domingo, 4 de novembro de 2012

EUA, eleições 2012 - o Irã: “O pessoal de Mitt Romney atiça os cães da guerra”


Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Jeremiah Goulka
É consenso entre os “especialistas” “midiáticos”: a política externa não pesa nas eleições presidenciais em curso. Insistem em que o Republicano Mitt Romney mais ou menos papagueou o que disse o presidente Barack Obama, em tudo, de gastos militares à conversa sobre outro “século norte-americano”.

Os “especialistas” da “mídia” estão errados. Há uma questão que pesa e muito: o Irã.

Não se enganem. Não é só conversa fiada de campanha, quando Romney diz que será muito mais duro que o presidente, contra o Irã e ameaça “uma opção militar que mereça confiança”. Claro que também tenta soar mais forte e mais duro que Obama – e logo quem, o presidente da guerra dos drones, das “listas de matar” e do assassinato de bin Laden – mas não é ameaça vazia.

O candidato Republicano cercou-se de conselheiros [1] que são, todos, comprometidos com ação militar e golpe para mudar o regime no Irã, a mesma gente que arrastou os EUA para a Guerra Global ao Terror e a Guerra do Iraque. Com seus colegas, em institutos e think-tanks Republicanos de linha duríssima, passaram anos induzindo os cidadãos a crerem que o Irã teria programa de armas nucleares, falando sem parar de mulás “loucos” que trabalhariam para varrer Israel e os EUA do mapa, diplomacia de desqualificação – e endurecendo um pouco mais, cada vez que eram desmentidos por intelectuais sérios ou funcionários do governo que os norte-americanos ainda respeitam.

Diferente do caso do Iraque em 2002 e 2003, hoje, para eles, as coisas são mais fáceis. E esse pessoal partiu em caravana de promoção de vendas [2], falando sem parar sobre armas de destruição em massa, para assim arregimentar apoio para invadir o Irã. Hoje, ampla maioria dos norte-americanos já acredita que o Irã está construindo armas atômicas.

O presidente ajudou a empurrar ladeira acima essa bola de neve, com sanções para enfraquecer o regime iraniano, guerra suja, ciberguerra e descomunal presença naval dos EUA no Golfo Persa. O Irã promoveu manobras militares ampliadas, e os EUA promoveram manobras conjuntas com Israel naquela área e “a maior operação multinacional de toda a história para treinamento militar antiminas” [3]. Os EUA dançam ali uma dança perigosa [4].

Irã e P5+1
Obama carregou e engatilhou a arma. Mas, até agora, manteve o dedo longe do gatilho, tentando solução diplomática nas conversações do grupo chamado P5+1 e deixou no ar rumores de futuras conversações com os iranianos. O problema é que o pessoal de Romney quer tiroteio.

Diferente do Iraque, a guerra contra o Irã é mais fácil de vender

Lembram-se dos dias de inocência, em 2002 e 2003, a guerra do Afeganistão ainda começando, e o governo Bush tentando vender aos norte-americanos uma invasão do Iraque?. Lembro-me perfeitamente. Naquele tempo, eu era Republicano. Mas nem assim comprei a ideia. Jamais senti qualquer necessidade de invadir o Iraque, nunca vi qualquer conexão entre a al-Qaeda e o Iraque, nem jamais me preocupei com armas de destruição em massa. Eu, de algum modo, sentia que alguma coisa estava errada. E quanto ao Irã, hoje? Tudo diferente! Se eu ainda fosse Republicano, com certeza, o jogo seria esse mesmo, e sei que não estaria sozinho, por três razões.

Primeiro, até estrategistas de poltrona sabem que o Irã possui muito petróleo, ao qual os EUA não temos acesso: é a quarta maior reserva do planeta. Tem também longo litoral no Golfo Persa, e tem capacidade para fechar o Estreito de Ormuz, o que é como ter poder para pinçar umas das principais artérias planetárias por onde fluem recursos de energia.

