Alfredo Pereira dos Santos |
A.P.Santos
Napoleão Bonaparte, que nasceu em 15 de agosto de 1769, entrou na academia militar com dez anos de idade e chegou a general aos vinte e seis. Como diz o médico Lair Ribeiro, que nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 6 de julho de 1945, estudioso da neuro-linguística, “nada acontece por acaso” e “o único lugar onde sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”.
O menino Napoleão gostava de ler, interessava-se pela História e pela Geografia e era notavelmente dedicado à matemática. Conta-nos um dos seus biógrafos que, quando menino, trancou-se em casa durante três dias até conseguir resolver um difícil exercício de matemática que lhe deram.
Não se pode medir todos os homens com a mesma régua, pois as unidades diferem. Alguns homens são capazes de grandes vôos, outros vão rastejar sempre.
Devemos sempre estabelecer objetivos elevados mesmo que não se os alcance. Ainda que se consiga a décima parte do pretendido o esforço terá valido a pena. A alternativa seria ficar parado.
Certa vez passei a um jovem, de seus quinze anos, a seguinte questão: “Um lago tem uma vitória-régia no primeiro dia, duas no segundo, quatro no terceiro e assim por diante. No trigésimo dia o lago estará completamente cheio de vitórias-régias. Quantos dias foram necessários para que as vitórias–régias enchessem a metade do lago?”. A resposta veio na bucha, porém errada. Quis o jovem então saber qual era a resposta, que eu não dei, sugerindo que ele pensasse a respeito. No dia seguinte encontrei-o quando ele ia para a escola e lhe perguntei se tinha achado a resposta certa. Ele sorriu e me disse: “eu nem me lembro mais do que era”.
A um outro jovem, da mesma idade eu disse o seguinte: “Um caçador deve levar para o outro lado do rio um leão, uma ovelha e um monte de feno. Na canoa de que ele dispõe para fazer a travessia só pode ir o caçador com um dos animais ou o caçador com o monte de feno. Como deve proceder esse caçador para levar leão, ovelha e feno para o outro lado sem que o leão coma a ovelha ou sem que a ovelha coma o feno?”. Esse jovem também não quis fazer o menor esforço para achar a solução e queria que eu lhe desse a resposta. Perguntei-lhe o que profissão queria ter na vida e fiquei sabendo que era a de policial ou de jogador de futebol. Nada tenho contra essas atividades, apenas faço o registro.
Entre outras pretensões profissionais dos jovens daqui, onde faço as minhas observações e pesquisas, além de jogador de futebol e policial, tem também a de cantor. Não um cantor como foi, nos bons tempos, o Cauby Peixoto, o Sílvio Caldas ou o Nelson Gonçalves, que eles não conhecem nem nunca ouviram falar, mas sim cantor de hip-hop. Há quem defenda esse tipo de manifestação musical (eu diria anti-musical) alegando ser coisa que ajuda aos jovens das periferias das grandes cidades. Mas sempre que me dizem isso eu me lembro de uma frase do poeta gaúcho Mário Quintana: “Uma boa causa não salva um mau poeta”.
Voltando ao menino que quer ser cantos, eu dia que essas “vocações” mudam com o tempo. No Rio de Janeiro eu encontrei jovem que queria crescer e ser “lanterninha de cinema”, para ver filme de graça. Cresceram e foram ser coisa completamente diferente.
Criança não é adulto em miniatura, mas um ser completamente diferente de nós, adultos. Ela pensa diferente de nós. O Einstein, preocupado com as questões do ensino da Física, chegou a perguntar ao Piaget, o grande estudioso do pensamento infantil, sobre o entendimento que as crianças tinham de coisas como velocidade, espaço e tempo. Seriam os conceitos de velocidade e tempo independentes ou estariam ligados com o de espaço?
No estudo dessas questões a gente pode começar observando os nossos próprios filhos. Tinha o meu filho mais velho quatro anos de idade quando, em visita à casa de amigos, a mãe lhe ofereceu um doce, que ele recusou dizendo “Depois”. Diante da recusa a mãe sentou-se no sofá da sala e pôs-se a conversar. Passado um minuto ou dois o menino disse “Mãe, me dá o doce”. A mãe, com uma certa contrariedade, por ver a sua conversa interrompida, disse “Você disse DEPOIS”. A resposta veio rapidamente:
“Agora já é DEPOIS”.
Eu não pude conter o riso nem deixar de dar razão a esse filho que, ao longo da vida, sempre se mostrou excelente aluno. A mãe, é claro, deu o doce, pois o argumento era irrefutável.
Assim como os pais devem observar os filhos e procurar conhecê-los, os professores devem fazer o mesmo com os seus alunos. O educador francês Edouard Claparède recomendava “antes de tudo começai a conhecer os vossos alunos, pois, certamente, não os conheceis”.
