fitzgerald ter desenvolvido o que chamou de zonoterapia a partir de observações do mesmo processo empregado pelos índios dos Estados Unidos. No entanto, através de inscrições e ilustrações em uma pirâmide os egiptólogos descobriram que a prática já era comum no tempo dos faraós e, inclusive, aplicada por tratadores negros.

Da mesma forma se descobriu que ser convocado para participar como trabalhador na construção de uma pirâmide, mais do que uma honra era convite para a eternidade, pois os egípcios acreditavam que os escolhidos para construir os túmulos dos Faraós os acompanhariam como súditos, perpetuando a grandeza de sua civilização.

As escavações em torno das pirâmides revelaram que em nenhuma daquelas aldeias de trabalhadores se empregava prisões, senzalas, alojamentos coletivos com dezenas de ocupantes. Possuíam confortáveis casas de banho e grandes tabernas. Inscrições revelaram que aqueles trabalhadores tinham destaque entre as classes populares e eram requestados por mulheres de posição social mais elevada, fazendo crer serem bem remunerados.

Há quase dois séculos o Egito tem sido o país mais detalhadamente pesquisado pela arqueologia, inclusive pela fartura de material iconográfico, mas nunca foi encontrado nenhum registro pictórico ou em hieróglifo sobre algum povo semita que por lá tenha permanecido sob qualquer condição, fosse como escravo ou integrando deliberadamente aquela sociedade que hoje é formada por árabes.

Como semitas, os árabes têm tipo físico bastante diferente dos antigos egípcios que em meados do século 20 de nossa era não perfaziam mais de uma centena de indivíduos remanescentes da antiga etnia que, com seus corpos longilíneos e de negros e escorridos cabelos, muito se assemelham a como se reproduziam nos desenhos das pirâmides e Elizabeth Taylor tentou copiar em Cleópatra.

Cleópatra, apesar de nascida no Egito, era filha de Macedônios, portanto, como grega, seu tipo físico tampouco tinha alguma semelhança com as egípcias. Mesmo Hollywood nunca tendo levado a História a sério, a verdade é que por suas singulares características físicas os últimos remanescentes da etnia dispersos pelo mundo, ainda chamam a atenção onde quer que apareçam. Certamente também atentariam para os semitas que, segundo a história da Bíblia, com eles teriam convivido ao longo de 4 séculos desde que José caiu nas graças do Faraó Apopi I que o teria distinguido com o alto cargo de Adon, correspondente ao de chanceler.
 
Apopi foi um faraó da dinastia dos Hicsos (como os egípcios se referiam àqueles “soberanos estrangeiros”), povo asiático que governou desde 1.640 até cerca de 1.570 aC quando foram expulsos por Amósis. Registros não confirmados de Maneton (sacerdote e historiador egípcio do séc. 3 aC), citados por Flávio Josefo (nome romano do historiador judeu Yosef ben Matityahu do séc. I dC),  afirmaria que após um acordo com o Faraó Amósis, os Hicsos deixaram o Egito com suas famílias e seus bens e foram para a Judéia onde teriam construído Jerusalém. 

Os quase dois séculos de pesquisas arqueológicas e observações de linguistas e historiadores também não revelaram entre os hebreus nenhum resquício de influência da linguagem egípcia, ou outro mínimo detalhe cultural e de costumes, apesar da exuberante civilização egípcia ter influenciado a todos seus vizinhos, promovendo até algumas significativas civilizações como a Minoica. E os Hebreus, que ao longo de toda a história se demonstraram sensíveis aos conhecimentos assimilados em todas as partes do mundo por onde emigraram, dos quatro séculos de Egito nada preservaram?

As influências recebidas de outros povos e mantidas pelos Hebreus se denota já naquela primeira referência na estela do túmulo do Faraó Merenpath, em 1.200 aC. Ao serem indicados, ali, como nômades pastores que se denominavam povo de Israel, se evidencia as profundas influências canaanitas de quando, em seus primórdios, Hebreus conviveram entre os Cananeus.

No próprio relato bíblico da vitória de Jacó sobre o anjo enviado por Deus para lutar contra o patriarca se confirma essa herança quando, após um pacto com Jacó, o Senhor muda seu nome para Israel, adotado por toda a tribo.

Em 1928 um camponês palestino acidentalmente abriu com o arado o que acreditou ser a tampa de uma antiga tumba. Dali se escavou o que se crê como a primeira civilização da antiga região de Canaã que compreendia a Palestina até a Jordânia e parte do Líbano chegando à Síria. Pois o arado do jovem alauíta (especificidade islâmica étnico-religiosa) trouxe a redescoberta de Ugarith, uma das primeiras cidades semitas da História.