Estreito de Ormuz
E há também o fato de que o Irã ocupa lugar especial na consciência dos norte-americanos. A República Islâmica do Irã e os mulás que a governam são inimigos culturais dos EUA desde que estudantes revolucionários iranianos derrubaram o regime-fantoche que mantínhamos lá e invadiram a Embaixada dos EUA em Teerã, em 1979. O país é uma teocracia governada por barbudos, com cara de mau e roupas esquisitas. Ajudam o Hezbollah e o Hamás. Nas ruas, as multidões nos chamam de “O Grande Satã”. O presidente deles nega o holocausto dos judeus e diz horrores sobre varrer Israel do mapa. Aí está, para pronta entrega, um inimigo.

E por fim, cereja do bolo, as armas nucleares.

O público parece hipnotizado. Grande maioria dos norte-americanos crê que o Irã mantém programa de armas nucleares: 71% em 2010; 84% em março de 2012. Há pesquisas, até, que mostram que uma maioria de norte-americanos apóia ação militar para impedir que o Irã prossiga na produção de armas nucleares.

Chama a atenção, contudo, a quantidade e a qualidade dos especialistas que pensam exatamente o oposto disso tudo. Por exemplo, o Conselho de Inteligência Nacional [orig. National Intelligence Council], seminário de especialistas que redigem o documento conhecido como National Intelligence Estimates do governo dos EUA. Continuam a repetir que, segundo avaliação deles, o Irã teve um programa para construir armas nuclerares sim, mas foi extinto em 2003. Altos funcionários de EUA, Israel e países europeus também insistem que o Irã não tem o tal programa, que sequer chegou algum dia a decidir tê-lo, que, no máximo, os iranianos começam a chegar perto de poder ter, talvez, o tal programa. O Supremo Líder do Irã, em pessoa, lançou uma fatwa que proíbe que se construam bombas atômicas no Irã. O que, então, dá tal convicção aos cidadãos norte-americanos, contra tantas evidências e provas de que estão errados? Como chegamos a esse ponto?

As principais razões para termos chegado ao que chegamos são três; dessas, só uma, e parcialmente, é honesta.

O que se esconde num adjetivo? 

A primeira razão é linguística e muito simples. Enuncie, em voz alta, as seguintes palavras: “Programa nuclear civil do Irã”.

Já ouviram antes? Há altíssima probabilidade de que todos respondam “não”. Estranharam, até, ver as palavras escritas? Provavelmente, “sim”. Porque a imprensa-empresa não usa essas palavras; nem os “especialistas” da imprensa-impresa jamais as usaram; porque nenhum dos candidatos usa essas palavras ao se referir às atividades nucleares do Irã. O Irã tem um programa de uso civil da energia nuclear, inclusive uma usina nuclear em Beshehr, lá implantada com a ajuda e o estímulo do governo Eisenhower em 1957, como parte de seu programa “Átomos para a Paz”. Alguém algum dia ouviu falar disso nos últimos anos? Não. Só se fala e escreve-se sobre “o programa nuclear iraniano”. Devidamente contextualizado, o significado dessas três palavras passou a ser um só: “o Irã está construindo bombas atômicas”.

Por pura curiosidade, fiz minhas próprias pesquisas no Google. O resultado é espantoso:

“Iran’s disputed nuclear weapons program”: 4 resultados
“Iran’s possible nuclear weapons program”: aprox. 8.990 resultados
“Iran's civil nuclear program”: aprox. 42.200 resultados
“Iran’s civilian nuclear program”: aprox. 199.000 resultados
“Iran’s nuclear weapons program”: aprox. 5.520.000 resultados
“Iran’s nuclear program”: aprox. 49.000.000 de resultados [5]

As palavras fazem toda a diferença, e esses deslizamentos de significados estão modelando a percepção dos norte-americanos e empurrando os cidadãos para que apoiem mais guerras.