O título desse texto fala em xadrez e eu até agora nada disse sobre o mesmo, embora pudesse ter acrescentado que o Napoleão gostava muito de jogar xadrez, embora fosse um jogador medíocre. Igualmente poderia ter dito que o Einstein jogava xadrez. Gostava também da música de Mozart e dedilhava alguma coisa ao violino, embora não fosse nenhum Yehudin Menuhin ou um Jascha Heifetz.
Tem um ditado que diz que “as desgraças nunca vem sós”. Mas se poderia igualmente dizer que “as graças nunca vem sós”. De fato, música, xadrez, matemática também andam juntas. Assim como também andam juntos trabalho, estudo, dedicação e sucesso. LABOR IMPROBUS OMNIA VINCIT.
Por outro lado, tanto Claparède quanto Piaget defenderam o uso do jogo nas escolas. Nesse caso o xadrez está incluído, como um “jogo de regras”, distinto das outras categorias, como os “jogos sensório-motores” e os “jogos simbólicos”.
Eu pensei em dar o seguinte título a esse texto: “Algumas dificuldades no ensino o xadrez”. E ele não deixaria de ser apropriado, pois num contexto histórico-cultural, como esse do Brasil atual, em que se verifica que boa parte dos jovens não gosta, não quer ou não pode pensar, como eles irão se interessar pelo jogo de xadrez?
Isso deve estar acontecendo, pois não há grande renovação no xadrez, caso a situação do Rio de Janeiro possa ser projetada para o resto do Brasil. Observando-se os resultados dos campeonatos estaduais dos últimos doze anos, naquele estado, verifica-se que sete dos vencedores tinham mais de quarenta anos quando conquistaram o título. Um outro obteve o título com 39 anos e o atual campeão tem 28 anos. A exceção é o Diego di Berardino, que obteve o título em três ocasiões, com 16, 20 e 22 anos de idade. O Diego é filho de um casal argentino, o pai engenheiro e a mãe psicóloga. Mas note-se que ele teve como professores um Mestre Internacional e um Grande Mestre Internacional. Mas estes não estão disponíveis para a maioria, pois cobram caro por suas aulas.
Há, no Rio de Janeiro, um movimento pela renovação das coisas do xadrez naquele estado. Esse movimento empenha-se em realizar com freqüência torneios de xadrez com participação a mais ampla possível. E eles estão obtendo sucesso por duas razões principais:
A primeira é que, embora não possa mais ser considerada a “Capital Cultural do Brasil”, ainda há ambientes adequados à difusão do jogo de xadrez, o que é mais comum em grandes centros, constituindo exceção o interior.
A segunda é que existe um grupo de pessoas dedicadas, generosas, capazes de levar adiante esse projeto de renovação, coisa bem diferente de outros lugares do Brasil, onde você encontra um ou outro abnegado remando contra a maré.
Mas não basta apenas organizar provas enxadrísticas. É preciso olhar com especial atenção à questão do ensino do jogo. Não com a preocupação de formar campeões, mas sim de massificá-lo. Da quantidade surgirá a qualidade.
Então eu volto, para encerrar, à pergunta contida no início deste texto: “A quantas pessoas você já ensinou a jogar xadrez?”. Naturalmente que se você ensinar a duas ou três pessoas isso não será um grande número, mas se cada uma dessas pessoas ensinar, por sua vez, a outras duas ou três, com o tempo teremos obtido um resultado significativo.
Crônica enviada pelo autor
Caro Castor Filho, respondendo sua pergunta, já ensinei a prática do xadrez para mais de uma centena de crianças e jovens. Aprendi que só se
ResponderExcluirdeve ensinar a aqueles que querem e pedem, aos que não estão interessados não adianta, jamais aprenderão.
Apenas uma ressalva ao seu texto, ensinada por meu pai, há mais de meio século atrás: jamais chame xadrez de "jogo". É prática, ou seja, pratica-se xadrez, pois não é jogo, não depende de sorte, mas de raciocínio.
Para Piaget existem três tipos de jogos: 1) Jogos sensório-motores; 2) Jogos simbólicos e 3) Jogos de regras.
ResponderExcluirMuita gente associa a palavra JOGO a futebol, baralho, etc. A concepção de jogo, contudo, é mais ampla. Os jogos sensório-motores, por exemplo são típicos dos primeiros meses da vida. A criança pequena joga.Não um jogo de regras, como o domínó. Mas joga.
O educador francês Claparède dizia "tudo é jogo" a afirmava que a escola deve fazer amplo uso do jogo.
O xadrez inclui-se na categoria dos "Jogos de Regras" que,seguindo Piaget, "é a atividade lúdica do homem socializado". Isso está dito no livro "A Formação do Símbolo na Criança", do próprio Piaget.
Tem um livro do Huizinga, "Homo Ludens", que trata dessas questões com mais amplitude. Eu o recomendo a quem se interessa por tais questões.
E se quisermos ir mais longe ainda, tem o famoso livro "Teoria dos Jogos". Não me lembro do nome do autor (ou autores) agora.
Alfredo Pereira dos Santos