Ugarith foi importante cidade portuária entre os séculos 15 a 20 aC e por muito tempo manteve relações diplomáticas com os egípcios dos quais foi aliada contra os hititas. As descobertas em Ugarith confirmaram a passagem do exército do Faraó Merenpath pela região, confirmando a menção sobre a tribo nômade chamada Israel.

O cosmopolitismo de Ugarith desenvolveu grande versatilidade linguística e em duas bibliotecas encontradas em suas ruínas se descobriu que 400 anos antes dos fenícios, que em cerca de 1.050 aC desenvolverem o alfabeto que hoje utilizamos, ali já haviam criado o alfabeto ugarítico que muito ajudou a distinguir inegáveis influências literárias na construção poética e no imaginário místico encontrado no Torá e na Bíblia.

Como todos os demais semitas, os Ugarith cultuavam o deus Baal, mas o tinham como uma espécie de administrador terreno às ordens de um deus mais importante na hierarquia do panteão Ugarith. Esse deus mais cósmico e menos terreno do que Baal era evocado como El.

Com os Ugarith os Hebreus aprenderam a cultuar El que é um dos nomes do deus do Tanah, o Velho Testamento judaico. E as descobertas nas bibliotecas de Ugarith confirmaram a formação da palavra Israel: Sãrâ (a grafia correta é com sinal de agudo no “S” e a pronuncia assemelha-se à ishra) = lutar com... + El = Deus.

Mas foi a decodificação de um sistema de escrita muito anterior à ugarítica que levou a ciência e os pesquisadores aos primórdios da história de Deus, milênios antes do pacto com os Hebreus que eliminou a interferência de Baal que foi relegado a condição de símbolo do mal e, mais tarde, reafirmado pelos cristãos como o diabo.

Esse primeiro sistema de escrita desenvolvido pelo ser humano foi utilizado ao longo de 3 milênios como o único meio literal de documentação de eventos históricos. Daí os Sumérios serem considerados o início da História, pois em argila ainda fresca cunharam seus relatos que depois de cozidos se transformaram em tábuas de cerâmica que se mantém intactas até nossos dias e, após a decodificação da escrita cuneiforme, legíveis.

Anteriores ao período da dispersão linguística indo-européia, os Sumérios eram remanescentes do Neolítico e por isso considerados o elo entre a Pré-História e a História. Mas deles não teríamos qualquer conhecimento nem poderíamos decifrar suas sobreviventes tábuas de argila, se Assírios e Babilônios não os enaltecessem em seus relatos sobre a primeira civilização humana.

Por constituírem uma civilização, atraíram as tribos nômades que subindo pelos desertos atravessavam o chamado corredor palestino e, evitando as tribos aguerridas e mais numerosas que se estabeleciam na região da Anatólia, buscavam os rios e as terras férteis da Mesopotâmia. Ali esses nômades se encantaram com as primeiras grandes evoluções técnicas e culturais que mudaram o rumo da história da humanidade até o dia de hoje, pois além da escrita e do arado os Sumérios também foram os inventores da roda, da cerveja, da matemática, da astronomia e muitos outros pioneirismos que naqueles tempos tinham um significado igual ou maior do que a chegada do homem à Lua.

Apesar de também reconhecidos como os primeiros a desenvolver estudos sobre as reações do organismo humano, evidentemente não faziam ideia dos códigos genéticos que na primeira década deste nosso século 21 dC vêm apontando irrefutáveis indicações sobre as origens de diversos grupos étnicos. Portanto, a única forma de identificarmos povos que como os Sumérios já se extinguiram, é pela estrutura linguística de seus idiomas ou por registros sobre suas características físicas.

Sumérios não era como se chamavam a si mesmos. Num idioma aglutinante onde os morfemas (elementos que compõe uma palavra) se justapunham, diziam-se Sa-gi-ga, ou “povo da cabeça negra”. E à região onde viviam denominavam de Ki-en-gi, “o lugar dos civilizados”.

De quem os Sumérios se autodistinguiam por ter cabeça não negra, julgando-os incivilizados?

Os pesquisadores concluem que a civilização Suméria se originou onde hoje é o Cazaquistão, por volta de 6 mil anos atrás. E é dos Sumérios a autoria do primeiro documento criacionista (em oposição a teoria evolucionista proposta por Darwin no século retrasado) sobre o surgimento da espécie humana.

