quinta-feira, 19 de maio de 2011

GEAB nº 55: A Crise Sistêmica Global

Mais curta a parte pública do relatório Geab neste número 55. Que, no geral, confirma todas as previsões anteriormente feitas.

E os “defeitos” também: na Europa tudo funcionaria bem, pois os políticos é que sabem. Pena só os banqueiros, que são “loucos”.

Os rapazes do GEAB deveriam explicar como é possível que apesar destes grandes estadistas do Velho Continente (Merkel e Sarkozy os pontos de referência neste caso), a Europa continua numa situação tão miserável.

Mas estes são pormenores: a substância é outra e está bem vista.
A substância é dum mundo que marcha com determinação e alegria na direção da “tempestade perfeita”.

Não esqueçam o guarda-chuva


A confirmação dum sério aviso para o segundo semestre de 2011
Fusão explosiva da dissecção geopolítica e da crise econômica global 

Quase um ano atrás, o LEAP/E2020 identificou o segundo semestre de 2011 como um novo ponto crítico no desenvolvimento da crise sistêmica global.

Como na nossa antecipação de Fevereiro de 2008, que realçou o grave choque que logo teria afetado a economia dos EUA em setembro de 2008; nesta edição do GEAB podemos confirmar que todas as condições estão reunidas para que o segundo semestre de 2011 possa ser o palco da fusão explosiva de duas tendências fundamentais da crise sistêmica, ou seja, a dissecção geopolítica global por um lado, e a crise econômica e financeira do outro.

De fato, durante vários meses o mundo experimentou uma série quase ininterrupta de choques geopolíticos, econômicos e financeiros que, para o LEAP/E2020, eram sinais do grave evento traumático que vamos analisar.

Ao mesmo tempo, o sistema internacional já passou a fase de enfraquecimento da estrutura para entrar na degradação total, em que as velhas alianças estão desmoronando e há o rápido crescimento dos novos grupos de interesse.

Finalmente, qualquer esperança duma significativa e sustentada recuperação da economia global está, agora, desaparecendo, enquanto a dívida dos principais países ocidentais, em especial dos Estados Unidos, atingiu um nível crítico sem precedentes na história moderna. 

Comparação entre as percentagens do PIB mundial dos Estados Unidos e da China no periodo 2001-2016 (paridade de poder de compra)Fonte: FMI / Market Watch, 04/2011
Os catalisadores da fusão explosiva será, obviamente, o sistema monetário internacional (ou melhor, o caos monetário internacional, agravado pela catástrofe que atingiu o Japão em março passado) e a incapacidade dos Estados Unidos para enfrentar uma imediata e significativa redução do enorme déficit.

O fim do Quantitative Easing 2, símbolo e fator explosivo da fusão em andamento, representa o fim duma era, aquela em que o Dólar dos EUA era a moeda dos Estados Unidos e o problema do resto do mundo: a partir de julho de 2011, o dólar será claramente a maior ameaça para o resto do mundo e o problema crucial para os Estados Unidos.

O verão de 2011 confirma que a Federal reserve perdeu a aposta: a economia americana, de fato, nunca deixou a grande depressão na qual entrou em 2008, apesar dos trilhões de dólares injetados; um fato que o maioria dos norte-americanos conhecem muito bem.

Não é possível começar um Quantitative Easing 3 e a Fed observa, impotente, as taxas de juro aumentarem, os custos do déficit explodirem, enquanto o mundo mergulha numa recessão econômica que se intensificou, o mercado acionário está em colapso e o dólar ter um comportamento errático, com movimentos repentinos e imprevisíveis, tudo antes de perder 30% do próprio valor, tal como antecipamos no relatório anterior.

Ao mesmo tempo a Zona Euro, os Países BRICS e os produtores de matérias-primas reforçam rapidamente a própria cooperação, e vão lançar uma última tentativa para salvar as instituições internacionais criadas por Bretton Woods e o mundo dominado pela dupla EUA/Reino Unido.