Parte disso tudo é, provavelmente, efeito de preguiça ou inércia. Ter de escolher entre escrever “civil” ou “armas” ou “discutível”/ “discutido”/ “controverso” ou “possível” é trabalho extra e a escolha parece nem fazer diferença alguma. Até quem teria boas razões para buscar a máxima precisão usa a fórmula mais sintética; entre esses, o presidente Obama [6]. Mas, sim: parte disso tudo é intencional e deliberado.

Os candidatos Republicanos à presidência fazem proselitismo

A segunda razão pela qual tantos norte-americanos estão convencidos de que o Irã busca empenhadamente construir armas atômicas pode ser atribuída diretamente aos candidatos Republicanos à presidência. Eles usaram o espectro desse programa de armas para espancarem-se uns os outros durante a campanha das primárias, cada um tentando apresentar-se como o mais mau, o maior, o mais durão do mercado, em matéria de xerife-de-quarteirão – e dali em diante, não pararam nunca mais.

O exagero foi impressionante. Por exemplo, Rick Santorum: “Depois que tiverem uma bomba atômica, acreditem em mim, vocês nunca mais estarão a salvo, nem aqui no Missouri”. Ou Newt Gingrich: “Lembrem do que foi o 11/9, quando 3.100 norte-americanos foram mortos. Imaginem então se se metem mais dois zeros: dá 300 mil mortos. Talvez meio milhão de feridos. Há perigo real. Não é ficção científica”.  

E o próprio Mitt Romney: “Nesse momento, o maior perigo que os EUA enfrentam e o mundo enfrenta é um Irã nuclear”.  [7]

A Brigada do Golpe/Mudança de Regime

Embora isso não a torne desculpável, o desleixo, a preguiça, a omissão e a posição ativa da imprensa-empresa na disputa política são previsíveis. Mas há uma terceira razão pela qual os norte-americanos são obcecadamente empurrados na direção de mais e mais guerras: há em Washington o que se pode chamar de “Lobby pró Bombardeie o Irã” – sujeitos linha-duríssima e grupos dedicados a nos tornar crentes praticantes da religão “O Irã está produzindo Bombas Atômicas para NOS Atacar”, que trabalham exclusivamente para pavimentar a estrada que levará a golpe para derrubar o regime do Irã – que, entre eles, chama-se “mudança de regime”. Não se deve esquecer que, além de Republicanos que martelaram a ideia durante todo o outono, o grupo inclui também atuais [8] e ex-Democratas [9] que já disseram que bombardear o Irã seria excelente ideia.

Numerosos think-tanks conservadores e neoconservadores vivem de produzir relatórios, colunas, matérias jornalísticas e artigos em periódicos ‘especializados’ todos sugerindo e alguns claramente declarando que “o Irã tem um programa nuclear” que tem de ser contido – e que, com certeza, será preciso usar forçar armada para contê-lo.

Basta examinar o fluxo continuado de palavras que jorram de think-tanks Republicanos como a Heritage Foundation e o American Enterprise Institute (AEI). (“Já está suficientemente claro há muito tempo que, na ausência de mudança de regime em Teerã, nenhum meio pacífico conseguirá persuadir ou impediro o Irã de atingie seu objetivo nuclear, cada dia mais perigosamente próximo”.) Ou o Claremont Institute (“Ameaça mortal, hoje, quando o Irã ainda não é senhor de um arsenal nuclear? Sim!”) ou os neoconservadores que tomam a fresca nos solários de institutos e fundações não partidárias como Max Boot, no Council on Foreign Relations (“Ataques aéreos contra o Irã são plenamente justificados”).

E vê-se a mesma coisa até nas igrejinhas Republicanas de linha ainda mais dura, como a Foundation for the Defense of Democracies [10] [Fundação para a Defesa das Democracias], com sua “campanha para garantir que o juramento feito pelo Irã, de destruir Israel e criar “um mundo sem EUA”, continue nem cumprível nem factível”. (Segundo um dos distintos conselheiros políticos do grupo e âncora da rede Fox News, o Irã tem “programas de armas atômicas” [tudo no plural]).