Com mais de 4 mil anos de antecedência ao Bereshit, ao Tanakh, ou ao Gênesis, os Sumérios diziam que Enki, o mais importante de seus deuses, descera do cimo dos Montes Zagros que separam o Irã do Iraque. Descobertas arqueológicas confirmam que realmente os Sumérios estiveram nas planícies iranianas e acredita-se terem emigrado para a baixa Mesopotâmia, na confluência entre os rios Tigre e o Eufrates, no último período glacial. Próximos à atual Bagdá, hoje invadida pelos Estados Unidos, desenvolveram um povoado chamado Eridu, mas sua mitologia conta que Eridu fora construída por Enki, o deus da vida e da morte, e da sabedoria.

Após trabalhar duro na construção de Eridu, que em Sumério significa “lar distante”, Enki descansou no sétimo dia, segundo as milenares argilas marcadas pela escrita cuneiforme.

Enki desposara sua meia irmã Ninmah, com a qual teve o filho Ningishzidda. A esposa-irmã e o filho de Enki moldaram cópias de si mesmos em barro e depois partiram. Saudoso, Enki deu de seu sangue às esculturas e assim surgiu o primeiro homem e a primeira mulher.

Mais tarde, uma descendente destes primeiros humanos, de nome Adapa, vem a ter de filhos dois gêmeos: K-In e Aba-el.

Conforme o relato das tábuas de argila, entre 4.000 e 4.500 aC, o deus Oannes emergia do Golfo Pérsico para ensinar aos descendentes desses irmãos a escrita, a ciência astronômica, a agricultura, e o hábito de se morar em cidades.

Os descendentes de Aba-el não gostavam dessas lições e preferiam continuar sobrevivendo do que coletavam caçando ou pescando, numa íntima associação com a natureza. Mas os filhos de K-In se aplicaram e foram os que construíram as primeiras cidades Sumerianas e que, de fato, são as mais antigas entre todas as já descobertas pela arqueologia. Um total de 12 cidades-estados, próximas o suficiente para serem avistadas uma das outras, sendo Ur a principal delas, onde muito depois se construiu a Babilônia e mais tarde a Bagdá hoje invadida.

Turquia = Anatólia. À direita da Turquia = Cáucaso e Mar Cáspio. Á direita e ao norte do Cáspio, embora não conste nesse mapa: o Cazaquistão. Entre Arábia Saudita e Turquia, próximo ao Mediterrâneo: o corredor sírio palestino. À direita: a Mesopotâmia (Iraque) e, depois, o Irã (antiga Pérsia).
Seriam esses filhos de Aba-el os incivilizados dos quais os Sumerianos se distinguiam? Mas por que deles também se diferenciam pela cabeça negra?

Por falar em “cabeças”, vêm à lembrança que o termo “caucasiano” foi cunhado etnologicamente pelo filósofo e racista Christoph Meiners (1747 - 1810) que classificava os humanos em dois grupos: os bonitos (de cor clara) e os feios (de cor escura). No século 19, outro alemão, o antropólogo e zoólogo Friedrich Blumenbach, reafirmou a tese de que os europeus teriam surgido no Cáucaso devido a similaridade de feições com os povos daquela região. Na época, estudiosos de craniologia consideraram que metricamente os crânios dos europeus e de alguns povos do norte da África e outros do subcontinente indiano e da Ásia Ocidental, são iguais aos dos povos que viveram no Cáucaso.

Pelo Mar Cáspio, o Cáucaso corresponde aos países da margem oposta ao Cazaquistão, onde teriam se originado os Sumérios. Outra pista nos remete para muito antes, entre 300 mil e 40 mil anos aC, no período Paleolítico, quando esta mesma região foi dominada pelo Homem de Neanderthal.

Três anos antes da publicação de “A Origem das Espécies” de Charles Darwin, trabalhadores de uma mina de calcário no Vale de Neander, na Alemanha, encontraram um esqueleto que acreditaram como restos de um urso. Logo os paleantropologistas o identificaram como de um humanoide e o classificaram como uma subespécie do Homo Sapiens. Mais tarde aventou-se a hipótese de que o Sapiens teria evoluído daquela espécie, já então catalogada como Homem de Neanderthal. A princípio consideraram que Sapiens e Neanderthal não teriam compartilhado suas existências, no entanto novas descobertas em diversas partes da Europa e do Oriente Próximo evidenciaram contemporaneidade entre as espécies. Ainda assim não se acreditou possível uma coexistência.

Em 1998 uma equipe de estudiosos de escrituras rupestres encontra numa caverna do Vale do Lapedo, próximo a cidade de Leiria em Portugal, o túmulo de uma criança com providências ritualísticas.