Esta será a última tentativa, pois não é realista imaginar que Barack Obama (que ainda não mostrou uma maior estatura internacional) possa esforçar-se para ser um estadista, e, em seguida, assuma riscos políticos em ano de eleição presidencial.

Barreiras, segurança, embargos, a diversificação das reservas, a febre das commodities, o aumento generalizado da inflação: o mundo está a se preparando para um novo choque econômico, social e geopolítico 

A China acaba de anunciar que está interrompendo todas as exportações de combustível diesel, para tentar conter a subida dos preços que recentemente causou uma série de greves no setor dos transportes rodoviários. Como podem os Países asiáticos, que dependem dessas exportações da China, lidar com a situação, tal como o Japão fez no rescaldo do terramoto-tsunami do passado mês de março?

A Rússia também interrompeu a exportação de certos produtos petrolíferos para limitar a escassez e o aumento dos preços domésticos, isso além do stop nas exportações dos cereais, que começou há alguns meses.

No mundo árabe continua a dominar a instabilidade, como pano de fundo ao aumento do custo dos produtos alimentares de base, enquanto surgiram questões relacionadas com as reservas de petróleo da Arábia Saudita e a efetiva capacidade de produção.

Nos Estados Unidos, qualquer evento atmosférico fora do normal causa o risco imediato de escassez de produtos, devido à falta de um “sistema de segurança” na distribuição, a menos de não recorrer às reservas estratégicas. Enquanto isso, a população reduz os gastos com os alimentos para encher os tanques de combustível dos próprios carros: mais de 4 Dólares/galão!

Na Europa, o declínio da segurança social e as medidas de austeridade extrema implementadas no Reino Unido, na Grécia, em Portugal, em Espanha e na Irlanda, causaram a explosão no número de pobres. 

Percentagem da população masculina empregada nas sete principais economias ocidentais (1970-2009) - Fonte: The Economist OCDE / 04/2011

A União Europeia acaba de reforçar as próprias alfândegas para resistir em especial perante a vaga das importações asiáticas. Em primeiro lugar reviu os preços da alfândega de modo a dificultar a importação de países emergentes, principalmente China, Índia e Brasil. Em segundo lugar, no final de 2010, aprovou uma lei para facilitar a implementação de medidas anti-dumping e medidas de salvaguarda.

Enquanto isso, os bancos centrais continuam a comprar ouro e anunciam de forma mais ou menos clara, que estão diversificando as reservas; e, ao mesmo tempo, iniciam políticas cada vez mais incoerentes e perigosas, aumentando as taxas de juros para combater a inflação num contexto de economias fracas em recessão ou com o fim de combater o fluxo de caixa gerado pelas políticas da Federal Reserve.

Parafraseando o título dum artigo de Andy Xie, publicada no Caixin do dia 22 de abril deste ano, “o aumento da inflação torna loucos os banqueiros centrais”.

E o lado dos EUA está completamente no mundo dos sonhos: enquanto o País atingiu níveis insustentáveis de endividamento, os líderes de Washington fizeram deste tópico uma questão eleitoral, como evidenciado pelo problema do limite da dívida pública federal, que será atingido no dia 16 de Maio [limite já alcançado e ultrapassado, NT].

Abundam as comparações nos Estados Unidos e na imprensa financeira internacional, com os anos Clinton, em que se tinha criado um problema semelhante, sem grandes consequências.

Obviamente, uma parte importante da elite dos EUA ainda não percebeu que, ao contrário da década de 90, os Estados Unidos são vistos hoje como o “doente do mundo”, uma situação na qual cada sinal de fraqueza pode desencadear um pânico incontrolável.

Banqueiros centrais loucos, líderes mundiais sem um roteiro, economias em risco, inflação, moedas em apuros, a irregularidade dos valores das matérias-primas, dívida ocidental fora de controle, desemprego nos níveis mais elevados...

Não há nenhuma dúvida: a fusão explosiva de todos estes eventos será realmente o memorável acontecimento do segundo semestre de 2011.

Enviado pelo Gilson Sampaio

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