Para o velho grupo da Guerra Fria, Committee on the Present Danger [Comissão para o Perigo Presente], o Irã “marcha rumo à nuclearização”. O general aposentado e cruzado cristão Jerry Boykin, do Family Research Council [Conselho da Busca/Pesquisa da Família] até já garantiu a Glenn Beck, “Acredito que o Irã tem uma ogiva nuclear hoje”.

Há também duas organizações, muito ouvidas à direita, que se dedicam exclusivamente, em tempo integral, ao golpe/mudança de regime. Há o Emergency Committee for Israel [Comissão de Emergência pró Israel], grupo militante fundado por Bill Kristol e Gary Bauer, no qual se conectam a direita cristã, os neoconservadores e o lobby israelense. A Comissão insiste em que “o Irã prossegue na busca de uma bomba atômica”; e não se cansa de pregar o golpe/mudança de regime no Irã, com imediato bombardeamento.

Este casal comanda os terroristas MEK Mujahedin-e Khalk
Não menos importante é o grupo Mujahedin-e Khalq (MEK), de dissidentes iranianos que, recentemente, em movimento cercado de muita controvérsia, foi removido da lista oficial dos EUA de organizações terroristas estrangeiras. O MEK divulgou informações da inteligência israelense, sobre um supostamente então ainda ativo programa iraniano de armas nucleares, em conferência de imprensa, em 2002, em Washington. Desde então, jamais se cansou de contar histórias picantes em que sempre há um personagem iraniano e ‘nuclear’; mantém também campanha de lobby gigante, pagando dúzias de ex-funcionários de serviços e agências norte-americanos antiterrorismo – vários dos quais trabalham hoje na indústria da Defesa – mas que, hoje, já praticamente vivem de elogiar o MEK pela imprensa.

O MEK quer golpe/mudança de regime, porque tem esperanças de que os EUA implantarão no poder no Irã, “depois”, um “presidente eleito” e um “parlamento no exílio”, só de MEKianos. (Coisa como Ahmed Chalabi e seu Congresso Nacional Iraquiano, que desempenhou papel similar junto ao governo Bush, nos preparativos para a invasão do Iraque. Os dois grupos compartilham até algumas das cadeiras da fila do gargarejo, de gritadores de “apoiado!”).

E há ainda os grupos que clamam por guerra contra o Irã por razões ditas religiosas. Os Christians United For Israel, CUFI [Cristãos Unidos por Israel], organização político-religiosa que prega o fim dos tempos, comandada por John Hagee, pastor da megatemplo em Cornerstone, em San Antonio. Como Nicholas Guyatt demonstra em seu livro Have a Nice Doomsday [Bom Apocalipse p’rá você], a organização de Hagee promove a crença, frequentemente encontrável entre cristãos fundamentalistas, de que uma guerra entre Israel e Irã será o gatilho para o fim dos tempos.

O próprio livro de Hagee, Countdown Jerusalem, sugere que o Irã já teria armas nucleares e total capacidade para usá-las e advoga agressivamente a favor de um ataque contra o país. Para muitos norte-americanos, Hagee, seus seguidores e outros grupos religiosos assemelhados parecem doidos ou perfeitamente alucinados; nada disso implica que devam ser desconsiderados: o livro de Hagge vende aos milhões de exemplares. [11]

Coadjuvantes e elenco de apoio

As empresas-imprensa do partido Republicano também entraram nesse jogo, e não se cansam de passar e repassar matéria jornalística sobre o assunto, empenhadas em assegurar plena liberdade de manifestação aos grupos que ladram a favor de mais guerra. Por exemplo, a pergunta incluída numa pesquisa de opiniã feita em março, encomendada e paga pela rede Fox News: “Você acha que o Irã pode ser impedido de continuar a trabalhar para ter bombas atômicas mediante diplomacia e sanções, ou será indispensável usar força militar para impedir que o Irã fabrique bombas atômicas?” Sem levar a sério os resultados desse tipo de “pesquisa”, a maioria dos norte-americanos realmente prefere a diplomacia; 81% apoiam a via de conversações diretas entre Washington e Teerã.