Chamado o “Menino de Lapedo”, a análise do DNA deste fóssil bem conservado pelas características geológicas da caverna (calcário) revelou que a criança fora gerada por um cruzamento de um ou uma Sapiens com um ou uma Neanderthalensis.

Por fim, em 7 de maio de 2010, a Revista Science publica um estudo do Projeto Genoma do Neanderthal onde se concluiu que a população branca do mundo contém, sim, indícios claros do cruzamento do Homo Sapiens europeu, ou Cro-Magnon, com o Homem de Neanderthal, ainda que para os analistas o DNA mitocondrial (organela celular) indique que este último não pertença a linhagem humana.

Por observação e analogia com a evolução de outras espécies antropoides sob as mesmas condições climáticas, alguns estudiosos concluem que o frio e a pouca luz das regiões europeias e caucasianas, fez com que o Neanderthalensis desenvolvesse características próprias como cabelos ruivos mais lisos e mais cheios devido a escassez de sol e para possibilitar maior cobertura do rosto e do dorso onde, como em todo o corpo, seus descendentes tem mais pelos do que negros, asiáticos, aborígenes da Oceania e indígenas das Américas. Mas, principalmente a baixa pigmentação clareando a pele, seria uma reação da evolução do Neanderthal para retenção de maior calor da escassa energia solar.

Essas hipóteses talvez não expliquem satisfatoriamente de quem se diferenciavam os Sumérios, ou à que espécie de humanos Enki deu a vida através do seu sangue e à qual o Deus dos judeus inspirou a vida através do Seu sopro. Mas importante observar que o maior contato e convívio dos Sumérios foi com diversas tribos nômades provindas do sul e que ao longo de 3 milênios expressaram profunda admiração pela história, mitologia e cultura daqueles pioneiros da civilização humana, mesmo depois de terem desaparecido.

Assurbanipal, por exemplo, o rei dos assírios, reescreveu em linguagem acadiana e escrita cuneiforme o que hoje é considerado a primeira literatura épica da História da Humanidade: “A Epopeia de Gilgamesh”. Uma das passagens desse épico relata quando um mensageiro avisou a Enki sobre a eminência de um dilúvio. Enki chamou a seu filho Ziusudra e ordenou que construísse uma Arca para se salvar do dilúvio, levando consigo a “Semente da Vida” de tudo o que existia.

Mais tarde Ziusudra foi chamado de Ut-Napist pelos babilônicos em cujas bibliotecas os patriarcas hebreus se inspiraram para desenvolver uma história que, compilada em livro, servisse de orientação aos de sua tribo para que se tornasse um povo, sem se dispersar pelos tantos apelos típicos de uma cidade cosmopolita, como então a grandiosa Babilônia.

Assim, ao personagem da mitologia suméria os hebreus deram o nome de Noé e conferiram a um dos filhos deste Noé o nome de Sem, do qual disseram ter originado todos os daquelas tribos que então ocupavam a Mesopotâmia, batizando-os de semitas.

Mas isso já foi próximo a 560 aC, quando depois de se considerarem os escolhidos de Jeová entre os semitas, relegaram alguns de seus irmãos como descendentes de Cam, irmão de Sem, que, por ter ofendido ao pai, Noé, Jeová desapropria de suas terras: Canaã, e as entrega aos filhos da ira de El dos Ugarith.

A civilização ugarítica desapareceu há muitos milênios, mas a julgar pela História do extermínio dos indígenas das Américas e dos aborígenes da Oceania, pelos 4 séculos de escravidão dos povos de África, os castigos impostos aos transgressores das leis do Islã, as perseguições aos judeus na Europa e, também lá, as torturas e queimas da Inquisição, a matança de hereges protestantes e o terror dos protestantes contra irlandeses católicos; a ira de El é infinita.

Ainda hoje, quando assistimos aos estupros das mulheres afegãs pelas forças da OTAN, as torturas aos homens do Iraque pelo soldados dos EUA/OTAN e o sistemático trucidamento das crianças de Gaza e da Cisjordânia pelos cidadãos e soldados de Israel; concluímos que a ira de Deus é eterna. Mas, na verdade, isso depende da função do deus de cada um.

O Deus do pastor Martin Luther King, por exemplo, tinha bem outra função e as funções dos deuses se diferem de acordo com a história daqueles que os possuem e de seus diferentes interesses.

De toda forma, a História continuará sendo a História. Esta sim única e verdadeira, independente dos interesses de quem quer que seja ou de quem a conte, inclusive os deste contador que se limitam ao compartilhar do pagamento de promessa a uma amiga.

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