·
Análise: certa.
·
Resposta ao
ocidente: certa
·
Putin cool impecável
19/12/2014,
[*] Pepe Escobar, RT – Russia Today
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Vladimir Putin durante a entrevista de 18/12/2014 |
Embora enfrente o que,
analisada sob sejam quais forem as circunstâncias, é uma tempestade perfeita, o
presidente Putin teve desempenho extremamente equilibrado na sua maratona anual
de conferência e sessão de perguntas e respostas com a imprensa.
A tempestade perfeita
desdobra-se em dois fronts: uma
guerra econômica aberta – com o país sendo sitiado por sanções; e um ataque de
sombras, preparado, urdido, clandestino, contra o coração da economia russa. O
objetivo de Washington é claro: quer minar o adversário, serrar-lhe os caninos,
para forçá-lo a curvar-se humilhado ante os desejos do Empire of Chaos. E sem parar de vangloriar-se de que esse
seria o caminho para a “vitória”
de Washington.
A dificuldade é que
Moscou decifrou com acerto impecável o jogo – já bem antes, quando Putin, no Clube Valdai,
pôs o dedo na doutrina Obama:
(...) é
como se nossos parceiros ocidentais, os próprios pais de teorias do caos controlado não soubessem o que fazer da própria
criatura.
Assim sendo, é claro
que Putin já tinha ferramentas para compreender o ataque monstro de caos
controlado, dessa semana. O Império tem massivo poder de dinheiro; muita
influência sobre o PIB de US$ 85 trilhões do mundo, e o poder do banking [da bankerada] por trás disso tudo. Assim
sendo, nada mais fácil que usar esse poder mediante os sistemas de banking privado que realmente controlam os bancos
centrais, para criar uma corrida contra o rublo. O sonho do “Empire of Chãos” é, pode-se dizer, derrubar o rublo até
que tenha caído 99%. A economia russa terá sido convertida em destroços. Que
melhor meio para impor à Rússia a tal “disciplina imperial”?
A opção “nuclear”
A Rússia vende
petróleo denominado em dólares norte-americanos ao ocidente. A empresa Lukoil,
por exemplo, tem de receber um crédito em dólares norte-americanos, num banco
norte-americano, para pagar pelo petróleo que os russos vendem. Se a Lukoil tem
de receber rublos, então o comprador tem de vender os dólares que tenha
depositados e comprar correspondentes créditos em rublos para abastecer a
própria conta bancária. Isso, de fato, apoia o rublo. A questão é se Lukoil,
Rosneft e Gazprom estão acumulando dólares norte-americanos no exterior e
segurando os dólares. A resposta é não. E o mesmo se aplica a outros negócios
russos.
A Rússia não está “perdendo
suas poupanças” como gargareja a imprensa-empresa ocidental. A Rússia
sempre pode exigir que empresas estrangeiras mudem-se para a Rússia. A Apple,
por exemplo, pode abrir uma unidade fabril na Rússia. Os recentes negócios
firmados entre Rússia e China incluem construção de fábricas chinesas na
Rússia. Com um rublo depreciado, a Rússia pode forçar fábricas que foram
deslocadas para a União Europeia, a se instalarem na Rússia; é isso, ou essas
empresas perdem o mercado. É verdade que Putin, de certa maneira admitiu que a
Rússia deveria já ter feito há muito tempo o que só agora fez. Agora, o processo
– positivo – é inevitável.
E há uma opção
“nuclear” – que Putin nem precisou mencionar. Se a Rússia decide impor
controles sobre o capital e/ou impor um “feriado” no pagamento de enormes
parcelas da dívida que vencerão no início de 2015, o sistema financeiro europeu
conhecerá dias de bombardeio à moda “Choque e Pavor”. Afinal, grande parte dos
financiamentos bancários e privados russos são levantados na Europa.
O “calote” da Rússia,
por ele só, não é a questão. A questão é a conexão com os bancos europeus. Como
me disse um banqueiro de investimentos americano, Lehman Brothers, por exemplo,
derrubou a Europa, praticamente tanto quanto derrubou New York City – por causa dos inter-links. E Lehman, claro,
tinha sede em New York. O
que conta é o efeito dominó.
Se a Rússia servir-se
dessa opção “nuclear” financeira, o sistema financeiro
ocidental não conseguirá absorver o choque do calote. O que provaria cabal e
completamente – de uma vez por todas – que os especuladores de Wall Street
construíram um “Castelo de Cartas” tão frágil e corrupto, que a primeira
tempestade que se abater sobre ele o reduz a pó.
À curta distância
E se a Rússia faz o
calote – e cria a mais alucinada confusão da dívida de US$ 600 bilhões, do
país? É o cenário que levou os “Masters of the Universe” a mandar Janet Yellen
e Mario Draghi criar créditos nos sistemas de
banking para prevenção de “dano indevido” [orig. “undue damage”] – como em 2008.
Mas então a Rússia
decide cortar o gás natural e o petróleo para o ocidente (mantendo normal o
fluxo para o oriente). A inteligência russa pode criar inferno non-stop nas estações de bombeamento, do Maghreb até
o Oriente Médio. A Rússia tem como bloquear todo o petróleo e todo o gás
natural bombeado em todos os “-stões” da Ásia Central. Resultado: o maior
colapso financeiro da história. E fim da panaceia excepcionalista do “Empire of Chãos”.
Claro que esse é
cenário de apocalipse. Mas não provoquem o urso; ursos são muito rápidos.
Putin falou com tanta segurança,
tão calmo, tão concentrado – sempre interessado em expor detalhadamente cada
ponto – naquela conferência de imprensa, porque ele sabe que Moscou pode
mover-se com total autonomia. Claro que, sim, é guerra assimétrica contra um
império que está desabando, perigoso. O que pensam da vida aquelas ratazanas
intelectualmente subdotadas que enxameiam em torno de Obama Pato Manco? Que
convencerão a opinião pública nos EUA – no mundo – de que Washington (de fato,
só os cachorrinhos europeus) declarará guerra nuclear, a ser combatida no
teatro europeu, em nome do estado falido da Ucrânia?
É jogo de xadrez. O
ataque contra o rublo foi concebido para ser o xeque-mate. Não é. Nunca seria,
jogado por jogador medíocre. E não esqueçam a parceira estratégica Rússia-China.
A tempestade talvez esteja amainando, mas o jogo continua.
________________________________
[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Seu novo livro, Empire of Chaos, acaba de ser publicado pela Nimble Books.
Pepe, uma pergunta: até onde ,na sua opinião,o reatamento de relações com CUba tem a ver com a crise Eua /Rússia?
ResponderExcluir