E não se pode esquecer o complexo militar-industrial, gente para quem o medo de um Irã armado com armas nucleares significa oportunidade de negócios. Em geral defendem essa vaca na qual mamam há muito tempo servindo-se de um escudo muito amado pelos Republicanos: os mísseis de defesa (que a campanha de Romney promove com todas as honras, em sua página na internet, “Iran: An American Century” [Irã: Um Século Americano]. Criam assim o espaço e a oportunidade para que o Pentágono clame pela produção de novas bombas anti-bunker e pela construção de duas novas classes de caríssimas naves de combate em áreas litorâneas.

Se os EUA chegarem a ser arrastados a bombardear instalações iranianas – e inevitavelmente arrastados a envolver-se em guerra prolongada – a conta, em sangue, será medida em tonéis. E não esqueçam os potenciais LOGCAP, contratos de construção e de contratação de batalhões de “guardas” e “soldados” privados (que seriam assinados, mesmo sem que haja ocupação) com as KBRs, SAICs, DynCorps, Halliburtons, Bechtels, Wackenhuts, Triple Canopies e Blackwater [12] /Academis do mundo inteiro.

(Infelizmente, não há, nos EUA, leis que obriguem os beneficiários a divulgar o total de dinheiro que essas empresas doaram, direta ou indiretamente, para a campanha de Romney ou para os institutos, fundações, think-tanks [e Institutos Milênios, iFHCs e outros] que existem para gerar e divulgar argumentos construídos por ideólogos profissionais.)

O problema com Romney

Tudo isso significa que a opinião pública foi manipulada na direção de “desejar” guerra contra o Irã. Recebendo sempre a mais atenta cobertura da imprensa-empresa, os candidatos Republicanos implantaram aqui a noção de que o Irã estaria às vésperas de ter bombas atômicas; que essas bombas representam ameaça real à existência de Israel e dos EUA; e que diplomacia é coisa para “almofadinhas”. Se Obama vencer, terá de trabalhar muito mais e mais aplicadamente para impedir a guerra. Se Romney vencer, a guerra será a coisa mais fácil. E isso, para o pessoal de Romney é boa notícia.

O problema com Romney é que, sabem... Ele tem andado em péssima companhia – a Brigada do Golpe/Mudança de Regime, muitos dos quais já ajudaram a empurrar o timão na direção do Iraque quando, pressupostamente, quem estava ao timão era George W. Bush. E não esqueçam que Bush, como Romney (e Obama), era barco vazio, em matéria de assuntos externos, quando chegou ao Salão Oval. Ainda que o Irã não passe de ferramenta de campanha para Romney, a ideia do golpe/mudança de regime é objetivo fixado há muito tempo pelo pessoal que o cerca. Aquela gente realmente quer bombardear o Irã. Nunca pararam de dizer que querem, e querem.

Project for a New American Century 
Robert Kagan, por exemplo. Seu ninho está armado na Brookings Institution, não partidária, mas ele também comanda o Project for a New American Century [Projeto para um Novo Século Americano], dos neoconservadores, e uma organização aí incluída, a Foreign Policy Initiative (FPI). “Mudança de regime no Irã”, Kagan escreveu, “é a melhor política de não proliferação”.

Outros diretores da FPI, companheiros de Kagan, também estão na equipe de Romney: Bill Kristol, Eric Edelman (ex-conselheiro de Cheney e sucessor de Douglas Feith no Pentágono); e o ex-porta-vóz da Coalition Provisional Authority, Dan Senor, que se converteu no assessor político que Mitt mais ouve e em quem mais confia (e candidato sério a Conselheiro Chefe de Segurança Nacional). O que pensa e diz a FPI? “É hora de empreender ação militar contra elementos do governo iraniano que apoiam o terrorismo e o programa nuclear. Mais diplomacia não é resposta adequada”. (...) E a lista continua.

