sábado, 16 de maio de 2015

China x Japão: “Hiroshima e Nagasaki não foram bombardeadas por nada”

13/5/2015, [*] Shannon Tiezzi, The Diplomat
Chinese Diplomat: Hiroshima and Nagasaki Were Bombed for a Reason
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

 
Hiroshima, Japão - Memorial da Paz
Como parte da conferência em andamento para revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares [orig. Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons (NPT), o Ministro de Relações Exteriores do Japão, Fumio Kishida, conclamou os líderes globais a verem de perto as consequências devastadoras dos bombardeios com armas nucleares. Kishida convidou líderes a visitar Hiroshima e Nagasaki, as duas cidades japonesas que os EUA usaram como alvos de ataques nucleares no final da IIª Guerra Mundial, para que “vissem com os próprios olhos a realidade dos bombardeios atômicos”.
Mas o jornal Kyodo News noticia que o comitê revisor do NPT removeu das versões do acordo que estão sendo analisadas todos os trechos que contivessem esse tipo de linguajar, depois de receber objeções do representante da China, Fu Cong.

Fu associou a ênfase nas cidades de Hiroshima e Nagasaki a tentativas do Japão para “distorcer a história”, colocando-se como única vítima.

Como Mina Pollmann já observara antes em coluna para o Tokyo Report blog de The Diplomat, o Japão, como única vítima de ataques atômicos está tendo papel de destaque na conferência de revisão do NPT. Políticos japoneses, incluídos os prefeitos de Hiroshima e Nagasaki, exigiram que os estados signatários do Tratado de Não Proliferação tomem medidas concretas com o objetivo de realmente eliminar as armas nucleares. Vítimas dos bombardeios contra Hiroshima e Nagasaki, conhecidos como hibakusha (em japonês), participaram da conferência para dar mais peso às discussões sobre as horrendas consequências dos ataques dos EUA contra as duas cidades japonesas.

Kishida também se referiu a essa questão em sua fala à conferência revisora do TNP. Disse que:
 
(...) um reconhecimento comum das consequências das armas nucleares no plano humanitário (...) pode servir como força motriz para o desarmamento nuclear.

Na sequência desse comentário, convidou “líderes políticos e jovens” a viajarem a Hiroshima e Nagasaki, particularmente quando os líderes estiverem no Japão para as reuniões do G7 no próximo ano.

China - lançamento das Lanternas da Paz
O Japão estava insistindo muito firmemente para que esse tipo de comentário fosse inserido nos documentos finais da conferência, mas a China (como também a Coreia do Sul) objetou, em termos muito firmes. Fu disse ao jornal Kyodo News que, na 2ª-feira (11/5/2015), requerera que aquela referência fosse removida da versão preparatória que está sendo discutida do documento final. Disse que:
 
(...) essa conferência deve afastar-se desse tipo de referências, porque há excessivas “referências históricas” associadas aos bombardeios contra Hiroshima e Nagasaki.

Fu argumentou que, ao enfatizar o sofrimento causado pelos bombardeios, o governo do Japão “tenta pintar o Japão como vítima da IIª Guerra Mundial, não como agente ativo da própria guerra”. Enfatizou a muitas atrocidades que os japoneses cometeram em guerras na China, Coreia e Sudeste da Ásia, atrocidades que o representante chinês acusou Tóquio de estar tentando negar ou minimizar.
 
Não queremos qualquer menção a Hiroshima [ou] Nagasaki , porque houve razões que determinaram o bombardeio dessas duas cidades, disse Fu.
Fazer referência às duas cidades no documento final do Tratado de Não Proliferação “é como impor à conferência uma interpretação unilateral de eventos da IIª Guerra Mundial” – disse Fu.

A porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Hua Chunying, respondeu de modo semelhante, quando perguntada sobre a conferência revisora do TNP na 3ª-feira (12/5/2015). Disse que todas as partes devem “evitar introduzir fatores complicados e muito sensíveis” nas negociações da conferência revisora. Pressionada a dizer se líderes chineses tinham planos para visitar Hiroshima e Nagasaki, Hua respondeu:
 
Permitam-me perguntar antes: quando os líderes japoneses planejam vir à China e visitar o memorial em homenagem às vítimas do massacre de Nanjing?

Calçada com estátuas homenageando as vítimas do massacre de Nanjing - China


Para muitos chineses, a violência que houve depois que as tropas japonesas conquistaram Nanjing dia 13/12/1937 é emblemática das atrocidades que os japoneses cometeram em tempos de guerra – e do revisionismo histórico japonês. O governo chinês, que recentemente converteu o dia 13 de dezembro em dia nacional de homenagem aos mortos naquele massacre, diz que 300 mil chineses civis foram mortos pelos soldados japoneses. Alguns funcionários do governo japonês, inclusive um diretor da rede nacional de notícias NHK
, têm negado até que o massacre tenha acontecido.

_________________________________________________________


[*] Shannon Tiezzi tem como foco principal a China. Escreve sobre as relações internacionais da China, política interna e economia. Atuou anteriormente como participante em pesquisas na Fundação Política de US-China, onde apresentou o programa semanal de televisão China Forum. Recebeu seu mestrado pela Universidade de Harvard e seu bacharelado pela Faculdade de William e Mary. Estudou na Universidade de Tsinghua, em Pequim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.