Place de la République, 4/9/2010
Contra a xenofobia e a política de pelourinho do governo Sarkozy:
Liberdade, Igualdade, Fraternidade
Uma avalanche de discursos e de anúncios provocativos abate-se há vários dias sobre a França. Dos postos mais altos do Estado, ouvem-se propostas que, até hoje, só se ouviam dos lábios da extrema direita.
O próprio presidente da República aponta dedo ameaçador para comunidades e grupos sociais inteiros, estigmatiza os ciganos, os emigrados, os estrangeiros, os franceses que não sejam “de sangue puro”, os pais de jovens delinquentes etc. Ao fazê-lo, o presidente não combate a delinquência, repudiada por todos sem distinção de nacionalidade ou origem. O que o presidente faz é violentar os princípios fundamentais da igualdade republicana, em momento em que uma grave crise social e política também já ameaça a coesão da sociedade francesa.
Em poucos dias, as mais altas autoridades do Estado passaram a manifestar preconceitos contra comunidades nômades [1], em prejulgamentos que aproximam, primeiro, imigração e delinquência e que, em seguida, põem em dúvida a nacionalidade francesa daqueles grupos, em termos que não se ouviam na França desde 1945. O que aí se vê em processo inscreve-se numa lógica de desintegração social, de graves consequências.
Já não se trata do debate legítimo na democracia sobre os modos de garantir segurança republicana. Trata-se de uma disposição para designar milhões de pessoas como perigosas a priori em razão de sua origem ou situação social.
Seja qual for a legitimidade que se adquire em eleições, nenhum eleito jamais recebeu mandato para violar os mais elementares princípios sobre os quais foi construída a República.
Os limites que têm sido transpostos geram inquietação quanto ao futuro de todos.
Por isso, organizações associativas, sindicatos e grupos políticos os mais diversos, mas que têm em comum o respeito aos princípios fundantes da República laica, democrática e social, lembramos, enfaticamente, que o artigo primeiro da Constituição francesa “assegura plena igualdade perante a lei a todos os cidadãos sem distinção de raça ou religião”, e que qualquer ato que contrarie essa regra basilar da democracia constitui atentado contra a paz civil.
Não aceitaremos sob nenhum pretexto que o necessário respeito à ordem pública seja usado para criar distinções entre os habitantes desse país e bodes expiatórios.
Convocamos pois o conjunto dos cidadãos franceses a manifestar publicamente seu repúdio às estratégias para estigmatizar e discriminar, e às lógicas “de guerra” que ameaçam o viver em comum.
Para tanto, propomos esse “Manifesto de Cidadãos”, a ser distribuído e assinado online, de recusa a toda e qualquer política do governo Sarkozy que estimule o medo ou o ódio.
E convocamos para uma grande manifestação, na ocasião do 140º aniversário da República Francesa, no sábado, 4 de setembro, na Place de la République em Paris, às 14h e por toda a França, para manifestarmos juntos nosso empenho em defender os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade que são e sempre serão nosso patrimônio comum.
ASSINAM:
• AC ! Agir ensemble contre le chômage,
• Les Alternatifs,
• Les amoureux au banc public,
• Association de défense des droits de l’Homme au Maroc (ASDHOM),
• Association France Palestine Solidarité (AFPS),
• Association des Marocains en France (AMF),
• Association nationale des Gens du voyage catholiques (ANGVC),
• Association républicaine des anciens combattants (ARAC),
• ATTAC,
• Autremonde,
• Cedetim,
• Confédération française démocratique du travail (CFDT),
• Confédération générale du travail (CGT),
•
• La Cimade,
• Le Cran,
• Droit au logement (DAL),
• Emmaüs France,
•
• Fédération pour une alternative sociale et écologique (Fase),
• Fédération des associations de solidarité avec les travailleurs immigrés (FASTI),
• Fédération nationale des associations d’accueil et de réinsertion sociale (FNARS),
• Fédération SUD Education,
• Fédération syndicale unitaire (FSU),
• Fédération des Tunisiens pour une citoyenneté des deux rives (FTCR),
• FNASAT-Gens du voyage
• Fondation Copernic,
• France Terre d’Asile,
• Gauche unitaire,
• Groupe d’information et de soutien des immigrés (GISTI),
• Les Jeunes Verts,
• Ligue des droits de l’Homme (LDH
• Ligue de l’enseignement,
• Marches uropéennes,
• Médecins du Monde,
• Le Mouvement de la Paix,
• Mouvement contre le racisme et pour l’amitié entre les peuples (MRAP),
• Le Nouveau Parti anticapitaliste (NPA),
• Le Parti communiste français (PCF),
• Le Parti de Gauche, le Parti socialiste (PS),
• Réseau d’alerte et d’intervention pour les droits de l’Homme (RAIDH),
• Réseau Education Sans Frontière (RESF),
• SNESUP-FSU,
• SOS Racisme,
• Syndicat des avocats de France (SAF),
• Syndicat de la magistrature (SM),
• Union syndicale Solidaires,
• Les Verts.
• Unión Romani. España
Nota de Tradução
[1] No orig. “Gens du voyage”. “Na prática administrativa e na imprensa, essa expressão designa os ciganos da França (os Sinté/Manouches e os Kalés/Ciganos), embora apenas cerca de 15% deles vivam como nômades em território francês, e sejam minoria, em menor número, por exemplo, que a comunidade Yéniche. A expressão passou a ser usada, para evitar discriminar pela etnia um grupo presente no território francês. A Constituição francesa não faz qualquer referência a minorias étnicas ou nacionais” (para saber mais, ver "Gens du Voyage").
extraído de Extrapolar