Claro que, em tese, um presidente Romney poderia ignorar todos os conselhos de sua equipe ultraconservadora, exatamente como George W. Bush ignorou todos os conselhos da equipe de moderados que participou do governo de seu pai. Mas... É difícil acreditar que Romney daria as costas aos sábios coroados de governos passados: a Cheney, ao ex-secretário da Defesa Donald Rumsfeld, ao ex-vice-secretário da Defesa Paul Wolfowitz. Fato é que não há quem não saiba que Romney a todo momento corre a aconselhar-se com os “Cheney-itas” (e dá as costas a Republicanos internacionalistas moderados). Cheney nunca pensou em outra coisa que não fosse bombardear o Irã.

Num possível governo Romney, a única coisa que se tem de esperar é que essa gangue cerque completamente o presidente, até conseguir que termine o serviço e detone as instalações nucleares iranianas ou que, pelo menos, dê luz verde a Israel. Todos fecharão os olhos a tudo que a experiência ensinou aos EUA no Iraque e no Afeganistão, quando a coisa vira negócio cobrado em sangue vivo. Podem esperar: dirão que algumas poucas bombas garantirão sucesso “cirúrgico”; dirão que o alto comando militar é frouxo, burocrático, tem medo de assumir riscos, caso hesitem em envolver-se em aventura que com absoluta certeza logo estará convertida em pesadelo regional. A mensagem será uma e só uma. Dirão: “Dessa vez, dará certo”.

Derrotar e submeter os cães da guerra

A ninguém parece agradável a ideia de o Irã vir a ter bombas atômicas, mas se o governo iraquiano decidir tê-las, não representarão nenhuma ameaça existencial a ninguém. Os mulás em Teerã sabem que uma nuvem atômica sobre Telavive, ou sobre Washington, converterá o país deles em pátio de estacionamento.

Se os mulás decidirem reiniciar algum programa de armas nucleares, será para efeito de autoproteção, de contenção, para terem capacidade de dizer aos EUA: “Aqui, não. Caiam fora”. Por mais que haja aí dificuldades à vista para interesses da política externa dos EUA – sobretudo os que tenham a ver com petróleo – nada tem coisa alguma a ver com a segurança física de Israel ou dos EUA.

Guerra contra o Irã é ideia péssima, macabra, mas existe, sim, como risco real. O presidente Obama aproximou-se perigosamente desse precipício. Porque é delírio falar, até, em ataque preventivo a instalações nucleares iranianas, porque, como praticamente todos os analistas já lembraram, nunca saberemos, sequer, se o ataque funcionou (e dificilmente funcionaria); e será ato de guerra que o Irã não absorverá com um sorriso. No mesmo dia, começará a morrer gente aos magotes.

Mas o pessoal de Romney não vê aí problema grave. Acham boa ideia. E estão doidos por uma dose dessa loucura.




Notas dos tradutores

[1] 6/10/2011, Foreign Policy, Josh Rogin em: Romney creates shadow National Security Council

[2]  10/1/2003, CNN.com/U.S., Wolf Blitzer em: Search for the “smoking gun”

[3] 23/9/2012, Stars & Stripes, Christina Silva em: In volatile Gulf, US emphasizes diplomacy as capabilities grow; com vídeo a seguir:


[4] 13/1/2012, CNN U.S., Barbara Starr – correspondente no Pentágono em: Official: U.S. vessels harassed by high-speed Iranian boats.

[5]  Há problemas de tradução que exigiriam mais atenção, mas, para algumas possibilidades de tradução das mesmas expressões, para o português do Brasil, os resultados, hoje, alguns muito discrepantes dos números norte-americanos, e algumas discrepâncias até que interessantes, são:

“Iran’s disputed nuclear weapons program”: 4 resultados
– (port.) “Discutível programa nuclear iraniano de armas atômicas”: 0 resultados
– (port.) Discutível programa nuclear iraniano de armas atômicas (sem aspas): aprox. 2.270 resultados – mas praticamente todos são artigos em que a única coisa cuja existência é dita “discutível” é o arsenal nuclear israelense.
– (port.) Controvertido programa iraniano de armas atômicas (sem aspas): aprox. 527.000 resultados
– (port.) Controvertido programa de armas nucleares do Irã (sem aspas): aprox. 348.000 resultados

“Iran’s possible nuclear weapons program”: aprox. 8.990 resultados
– (port.) “Possível programa de armas nucleares do Irã”: 0 resultados
– (port.) Possível programa de armas nucleares do Irã (sem aspas): aprox. 1.600.000 resultados – mas praticamente todos são artigos em que a única coisa “possível” é um iminente ataque do Irã a Israel, com as tais bombas atômicas inexistentes.

“Iran's civil nuclear program”: aprox. 42.200 resultados
– (port.) “Programa nuclear civil iraniano”: aprox. 3.900 resultados – mas praticamente todos são artigos em que Ahmadinejad é citado e imediatamente esquartejado por ter falado de programa nuclear “civil” do Irã!

– (port.) Programa nuclear civil iraniano (sem aspas): aprox. 523.000 resultados – mas os primeiros 250.000, que deu pra ler, são, todos, artigos em que um ‘especialista’ diz que o Irã decidiu usar menos de 1/3 de seu programa nuclear para finalidade “civil” (e todo o resto para produzir bombas atômicas).

“Iran’s civilian nuclear program”: aprox. 199.000 resultados
– (port.) “Programa nuclear dos civis iranianos”: 0 resultados (o Google recomenda “Certifique-se de que todas as palavras estejam escritas corretamente”).
– (port.) Programa nuclear dos civis iranianos (sem aspas): aprox. 91.900 resultados, mas praticamente todos são idênticos ao que a revista Veja publicou: “programa de produção de bombas atômicas que os iranianos garantem que teriam finalidade “civis”. Mas o Google recomenda que se procure também por “Programa nuclear dos civis iraquianos, com aprox. 42.400 resultados.

“Iran’s nuclear weapons program”: aprox. 5.520.000 resultados
– (port.) “Programa iraniano de armas nucleares”: aprox. 6.630 resultados. Poucos. E um deles informa que Israel JÁ DESTRUIU o “programa iraniano de armas nucleares”.
– (port.) Programa iraniano de armas nucleares (sem aspas): aprox. 516.000 resultados.
– (port.) “Programa iraniano de armas atômicas”: 5 resultados, todos de páginas portuguesas [“atômicas”]
– (port.) Programa iraniano de armas atômicas (sem aspas): aprox. 462.000 resultados, mas uma maioria significativa só para informar que “Teria o programa iraniano de armas atômicasfinalidades pacíficas?”

“Iran’s nuclear program”: aprox. 49.000.000 de resultados
– (port.) “Programa nuclear iraniano”: aprox. 2.220.000 resultados
– (port.) Programa nuclear iraniano (sem aspas): 361.000 resultados
– (port.) Programa nuclear do Irã (sem aspas): aprox. 870.000 resultados

[6] 22/10/2012, NPR, Bob Schieffer (mediador) em: Transcript And Audio: Third Presidential Debate

[7] 31/12/2011, IOWA Caucuses 2012, Tony Leys em: Mitt Romney: Ready military options to prevent Iranian nuclear weapon

[8] 6/11/2012, Think Progress, Bem Armbruster em: Evan Bayh Plays Bill Kristol’s Role On Fox News Sunday, Says U.S. Should Bomb Iran


[10] 16/11/2012, IPS Right Web, em: Foundation for Defense of Democracies

[11]  Tradução brasileira, na Casa de Bíblia (online) do livro: Em defesa de Israel

[12] Ver também, sobre isso: 27/6/2010, redecastorphoto em: “Eric (Blackwater) Prince: Empresário, soldado, espião, Adam Ciralsky (Vanity Fair), em português e 15/9/2010, Blackwater & Co.: A “negabilidade total”, de Jeremy Scahill, The Nation, redecastorphoto, em português.

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